C. H. Spurgeon

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Nós precisamos de ventos e tempestades para exercitar nossa fé, para arrancar o ramo podre da auto-dependência e nos enraizar mais firmemente em Cristo.

Sentimentos que não podem ser expressos são sempre orações que não podem ser recusadas.

Mesmo que não possamos ver Deus, tenhamos confiança pois estamos sob a sombra de suas asas.

Alegrem-se vocês que se sentem perdidos. O Salvador de vocês vem buscá-los e salvá-los. Tenham bom ânimo, vocês que estão em prisão, porque Ele veio colocá-los em liberdade. Vocês que sofrem de fome e estão a ponto de morrer, alegrem-se porque Ele consagrou uma Belém para vocês, uma Casa de Pão, e Ele veio para ser o pão de vida para suas almas. Alegrem-se, ó pecadores, em todas as partes, porque nasceu o Restaurador dos perdidos, o Salvador dos caídos! Unam-se a alegria dos santos, porque ele é o preservador dos salvos, livrando-os de inumeráveis perigos, e Ele é o seguro aperfeiçoador daqueles que preserva. Jesus não é um Salvador parcial, que começa uma obra e não a acaba – não, mas restaurando e sustentando, Ele também aperfeiçoa e apresenta os salvos sem mancha, ruga, nem coisa alguma parecida diante do trono de Seu Pai. Regozijem em alta voz todos os povos, que as colinas e os vales ressoem com gozo, porque um Salvador que é poderoso para salvar nasceu dentre vocês.

O alvo da oração é o ouvido de Deus.

Antes que o sol se ponha, pense em algum ato que leve à conversão de alguma pessoa e execute-o com todas as suas forças.

Aquele que merece o sorriso do ímpio deve esperar a desaprovação de Deus.

Acreditem nisso: se alguma vez se permitirem ser agradados por aqueles que falarem bem de vocês, serão capazes de se magoarem na mesma medida por aqueles que falam mal de vocês.

Se vocês e eu ficarmos completamente ocupados no zelo por Deus, com o desejo de conquistar almas, nada nos atemorizará. Suportaremos toda e qualquer coisa, e não nos parecerá que estamos aguentando coisa alguma; escutaremos calúnias como se nem as ouvíssemos, e suportaremos as adversidades como se não existissem.

Existem muitos neste mundo que desconsideram a tristeza [do próximo], que evitam os que sofrem mágoas, que estão surdos diante das lamentações, e cegos diante das aflições. O modo mais fácil que conheço para lidar com essa cidade onde moramos, maligna e desgraçada, é não ficar sabendo muito a respeito dela. Dizem que metade do mundo não sabe como a outra metade vive; certamente se soubesse não viveria de modo tão descuidado, nem seria tão cruel como o é. Existem vistas nesta metrópole que derreteriam um coração de aço e tornariam generoso um Nabal. Mas fechar os olhos para não ver nada da desgraça alheia que rasteja diante dos seus pés é um modo fácil de escapar do exercício da benevolência. "Onde a ignorância é felicidade, é tolice ser sábio"; assim disse um ignorante de vida fácil em tempos antigos. Se os mendigos são importunos, os transeuntes precisam ser surdos. Se os pecadores são profanos, é muito fácil para nós tampar os ouvidos e seguir adiante, com pressa.

Não vamos imitar o homem da fábula que viu um menino se afogando e, imediatamente, lhe passou uma preleção a respeito da imprudência de ir para a água onde não mais dá pé. Não, não, vamos tirar o menino para a margem, secá-lo e vesti-lo, e então falar a ele que não deve mais fazer isso para que coisa pior não lhe aconteça.

