Cyl Gallindo

Encontrados 6 pensamentos de Cyl Gallindo

⁠ENCONTRO

Considerava-me um deserdado da sorte!
Por que tinha eu de correr atrás
da minha própria sorte?
pondo-se ela cada vez mais distante,
cada vez mais inalcançável.
Um dia, não por cansaço,
nem por desengano,
- pura determinação simples -
parei e fiquei a contemplar paisagens.
Pois não é que a minha sorte estava
sentada
junto a mim.
Sem arrogância ia dizendo-lhe:
- não quero mais nada!
Calei supresso:
EU TENHO TUDO!

Brasília, 2-3-93

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⁠O FUTURO

Sempre fiz um esforço tremendo
para desvendar o meu futuro.

Ciganas leram minhas mãos.
Cartomantes deitaram cartas.
Espíritas fizeram sessões.
Pais-de-santo jogaram búzios.
Astrólogos traçaram mapas.
Disseram coisas inacreditáveis
sobre o presente, o passado e o futuro.

Alguma coisa, porém, de mistério
ficava a ser desvendada.

Uma simples sinusite
levara-me ao hospital
e aí sim, eu vi o meu futuro,
estampado de modo insofismável,
na radiografia da minha face.

(Brasília, 4.3.93)

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⁠TESSITURA PARA VIOLA

-Ida-

Resgataste-me ao sol do anonimato
Em PRISMAL tessitura de bondade
Gerando amor e medo com este ato:

Inseguro tateio a claridade
No caminho tão longo que te assiste
Alumiar a certeza e a verdade.

Ir é o gesto exato que resiste
Germinando ao tempo no meu ser,
Embora quede, às vezes, quase triste!

Levanta-o a voz mais alta do saber

-Volta-

Levanta-o a voz mais alta do saber
Enquanto a ternura debruçada
Geme a triste certeza de não ser

Incluída também por esta alçada
Antes confiada somente a seu impulso
Na missão desta gente estraçalhada.

Imbuir-se, porém, de outro recurso
Gritando a gesta voz exatamente
É o primeiro passo nesse percurso,

Reapontado, por ti, tão claramente.

(Recife, 10 e 29/07/79)

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⁠A SOBREVIVÊNCIA - MANGUE

- Recife -

POEMA I

E a ponte esvai-se pelo rio
trêmula navegante nula;
nas suas cáries residimos
logicamente crustáceos.

Bípedes arquitetando sombras,
planos rostos refletidos: nunca,
no aquático espelho dos sobrados
sustém o eco dos sentidos desusados
que mordem das impegadas mãos o tato.

Incerta lama convivida:
alma lama reanscida ao sol.
Anfíbio (caranguejos, siris, meninos)
o peito ereto, as mãos para cima,
trazem as bandeiras de medalhas-lama.

Do céu ganhou a armação
em ossos; um nato esquife.
E o recheio, que lhe desse o rio.
Lá na Ponte Giratória, por mais que gire:
ossos que vivem a sobreviver de ossos!

(Publicado na antologia Presença Poética do Recife, de Edilberto Coutinho, Arquimedes Edições, SP, 1969 e 2ª edição, UFPE, 1977.)

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⁠CINCO CHAGAS

Cinco chagas prostram-te no chão
e teu espírito leve evaporou
porque da Paz o homem duvidou.

Que estrutura arcaica te gerou
que permitiu assim teu passamento
nesta Jerusalém feita a cimento?

É que rasgou, a voz da tua guitarra,
a farsa do poder que faz a guerra
sem plantar um só corpo sob a terra.

Calaram-te John (Emanuel) Lennon
mas teu silêncio, neste momento,
faz o mundo repleto de argumento.

Brasília, /1980

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⁠VISÃO COMPLETA

De repente
agente vê
que não pode ver
que tão lindo e sólido
vira ontem.

Fecham-se os olhos:
a gente vê
que pode ver
tão lindo e nítido
como nunca.

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