Amor Textos de Luis Fernando Verissimo
Sem metáforas
Feito menino atrás da bola.
Feito caderno indo à escola.
Feito pipoca pulando na panela.
Feito príncipe na busca da Cinderela.
Toco na pele cheirosa e macia
Da mais inspirada e sensível poesia.
E do verso balançado pela ventania,
Brota sorrindo o mais belo cacho de alegria.
Sigo no sinal verde da vida.
Escrevo uma frase para nunca ser lida.
Bate a angústia intrometida,
Soa o sinal, é hora da despedida.
Não esta aqui
Olhe esta velha foto.
Até já marcou de tinta o álbum.
Eu tinha entre doze e quatorze.
Sim, pode rir, faz tempo. Isso eu sei.
Os olhos vermelhos?
Era assim, os outros todos estão assim.
A calça do Chico! Que é aquilo?
Nunca mais soube dele...
Sonhava em ser piloto.
Naquelas árvores ao fundo tem um riacho.
Muitas vezes pescamos por lá.
O Juca, este alemãozinho aí, mudou-se ainda menino.
Foi para o Mato Grosso.
Ele não queria ir, mas o pai vendeu tudo aqui e foram.
Casou, teve filhos.
Morreu há pouco tempo num acidente.
A do cantinho é a Nina irmã do Zeca.
Uma mulher linda! Eu era apaixonado por ela.
Nunca mais a vi.
Este outro retrato me faz rir,
É muito engraçado.
Mas a que eu procuro... Não esta aqui!
Finitude
Que a cada dia eu tenha um objetivo e um motivo pra lutar.
Que eu agradeça sempre antes de deitar.
Que a tristeza e as desilusões não me façam perder a ternura.
Que eu entenda que nem tudo o que quero é viável.
Que não se vive sem uma pitada de dor.
Que a finitude seja por mim respeitada.
Que algumas saudades não significam nada.
Que passo rapidamente de decapitador e decapitado.
Que quanto mais ofereço mais sou recompensado.
Que sou humano, mas nem sempre sou errado.
Pó alérgico
Desafiante é calar o silêncio noturno
Escrito na profundidade oceânica
De uma voz insistente que nada diz.
Sou na vida apenas um atrapalhado aprendiz.
Sou regra
Desconheço a exceção.
Aprendi a dar
Mesmo sem receber perdão.
Sinto o ácido correr-me a alma
Letal e amargamente sem pressa.
Dizer a quem?
A ninguém interessa.
O pó alérgico da insônia me faz suspirar
E fico sem sono para deitar.
Perdi a matricula para a escola do viver.
Não sei como é.
Assim é minha vida.
Assim são meus dias.
Assim pra sempre há de ser.
Quando o sonho termina
Quando acaba o sonho
A vida dispensa o estepe.
Sopra um vento enfadonho.
A alegria desaparece.
Quando acaba o sonho,
Perde-se a vontade de acordar.
Passa-se a viver com sono
E a não mais se suportar.
Quando o sonho termina
Ficam lembranças armazenadas
A luz da alma não mais ilumina
Tudo fica triste não se quer mais nada.
Quando o sonho se vai
O amor não vai junto
Pela porta ele não sai
Apenas adormece em algum ponto.
Quando o sonho diz adeus
O ânimo desanda
Nas lembranças os momentos meus e teus
Emudecendo os instrumentos da banda.
Estação vida
Não deu tempo.
Atrasei-me.
Ao longe ainda pude ver a felicidade partindo.
Tentei gritar, correr, ligar,
Já era tarde,
Ela foi.
Eu fiquei.
E pensar que tentei sair apressado,
Deixei até algumas coisas
Espalhadas.
Nem sei onde me deixei esquecido.
Não pude ver onde pendurei minha alegria.
Ficou lá.
Talvez esteja no mesmo prego do meu sorriso.
Um sobre o outro. Não os vi.
Tomara que alguém, ao encontra-los, faça bom uso.
Estou preocupado com minha vida,
Deve ter ficado num cabide.
Tão frágil!
Será que vai sobreviver?
A esperança... Que dó!
Morreu no frio das noites passadas.
Nesta estação à beira da estrada,
Não me resta mais nada.
Se alguém perceber que não fui
Quiçá, ao menos, dirá: Caramba!
Como pode não ter embarcado?
Cela
Busco entender as penas que este tribunal me imputa.
Só recebo sentenças mesmo que não haja crimes comprovados.
Será esta a lei da vida?
