Apagar a minha Estrela
O CERRADO DE LATAS
Um manto de concreto avança selva adentro,
devastando rios, lagoas e cachoeiras nativas,
animais, pássaros, bosques e florestas vivas
já não existem mais; raras plantas no centro
das praças resistem ao extermínio das matas,
ora convertida em cidades – cerrado de latas.
Ao visualizar tais cenas, tristes e deprimentes,
um dilúvio de revolta me traspassa o coração,
só vejo frotas de veículos e cimento pelo chão,
canteiros de obras com guindastes insolentes,
máquinas e betoneiras, edifícios e habitações.
Deus! Cadê os cerrados, as selvas e ribeirões?
Ouvindo-me indagar da sua majestosa criação,
o Senhor respondeu-me com magna sabedoria:
dos cerrados o homem tira a relva, faz moradia;
das selvas derruba as árvores para construção;
dos ribeirões dizima os peixes e polui as águas;
e de si próprio extirpa a natureza - sem tréguas...
O cerrado é agora a selva de latas barulhentas;
indústrias, carros e caminhões vertem fumaças
ao ambiente; nas selvas não se acha as caças;
com tanto dióxido no ar, não chove nem venta
mais a aura na planície; esvai-se toda a beleza
do Planeta Azul no irracional dano à natureza!...
Mas ai dos filhos de agora e gerações futuras;
o que semearem não ceifarão por abundância;
do desmatamento terão os frutos da ganância;
e da maléfica poluição sucumbirão as criaturas
inocentes; a fauna e flora outrora exuberantes,
serão miragens no cerrado de latas sufocantes!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O AMOR É O QUE NOS FAZ...
O amor é o que nos faz gigantes na vida;
a navegar por mares revoltos de paixões,
a desafiar abismos de olhares e afeições
profundas nos deleites da terra prometida.
O amor é o que nos faz fortes e valentes;
guerrilheiros apaixonados por conquistas,
a enfrentar obstáculos e sendo otimistas,
vencendo discriminações de maldizentes.
O amor é o que nos faz seres invencíveis,
guardiões sagrados no templo do prazer,
a combater ódios e amarguras no tanger
das almas algemadas por males horríveis.
O amor é o que nos faz rodar num vórtice
de desejos, fazendo afundar em turbilhões
de amplexos a nossa tristeza e desilusões.
O amor é o sentimento elevado num ápice.
O amor é o que nos faz rugir igual furacão
no meio do oceano. É a onda que balança
a nossa alma numa infindável esperança.
É o raio de luz que ilumina todo o coração.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O AMOR CICLONE
O amor é a essência da alma num ciclone;
corisco sentimental nos olhares; emoções
levadas por redemoinhos; êxtase no cone
dos desejos; abismo de carícias e afeições.
O amor é o eflúvio irreprimível num vórtice
de prazeres; vagalhão voraz em turbilhões
de amplexos; o acalanto indócil num ápice
de aventuras; oceano convulso de paixões.
O amor é um cataclisma forte e devorador,
é o rio caudaloso dentro do coração febril,
tsunami inexorável em todo seu esplendor,
o imane sentimento do tamanho do Brasil.
O amor é o furacão selvagem que balança
os corações em devaneios de enamorados;
um raio de luz na borrasca do beijo frêmito.
O amor é a procela sagrada de esperança,
caravela à deriva, um sonho real e infinito,
êxtase de volúpias no mar de apaixonados.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
MARIA APARECIDA
M ágica garota dos meus sonhos,
A conteceu-me de encontrá-la só;
R eluzente, num dia bem risonho,
I rrompeste-me a alma e sem nó,
A dorei-te para tê-la mui festonho.
A pareceste a mim de inesperado,
P or meio do brando sopro divino;
A gora sei, esta mágica aparição,
R evelou-me tal pássaro dourado;
E nsaiando meu anseio num hino,
C antaste alegre no meu coração,
I nserindo o seu amor imaculado.
D evo agradecer ao Pai Cristalino,
A este encontro de almas e união!
Preâmbulo do Seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
HOJE, FELIZ SUSPIREI QUE TAL VENTURA FLORESCESSE NESTE JARDIM
Fiquei bem pouco convicto disso, eu até duvidei... Porém, o Amor me sorriu numa
FELICIDADE SEM FIM
HOJE,
ao abrolhar de um novo dia,
despertei com magnas notícias:
avisaram-me que o amor surgiria
repentino, com acalantos e carícias
para me ofertar.
