Arquitetura Arte
A atual arquitetura cuida da casa, da casa normal e rotineira dos homens normais e rotineiros. Ela largou os palácios. Este é um sinal dos tempos.
Ricardo Cabús
Luz e Poesia
(Cacos Inconexos)
A luz está para a arquitetura
assim como a poesia
está para a literatura:
ambas carecem de corpos sensíveis
para serem vistas.
A fábrica do poema
SONHO O POEMA DE ARQUITETURA IDEAL
CUJA PRÓPRIA NATA DE CIMENTO
ENCAIXA PALAVRA POR PALAVRA, TORNEI-ME PERITO EM
EXTRAIR
FAÍSCAS DAS BRITAS E LEITE DAS PEDRAS.
ACORDO;
E O POEMA TODO SE ESFARRAPA, FIAPO POR FIAPO.
ACORDO;
O PRÉDIO, PEDRA E CAL, ESVOAÇA
COMO UM LEVE PAPEL SOLTO À MERCÊ DO VENTO E EVOLA-SE,
CINZA DE UM CORPO ESVAÍDO DE QUALQUER SENTIDO
ACORDO, E O POEMA-MIRAGEM SE DESFAZ
DESCONSTRUÍDO COMO SE NUNCA HOUVERA SIDO.
ACORDO! OS OLHOS CHUMBADOS PELO MINGAU DAS ALMAS
E OS OUVIDOS MOUCOS,
ASSIM É QUE SAIO DOS SUCESSIVOS SONOS:
VÃO-SE OS ANÉIS DE FUMO DE ÓPIO
E FICAM-ME OS DEDOS ESTARRECIDOS.
METONÍMIAS, ALITERAÇÕES, METÁFORAS, OXÍMOROS
SUMIDOS NO SORVEDOURO.
NÃO DEVE ADIANTAR GRANDE COISA PERMANECER À ESPREITA
NO TOPO FANTASMA DA TORRE DE VIGIA
NEM A SIMULAÇÃO DE SE AFUNDAR NO SONO.
NEM DORMIR DEVERAS.
POIS A QUESTÃO-CHAVE É:
SOB QUE MÁSCARA RETORNARÁ O RECALCADO?
Adelle
Na arquitetura da vida,
Não dê destaque para ilusão.
Como na inspiração divina que lhe criou,
Semei amor em cada linha, em cada traço e em cada curva.
Alicerça a tua jornada com os seguintes príncipios;
Ética, amor sublime, puro e sincero.
Impermeabiliza as paredes do teu coração,
Com generosidade e lealdade,
Para que não sejas infiltradas pelo orgulho e a ganancia.
Ergue em cada lugar por onde tu andaras,
Uma coluna de base sólida,
Despejando confiança nas tuas ações.
Faz com que, cada olhar,
Reflita a cor da dignidade,
Da nobreza e respeito ao ser humano.
E saberás que o importante,
Não é a quantidade de anos que se vive,
Mas como se vive.
Secreta arquitetura
Cor de pitanga
madura
sonha uma
alma pura,
vermelha
perfeita
pintura.
secreta
arquitetura.
Nunca fale com um cliente sobre arquitetura. Fale com ele sobre seus filhos. Isso é uma simples boa prática. Ele não vai entender o que você tem a dizer sobre arquitetura na maioria das vezes.
Arquitetura de um Amor que Nunca Existiu
A dor nasce onde o silêncio é mais profundo
não como um grito, mas como um eco que nunca encontra paredes
e se espalha pelo corpo como uma febre que não arde
mas consome
um amor que nunca existiu
e ainda assim
me afoga.
No espaço vazio entre dois olhares que nunca se cruzaram
existe um universo colapsado em si mesmo
um peso invisível que prende os pulmões
e torna cada respiração um ato de resistência
eu bebo a ausência como quem bebe veneno
sabendo que é a única água que resta
e o gosto é de eternidade amarga.