Quando o filho pródigo voltou para casa para do seu pai, o pai deveria lhe ter dito, segundo o modo considerado correto, de conformidade com o que as pessoas fariam hoje em dia: "Pois bem, você voltou para casa, e estou contente em vêlo, mas olhe o seu estado! Como você chegou a esse estado? Ora, você quase não tem um farrapo limpo no corpo! Como é que você ficou tão pobre? E você está tão magro e esfomeado; como aconteceu isso? Onde você esteve? O que você andou fazendo? Com quais companhias você andou? Onde estava você na semana passada? O que estava fazendo anteontem às sete horas?"
O pai não lhe fez uma única pergunta, mas o apertou contra o peito e, instintivamente, sabia tudo a respeito. O filho voltou assim como ele era, e o pai o acolheu assim como ele era. O pai parecia dizer, com um beijo: "Meu filho, vamos esquecer o que passou. Você estava morto, mas agora voltou a viver; você estava perdido, mas agora foi achado, e não quero perguntar mais nada." É exatamente assim que Jesus Cristo está disposto a acolher os pecadores arrependidos. Temos aqui uma meretriz das ruas? Venha, pobre mulher, assim como você está, ao seu querido Senhor e Mestre, que a purificará do seu pecado grave. "Todo tipo de pecado e blasfêmia será perdoado." Há alguém aqui que transgrediu as regras da sociedade, que é apontado como pessoa que transgrediu as regras da sociedade? Mesmo assim, venha, e seja bem-vindo, ao Senhor Jesus, a respeito de quem está escrito: 'Este homem recebe pecadores e come juntamente com eles.'" O médico nunca acha desprezível circular entre os doentes; e Cristo nunca considerou vergonhoso cuidar dos culpados e dos perdidos. Pelo contrário: escrevam isso em volta do seu diadema - "O Salvador dos pecadores, até mesmo do principal deles"; ele conta isso como sua glória. Ele operará a seu favor e não o repreenderá. Ele não tratará você com uma dose de teorias e com uma hoste de repreensões amargas; pelo contrário, ele acolherá você, assim como você está, nas feridas do seu lado, e ali o esconderá da ira de Deus. Oh, que bendito evangelho tenho para pregar a vocês! Que o Espírito Santo os leve a aceitá-lo!

Você não está regenerado? Nesse caso, existe espaço em você para o Espírito de Deus operar a regeneração. Todas essas deficiências espirituais que você tem - sua ignorância e suas trevas - serão transformadas pelo infinito amor em oportunidades para a graça. Se não estivesse perdido, você não poderia ser salvo. Se não estivesse culpado, não poderia ser perdoado. Se não fosse pecador, não poderia ser purificado. Mas todo o seu pecado, e sua tristeza, mediante um mistério estranho de amor, é um tipo de qualificação de você mesmo para Cristo vir salvá-lo. Alguém comenta: "Para mim, o caso assim é apresentado numa nova luz." Aceite essa nova luz e seja confortado, pois é luz do evangelho, e tem o propósito de animar os desesperançosos. Você fala: "Nada de bom existe em mim"; fica claro, portanto, que há lugar para Cristo ser tudo para você. Você percebe que não podem existir dois "tudo"; só pode existir um, e já que você não está pretendendo esse título, Jesus o ostentará. Todo o espaço que você ocupar na sua própria estima remove o mesmo tanto de espaço da glória do Senhor Jesus; se você não é nada, sobra essa casa inteira para o Salvador ocupar. Ele entrará, e encherá todo o seu vácuo interior com sua própria querida pessoa, e será glorioso aos seus olhos para sempre.

Aventuro-me a dizer nesta noite que todas as aflições podem ser consideradas desta mesma maneira: oferecem oportunidades para a obra de misericórdia de Deus. Sempre que você vê um homem envolto em tristezas e aflições, a maneira certa de considerar essa situação não é culpar a ele e querer saber como chegou a esse ponto, mas dizer: "Aqui temos uma abertura para o amor onipotente de Deus. Trata-se de uma ocasião para a demonstração da graça e bondade do Senhor."

