Andreza Filizzola
A primeira perda machucou, mas eu nem entendia o porquê da partida e para onde se ia. A segunda não só machucou, dilacerou, despedaçou, sangrou e ainda sangra. A terceira veio logo em seguida, abriu ainda mais a ferida, e eu perdi o controle do sangue que, por fim, acabou levando também a esperança. Mas o Rio, o Mar, a trouxe, e com a esperança vieram dias de muito amor. E, depois dos dias de muito amor, mais uma perda. Agora a quarta. A dor já não mais tamanha quanto a segunda, mas, como a terceira, levou consigo a esperança. A esperança, a crença, o sonho. Levou, lavou com lágrimas por fim engolidas. A fé no merecimento pelo que se planta se escondeu, correu, desapareceu, e não é vergonha admitir que ainda não a encontrei, apesar de saber que ela existe. O coração, que há muito tempo vinha andando em linhas bem desenhadas, não acreditou mais que as mesmas linhas o levassem a um lugar seguro. Então, o coração desceu o risco e também se escondeu. Creio que ele está abraçado à fé. Quem sabe, talvez. O que é certo é que a fé, a esperança, a crença na verdade, caminham para a dureza de um coração cheio de perdas. E é dolorido repetir que eu não me envergonho disso. Mas seria ainda mais dolorido ter que perder tudo de novo.
Estranho é quando você sente que perdeu momentos lindos no exato e conflituoso instante em que não há tanto a ser feito.
Está cada dia mais complicado agir de acordo com a lei, a moral e a ética, dada a insistência na intencionalidade e direcionalidade de alguns seres ao impedir o desenvolvimento sadio do trabalho alheio. Contudo (entretanto e entre tantos), embora difícil, eu opto pelo que é do bem e por quem é de bem. Lutar pelo justo nunca foi fácil - e talvez nunca seja, mas é o que me faz respirar fundo e continuar.
Essa é a hora que nos damos as mãos, e seguimos. Tá, o passado pesa um pouco nas costas, mas acreditamos que levar algo dele nos fará algum bem. Então, carregamos um pouco de peso, de poeira, de esperança; e uma dose rara e linda de pureza e amor. Seguimos sorrindo. E eu sei que ainda iremos longe com estes nossos sonhos tão simples, mas tão importantes para nós.
Eu poderia, como antes, sangrar letras em qualquer papel. Hoje deixo sangrar por dentro, que é pra criar coágulo e ter alguma utilidade.
Das pendências da minha vida, você é a que consegue me fazer ainda mais mulher, mais amada, sem precisar de muito.
Ainda sinto o teu gosto e, ao fechar os olhos, eu te vendo sorrindo e me perguntando como esperou tanto tempo para estar ali.
Quando eu quis te falar que eu já não suportava a saudade, tu me surpreendeste com a tua saudade desenhada em teus lábios.
E saudade por saudade, restou o silêncio mascarando o pulso célere. Um sorriso e um "não some mais da minha vida".
Você chega em um ponto em que olhar pra trás encoraja e olhar pra frente causa um medo imenso. Então, você pára, respira, sente o suor descer como se lágrimas fossem. E pensa. Paira no ar a respiração do cansaço do que ficou ali no passado e a respiração da ansiedade em ver de perto o que se pretende. Então, você segue sem saber como será, mas com a certeza de que não será em vão, porque ainda vale muito acreditar.
Nessa busca incessante de que melhore o que há, a gente acaba esquecendo de olhar para quem está ali por perto querendo estar mais perto.