Apagar a minha Estrela
PALAVRA TEMPORÃ
Demétrio Sena - Magé
A palavra persiste na minha corrente
afetiva, sanguínea, pulsante no ser;
na vertente medrosa que requer coragem
pra vencer o vazio das futilidades...
Minha letra desliza da mesma caneta
que nem tinha presságio do computador;
meu planeta secreto continua em mim
e me sinto condor sobre a dor de viver...
Trago a minha palavra e solto vento afora;
ela chora, sorri, mas nunca se renega,
prega meu ateísmo com fome de amor...
Um poeta na era de puro já era
é a fera do campo indefesa no asfalto,
mas não falto à palavra; semeio poesia...
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#respeiteautorias Isso é lei
SEM O SINAL DA BESTA
Demétrio Sena - Magé
Recentemente, uma jovem conhecida minha foi chamada para uma entrevista empregatícia em uma clínica médica. A primeira pergunta que lhe fizeram foi se ela era evangélica. Se a resposta fosse sim, que dissesse de qual segmento e unidade. Se fosse não, a entrevista já estaria encerrada.
Essa jovem foi membro de uma Igreja Evangélica Wesleyana. Faz tempo que se desligou. Talvez não devesse tê-lo feito, por questão de sobrevivência. Atualmente, as portas da sociedade se fecham para quem não é membro de uma igreja evangélica. São pouquíssimas as inclusões sociais, profissionais e outras, por mais preparo, competência e caráter que se tenha.
E a jovem não mentiu. Disse que não é mais evangélica nem pretende voltar a ser. Que daria o melhor de si como ser humano, social e profissional, caso fosse aceita, mas não; não diria que ainda é evangélica. Uma eventual mentira, certamente lhe daria a vaga, pois a clínica gostou muito do seu currículo, afora o detalhe da religião, mas a moça em questão jamais mentiria.
Mais uma vez, a jovem voltou sem o emprego. Ela não tem o sinal da besta. Continuará se deparando com as portas da sociedade fechadas para ela. Dificultando seu ir e vir. Suprimindo seu direito a "comprar, vender, casar, dar em casamento...".
IDADE
Demétrio Sena - Magé
Minha idade melhor ficou no tempo;
não há queixa; confesso ter vivido
e duvido que alguém o tenha feito
com tão pouco; no fundo, quase nada...
Que ninguém amenize o meu outono
sem varanda pra outra primavera;
tive o trono, passei a minha faixa,
guardo velhas lembranças e saudades...
A minh'alma condiz com cada pinta;
cada ruga, sinal, mancha de sol;
toda tinta perdida nos meus pelos...
O que há de melhor na minha idade
é saber que acertei ao não correr
pra morrer dos acúmulos da vida.
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Respeite autorias. É lei.
BONDE FANTASMA
Demétrio Sena - Magé
Minha vida já deu; não por desgosto;
por nenhuma tristeza; depressão;
pelo não do meu sonho a cada dia
nem por tantos cansaços de seguir...
É um flanco estendido sob os pés,
a lacuna dos tempos desgastados,
um revés de mistérios resolvidos
que perderam a graça para mim...
Os meus anos gastaram a minh'alma;
desbotaram as minhas fantasias;
tenho calma que arrasta ferros velhos...
Quero ir e não tenho para onde;
meu estado é cratera capital;
é um bonde fantasma sem destino...
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#respeiteautorias É lei
PORQUE PENSO, PENSO E PENSO
Demétrio Sena - Magé
A minha garganta
tem um calo,
de tanto que me calo...
...
O que a cerca
tem a dizer acerca
do quanto me cerca?
...
Em
qual
idade
temos
qualidade
devida
de
Vida?
...
Mais valem os dois pés voando, do que bater o pé teimoso e pirracento em uma questão infértil.
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Há muitas formas de se driblar o Facebooksonaro. Quer um exemplo? Quando você quiser chamar aquela besta de besta, e não ser punido por isso, é só se referir àquela besta como aquela Topic... ou aquela Van.
