Carlos Humberto Pena

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SE NÃO PUDERES MAIS ME AMAR

Se não puderes mais me amar,
tudo bem, eu compreendo.
Afinal, nos seus dias há saudade logo cedo
e nem todo ouro posso te dar.

Se não puderes mais me amar,
se não fores mais capaz de se alegrar
com minhas ranhetices e manias, não tem problema.
Afinal, toda rosa quer ser tema de poema.

Se não puderes mais aqui permanecer,
se tiveres que seguir seu caminho com razão,
não olhes pra trás e se permita renascer.
Só não te esqueças de que cabe ao sol render a escuridão.

Por isso, não se torture e tenha nos passos firmeza
e nos olhos aquela velha paixão pela vida.
Eu estarei a lembrar da minha paixão perdida,
mas tudo bem, reencontrarei a amiga tristeza.

Inserida por purapoesia

CASA DE BICHO

Casa de bicho é liberdade
ventania
luar em sinfonia
de divindade
estar a passar
estar na paisagem
de passagem
correndo
pelos olhos o véu do tempo
voando
avoado
sem lamento
sem tormento
somente o céu e o relento

CORAÇÃO DE BICHO

Coração de bicho é saudade
do selvagem
de estar à margem
e na margem
do rio saudar a tempestade
de raios
bramir aos lacaios
fremir
frente a fronte do destino e ir
sorrir e seguir
sempre seguir
adiante
condenado a ser amante
de tudo e de cada lugar
ter o chão e a lua a velar

SONETO DO AMOR EM COLISÃO

Criatura de intensa inquietação
é amor que se apresenta em colisão:
pintor que na pintura tem prisão,
potro que não teme a fúria do peão.

Encontro nos teus olhos minh’alma
que roubaste com consenso e calma,
para ser indômito e imenso
caso, enlouquecido e intenso.

Secretamente corro teu corpo
como quem tange arisco rebanho,
sob a planície de um céu tamanho.

Aceita-me com pose desfeita
– aí está a suplica de socorro –
onde nasço e noutro dia morro.

Inserida por purapoesia

Declaração de amor eterno

Eu te amo...
Eu te amo como a montanha ama o sol que lhe permite fazer parte do entardecer
Eu te amo como o mar ama a tempestade que lhe liberta da calmaria
Eu te amo como o pássaro ama a aurora que lhe autoriza o cantar
Eu te amo como a lua cheia ama o poeta que lhe veste de prazeres
Eu te amo como a amizade ama a aliança do abraço
Eu te amo como o tempo ama a fortuna da cumplicidade
Eu te amo simplesmente, como o lavrador ama a terra que lhe alimenta
Eu te amo e só.
E quando não puder mais sentir o doce toque do meu amor, encontre-me no amanhecer, que é o momento do milagre. Ou me busque na sombra das estrelas, que é onde mora o que é eterno.

O Quintal

Pegue as rédeas de seu destino
e dome o animal arisco.
Olhe o horizonte com valentia
e chame de casa a terna figura do amanhã.
Regue o jardim, abra as janelas
e escolha as melhores cores para as paredes,
já que o futuro é o quintal dos nossos sonhos.

Inserida por purapoesia

Dona do Mundo Inteiro

Ela pintava seus dias com todas as cores
e não guardava ódio ou rancores.

Nem remorso ou arrependimentos sentia,
pois sabia o que queria.

Rezava suas preces e novenas
com os mais belos poemas.

Não lhe tentava o dinheiro:
era dona do mundo inteiro.

Inserida por purapoesia

O Rio

nasce na minha porta
- preenchendo toda aorta -
um rio
de água negra
e fervente
que corre alheio
corta ao meio
e quebra
a paz e jaz
o silêncio
enquanto segue selvagem
o veio pulsante
e febril

transborda a margem
a forte corrente
transpassa a mata
e mata
de repente

deságua em guerra
em um mar calmo
esse rio
- lágrimas da alma -
inundando cada palmo
invadindo a terra
a sala
o peito, a mala
me afogo dia a dia
no rio de minh’alma

Inserida por purapoesia

Novos Conselhos para uma Vida Riquíssima

Espalhe gratidão enquanto houver amizade
E de ninguém deseje a piedade

Hasteie sua felicidade como uma grande bandeira
E diga a verdade de qualquer maneira