Fiquei bem
FELIZ...
preparei-me para o receber;
com máximo capricho e poesia
enfeitei a casa; tive imenso prazer
em sorrir, cantar e dançar de alegria
para o abrigar.
Pouco convicto disso, eu até
SUSPIREI...
para que este afeto batesse
à porta do meu tétrico casarão,
trouxesse sua alegria e cantasse
à minha alma uma melódica canção
para me extasiar.
Duvidei...
QUE TAL VENTURA FLORESCESSE...,
e de repente, nesta estrada,
viesse encontrar outra pessoa
para fazer a sua elegida morada;
eu então, me afogaria numa mágoa
para me expirar.
Porém, o amor me sorriu
NESTE JARDIM...,
fez-me mui ditoso e risonho,
por capricho, sorte ou bênção,
quis o céu cultivá-lo neste sonho,
a florir no canteiro do meu coração
para desabrochar...
Numa FELICIDADE SEM FIM
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
EU LÁ EM KATMANDU
Eu lá em Katmandu contemplava
o portentoso tabuleiro do Himalaia
e sem qualquer tabu me imaginava
galgando o pico de Tupã-açu de tocaia.
Foi assim naquela hora de fútil reflexão
que virei o expert, chiste do Caipora,
e recitei ao Everest em sua dimensão
a grande proeza da minha metáfora:
“Óh magno píncaro de exuberância,
desejo agora volitar igual o pássaro
no zênite e oscular a tua opulência
sobre as asas de um albatroz bárbaro!
A tua grada estatura eu quero escalar,
contemplar o vale no trono de alvura,
inda que me ouças, em ti quero reinar
por uma fátua e maravilhosa aventura!”
Ali no pino do suntuoso adro pude ouvi-lo
reprochar tal jactância e rir
do meu patético plano em conquistá-lo
por vanglória e nele me insurgir:
“Não sou tão elevado assim como pensas,
pois olhe as estrelas do céu e seu sagrado
manto na imensidão, belas e suspensas,
rutilando para o Eldorado!”.
“Oxalá eu fosse comparado aos astros
rútilos a cintilar no mundo
das constelações, irradiando lastros
de luz a dar-nos um júbilo profundo?”.
Eu lá em Katmandu mirei o céu azulado,
vi refulgir uma luz cristalina sobre o pico nu,
e sobre um cavalo alado, excelso e prateado,
eis que eclodia o rei Tupã-açu.
Lá de cima me sorria com toda afabilidade,
e por um átimo eu o via
em fogo riscando nuvens com habilidade,
cujas frases no éter proferia:
“As mais altas e belas montanhas da terra
sabem quão distantes situam-se das estrelas
do céu, pois são humildes nessa esfera,
tais aos lúmens de velas!”.
“Perante a magnitude do universo existe
a face da perene sabedoria,
cuja ordem soberana de luz consiste
na beleza do Cosmos e sua harmonia!
A lei da submissão é uma virtude,
igual um sol que irradia a verdade,
jamais um astro teria a sua magnitude
se não exibisse sua luminosidade!”.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
ECLIPSE
No firmamento o astro-rei eflui sorridente
e pela aurora cavalga o dorso da galáxia,
mas no crepúsculo, as trevas da matéria
espessa ocultam seus raios furtivamente.
Tudo se turva ao breu, corpos em eclipse
descrevem órbitas na conjunção de linha
para coroar a sedutora lua como a rainha
da noite ataviada por um diadema tríplice.
Porém, no universo, as estrelas fulguram
a todo instante sem remanchar do passo,
há na aurora e crepúsculo o doce encanto.
Soberano, o sol volta iluminar no espaço,
a lua sorri radiante e seus flashes atiçam
a Terra, daí os poetas a flertam em cantos.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
E POR FALAR EM PAIXÃO...
E por falar em paixão,
onde anda você, namorado
da lua? Abra já o teu coração
ao orrfeu negro e o bem amado,
na tonga da milonga do kabuletê
desponte pelos caminhos da vida,
veja muito fogo na terra prometida,
o pato na água de beber e catendê.
Ressuscite agora Vinicius!
No epitáfio chega de saudade
renasça para os nossos delírios
e venha com toda versatilidade
só para viver um grande amor,
na forma e exegese do coração
faça novos poemas em devoção
ao lamento do teu mergulhador.
Poeta! apareça hoje para reviver
essa tua aquarela na instância
de Ariana, a carioca mulher,
e no caminho para a distância
faça canções, sonetos e baladas,
uma modinha na tarde em Itapoã,
com as cinco elegias da manhã
e poemas esparsos às amadas.