Assim, posso falar a todos os aflitos: não sejam rebeldes com suas aflições; não se deixem perturbar excessivamente por elas, nem se deixem desanimar totalmente por elas; mas considerem-nas como aberturas para a misericórdia, portas para a graça, entradas para o amor. O vale de Açor será para vocês uma porta de esperança. O obreiro poderoso, a respeito de quem falei, achará uma oficina na aflição de vocês, e nela formará monumentos da sua graça. Glorifiquem-se nas suas enfermidades para que o poder de Cristo repouse sobre vocês. Regozijem-se porque, à medida que as suas tribulações abundarem, assim abundarão as suas consolações por meio de Jesus Cristo. Peçam a ele que faça todas as coisas cooperar para o bem de vocês e a glória dele e assim será feito.

Como poderíamos ter conhecido o coração de Deus? Como poderíamos ter entendido a misericórdia de Deus? Não fosse o nosso pecado e desgraça, como poderiam ter sido demonstrados semelhante clemência e amor? Venham, pois, ó culpados, animem-se, busquem a graça. Assim como o médico precisa dos enfermos a fim de que possa exercer sua capacidade para curar, assim também o Senhor da misericórdia precisa de vocês para ele demonstrar a graça que pode conceder. Se eu fosse um médico, e desejasse uma clínica, não procuraria saber a respeito da região mais saudável, mas uma localização onde os enfermos encheriam o meu consultório. Se tudo quanto eu buscasse fosse praticar o bem ao meu próximo, eu desejaria estar no Egito ou em algum outro país acometido pelo cólera ou pela peste, onde pudesse salvar vidas humanas.

Para você, caro amigo, é uma grande bênção se você quer ser salvo, porque Cristo precisa salvar! Existe nele o grande impulso de fazer questão de salvar. Sei que vocês dizem: "Não consigo orar. Nem tenho vontade de orar." Não se preocupem com isso: a questão está entregue a mãos mais capacitadas. Vejam bem: esse homem não disse uma palavra; bastava vê-lo para comover o coração do Senhor Jesus. Tão logo Jesus o viu disse: "Preciso trabalhar." Vocês já viram um homem sem dotes oratórios, mas que consegue receber esmolas em grande escala? Eu já. Ele se veste como trabalhador camponês. Usa um blusão comprido e se senta num cantinho por onde muitos passam; o lugar onde faz seu ponto fica um pouco fora do trânsito impetuoso, mas suficientemente perto para conseguir a atenção de muitos transeuntes. Deixa visível uma enxada, muito surrada pelo uso feito dela por outra pessoa, e nela está escrito: "Estou morrendo de fome!" Parece extenuado e faminto; a montagem é extremamente bem feita, e fica tão pálido quanto o giz pode torná-lo. Oh, quantas moedinhas de cobre entram no seu velho chapéu! Como as pessoas têm pena dele! Ele não canta uma modinha tristonha; não fala uma única palavra; no entanto, muitos são comovidos pelo fato de parecer verdade que está morrendo de fome. Agora, meu caro, você não precisa ser falso naquilo que faz se apresentar sua desgraça e pecado diante do Senhor. Nesta noite, quando chegar em casa, ajoelhe-se à beira da sua cama e diga: "Senhor Jesus, não sei orar; mas aqui estou. Estou perecendo e me coloco diante da tua vista. Em vez de escutar as minhas petições, olhe para os meus pecados. Em vez de exigir argumentos, olhe para a minha iniquidade. Em vez de escutar minha oratória, que nem possuo, Senhor, lembre-se de que dentro em breve estarei no inferno se o Senhor não me salvar." Então, o sino tocará, e o grande obreiro achará que chegou a hora de ele labutar; e dirá, nas palavras do texto em estudo "Preciso trabalhar", e em você as obras de Deus se manifestarão. Você será a oficina de Cristo.

