Antologia Poética
Graça
Ah, que suave graça seria, ter a leveza de uma alma poeta.
Mirar o mundo por uma janela secreta, e ver tudo em prosa e poesia.
A vida, enfim, se revelaria, em liberdade completa.
A linguagem verbal é o milagre maior do Logos, oceano comum-comunicante, mare nostrum antrópico onde a prosa nada enquanto a poesia navega.
A cópia do passado se restitui infindamente, desprovido das sensações, as quais terá efeitos adverso pois, a experiência muda e retoca-se no individualismo de uma realidade.
12:25 // 07/10
O viajante,
é um cultivador
na linguagem das árvores,
tem vocação para sementes,
e, lança ao campo fértil
a boa palavra
"Nos meus escritos perdidos ao longo de eras seculares, onde meus pensamentos se entrelaçaram com a eternidade, emerge a sagrada concretização da minha realidade."
"Toda arte parte-se da loucura; em cada poema, encontramos elementos anormais e enxerga-se a beleza na estranheza."
TONS
Minha poesia tem poéticas intensas
Suspiros, sussurros, claras cascatas
De emoções, e versos em serenatas
Canta o amor, com melodias densas
Assim, efetuadas com doces sonatas
Ritmando ardores e ilusões imensas
Trova, inspirando emotivas nascenças
Dando ao tempo, infinito, e não datas
São tais como os sentimentos imortais
Cheios de paixões, sofrimentos e mais
...mais que os desencontros tristonhos
Tem olhares, tem gestos, aquele sentido
Brandindo o verso e ao versar colorindo
Com os tons dos meus próprios sonhos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30 maio de 2023, 18’10” – Araguari, MG
Uma vez um amigo me disse:
Você é uma pessoa "romboide".
Eu sai pesquisando, o que seria isso?
Hoje, talvez, eu entenda que não existe formas para o ser humano, mas espaço e tempo de cada um inseridos no Universo estrelar.
E eu não sou plana.
Eu. A que gosta do frio. Do sossego. Sorri de volta à solidão. A que olha o céu escuro, mas que vê nitidamente as estrelas de dia. Essa! Que emite os seus raios dourados, mais ternos agora, de um quente suave, mas de brilho igual. Ai, eu... ai, de mim. Por ser como sou. Assim…
VICIOSO
No vício eu me perdi, desatinado,
Inebriando os sonhos em goles fundos,
Água transparente em trago profundo,
Engolindo pesadelos sem cuidado.
Esqueci dos sorrisos, do amor velado,
Afundei na lama dos lixões do mundo,
Devoção licorosa, é meu terreno imundo,
Obra humana, pecado capitalizado.
Na provisória dor da mente entregue,
A alma manchada por essa sina vil,
Desvairado, sem luz, me tornei intruso.
Porém, busco redenção, esperança surge,
Os versos do soneto, um grito sutil,
Transformam-se em luz, em resgate e em uso.
Caminhos Sombrios
Deabulando pelos fragmentos das minhas lembranças, eu retorno "mentalmente" ao lugar que o deixei.
Revejo-o sentado a beira de um caminho, um caminho sem fim e sem curvas, e o princípio da história se faz presente.
Quantos sonhos se perderam ao longo desta caminhada, quando a ideia inicial era seguir em frente. Nunca entendi o porquê ele entulhou tantos nós no coração, que nem as próprias mãos souberam ou se dispuseram a desatar. Erroneamente pensei ter poder para desatar esses nós, em quase todas as tentativas neste sentido, falhei.
Tentando transformar a utopia em realidade, por um momento sentei-me ao seu lado, minha alma inquieta, não me permitiu esperar.
O crepúsculo e o prenúncio da chegada da noite e o caminho já envolto em sombras, me convida a continuar.
Estendo-lhe a mão para seguirmos em frente, diante da sua indecisão eu lhe digo;
As cartas estão na mesa, não há mais nada a dizer, nenhum ás a mais a jogar. Não quero mais viver no seu mundo e não o quero passeando no meu.
Segui sozinha...
Não lamento o que perdi, não se perde o que nunca se teve.
Mas isso é uma outra história...
FEIJOADA À MINHA MODA
Amiga Helena Sangirardi
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci
E embora - perdoe - tão tarde
(Melhor do que nunca!) este poeta
Segundo manda a boa ética
Envia-lhe a receita (poética)
De sua feijoada completa.
Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho
O feijão deve, já catado
Nos esperar, feliz, de molho.
E a cozinheira, por respeito
À nossa mestria na arte
Já deve ter tacado peito
E preparado e posto à parte
Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho - e o que mais for azado
Tudo picado desde cedo
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais... vulgar
Às nossas nobres mãos de aedo
Enquanto nós, a dar uns toques
No que não nos seja a contento
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uísque on the rocks.
Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, fogo médio)
Nós, bocejando o nosso tédio
Nos chegaremos ao fogão
E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas
Provaremos a rica negrura
Por onde devem boiar postas
De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!)
E - atenção! - segredo modesto
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma língua fresca pelada
Posta a cozer com todo o resto.
Feito o quê, retire-se caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado
De modo a ter-se um molho grosso
Que vai de volta ao caldeirão
No qual o poeta, em bom agouro
Deve esparzir folhas de louro
Com um gesto clássico e pagão.
Inútil dizer que, entrementes
Em chama à parte desta liça
Devem fritar, todas contentes
Lindas rodelas de lingüiça
Enquanto ao lado, em fogo brando
Desmilingüindo-se de gozo
Deve também se estar fritando
O torresminho delicioso
Em cuja gordura, de resto
(Melhor gordura nunca houve!)
Deve depois frigir a couve
Picada, em fogo alegre e presto.
Uma farofa? - tem seus dias...
Porém que seja na manteiga!
A laranja gelada, em fatias
(Seleta ou da Bahia) - e chega.
Só na última cozedura
Para levar à mesa, deixa-se
Cair um pouco da gordura
Da lingüiça na iguaria - e mexa-se.
Que prazer mais um corpo pede
Após comido um tal feijão?
- Evidentemente uma rede
E um gato para passar a mão...
Dever cumprido. Nunca é vã
A palavra de um poeta... - jamais!
Abraça-a, em Brillat-Savarin
O seu Vinicius de Moraes.
A escrita é a impressão de um aspecto da alma, que ainda que seja esquecida, de algum modo permanece. Tudo aquilo que é perene passa em algum momento pela escrita. Mesmo Platão que era muito desconfiado dessa nobre arte, permanece justamente por causa dela. Porque é verdade, que quando não se manifesta aquilo que se gera na alma, parte do que há dentro se perde. E a escrita é uma forma de não deixar-se perder jamais.
O razo de algumas pessoas é como o fundo do mar, é melhor conhecer apenas a superfície, linda e poética.
A espontaneidade expressada na junção de belas cores e numa graciosidade admirada, sendo contrastes emocionantes que a arte facilmente promove, dessarte, criações amáveis que partilham uma mesma fonte com tamanha afabilidade.
Trata-se de uma mescla artística entre algumas tintas e uma bela natureza, que de maneiras diferentes estão vivas, mas que através de uma concepção poética são percebidas claramente unidas numa única essência reluzente.
De fato, um belo banquete para os olhos e um frescor para o espírito, provocados por artes que se misturam e iluminam amavelmente à semelhança de um sorriso de ternura resplandecente que cativa olhares e inspira mentes.
Presumo francamente que na tua essencialidade fértil, existe um jardim de belas pétalas, onde as flores florescem ricamente com amor, exaltando fervor e delicadeza através de sentimentos autênticos em tons admiráveis que remetem à vividade da renascença.
Essência que reluz do teu olhar carinhoso que possui provavelmente uma visão poética voltada para uma distinta simplicidade que mescla a emoção da fantasia com a vívida realidade, que fomenta a tua própria fonte de euforia, uma genuína preciosidade.
Ainda que esteja certo e não sei se estou, seguramente, é apenas um fragmento da tua existência, o prefácio de um livro, um pequeno indício de uma grande descoberta, um detalhe imprescindível assim como todos outros para que tu floresças
Sou facilmente tomado por uma sensação muito deleitosa, preso na impotência hipnotizante que há na luminosidade dos teus olhos, fragmento da tua verdade, na precisão majestosa do teu corpo sublime, na tua postura elegante, superfície fascinante de uma mar intenso, profundez preciosa, onde o amor é constante, origina sentimentos, desejos incessantes, um deleite que não tem preço, que faz valorizar cada instante com a veemência de versos e beijos, que deixam a vida mais poética num partilhar emocionante, por isso que tens o meu sincero apreço por seres uma mulher tão significante.
Determinados pensamentos chegam repentinamente, mesmo sem serem convidados, aqueles recorrentes, audaciosos ou surpreendentes, independente do horário,
às vezes, inoportunos, mas alguns podem ser agradáveis, outros só aparecem para tirar o sono, depende do assunto, de cada caso, reflexo de um mundo bastante complexo, autêntico,
sobre o qual, o controle é quase inexistente, o que não é todo mal assim como a inspiração que não se controla e chega de uma maneira avassalodora ou sorrateira, podendo ser externa de várias formas, inclusive a poética.