A solidão é um animal faminto que dorme ao meu lado
sonha com pedaços do que sou
e acorda todos os dias para me devorar um pouco mais
há noites em que o teto é um céu sem estrelas
e mesmo assim olho para cima
como se pudesse ver teu rosto nas sombras
como se o impossível fosse apenas uma questão de fé
como se amar fosse um crime que escolhi cometer.
E quando penso que a dor não pode mais crescer
ela encontra um novo nome para si
e o chama de saudade do que nunca foi
saudade que constrói ruínas no meu peito
ruínas que cortam os pés de quem tenta atravessá-las
ruínas que ainda ardem como se o incêndio fosse ontem
e que me obrigam a morar no meio dos escombros.
O tempo passa e não traz alívio
apenas organiza a dor em camadas
cada lembrança inventada repousa sobre outra
como tijolos de uma casa que nunca existiu
e mesmo assim é minha morada
um abrigo de vento e sombra
onde minha pele é mapa
e cada veia um caminho que leva de volta à falta.
Há dias em que não sei se amo a ausência ou o que ela representa
se é você ou a ideia de você que me mantém vivo
porque até o vazio tem forma quando se insiste nele
até o nada pode ser abraçado se a noite for longa o bastante
e na arquitetura desse amor inexistente
sou ao mesmo tempo construtor e ruína
prisioneiro e guardião
morto e sobrevivente.
A arquitetura do caráter se ergue não sobre intenções, mas sobre a fundação cotidiana de pequenos hábitos.
Nossa obra-prima não é a ascensão, mas a arquitetura do nosso levante após o esfacelamento, é o renascimento em cinzas, o ato de fênix visceral que verdadeiramente define a arte de existir.
O perdão próprio é um gesto de arquitetura: derrubo pilares, reconstruo paredes. Não é reconstrução imediata, é obra que avança com oficina aberta, com barro, paciência, e a presença de quem não teme lama. No fim, a casa fica mais simples, mas com janelas que deixam o sol entrar.
A SOBERANIA INTERIOR COMO ARQUITETURA DA VERDADEIRA LIBERDADE.
A máxima atribuída a Sêneca, " quem se domina é livre ", sintetiza um dos fundamentos mais elevados da filosofia antiga. No horizonte estóico, a liberdade não se confunde com a ausência de obstáculos, nem com o poder de moldar o mundo ao bel prazer humano. Ela nasce de um labor silencioso e contínuo sobre a própria consciência, uma educação rigorosa dos afetos, pulsões e juízos que, se deixados à deriva, convertem o indivíduo em prisioneiro de si mesmo.
O domínio de si, na perspectiva clássica, não é simples contenção, mas arte de reger as forças íntimas com disciplina e lucidez. Tal disciplina exige uma maturação moral que transcende a superficialidade das reações imediatas. O homem que se conhece e se administra já não se submete às oscilações do mundo, pois compreende que as vicissitudes externas pertencem ao campo das fatalidades necessárias, enquanto suas escolhas morais constituem o espaço legítimo de sua autonomia.
A tradição antiga sempre sustentou que a verdadeira serenidade emerge quando a alma, purificada de ilusões, aprende a distinguir o que lhe pertence do que escapa ao seu alcance. A partir dessa distinção, o ser humano se eleva a uma dignidade que o protege do tumulto e das intempéries emocionais. É nesse amadurecimento que a liberdade interior se torna não apenas possível, mas soberana, revelando que nenhum poder externo suplanta aquele que se exerce sobre si mesmo.
" Cada passo rumo ao autodomínio seja também uma ascensão rumo à mais alta forma de grandeza, pois é nesse ápice que a alma encontra sua própria imortalidade silenciosa. "
A leitura não é apenas o consumo de dados, mas a arquitetura silenciosa que amplia os horizontes da cognição, transformando o vocabulário em percepção e o silêncio na voz do próprio intelecto.
A arquitetura milenar dos deuses se refaz em plano do que estava oculto nas covas do templo. Nas imensas e profundas colunas tudo se desmoronará e o que estava oculto virá à tona.