Depois de você e eu escrevermos uma carta, escrevemos um pós-escrito; depois de escrevermos um livro, poderemos escrever um apêndice ou inserir alguma coisa que omitimos. Mas a esta nossa vida, não poderá haver um pós-escrito. Devemos fazer nosso trabalho agora ou nunca; e se não cumprirmos nosso serviço para Deus agora, agora mesmo, enquanto tivermos a oportunidade à disposição, nunca poderemos cumpri-lo. Se você omitir alguma coisa ontem, você não poderá alterar o fato do serviço imperfeito naquele dia. Se estiver mais zeloso agora, será a obra de hoje; mas o ontem continuará sendo tão incompleto quanto você o deixou. Devemos, portanto, ficar alerta para cumprir a obra daquele que nos enviou, enquanto ainda estivermos no hoje.

Quem dera que eu soubesse levá-los a buscar o meu Senhor e Mestre; pois se vocês o buscassem, ele será achado por vocês tão certamente como vocês o buscam. Cristo não perdeu sua entranhável compaixão; não tem coração frio nem mão relapsa. Vá para ele imediatamente. Falei, há pouco tempo, a alguns dos piores pecadores, e lhes digo de novo - Vão para Jesus! Quero falar com alguns entre vocês que não são os piores pecadores, com vocês que têm sido ouvintes do evangelho e só falharam porque não crêem em Jesus. Vão até ele imediatamente. Vocês estão relutantes, mas ele, não. Ele precisa continuar trabalhando, e continuar enquanto durar o dia do evangelho, pois aquele dia chegará ao fim dentro de pouco tempo. Ele está esperando e vigiando por você. Oh, venham a ele - venham agora mesmo. "Não sei o que é vir a ele", diz alguém. Pois bem: vir a Cristo é simplesmente confiar nele. Vocês são culpados; confiem nele para perdoá-los. "Se eu fizer assim", pergunta alguém, "posso continuar vivendo como antes?" Não, isso você não pode, pois quando um navio deve ser conduzido para dentro do porto e recebe um piloto a bordo, este dirá ao capitão: "Capitão, se você confiar em mim, vou colocar o navio dentro do porto em segurança. Olhe, mande descer aquela vela." E eles não o fazem. "Venha", diz o piloto, "cuide do leme, e governe o navio conforme mando." Mas eles se recusam. "Pois bem", diz o piloto, "você disse que confiava em mim." "Sim", responde o capitão, "e você disse que se confiássemos em você, você nos colocaria no porto; mas não chegamos ao porto de jeito algum." "Não", diz o piloto, "vocês não confiam em mim, pois se confiassem, fariam o que lhes mando." A confiança genuína obedece aos mandamentos do Senhor, e estes proíbem o pecado. Se você confia em Jesus, você deve deixar de pecar, tomar a sua cruz, e seguir a ele. Semelhante confiança receberá com certeza a sua recompensa: você será salvo agora, e salvo para sempre.

Há pó suficiente sobre algumas de suas Bíblias que dá para escrever 'condenação' com os dedos!

C. H. Spurgeon
Sermons of the Rev. C. H. Spurgeon of London (1857).

Que é Deus para nós? É o Criador dos céus e da terra; Ele sustenta os pilares do universo. Ele com Seu hálito, perfuma as flores. Com Seu lápis colore. Ele é o
autor desta linda criação. “Somos ovelhas do seu pasto; Ele nos fez, e não nós a nós mesmos”. A relação que tem conosco é de Construtor e Criador; e por esse
fato reclama ser nosso Rei. Ele é nosso Legislador, o autor da lei; e logo, para que nosso crime seja pior e mais grave, Ele governa a providência; pois é Ele
quem nos guarda dia a dia. Ele supre nossas necessidades; Ele mantém o ar que nosso nariz respira. Ele ordena ao sangue que mantenha seu curso por todas nossas veias; Ele nos mantém com vida, e nos previne da morte; Ele está diante de nós como nosso Criador, nosso Rei, nosso Sustento, nosso Benfeitor; e eu pergunto: por acaso não é um crime de enorme magnitude, não é alta traição
contra o imperador do céu, não é um pecado horrível, cuja profundidade não podemos medir com a sonda de todo nosso juízo, que nós, Suas criaturas, que dependemos dEle, estejamos inimizados com Ele?