Distribua sua gargalhada entre os boçais
E tire para dançar os anormais

Tenha desprendimento pelo material
E leve sua cama para o quintal

Seja amor enquanto todos são razão
E aos sentimentos saiba dar vazão

Mostre o que vai além do espelho
E não se torne um jovem velho

Da arrogância não vista a fantasia
E não fique à sombra de uma relação vazia

Abrace seus sonhos com determinação
E enxergue com os olhos do coração

Seja como a chuva em um chão que agoniza
Faça brotar vida que você se eterniza

Inserida por purapoesia

Isso é o Mundo Inteiro!

nessa lembrança meio dormente
onde deixei meu coração descansar
estranhamente firmou-se a paz
talvez seja algo que o vento trouxe
ou seu cheiro num sonho que não se desfaz

tudo vem tão rápido e tudo passa
simplesmente
suba em uma árvore e fume um paieiro
isso é o mundo inteiro

caminhamos por trilhas
andamos milhas
mas somos ilhas

não se distancie ao toque
peça, grite, soque
mas não se entoque

os maiores ausentes
estão sempre presentes
e compartilham com a gente

a poeira da serra pinta o céu
e o sol veste um vermelho véu
todo entardecer leva algo meu
em um horizonte que sempre foi seu

Inserida por purapoesia

Sobre a Distância e Outras Coisas

todos os dias morrem em mim infinitas estações
veladas em um templo transparente e quebradiço
de ausência entre os segundos e todas as horas
há um certo terror pelos cálices que não te calam
e pelos beijos que não te banham os lábios

não acredita em distância o pássaro que voa alto
e nós também voamos alto, só que pra dentro
e igualmente fizemos da leveza libertação
mas deixe o pássaro, o passado e esqueça tudo
ainda longe posso acender a vela do teu coração
e reconhecer teu olhar descalço
a intensidade da voz e o calor da alma
e dizer bem suavemente em teu ouvido
que eu atravessei essa ponte em oração

sim, veio a destempo e passo a passo
hoje, tudo de ontem ficou sem graça
incendiou a casa, me empurrou do penhasco
rasgou as palavras pra falar em silêncio
sem artifício ou prenúncio

agora, percorrem minhas veias espaços sem retas
- me moldei em suas curvas -
sem dilemas e restos
apenas lembranças florescidas em pequenos detalhes
um afago adequado, um assanho ousado
o próprio despudor, tomado de assalto
e o amor, vestido de salto

Inserida por purapoesia

A Minha Oração

Me guarde e me proteja, meu Senhor
Me faça um exemplo de fé e amor
E me dê o destino que eu for merecedor

Inserida por purapoesia

Uma Réstia de Luz

Sou eu nada
Além de um pouco de tudo
Do que você me deixou ser:
Um deserto de horas intermináveis

Somente um pouco de tudo
Do que você me deixou ter:
Sua respiração esquecida e ritmada
No meu peito

De algum tempo
De algum lugar
Eu trouxe uma lasca de tua existência
Comigo
Uma réstia de luz do teu olhar
Um pedaço de tua alma

E agora
Ver-te já não basta
Você se tornou outro sol
E outra lua
E não há amanhecer
Ou entardecer sem a presença tua

Inserida por purapoesia

Nos Teus Olhos

Nos teus olhos não há inverno
ou outono
ou tom
que não tenha prazer
e lágrimas de morrer
por um anseio secreto

Nos teus olhos é sempre primavera
e há sempre uma vela
acesa
com o desejo à mesa
servido antes do café
com toda a fé
ardente
no que não se entende

Nos teus olhos existem caminhos sem volta
há abismos e precipícios
profundos
de dois mundos
que buscam se encontrar
há minha sede de amar
e teu vício de estar

Inserida por purapoesia

Amor Próprio

Por vezes caiu e se levantou, renovada.
Foi traída, enganada, subjugada...
Ela não se deixou destruir por nada,
pois por si própria era amada.

Inserida por purapoesia

Eterno

O amor pode ser doce e sereno
ou intenso e apressado,
mas só um amor perdido se faz eterno,
nos aprisionando no passado.

Inserida por purapoesia

Os Amantes

Amaram-se como amam dois amantes
Da felicidade beberam toda a taça
Todo o vinho, todo o cio... de graça

Amaram-se como amam dois amantes
Somente pele e boca e mamilos e mãos
Em cada grito, greta, gole... mãos

Amaram-se como amam dois amantes
Sem palavras, sem pressa, sem “não”
Sujaram-se e fundiram-se no chão

Dois amantes não fazem escolhas
São como o tempo passando
Ou uma brisa espalhando as folhas
Nascem e renascem se amando

Inserida por purapoesia

Domingo Depois do Amor

Já semeei as pequenas mudas de arco-íris
em nosso céu de nuvens férteis e selvagens