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Escolha,
porém o faça
com arte...
ou se aparte.
Porque uma parte
de mim
é uma parte.
A outra
é à parte.
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Estou no fim do começo;
começo meio no fim;
voar virou meu tropeço
e dizer não, virou sim...
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O que mais me magoa
é que você sempre faz
o que mais me magoa...
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Isso não é normal;
eu nem bem fiquei bem
e já fiquei bem mal...
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#respeiteautorias É lei
ESCRAVO DE NÃO SER ESCRAVO
Demétrio Sena - Magé
Já tive a fome como a minha escolha,
quando meu cardápio era ter fome ou ser livre.
Quando ter comida e ter também liberdade
não caberiam na bolha do meu mundo...
Na verdade, optei por comer poesia,
por ter as artes como sobremesa,
se a mesa não podia ser variada;
era isto ou aquilo, na barriga ou n'alma...
Hoje como ensopado de cultura,
já tendo alimentado bem o corpo...
não cato mais tanajura pra ter "carne"...
poesia é meu emprego, as artes complemento.
Meu alimento é graças à teimosia
de querer me manter de ambas as formas.
Compro meu vestuário, embora modesto,
com o que "não dá camisa pra ninguém";
não disse amém à receita desumana
de suor e de sangue para ter comida;
da lida insana que os exploradores ditam.
Fui um bravo sem nome; sem escudo;
devo tudo a ter escolhido a fome,
quando a fome queria me tornar escravo.
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#respeiteautorias É lei
BREU DE MINHA LUZ
Demétrio Sena - Magé
Há em mim tanta coisa meio nada;
um inteiro quebrado em nenhum caco,
longa estrada sem vista pro futuro,
num buraco não feito na minha'lma...
Tenho aqui tanto lá indefinido,
muito algo apagado na memória,
farta história cravada num momento
esquecido no breu de minha luz...
Morro vivo no caos dessa dormência;
este corpo mais alma do que o corpo
é demência da própria lucidez...
Sinto a força brutal do não sentir;
do mentir com intacta verdade
na saudade que tenho de quem sou...
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#respeiteautorias É lei
ÚLTIMO TRAGO
Demétrio Sena - Magé
Gastei todas as pressas, os anseios,
levo a minha preguiça num silêncio
sem rodeios e sem explicações
a quem passa por mim pra não sei onde...
Caminhei o meu tempo, agora vago
pelos restos de sonhos e vivências;
dou meu trago final, se agora sou
reticências das próprias ilusões...
Solto a minha fumaça lentamente,
não há frente longínqua pros meus olhos
que já podem mirar o que não veem...
Somo perdas e perco minhas somas,
tenho comas que chamo de dormir
e me levo, sou carga sem urgência...
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#respeiteautorias É lei
GRITOS
Demétrio Sena - Magé
Tenho gritos tampados no meu peito,
amarrados ao nó da minha língua,
no meu jeito sereno por disfarce
ou na íngua escondida sob o ego...
Levo gritos na caixa dos meus medos,
na sacola das minhas agonias,
entre os dedos fechados do sorriso
que pretende calar o que me dói...
Há um canto estridente na minh'alma,
uma calma que há muito enlouqueceu
sob um eu que não sabe mais quem é...
Tantos gritos ouvidos por ninguém
são apitos do trem desgovernado
nos abismos de muita solidão...
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Respeite autorias. É lei
POEMA CANCELÁVEL
Demétrio Sena - Magé
Já nasci cancelado por meu pai;
minha mãe também era cancelada
e me fez entender de sobrevida
nesta minha escalada solitária...
Não havia internet, mas havia
essas mesmas pessoas oprimidas
pela vida vazia em seus empenhos
pra mostrar como sabem excluir...
Hoje nada cancela o meu conforto
neste porto seguro do meu dom;
acolher e soltar quem quiser ir...