Ressurja em versos trovador!
Contemple nossas cores de abril
da pátria minha, reveja o amor
pela luz dos olhos teus de anil
e saiba que a felicidade existe
dentro da regra três e como dizia
o poeta à garota de Ipanema: sorria,
mas veja você que tudo é tão triste.
Venha sem medo vate! Sei lá,
eis que a vida tem sempre razão,
porém, Tatamirô o aguarda por cá
para cantar o samba da bênção,
banha-te na água da lagoa negra
lá no rancho das namoradas,
cante a ternura, tristeza e baladas,
insensatez na ária da pedra preta.
Desperte ao raiar do dia o amor,
deixa acontecer o teleco-teco
no dia da criação e deposite a flor
desse testamento no teu boteco.
O nosso relógio aqui não para,
é de gente humilde por simpatia,
e a morena flor, formosa, seria
a tua rosa de Hiroshima rara.
Ecloda teus versos poetinha!
É preciso dizer adeus e vir
no samba do avião, caminha
pela estrada branca a reluzir
e na balada da flor da terra,
eleva-te como a estrela polar
no tempo feliz ainda a brilhar
ao sol da alegre primavera.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
AS TRÊS LÁGRIMAS
Jazia o Rei da Glória em trono excelso,
quando Gabriel, o bel arcanjo reluzente,
apresentando-se qual pássaro fulgente,
ao júbilo de hosanas à Sua face louvou:
– Bendito seja, Criador eterno!, cá estou
a clamar em prol dos seres do Universo:
– na Terra, nato da cepa real e excelente,
geraste o varão a imperar por primazia,
ficando à mera sorte a fauna e alimária,
e sob essa égide ingrata, infame e cruel,
mamíferos, peixes, répteis, aves do céu,
fadados à morte, tornaram no excedente
do cerne sagrado e emanados à vileza?
– Eis que no homem não há a percepção
da natureza divina estampada à criação;
mas a beleza cristalina doada ao animal,
revela-lhe na estirpe toda graça celestial,
invejável encanto a exibir sua grandeza!
– Comparando-os, óh Deus, iremos notar
a magnífica placidez da casta soberana,
e semelhantes às divindades do Nirvana
são eles, mais nobres, dóceis e singelos
do que os monarcas ilhados em castelos!
– Vede a candura dos inferiores a suplicar?
– Pai! Elevaste os seres feros e racionais,
dignos à Vossa Imagem e Semelhança,
e por sábia razão mudaste tal bonança
doada no início aos bichos por ventura,
fixados no paraíso como belas criaturas,
a serem depois presas de seres bestiais?
Deus do magno trono ao arcanjo ajuizou:
– Bem aventurado és, ó iluminado Gabriel!
– Criei mistérios no avejão da Gaia e céu:
saibas que o homem alteia-se e destrói,
mas só o amor vive, permeia e constrói;
assim ele foi levado à senda que optou.
– A ciência do mal escolheu como guarida,
arvorando o livre-arbítrio em seu destino,
destilou na sua essência o sêmen ferino
da serpe, sabor venal e estigma maldito,
a cicuta da ambição e pólen do anticristo
levou à boca, fruto fatal do néctar suicida.
– O homem, resumiu-se no gérmen animal,
cobriu-se com a capa infernal de malícia,
ódios e guerras para revelar sua infâmia,
esteio de pecados, rude cepa e maldade;
sob o manto da cobiça e grada crueldade
tornou-se ente vil, transcendido e mortal.
– Mas aos irracionais foi-lhes dada beleza
invejável a florescer na serena inocência,
assim foram redimidos em magnificência!
– No entanto, o ser humano e sua geração,
para que torne à bela e primaz condição
deverá mirar-se no ente de real nobreza!
– E tu Gabriel, como arauto do céu, levarás
à esfera inferior o édito de luz e redenção,
pois sem a fé e caridade não há salvação
no advento de doação, amor e liberdade!
Paz na Terra aos homens de boa vontade!,
Essa é a notícia de boas novas que dirás.
– Eis que lhes envio o imaculado Cordeiro,
símbolo da justiça e templo de humildade,
levará fogo e cisão à Terra pela verdade;
será sacrificado primeiro na baixa esfera,
seu reinado suscitará uma grande guerra,
todos hão de se ajoelhar ao meu herdeiro!
