Arthur Bonfanti

"...14 de maio, um garoto retardado, sem nada nem nenhum motivo para estar naquele lugar, naquele momento com aquela ridícula touca de natal; mas foi ali que ela apareceu. Seus longos cabelos morenos, seus, brilhantes, olhos castanhos e seu sorriso estonteante o encantaram definitivamente. Estava ele hipnotizado com o espontâneo e inesperado oi que recebera! Mas seu jeito desengonçado o fez ficar o mais constrangido possível. Ela continuava lá, parada, com seu sorriso estático e ele tentando recuperar a voz que a vergonha o havia arrancado..."

"... mas foi ai que me deparei com ela; a menina mais perfeita que havia visto nos meus treze anos de vida. Ela andava como se estivesse caminhando em algodão, seu cabelo, que mais parecia fios de ouro, balançava a brisa, que congelava a parte da minha mão onde a luva não cobria, seus olhos brilhavam feito lua refletida em água doce. Cheguei a pensar que era algo divino, aquela sensação me passou o corpo inteiro. Quando a perdi de vista, pela primeira vez na vida, comecei a rir sozinho, rir de alegria; mas a minha vida foi sempre assim, feita de sonhos e ilusões."

"... estava deitado, não sabia o que estava acontecendo, só tinha a consciência que não estava mais lá. Meus pés estavam longe, onde a penumbra permanecia em silêncio. Não sabia por que minhas pernas estavam tão pesadas, não as conseguia levantar, mesmo que as conseguisse não tinha a menor intenção. Meus dedos estavam cruzados, aquela posição fazia com que a agonia se alastrasse pelo meu corpo, mas eu continuava sem nem algum tipo de receio. A sensação que me veio sem nem eu ao menos perceber foi que a morte poderia estar chegando. Entrei em pânico, não sabia o que fazer, fiquei estático até que comecei a rir e perceber que tudo já estava no seu lugar, que tudo já havia se ajeitado em seus devidos momentos e que, a morte, naquele instante, já havia ido embora.