Assim é se Lhe parece

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Quando se acaba de ouvir um trecho de Mozart, o silêncio que se lhe segue ainda é dele.

Desde que alberguemos uma única vez o mal, este não volta a dar-se ao trabalho de pedir que lhe concedamos a nossa confiança.

A Viúva

Quando a amiga lhe apresentou o garotinho lindo dizendo que era seu filho mais novo, ela não pôde resistir e exclamou: " Mas como, seu marido não morreu há cinco anos?" "Sim, é verdade" — respondeu então a outra, cheia daquela compreensão, sabedoria e calor que fazem os seres humanos — "mas eu não".

MORAL: Não morre a passarada quando morre um pássaro.

Millôr Fernandes
Fábulas Fabulosas (1964 - página 125)

Um dos primeiros efeitos da beleza feminina sobre um homem é o de tirar-lhe a avareza.

Deus criou o homem e, não o achando bastante solitário, deu-lhe uma companheira para o fazer sentir melhor a sua solidão.

Em geral é o caráter pessoal do escritor, e não a arte do seu talento que lhe marca a importância aos olhos do público.

A mulher que amamos só poucas vezes satisfaz as nossas necessidades, pelo que lhe somos infiéis com a mulher que não amamos.

O homem, essa criatura que aspira ao equilíbrio, compensa o peso do mal com que lhe partem a espinha, com a massa do seu ódio.

Milan Kundera
A brincadeira (1967).

É o desejo que cria o desejável e o projeto que lhe põe fim.

Simone de Beauvoir
BEAUVOIR, S. The Ethics of Ambiguity,1947

Quando alguém lhe disser: "Não é uma questão de dinheiro, mas de princípio", trata-se de uma questão de dinheiro.

Têm vergonha de obedecer ao rei porque ele é rei - então, obedecem-lhe porque ele é inteligente.

A experiência não é o que acontece a um homem. É o que um homem faz com o que lhe acontece.

Aldous Huxley
Text & Pretexts (1933).

Num voo de pombas brancas, um corvo negro junta-lhe um acréscimo de beleza que a candura de um cisne não traria.

Ama-se a vitória difícil, porque a derrota lhe preenchia quase todo o espaço possível. E foi com o que restava que se venceu em todo ele.

Vergílio Ferreira
FERREIRA, V., Pensar, 1992

Não escolhemos a forma do nosso destino, mas podemos dar-lhe conteúdo. O que procura aventura encontrá-la-á — à medida da sua coragem. O que procura o sacrifício, será sacrificado — na medida da sua pureza.

Os bens da Terra apenas servem para escavar a alma e aumentar-lhe o vazio.

Soneto da Desesperança

De não poder viver sua esperança
Transformou-a em estátua e deu-lhe um nicho
Secreto, onde ao sabor do seu capricho
Fugisse a vê-la como uma criança.

Tão cauteloso fez-se em seus cuidados
De não mostrá-la ao mundo, que a queria
Que por zelo demais, ficaram um dia
Irremediavelmente separados.

Mas eram tais os seus ciúmes dela
Tão grande a dor de não poder vivê-la,
Que em desespero, resolveu-se: - Mato-a!

E foi assim que triste como um bicho
Uma noite subiu até o nicho
E abriu o coração diante da estátua.

Um dos maiores prazeres da vida consiste em fazer o que os outros lhe dizem que você não pode.

A sorte, para chegar até mim, tem de passar pelas condições que o meu caráter lhe impõe.

Elogio da Sombra

A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.