O homem completo está estropiado. Olhem nossa memória; acaso não é verdade que a memória participa da queda? Eu posso recordar muito mais as coisas más que as coisas que tem cheiro de piedade. Se eu escuto uma canção lasciva, essa música do inferno ficará em meus ouvidos até que eu fique grisalho. Mas se escuto uma nota de santo louvor: ai!, me esqueço! Por que a memória aperta com mão de ferro as coisas más, mas sustém com dedos frágeis as coisas boas. A memória permite que o cedro glorioso dos bosques do Líbano flutue sobre a corrente do esquecimento, mas retém toda a imundície que chega flutuando da depravada cidade de Sodoma.
A memória recordará o mal, mas esquecerá o bem. A memória participa da queda. O mesmo ocorre com os afetos. Amamos as coisas terrenas mais do que deveríamos amá-las; rapidamente entregamos nosso coração a uma criatura, mas
raras vezes o oferecemos ao nosso Criador; E quando o coração é entregue a Jesus, é propenso a se extraviar.
Olhem a nossa imaginação também. Oh! Como se deleita a imaginação quando o corpo se encontra em uma condição perniciosa. Somente dêem ao homem algo que o leve a ponto de intoxicar-se; droguem-no com ópio; e como dançará sua
imaginação cheia de alegria! Como pássaro liberto de sua jaula, como se renovará com asas mais vigorosas que as asas da águia! Vê coisas que nem sequer havia sonhado nas sombras da noite. Por que razão sua imaginação não
trabalhou quando seu corpo se encontrava em um estado normal, quando era saudável? Simplesmente porque a imaginação é depravada; e enquanto não se
introduziu um elemento imundo, enquanto o corpo não havia começado a estremecer-se com um tipo de intoxicação, a fantasia não pensava celebrar seu carnaval. Temos alguns esplêndidos exemplos do que o homem pode escrever,
quando influenciado pela maldita aguardente. Pelo fato de que a mente é tão depravada, ela se encanta com tudo aquilo que põe o corpo em uma condição anormal; e aqui temos uma prova que a própria imaginação se extraviou.