Meus ebós literários conscientes
dessas mentes tardias de pensar,
geram medo do amor não seletivo...
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Respeite autorias. É lei
DESDESISTÊNCIA
Demétrio Sena - Magé
Eu desisto da minha desistência,
sempre quando estou pronto a desistir,
pois preciso insistir em nunca mais
deixar minha insistência me deixar...
Mas o meu nunca mais, mais uma vez
e mais outra, num sempre que renego,
é o mesmo até três que se reconta
em meu vício de achar que ainda existo...
Ressuscito pro quanto já morri,
para rir de mim mesmo e do meu choro,
minha dor, meu decoro tão quebrado...
Não resisto e retomo a resistência;
desdesisto após tanto que desisto,
se meu isto é aquilo e vice-versa...
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Respeite autorias. É lei
A HORA DA SOLIDÃO
Demétrio Sena - Magé
Tá chegando meu tempo de saber
com a minha verdade mais secreta,
que me resta caber no meu vazio
ou na minha maleta emocional...
Tem um sonho desfeito sob o caos
onde minha esperança curte o coma,
esta soma de perdas vezes danos
é o subproduto que me aguarda...
Vejo a hora em que minha solidão
será sólida mesmo que abstrata,
uma lata que anula vida inteira...
Vem o tempo da tampa sobre nada,
porque é no que tudo já resume
tanto lume que nunca iluminou...
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Respeite autorias. É lei
MINHA VIDA
Demétrio Sena - Magé
As partidas me partem, mas entendo;
é difícil ficar, sei que machuco;
se não prendo, é porque me reconheço
como dura colônia, e não de férias...
Deixo ir e me abraço à solidão
que me faz entender o quanto é minha,
tem o triste perdão que nem lhe peço,
pois também é castigo natural...
Não esquentam lugar no meu recanto;
meu encanto se quebra de repente,
sou a cama da qual se cai do sonho...
E acabo num porre de poesia;
compreendo quem sai de minha vida;
eu também sairia, se pudesse...
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Respeite autorias. É lei
RESISTÊNCIA
Demétrio Sena - Magé
Se não viro esse disco é porque na verdade
minha indignação não é moda fugaz;
novidade volátil que perdeu a massa
feito gás ao ar livre; nos braços do vento...
E não viro esse disco porque sou assim;
digo não ao silêncio, se vejo injustiça;
vou ao fim do meu sonho de mundo melhor,
e sonhar, no meu caso, não perde sentido...
A canção da maldade não saiu do ar,
a má fé não cedeu e o preconceito medra,
ninguém pôs uma pedra sobre o fanatismo...
Pra virar esse disco eu preciso sentir
que será sem mentir sobre ter esperanças
nas mudanças viáveis e na resistência...
... ... ...
Respeite autorias. É lei
PECADO SACROSSANTO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Foste minha versão de afeto extremo
sem extremos dos quais me arrepender,
nau e remo num mar de calmarias
anti-ouvidos, olhares e suspeitas...
Minha cega esperança em colo amigo,
confiança irrestrita e desarmada,
meu antigo segredo sempre novo;
emoção que o silêncio manteria...
Um ingênuo pecado sacrossanto
entre gestos contidos, conscientes
das correntes e cercas abstratas...
Eras minha saudade do futuro
em um porto seguro que não tive,
mesmo assim ancorei minha ilusão...
MINHA HORA
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Quero murchar
feito planta,
com os meus tumores,
humores e amores,
meus nós na garganta...
Fluir em silêncio
e desaguar
como um rio,
levando meus medos,
coragens, segredos,
meu por um fio...
Não serei retalhado
nem remendado,
cheio de nó,
pois quero secar
naturalmente
até virar pó...
Sorrirei de completo,
de ter vivido
a minha hora,
feliz de saber
que fui por dentro
e serei por fora...