Roubei dos vizinhos as roupas dos varais
pra reservar mais espaço aos passarinhos

Tingi minhas palavras de poeta e sonhador
com os odores de um jardim em flor

Também bordei girassóis nos lençóis
pra clarear nossas noites de insônia

Recordei aventuras e inventei estórias
pra tentar adormecer sua alma cansada

As mãos dadas, os pés selados...
o sopro de duas vidas que jamais será tirado

Fitamos o abismo e continuamos a brincar:
nada apagará a ansiosa paixão no olhar

Inserida por purapoesia

Daqui de Cima

Daqui de cima te vejo com clareza:
ansiedade e desenvoltura.
Você está linda e sorri como uma criança feliz.

Daqui de cima seu olhar parece mais atento,
parece buscar a aventura sem perder o momento,
como os olhos de um predador.

Daqui de cima tudo parece estar em um movimento sincronizado:
tudo se encontra e se despede sem receio ou dor.
Há uma dose de justiça em cada queda
e uma força incansável que faz recomeçar.

Daqui de cima vejo o caminho
e ouço uma doce canção que enternece meu coração.
Daqui de cima até o ataque fatal de um crocodilo é bonito,
assim como é tênue a dor da presa.

Daqui de cima,
sobre a névoa turva que cobria meus ombros e me cegava,
a vida encontra seu lugar através de pequenos gestos
de amor e caridade,
que ecoam como uma prece que se faz em silêncio.

Daqui de cima eu te vejo e te cuido
e te aguardo serenamente,
para beijar sua alma inquieta sem argumento,
no seu tempo.

Inserida por purapoesia

A Notícia

O telejornal começou com a instigante notícia:

_ A ciência explica o amor!

O jornalista ainda disse com pesar em seu discurso:

_ Para a tristeza dos poetas, cientistas afirmam que o amor nada mais é do que uma cadeia de reações químicas do cérebro...

Podre jornalista. Pobre notícia. Pobres cientistas.

Como poderiam os cientistas decifrar o amor se ainda nem conseguiram explicar a existência dos dragões?

Ora, o que sabem esses cientistas se nunca cavalgaram em um unicórnio ou discutiram sobre os Guadalupes?

Eles nem mesmo puderam descobrir onde moram as fadas e os duendes e nunca escreveram para o Papai Noel. Pobres cientistas!

Aliás, eles nunca se pronunciaram sobre as intervenções salvadoras dos anjos da guarda ou sobre os olhos atentos de São Longuinho.

Por acaso esses sujeitos já viram extraterrestres ou se assustaram com fantasmas? Então como seriam confiáveis?

Podres cientistas que nunca puderam falar com Deus através do amor.

Podres cientistas que amam por reações químicas cerebrais.

Podres cientistas que nunca puderam amar, simplesmente.

Pobres cientistas que se preocupam em explicar o amor.

Afinal, quem disse que o amor pede explicação?

Inserida por purapoesia

Classificados

Vendo sonhos não vividos.

Inserida por purapoesia

O Vinho

O vinho é o maior amigo do amor
E o melhor remédio pra dor

Se faz, se refaz: é transformador
E à vida empresta cor

Respira, transpira...
Transita no silêncio e inspira

O vinho carrega o cheiro da saudade
E a sofisticação da verdade

Como a mulher é paixão e mais nada
O vinho é poesia engarrafada

Inserida por purapoesia

Nossas Sombras

Nossas sombras permanecerão escondidas
na penumbra daquele quarto,
aconchegadas entre os lençóis
e sedentas de nós,
implorando para que o dia não amanheça
e para que nossa paixão nunca envelheça.

Inserida por purapoesia

Teu Jazz

esses dias são assim
terrivelmente assim
têm nuvem, sol
e, às vezes, chuva

nesses dias
assim
terrivelmente assim
uma música sempre toca
e o coração se entoca

aqui
nem samba
nem bamba
só teu jazz
me traz paz

Para que seu Sonho nos Guie

Desejo que sua busca obtenha resposta,
que sua luta possua um propósito
e que seu amor alcance a paz.

Desejo que sua palavra ache a melodia
e que sua fome nunca se sacie,
para que seu sonho nos guie.

Desejo que você tenha amigos
e que a amizade renasça em cada abraço
e seja um acalento para o seu coração.

Desejo que seu dom ecoe e
que não destoe ou se perca na soberba.

Desejo que sua vitória não almeje glória
ou apenas se sobressair por vaidade.

Desejo que sua fé encontre Deus
e que Ele te reconheça
para que a esperança prevaleça.

Inserida por purapoesia