Mas nós podemos ver que o crime é mais grave quando pensamos no que Deus é. Me permitam apelar pessoalmente a vocês em um estilo de interrogatório, pois isto tem muito peso. Pecador! Por que estás inimizado com Deus? Deus é o
Deus de amor. Ele é amável com Suas criaturas. Ele te olha com Seu amor de benevolência, pois este mesmo dia Seu sol brilhou sobre ti, hoje tiveste alimento
e roupas, e chegaste a esta capela com saúde e vigor. Odeias a Deus porque te ama? Essa é a razão? Considerem quantas misericórdias recebeste de Suas mãos durante tua vida! Não nasceste com um corpo disforme; tiveste uma tolerável medida de saúde; te recuperaste muitas vezes de doenças. Quando estavas no limiar da morte, Seu braço deteve tua alma do último passo de destruição. Odeias a Deus por tudo isto? O odeias porque salvou tua vida por Sua terna misericórdia? Contempla toda Sua bondade que estendeu diante de ti! Poderia ter te enviado ao inferno; mas estás aqui. Agora, odeias a Deus porque te
conservou?
Oh, por que razão estás inimizado com Ele? Meu amigo, acaso não sabes que Deus enviou a Seu Filho procedente de Seu peito, e O pendurou na cruz, e ali permitiu que morresse pelos pecadores, o justo pelos injustos? E, odeias a Deus por isso? Oh, pecador, acaso é esta a causa de tua inimizade? Estás tão longe que agradeces com inimizade o amor? E quando te rodeou de favores, quando te
cingiu com bênçãos, quando te cumulou de misericórdias, acaso O odeias por isso? Ele poderia dizer-te o mesmo que disse Jesus aos judeus: “Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me
apedrejais?” Por quais destas obras odeiam a Deus? Se algum benfeitor terreno houvesse te alimentado, o odiarias? Se te houvesse vestido, o ultrajarias em sua
face?
Se te houvesse dado talentos, tornarias contra ele estes poderes? Oh, fala! Forjarias o ferro de uma adaga e a cravarias no coração de teu melhor amigo?
Odeias a tua mãe que te criou em seus joelhos? Acaso maldizes a teu pai que sabiamente velou por ti? Não, respondes, sentimos uma pequena gratidão por nossos parentes terrenos. Onde estão seus corações, então? Onde estão seus corações, que ainda podem depreciar a Deus, e estar inimizados com Ele? Oh, crime diabólico! Oh, atrocidade satânica! Oh, iniquidade indescritível! Odiar a
Quem é todo amável, aborrecer ao que mostra misericórdia constante, desdenhar do que bendiz eternamente, escarnecer do bom, do cheio de graça; sobretudo,
odiar a Deus que enviou a Seu Filho para que morresse pelo homem! Ah!, este pensamento: “A mente posta na carne é inimiga de Deus,” há algo que nos sacode; pois é um terrível pecado estar inimizados com Deus. Quisera poder
falar com maior poder, mas somente meu Senhor pode fazê-los ver o enorme mal deste horrível estado do coração.

Outra doutrina que extraímos disto é: a necessidade de uma mudança completa de nossa natureza. É certo que desde que nascemos estamos inimizados com Deus. Quão necessário é, então, que nossa natureza tenha uma mudança! Há poucas pessoas que sinceramente crêem nisto. Eles pensam que se clamam: “Senhor, tem misericórdia de mim”, quando estão agonizando, irão ao céu diretamente. Permitam-me supor um caso impossível por um momento. Imaginemos um homem que está entrando no céu sem uma mudança em seu coração. Ele se aproxima das portas. Escuta um soneto. Ele se sobressalta! É um hino de louvor para o seu inimigo. Vê um trono, e nele está assentado Um que é glorioso; mas é seu inimigo. Caminha por ruas de ouro, mas essas ruas pertencem a seu inimigo. Vê hostes de anjos, mas essas hostes são os servos de seu inimigo. Ele se encontra na casa de um inimigo; pois ele está inimizado com Deus. Não pode unir-se aos cantos, pois desconhece a melodia. Ficaria ali parado, silencioso, imóvel, até que Cristo dissesse com uma voz mais potente que dez mil trovões: “Que fazes tu aqui? Inimigos no banquete das bodas? Inimigos na casa dos filhos? Inimigos no céu? Vá embora! Aparta-te, maldito, para o fogo eterno do inferno”!

Oh!, senhores, se os não regenerados pudessem entrar no céu. Trago uma vez mais à memória, o tão repetido ditado de Whitefield: seria tão infeliz no céu, que pediria a Deus que me permitisse precipitar-me ao inferno para buscar abrigo lá.

Deve haver uma mudança, se pensamos no estado futuro, pois, como poderiam os inimigos de Deus sentar-se no banquete das bodas do Cordeiro?