MINHA VEZ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tua vez de sentir a minha falta;
minha voz de calar a tua vez;
meu amor já não salta no meu pulso
nem me sinto roer de solidão...
Desta vez doerá bem mais em ti;
esta voz que viveu de te chamar
morre aqui, se desfaz em meu cansaço
e no mar da esperança dissolvida...
Não é caso de amor que desexiste,
mas que tanto esperou que adormeceu,
de tão triste deixou de se sentir...
Minha voz de Saara pros teus gritos;
tua vez de chamar quem ficou mudo
para mitos de amores que se bastam...
A VIAGEM
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Se eu pudesse voltar na mesma casca,
repetir minha mãe, esposa, filhas,
ter os mesmos irmãos; nem um a menos;
caminhar estas milhas que já fiz...
E tivesse de novo alguns amigos,
outros não; mais por eles que por mim;
as escolhas que tive pra fazer,
cada sim, cada não nas mesmas rodas...
Partiria feliz pra reciclagem,
se tivesse a certeza de voltar
à viagem que nunca mereci...
Refaria os percursos e projetos
sem ferir os afetos, os nem tanto
e trocar tantas mágoas evitáveis...
REFORMAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho tido este sonho de nascer de novo,
sem perder minha essência, mas podar bastante;
serei menos distante pra quem me rodeia,
me darei de presença como fiz tão pouco...
Vejo meu horizonte afunilar a vista,
já não temo a certeza de que nada sei,
sigo a lei do silêncio que o futuro impõe
às perguntas dispersas do meu coração...
Só os passos refeitos poderão repor
os efeitos, a cor e a chama das horas;
preencher o vazio que se abriu em mim...
Tenho tanta esperança de voltar da ida;
uma vida foi pouco pra me construir;
quero ser o que sou, mas com muitas reformas...
MINHA TORCIDA PARA O ANO NOVO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Torço para que 2019 não confirme o avanço vertiginoso da intolerância, fomentada como antes nunca, em 2018. Não extingua em definitivo as leis que regem os direitos humanos, especialmente nas questões mais polêmicas e necessárias. E que a justiça, em um todo, não se torne vingança oficial (o que foi sinalizado nos últimos meses).
Que a sociedade majoritária não cace os diferentes. Não abata os opostos. Nunca persiga os que não concordam ou rezam conforme suas cartilhas, como foi ensaiado com base nos discursos de velhas lideranças que se apresentaram como novas. Convenceram no grito, milhões de brasileiros divididos entre carentes e de vida ganha. Sinceros e sonsos. De boa e má fé. Uns, desejosos do Brasil para todos, e maioria, do Brasil só para si.
E o novo poder público não ratifique a preferência por classes e conveniências, muito menos por nível de obediência e servidão. Cada cidadão seja respeitado em seus direitos e particularidades, e só os crimes, de fato, sejam tratados como crimes. Não as escolhas de foro íntimo e pessoal, partidário, profissional nem religioso.
2019 não seja o segundo turno de 2018. Não “desafricanize” o sangue deste país de alma negra nem o faça excluir a si mesmo, pela pretensão ariana que não combina com nenhum brasileiro. A educação restitua e ganhe mais espaço. O professor seja respeitado. Deixe de ser agredido pelo poder público e pela sociedade que se deixou cegar.
Sejam todos bem-vindos ao novo tempo! Todos, mesmo! Não apenas os cidadãos de minha cor, meu gênero, escolha, classe, cultura, fé ou não! Somos todos, brasileiros, apesar da trágica divisão fomentada pelos preconceitos, a raiva e a fome de poder que se anunciaram ao país, na voz de quem percebeu como estava fácil modelar a massa.
Que os brasileiros estúpidos e destemperados como eu façam as pazes entre si. Deixem de ser pretensiosos e nunca mais se desprezem, se ofendam nem se agridam por causa de nenhum... absolutamente nenhum ídolo de qualquer natureza... muito menos de natureza politicopartidária.
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