Ângela Beatriz Sabbag
Meu nome é Ângela,
Ângela Beatriz.
Mas você pode me chamar de carinho,
De amor,
De afeto...
Pode até não me chamar.
Dor,
Abandono,
Miséria,
Dor,
Abandono,
Miséria,
Um pingo se transforma em oceano,
O doce mais doce amarga,
Amarguei.
Está tão frio aqui!
Meu entusiasmo escondeu-se de mim.
Está tão sem graça aqui!
Minha boca não está com vontade de sorrir.
Está tão escuro aqui!
Aquelas luzes que me iluminam estão em greve.
Está tudo tão enfadonho aqui!
Cansei de ler as mesmas coisas copiadas aos borbotões.
Está tão sem elegância aqui!
Posso contar nos dedos, poucos dedos quem tem realmente classe.
Sinto que faço cara de paisagem,
Não antevejo uma aragem,
Uma perspectiva sequer de mudança,
De gente que não dança,
Não se submeta ao ritmo mas crie novos acordes.
Sou belga, que é brega num melhor estilo,
Esquio em " ", porque Aspen só em fotografias,
Sou pobre de dar dó, mas rica de espírito,
Celular pré-pago,
Carteira cheia de papéis e documentos,
Sem cartão de crédito,
Tecnologia primária,
Ensino superior,
Babaca,
Boboca,
Manteiga,
Sou pobre menina rica,
De tudo, menos de dinheiro.
E se eu ficar louca?
Parar de tomar dois drinks diários,
Não tomar mais ansiolíticos,
Dormir oito horas diárias,
Caber direitinho nos espaços,
Não conseguir mais morrer de rir comigo,
Deixar de passar por baixo da cancela,
Seria loucura demais,
A vida normalzinha que eu levo é melhor, não é Dr. Freud?
Não sou sectária, segregadora, usurpadora e nem cláusula pétrea.
Sou flexível, aberta e compassiva.
Não gosto de grupos, guetos e nada que compartimente seres humanos.
A felicidade foi dar um passeio sem avisar,
Ela é parte indissociável de mim,
Vou ficar esperando você, pode até demorar,
Com um sorriso escancarado cor de carmim.
O amor é o sentimento mais libertário que existe! Ele revoluciona e não requer nenhum tipo de aquiescência da outra parte para ser exercido.
O ar que respiro dá-me a vida,
O vento que esvoaça meu cabelo fustiga-me a pele,
O fogo que aquece minhas noites ao luar é o mesmo que inquieta a minha paixão,
A terra que me faz lembrar a finitude da vida é a mesma que me possibilita plantar,
A água que me proporciona banhos incríveis é a mesma água que sacia minha sede.
Ar, fogo, terra e água, quatro elementos fundamentais para a vida humana.
Necessito de Setembro, preciso de Primavera, solicito a esperança...
Aguardo dias melhores, verdes viçosos, flores nas árvores e a pureza de uma criança.
Amo Maio e Setembro...Maio me deu um golpe, mas continuo a amá-lo, setembro está por vir, chegará amanhã...
E já na primeira manhã de setembro depositarei toda a minha esperança.
Seja bem-vindo o nono mês do ano!
Pensando que não tinha nada, descobri que tenho tudo.
Tenho todo um alfabeto, vinte e seis letras que me fazem viajar, que me permitem amar e ser correspondida, ouvir canções, o canto dos pássaros, molhar-me com a chuva num dia no campo, contemplar o mar e sentir a brisa marinha acariciando minha pele bronzeada, dançar numa balada exclusiva, ter uma família perfeita. Posso acabar com a corrupção, viver numa democracia modelo, jogar fora as doenças para fora do universo, bebericar uma taça de champagne a qualquer hora e preencher todos os meus poros com a mais avassaladora paixão. Em matéria tecnológica ter o que há de mais moderno, posso dirigir meu conversível pelas estradas sinuosas de Monte Carlo, esperar meu motorista sem cansaço, e melhor, posso mandar às favas esse resfriado medíocre que me acometeu.
Despertei com uma vontade inadiável de ser feliz,
Agradeci o brilho do sol,
Me encantei com o canto dos pássaros,
E isso me fez novamente inauditamente feliz.
Não lhe encomendo nada de Paris porque não há como trazer-me a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Sena e o Café de Flore. Traga-me somente um champagne, o melhor, as taças tenho aqui...
Se eu fosse uma flor, queria ser copo-de-leite;
Se uma pedra, diamante;
Se animal,um cavalo pelo porte ou um pássaro pelas asas;
Se chocolate, uma trufa;
Se livro, uma biblioteca;
Se uma música, uma Rádio qualquer;
Se um quadro, não queria ser uma pintura moderna;
Se bebida, água;
Se fosse eu, queria ser eu!
Tenho a nítida impressão de que fiquei presa em alguma teia do passado. Não sou uma pessoa estática, tampouco inflexível. Gabo-me de ir acompanhando a evolução das coisas e ir além disso, gostar das modernidades. Mas acho que fiquei bastante emaranhada naqueles anos pretéritos, pois pego-me frequentemente comparando algo atual com seu similar mais antigo e o que é mais antigo ganha de goleada em charme, elegância, sentimento, glamour e eternidade.
Hey! Vou lhe contar um segredo:
Cansei de ser romântica, de ansiar por beijos seus,
De quase quebrar os ossos esperando um abraço,
Imaginando onde tudo isso nos levará...
Exijo um alvará de soltura,
Troco esse coração abobalhado por muito cinismo,
É questão de sobrevivência,
Pois estou caindo cada vez mais num imenso abismo.
Quero beber todas! Sim, como o peru que é sacrificado a cada Natal. Que eu saiba não vou ser sacrificada, mas esse apagar das luzes da ribalta do ano que finda me deprime. A cada espetáculo encerrado depois de longos 365 dias em cartaz, mesmo que não tenha sido em sua maior parte romântico, cômico e encerre muito mais de drama em si, me deixa melancólica. Mesmo já vislumbrando as luzes da nova peça que entrará em cartaz daqui a pouquíssimos dias, onde poderei escrever uma história inédita, escolhendo as personagens que contracenarão comigo e escolhendo o papel que quero desempenhar, mesmo assim me deprimo. Não sei explicar e nem tenho a pretensão de conseguir, só estou extravasando o meu sentimento.
O que arde? Amor ou paixão?
O que eleva a cabeça às nuvens? Paixão ou amor?
O que causa a urgência de um abraço? Amor ou paixão?
O que seca os lábios na ânsia de um beijo profundo? Paixão ou amor?
O que adianta teorizar se só a prática desses sentimentos poderia aplacá-los?
Preta de Piche é políticamente incorreto. Mas que graça teria a vida sem a subversão da ordem estabelecida? No mais, se os ditames a nós impostos fossem seguidos, certamente a Ordem levaria ao Progresso. Ademais, somos um país de pretinhas e pretinhos, e se fôssemos nórdicos, melhor seria imitar-lhes o desenvolvimento do que tentar imitar a cor. Preta de piche, aguarde porque vou render-lhe uma homenagem.
Talvez você diga que me ama,
Aí eu certamente direi que o amo também.
Esse intervalo entre a paixão e o amor é inquietante,
Dá nós na garganta, frios no estômago e medo de tudo.
Quero ser amada, há algo de errado nisso?
Sentir que viceja um compromisso.
Acho que sou uma simples mortal,
Portanto, creio que isso seja mais que normal.