E para concluir, me permitam recordar-lhes (e depois de tudo está no texto), que esta mudança deve ser feita por um poder superior ao de vocês. Um inimigo pode possivelmente converter-se em amigo; mas não a inimizade. Se ser um inimigo fosse uma adição à sua natureza, ele poderia tornar-se um amigo; mas se é a essência mesma de sua existência ser inimizade, positiva inimizade, a inimizade não se pode mudar a si mesma. Não, devemos fazer algo mais do que podemos alcançar. Isto é precisamente o que se esquece nestes dias. Necessitamos mais pregação com a unção do Espírito Santo, se queremos ter mais obra de conversão. Eu digo a vocês, amigos, que se vocês operam a mudança em vocês mesmos, e se tornam melhores, e melhores, e melhores, mil vezes melhores, nunca serão o suficientemente bons para o céu. Enquanto o Espírito de Deus não haja posto Sua mão em vocês; enquanto não haja regenerado o coração, enquanto não haja purificado a alma, enquanto não haja mudado o espírito inteiro e não haja feito do homem uma nova criatura,

não poderão entrar no céu. Quão seriamente, então, deveriam fazer uma pausa e meditar. Eis-me aqui, uma criatura de um dia, um mortal nascido para morrer, contudo um ser imortal! Neste momento estou inimizado com Deus. Que farei? Acaso não é meu dever, assim como minha felicidade, perguntar se há uma maneira de ser reconciliado com Deus?

Oh!, esgotados escravos do pecado, acaso não são seus caminhos, sendas de insensatez? Acaso é sabedoria, oh meus amigos, é sabedoria odiar a seu Criador? É sábio estar em oposição a Ele? É prudente desprezar as riquezas da Sua graça? Se for sabedoria, é a sabedoria do inferno; se é sabedoria, é uma sabedoria que é insensatez para com Deus. Oh, que Deus nos conceda que possam voltar-se para Jesus com pleno propósito de coração! Ele é o embaixador; Ele é o único que pode estabelecer a paz por meio de Seu sangue; e ainda que vieram aqui como inimigos, é possível que atravessem essa porta como amigos, se não fazem senão olhar a Jesus Cristo, a serpente de bronze que foi alçada.

E agora, pode ser que alguns de vocês tenham sido convencidos do pecado, pelo Espírito Santo. Eu agora vou proclamar o caminho da salvação. “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” Contempla, oh temeroso penitente, o instrumento de tua libertação. Volta teus olhos cheios de lágrimas para aquele Monte do Calvário! Olha a vítima da justiça, o sacrifício de expiação por tua transgressão. Olha para o Salvador em Suas agonias, comprando tua alma com torrentes de Seu sangue, e suportando teu castigo em meio às agonias mais intensas. Ele morreu por ti, se confessas tuas culpas agora. Oh, vem tu, homem condenado, auto condenado, e volta teus olhos a este caminho, pois um só olhar salvará. Pecador, tu foste mordido. Olha! Não necessitas nenhuma outra coisa senão “olhar!” É simplesmente “olhar!” Basta que olhes a Jesus e serás salvo. Ouves a voz do Redentor: “Olhem para mim e sedes salvos.” Olhem! Olhem! Olhem! Oh almas culpadas

“Confia nEle, confia plenamente,

Não permitas que outra confiança se intrometa;

Ninguém senão Jesus

Pode fazer bem ao pecador desvalido.”

Ó amados: quanto mais olharmos para Jesus crucificado, tanto mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão crescente produzirá sensibilidade crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado, para que odeiem cada vez mais o pecado. (…) Vivam no Calvário, amados, até que viver e amar se tornem a mesma coisa. Diria também: olhem para Aquele que foi traspassado, até que o coração de vocês seja traspassado.
Um antigo teólogo dizia: “Olhe para a cruz, até que tudo que está na cruz esteja em seu coração”. E acrescentou: Olhe para Jesus, até que Ele olhe para você”. Olhem com firmeza para a sua Pessoa sofredora, até que Ele pareça estar volvendo sua cabeça e olhando para você, assim como o fez com Pedro, que saiu e chorou amargamente. Olhe para Jesus, até que você veja a si mesmo. Lamente por Ele, até que lamente por seu próprio pecado… Ele sofreu em lugar, em favor e em benefício de homens culpados. Isso é o evangelho. Não importa o que os outros preguem, “nós pregamos a Cristo crucificado” (1 Co 1.23).