Apagar a minha Estrela
Quando criança não gostava muito de poesia por achar que não faziam sentido, mas hoje entendo que é a vida é que é sem lógica.
Tenho procurado sentidos entre os confusos sinais, mas o que encontro não se aproxima ao modelo inventado por minhas frustrações.
Que se afaste cada vez mais distante. Assim não notarei teus olhos, não ouvirei tua voz e o tempo se encarrega de me esquivar dos delírios.
Ela lê minhas palavras e ignora as partes que mais quero que veja, faz destaque ao que lhe convém e o que a toca finge não sentir.
Quando estamos alegres parece ser a união de vários sentimentos. Mas a tristeza é solitária, ainda que sem motivo justificável.
Parece não haver outro motivo quando as luzes se apagam e as vozes se calam. Procuro no escuro meus sentidos, mas perdi. Eu me perdi.
A frustração do quase é bem pior que a derrota propriamente dita. A expectativa do 'pode ser' que nunca é entristece com o tempo.
Existem pessoas que de primeira impressão dão a entender ser exatamente o oposto do que são. E isso é lamentável, porque poderiam ser pessoas melhores.
Nas limitações da vida, quais são as razões convincentes, amparadas pela razão, que justifique duas pessoas que se gostam se afastarem?
A diferença entre um otimista e um pessimista é que um vê quanto já caminhou, o outro quanto falta. Isso se inverte dependendo de onde está.
E eu me esqueci a quantos passos era tua casa. Vontade louca de te ver, caminhei desesperado e agora estou perdido distante de mim mesmo.
Valorizo quem se mostra, independente do que seja, bem mais do que quem finge ser o que não é. Muito crente de terno vai direto pro inferno.
Alternava a intensidade dos passos, com pausas onde pudesse as mãos agarrar algo, mesmo que todo esforço possível não fosse suficiente, mas insistia como se tudo que houvesse ao redor, se tocados, pudessem acrescentar alguma energia que o fizesse se manter em pé.
A oscilação da respiração era pretensão da indescrição da dor. Ainda sentia todo o possível visível distorcido, como se tivesse sido rodado por alguns minutos. Vez após vez quase perdia repentinamente a consciência, e a variação foi interrompida com uma queda ao chão.
Pouco tempo depois, provavelmente alguns segundos apenas, os sentidos voltaram devagar e o silêncio o fazia lembrar de que não fora um devaneio. Recordou-se dos dedos soltando devagar dos móveis por perto até que os últimos que insistiam em não ceder não pudesse sustentar o peso do corpo. O impulso em se levantar foi em vão, então fechou o pouco que tinha aberto dos olhos, dessa vez voluntário e permaneceu alí, numa permissão de auto-reconstrução dos pedaços.
As vezes é preciso ir aos extremos, ressurgir como única chance ao impossível.
Era paz aos olhares alheios de insinuações pouco baseadas na intensidade da realidade. Para alguns preocupação ignorada, e a maioria nem sequer importância davam. Desenhava, entre as grades, pelas faces e tocável céu onde pudesse letras formarem versos, curtos ou longos, mas de expressões decodificadas para clara interpretação da agonia.
Para todos alguém que muito ria, para ele uma alma vazia. Corpo frágil de confinação, tão próximo do enleio mental quanto pudessem se atrair por suas frustrações.
Pouco entendiam do que ele falava, por isso terminava sempre no chão entre as palavras, se pisadas pouco importava, a vociferação ecoava por dentro do ouvido encostado ao chão. Bastava só uma ilusão que os fizesse voltar para onde o desvario lhes assegurasse o não enfrentamento da desolação, mas se afastavam sempre mais da razão.
Os que sempre insistiam na psicose como guia, invertiam as posições, e a coragem ansiava por alforria, que consigo levava e alimentava o prenúncio do amanhecer que nunca via, fosse isso então a confirmação de não mais noite ou nunca dia.
Quando todas as tentativas de caminhar se perderam em alguns passos tortos, e envolto na intensidade de minha angústia abracei a escuridão, senti o sol nascer e discretamente os traços de luz tocaram meu rosto, como se eu fosse parte da razão e vida irradiada.
Ainda que perdido por algum tempo, incito a calma e ajunto desarranjada força, entre quedas e quases me reapoio e insisto mesmo que isso vá alongar a jornada e signifique até a não conclusão da mesma.
É quando afasto os pensamentos negativos em delírio consequente a tantos atos, que de fato nunca foram em otimismo meus amigos, posso crer na ilusão das tentativas, na possibilidade do final florido e do riso singelo; sobre os lados que agora assumem novos significados, e os de antes, agora ignorados, pra só assim manter a minha alma à distância da consciente desistência.