Saindo diante da excelsa face do Eterno
o arcanjo Gabriel veio à esfera humana,
ditou o divino édito e na tosca choupana
refulgia a magnífica estrela de imane luz,
emergia ali o ingente diamante que reluz
o trono da nova era: paz e amor superno.
Trinta e três anos depois, na atroz colina,
com trevas, coriscos, trovões e vendaval,
o supremo sacrifício se consumou brutal;
naquele árduo momento na sinistra cruz,
eis que fluíram dos olhos puros de Jesus
três lágrimas tão imaculadas e cristalinas:
A primeira, ali rolou solta pelo pelourinho
por amor e aflição aos súplices animais;
A segunda, ele a verteu com seu sangue
por agonia e compaixão aos seus iguais;
E a terceira, o vento a carregou mui longe,
indo cair na gaiola dum triste passarinho!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 201
HOJE RADIANTE ESPEREI ESSA FELICIDADE DENTRO DE MIM
Fiquei muito apreensivo de que o amor raiasse assim num redemoinho sem fim
HOJE...
ao abrolhar de um novo dia,
despertei com ótimas notícias:
me avisaram que o amor surgiria
repentino, com acalantos e carícias
para ofertar...
Fiquei muito
RADIANTE...
preparei-me para o acolher;
com grande capricho e poesia
reguei meu jardim com o prazer
de sorrir, bailar e cantar de alegria
para extasiar...
Apreensivo
ESPEREI...
que esse hóspede batesse
à porta do meu ermo coração,
exibisse sua ventura e entoasse
em minh’alma a sua lírica canção
para deleitar...
De que
ESSA FELICIDADE...
viesse desviar-se da estrada
e fosse encontrar outra pessoa
para brindar e fazer a sua morada,
eu então cairia imerso numa mágoa
para lamentar...
Raiasse assim o amor
DENTRO DE MIM...
me faria mui ditoso e risonho,
seja no palco, na apresentação
dum show ou cultivado em sonho,
tal realidade não seria imaginação
para me lançar
Num redemoinho sem fim.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
AMOR DE CAMPEONATO
Oh querida!
o nosso amor é um campeonato,
pela conquista da taça do teu beijo
entrei em campo e nesse jogo desejo,
erguer o troféu como vencedor, de fato.
Na partida
vou tocando a bola com categoria,
sou craque e jogo com empolgação,
eu avanço, driblo com raça e emoção,
ouço os brados da galera... que euforia!
Dou de bandeja,
passo a redonda e faço tabelinha,
mas teu peito mata o tiro e rechaça,
espalmando essa minha bola na raça
para salvar tua meta em cima da linha.
No afã da peleja
recebo falta, mas vou jogando fero,
cobro escanteio, porém a trave evita
o gol, e num final de lance o juiz apita
o término da primeira etapa: zero a zero.
Após o intervalo
pego um bom alento e me declaro
para voltar a campo com muita garra,
chuto de longe, mas teu quíper agarra;
vou tocando a bola, me arrojo e não paro.
Nesse embalo
a partida prossegue e bem renhida,
tua zaga afasta meu chute de perigo,
cobro uma falta, mas que cruel castigo!
As minhas bolas não encaixam, querida!
O jogo vai correndo,
resvalo com a boca o lançamento
fatal e assim cometo pênalti na área;
você cobra e a pelota vai por via aérea,
e tua mãe protesta que há impedimento.
Ao sair pedalando
o juiz dá cartão amarelo para mim;
noutra jogada já entro numa dividida,
lanço o balão a meia-lua e na medida,
mas você a desvia com os dedos, enfim.
Não recuo e luto,
na pequena área sai a jogada feliz,
executo bom arremesso pela lateral;
de calcanhar enfio a bola, lance genial,
É gol! Gol com a mão não vale, diz o juiz.
Minuto a minuto
a nossa refrega vai pegando fogo
e afoito arrisco a jogada da história;
mas quando já tento o lance da vitória,
que bruto azar!... Teu pai encerra o jogo!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A PEDRA QUE CHORA
Pedra de águas,
seixo da vida,
ainda gravita
as suas mágoas
e bem erigida
nos regorgita
risos e lágrimas
em terra viva.
Géia, diva mater,
pangeia in loco
na pira holocena,
seu dragão pater
no imo do orco,
verte a ira insana
e faz ver o mártir,
pó do samouco.
Gaia, mãe Terra,
a filha do Caos,
berço d’enganos,
em lúdica guerra
amortalhas aos
heróis e profanos,
e o resto soterra
com suas mãos.
