Cristiane Neder
A realidade passa a ser, portanto o que os meios de comunicação querem, aquela que o capital compra e os efeitos especiais da computação e da publicidade desejam. Nada do que seja a vontade da plena maioria da sociedade, como deveria ser numa democracia verdadeira e não idealizada.
A homogeneização da humanidade causa uma perda de identidades culturais nunca vista antes, através da influência das novas tecnologias de comunicação, trazendo como conseqüência, a pasteurização da cultura internacional e o enfraquecimento das identidades nacionais.
Os poderes locais perdem sua força, dando espaço para que o poder do mercado internacional, revestido pelo projeto político da globalização, tome conta do novo cenário
geopolítico.
A atuação das novas tecnologias de comunicação cria novos exércitos de excluídos, aumentando os focos de riqueza em algumas nações e generalizando miséria em outras.
Os países periféricos não possuem pesquisa de ponta para acompanhar o avanço tecnológico dos países centrais, criando focos de desnivelamento social em várias partes do mundo, onde o progresso sócio-político
não caminha junto com o progresso técnico-científico.
Os incluídos no mundo das novas tecnologias de comunicação são
somente aqueles que têm meios e poder financeiro para conquistar sua posse e
uso. Os demais são usados como personagens secundários nos bastidores da
história da infovia e da Internet, para dar sustentação à imagem de um futuro
ilusório, onde ‘’cada um tenha um computador em cada mesa em cada casa‘’ – como sonha Bill Gates, o magnata da informática e da multimídia. Não nos
esquecendo que a grande maioria das pessoas não tem sequer casa para morar e,
muito menos, computador para usar.
Os incluídos no mundo das novas tecnologias de comunicação são somente aqueles que têm meios e poder financeiro para conquistar sua posse e uso.
A revolução das novas tecnologias de comunicação causaram no mundo inteiro uma revolução de maior impacto do que a própria invenção da imprensa por Gutemberg, porque conseguiram congregar som, imagem e texto num único universo; apresentando como conseqüência, uma ‘’compactualização’’ dos meios de comunicação, unindo todos os elementos da comunicação em uma única máquina e em um único filtro de recepção, fazendo com que as indústrias de comunicação também se unissem criando monopólios na área, com poderes políticos inéditos nunca vistos antes.
O poder político dos outros meios de comunicação, como rádio, televisão, jornais e revistas, foi transferidos para a Internet, por ela ser o único meio de comunicação capaz de concentrar a todos em um único lugar e, consequentemente, de concentrar todos os poderes que cada meio tinha, dentro dela.
As novas tecnologias de comunicação levam a sociedade a modificar sua sociabilidade, estando o ser humano cada vez mais em contato com a máquina
e cada vez menos com as pessoas, a nível presencial. Hoje em dia, o ser humano
abastece o seu tempo de lazer com jogos interativos da rede, em bate-papos, em
salas de chats e em vídeo-conferências, relacionando-se cada vez mais com outras
pessoas por ‘’via técnica’’ em detrimento da ‘’via contato direto’’, mudando assim
sua própria maneira de ser também como ser humano.
Os seres-humanos transformam-se em andróides, não porque são construídos e desenvolvidos em laboratório como uma espécie de Frankstein, ou por nascimento, mas por conveniência a uma sociedade movida pela técnica, artificial e cibernética.
Os novos políticos, a fim de desenvolverem projetos políticos voltados para esta sociedade sintética, acabam se espelhando nela mesma e se tornam sintéticos também; as ideologias já não têm mais valor e nem os programas políticos, pois os políticos e suas metas são agora construídos em
estúdios, em sites e por marketeiros, e não junto à sociedade e aos partidos que eles deveriam representar.
Com as novas tecnologias de comunicação os políticos estão se tornando cada vez mais personalistas e cada vez menos estadistas, cada vez mais personagens de ficção e cada vez menos pessoas públicas.
Cabe lembrar o exemplo dos EUA, onde a televisão havia preparado o cenário, chegando ao extremo de colocar na própria presidência dos EUA, Ronald Reagan um personagem de cinema de Hollywood,
transformando-o em um poderoso personagem da política americana.
Hoje, todos os políticos assediados pelas técnicas de comunicação acabam se tornando atores como Reagan a fim de também
ganharem as eleições. Hoje, o povo já não conhece mais a face verdadeira dos
políticos, mas conhece somente a sua máscara política.
As promessas políticas, depois da invenção
das novas tecnologias de comunicação tornaram-se mais ilusórias, porque antes eles prometiam somente com a palavra sem o uso da imagem. Hoje eles prometem com a imagem o que povo, pela ilusão ótica, tem muito mais facilidade em acreditar, mesmo não sendo realidade.
Vivemos a época da política sediada em uma matriz tecnológica e não na matriz sociológica, sendo que qualquer político pode prometer qualquer coisa, pois os recursos financeiros e o computador podem realizá-la mesmo se,na prática isso seja impossível.
Os artistas, escritores, cineastas e outros, descrevem e gostam de personagens que estejam na situação de estrangeiros,
porque o estrangeiro, por si só, guarda dentro dele personagens e personalidades com várias nacionalidades num único sujeito.
Para escrever sobre a terceira identidade do estrangeiro, o filme Terra Estrangeira foi a primeira percepção que veio à mente, justamente porque o filme fala do nosso país, vendo-o do lado externo da sua
costura idiossincrática
Os efeitos da política econômica predatória adotada na época do Governo Collor dão o embasamento para o surgimento e para
a criação da obra Terra Estrangeira. Faz enxergarmos como os personagens trazem consigo a cicatriz desse tempo político, ao
se encontrarem na condição de estrangeiros em Portugal como
necessidade social, e não turismo.
A terceira identidade do estrangeiro, portanto, é como a lâmina de uma gilete, afiada dos dois lados, pois consegue absorver
registros de ambas as nações
O casal tem como aliança afetiva a frustração da vida. Ela encontra em Paco a juventude perdida, sepultada pela solidão de tantos anos no estrangeiro. A trilha sonora Vapor Barato, composição de Macalé (década de 1970), na voz de Gal Costa, reforça e veste com harmonia a metáfora amorosa vivenciada pelo casal
para quem nada resta apenas o amor
A poesia pela qual o filme está embrulhado, dentro da cena do velho navio encalhado no mar (que vai de encontro com a letra da música Vapor Barato). A simbologia desta imagem leva-nos a pensar que ela representa a impossibilidade de seguir ou retroceder, tal como os dois personagens que permanecem estáticos dentro do
contexto da clandestinidade, numa vida reticente, sendo corroída pelo tempo, como uma matéria bruta, como o velho navio enferrujado que não chegou ao destino final.
O filme, todo em preto e branco, reforça a imagem de um clima de ausência de cores na vida das pessoas e do país, para melhor demarcar seu contexto histórico.
Terra Estrangeira na sua linguagem artística, conta de forma subliminar como o ‘herói’ Collor, que trocara seu cavalo branco por
um jet-sky, promovera a entrada do capital estrangeiro no Brasil e a retenção do próprio capital nacional aqui.