Pietra de argila,
de sons guturais,
brama, vocifera,
traga e aniquila
os seres animais
e nesta litosfera
de ódios destila
em água teus ais.
Rocha no lagar,
calhaus de ferro,
nêutrons e íons,
a fissão nuclear,
míssil no aterro,
eclodem pítons
no flash estelar,
o aquífero berro.
Roca lacrimal
esturricada
nas penedias;
penha abissal
estratificada
pelas insídias,
chuva do mal,
deslumbrada.
Piatra lúcida,
voraz e maldita,
bate a sua boca
e nos trucida,
devora e excita;
a sua recíproca
efígie suicida,
chora, ri e grita.
Stone das trevas
com isca e anzol,
sobre seu manto
coberto de relvas
fulgura o arrebol
de luz e encanto,
imensas dádivas,
água crista e sol.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A MÁQUINA DE MOER PALAVRAS
Palavras, tiras trituradas por inatos
vocábulos, base de estruturas vitais;
fonemas, timbres das cordas vocais
vertidos pelas turbinas dos palatos.
Vozes, frases laceradas na faringe,
expressões dinâmicas, tons verbais
a esmagar no glote dicções guturais,
concepção da linguagem na laringe.
Mas, a força vital da palavra escrita,
ativa a ordenação do alfabeto pleno,
nos vocábulos e semântica explícita,
há o diálogo das letras no fenômeno.
Nas articulações da boca em lavras,
emana a voz que ri e chora fatalista,
essa é a máquina de moer palavras,
síntese da comunicação humanista.
Em prosa e verso elas se digladiam
num mundo infinito de comunicação,
inscrições e caracteres nos indicam
ação e reação grafados na elocução.
Tal ciência está anexa à expressão,
peripécia dos seres sapiens animais,
calígrafos e escritores de ocupação
fluem palavras e não se calam mais.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A FLOR DO TEMPO
Exultante mocidade! Fluxo de sonhos e emoções,
estampa-te no fulgor da vida à jubilada conquista,
e na candura da flor aromada, o teu ardor otimista
exalta-te ao lesto favônio em estames de paixões.
Extática juventude! Pistilo fecundo de aspirações,
emerge-te no vigor da seiva à tua audaz jornada,
medras e te esparramas nos alfobres da estrada,
arroja-te ao mundo risonha, êxtase das estações.
Gentil maturidade! Escol de aromas e gradações,
aflora-te fascinante ao sol da frenética primavera,
vagas a caçar volições como uma indomável fera,
cinge-te ao universo em anseios de imaginações.
Infausta sazonação! Cálice inerme por ambições,
arrima-te enlaçada à corola a desfolhar no vergel,
obténs notoriedade no auge da luta, faz teu papel,
definha-te ao experimentar toda lufada de ilusões.
Inopinada velhice! Sépala fanada por frustrações,
resta-se de ti, somente uma estampa desfigurada,
sem a magicatura ampla, és crassa e já enrugada,
influi-te no fim para ser a nova florada nos jarrões.
Estéril senectude! Flor estiolada por recordações,
murcha-te pela intempérie dos anos; e desfolhada,
feneces para ser a congérie do nada, e substituída,
torna-te saudade no canteiro dos nossos corações.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A CORTE DO AMOR
No reino dos sentimentos aristocráticos,
os leais súditos do real e soberano amor,
fazem reverência à graça dos estáticos,
apaixonados pela notável estirpe e valor.
Sedutores e incitados, apostam no jogo
dos desejos e querem somente ganhar;
na arena das paixões, brincar com fogo
é arriscar, e para vencer, é preciso lutar.
A inveja é capciosa, a cobiça é cortesã,
o orgulho mui forte, mas o ódio, vassalo
do reino, aspirou derrotar o audaz amor.
O ciúme, por ter sido o boçal contendor,
ficou sendo o bobo da corte e de malsã
consciência, só cantou a vitória de galo.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
UMA HERANÇA INESQUECÍVEL
O circo está no sangue de quem herdou dele a beleza e a magia,
é como uma herança inesquecível
que ultrapassa sua eterna essência
no interior da própria consciência,
extravasando a alma no indizível
ritual de imensurável paz e alegria.
O circo está no âmago de quem batizou com fogo sua vocação
de artista, forjou no corpo o ofício
de acrobata, mágico e malabarista,
fez da corda bamba o equilibrista,
domou o tigre e o leão no desafio
da arena e fez o palhaço folgazão.
O circo está no espírito da criança e na conjunção da felicidade;
sem idade, cor ou sexo, só irradia
riso, contentamento, descontração;
somente o circo transmite emoção,
criando no espetáculo sua fantasia,
tecendo da quimera sua realidade.
O circo está no princípio e fim da vida, gênese da divina criação;
arte transmitida dos antepassados
aos herdeiros de palcos, tradições
milenares de gerações a gerações;
o circo é um dos mais consagrados
espetáculos que não sai do coração.
Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018
NÃO DEIXE O CIRCO MORRER
Passando pela Fonte dos Desejos lá em Roma,
ali, na bela Fontana de Trevi eu fiz um pedido:
Óh! Hípio, deus do Circo, não o deixe morrer
no abandono da cruel decadência e no axioma
da paixão; possa ele reviver no amplo sentido
da razão com a beleza, alegria e muito prazer.
Que venha o circo sempre nos divertir na vida,
que haja muito espetáculos, a magia, o sorriso
na face de uma bailarina e um engraçado anão;
que se apresentem os malabares e a comitiva;
o mágico com cartola, acrobatas de improviso;
e um palhaço caricato que nos cative o coração.
Que perdure o circo eternamente na memória,
possa ele se elevar como um marco de cultura
a consagrar artistas na sua máxima expressão;
que divirta a toda gente e perpetue na história
dos povos a autêntica beleza igual sua pintura:
esteja exposto a todos para grande apreciação.
Não deixe o circo morrer e tudo ficar perdido
à sombra das futuras gerações; que ele floresça
para encher de fascinação as nossas crianças;
se o circo morrer o mundo ficará sem sentido;
não haverá mais emoção à plateia que mereça
um espetáculo que traga alegrias e esperanças.
Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018
QUANDO O CIRCO SE VAI...
Quando o circo se vai,
tudo parece parar no tempo,
é como o pano que cai
no palco e por um momento
encerra tal espetáculo,
dissipando sonhos e ilusões:
esvazia o receptáculo
dos nossos álacres corações.
Quando o circo se vai,
deixa um rastro de saudade;
é o vácuo que não sai
da alma e aflige, na verdade,
saber que uma mágoa
chora no peito bem sentida:
é como a gota d’água
que não cicatriza uma ferida.
Quando o circo se vai,
deixa tristeza e tudo fica frio,
é a beleza que se esvai
dos olhos, tudo parece vazio,
a alegria já desaparece
como uma correnteza no rio:
varre a alma e esvaece
o riso ao naufragar do navio.
Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018
AH! QUEM ME DESSE...
Ah! Quem me desse voltar no tempo
os anos indeléveis de menino e correr
para o circo, brincar um passatempo,
renascer como a criança feliz e viver
no palco com meus famosos artistas,
ídolos da arena, campeões de rodeio,
funâmbulos, domadores e trapezistas,
ginetes de raça a voltear no picadeiro.
Ah! Quem me desse comer da pipoca
branquinha e algodão doce no palito,
chupar picolé, saborear a boa paçoca
da vovó, aplaudir e achar tudo bonito,
vibrar com a orquestra e o seu orfeão
de cantores sobre o palco iluminado.
Ah! Quem me desse estar no passado,
de volta ao circo alegrando o coração.
Ah! Quem me desse retroceder a vida,
e olhar o mágico de Oz com a cartola
cheia de pombos e coelhos de corrida,
além do inigualável palhaço Sapatola.
Ah! Quem me desse voltar ao regaço
da minha mãe artista, e bem risonho
ver meu pai por dentro dum palhaço,
seria bem feliz embalado neste sonho.
Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018
SOB AS LUZES DA RIBALTA
Sob as luzes da ribalta, nos afãs
dos espetáculos trágicos,
atores e artistas cênicos
aguardam para se exibir aos fãs.
A orquestra marca o compasso
bem atrás dos bastidores,
é aflição dos gladiadores
que se ataviam com embaraço.
Para não perderem a sua forma
eles se aquecem, relaxam
o plexo braquial e rezam
para não caírem da plataforma
elevada na gávea dos trapézios;
outros retraem os braços;
mascaram-se de palhaços
para se exibirem de gaudérios.
No entanto, as luzes da ribalta
que iluminaram o tablado,
ao terminar o seu reinado,
apagam-se no final e nada falta
para encerrar o triste panorama
que abruma o palco vazio.
Cessa então todo o desafio
que perfez o final de um drama.
Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018