Abdico a ideia de réu confesso.
E o propalado direito de ampla defesa?
Julgado a revelia sem ser avisado
Fui prejudicado na condenação.
Arrancaram-me a razão.
Subtraíram-me os argumentos.
Transplantaram-me o coração.
Prenderam-me nesta cela
Que se chama ilusão.
Nuzinho em pelos
Siga contente.
Siga falante.
Sempre adiante.
Ande de cabeça levantada.
Apanhe a margarida.
Dê boas gargalhadas.
Deixe risadas espalhadas.
Abrace a “rapaziada”.
Sorria para a vida
Daqui não se leva nada.
Deboche das esquinas.
Siga no proibido
O ridículo também deve ser vivido.
Dê um sorriso para o tempo.
Abra a boca, coma o vento.
Dê a mão para o destino
Picolé para o menino.
Estenda os braços pra voar
E o coração para amar.
Desalinhe os cabelos.
Sinta-se nuzinho em pelos.
Lágrimas só as tolas,
Pelo efeito da cebola.
Se por sozinho optar
Beije a felicidade ao se abraçar.
Perfume
Desperto. Percebo alguma claridade,
Ao meu lado ainda um saldo do teu calor.
O perfume nas cobertas entranhado.
No banheiro teus pertences espalhados.
Olhos semiabertos espiam a rua,
Nem mais um passo teu,
Na memória a mais linda imagem crua,
Teu gosto doce nos lábios meus.
Busco motivos pra enfrentar este dia,
Imagino seus cabelos desalinhados, seu rosto, seu sorriso,
Busco no espelho meu olhar sem alegria
Pensamentos de mim decolam sem juízo.
Consome-se em teu dia atarefado.
Nem notícias tuas consigo receber.
Dou passos te imaginando ao meu lado
Buzinas, barulhos, correria nada me faz te esquecer.
Pietá
Decepciono-me ao ver o mapa
E o traçado final estampado.
Queria o segredo no cofre guardado
Porque amar é a arte de tentar, de se doar, de renunciar.
Teus amores deliciosos, onde estão?
Agora em meu rosto só a expressão de Pietá,
Minhas mãos vazias pra mostrar.
Nestas noites em que só palavras voam,
E dos meus dedos brotam céus em desalinho,
Giro neste quarto de chão molhado
Tropeço no escuro do caminho.
Nem sombras dos que me pediam
Pra mais alto eu falar.
Nem pontes unindo sul e norte,
Nem em aquarelas vejo teu olhar,
Só um vento que sopra melancólico e forte.
Mas há de haver um ponto sagrado
Onde o mundo possa ser ancorado
E viver em harmonia
O sonho pela vida sonhado.
Onde o sol bronzeie a pele
Onde a semente germine
Onde a realidade sorri.
E a vida, preciosa, se ilumine.
A última lambreta
Descia pela ruazinha de terra e pedras. Magra, leve, parecia perfeita para a lambreta que tinha.
Era uma época em que os empregos do sonho, nesta região, eram de motorista do caminhão do leite ou da Kombi escolar, ou este dela, em que passava nas pequenas propriedades vacinando o gado.
Naquele dia ela chegou mais calada. Percebia-se que algo não estava bem. Após almoçar fartamente a pequena veterinária passou a comentar suas angustias. Tudo mudaria. Estavam tirando as lambretas de serviço e colocando as Turunas (Moto que fez muito sucesso naquela época)
Olhando para mulher falante e tão minúscula, fiquei impressionado com a sua decepção. Falou que iria sentir muito a mudança. Definitivamente não aceitava ficar sem “lambretear”.
Ela que muitas vezes foi vista como a rebelde da família, pois entrava em si mesma e produzia alguns textos de qualidade questionável apenas para relaxar.
Em certa ocasião, após uma queda e com uma forte batida na cabeça, perdeu um pouco a lucidez. Naquele dia salgou o café ao tentar adoça-lo. Fez uma frase que eu nunca mais esqueci: “Se é no sábado, todos sabem que é domingo.” Exatamente assim se pronunciou. Uma frase, para mim, símbolo das confusões mentais em que ela poderia estar metida.
Mas o entusiasmo dela ao falar da velha lambreta era algo impressionante. Não parecia ter nenhum “parafuso a menos”.
Na hora de ir embora, vi que chorava e falava que nunca mais veríamos uma lambreta. Que aproveitasse aquele dia.
Indignada, parecia mesmo que estava para cometer o suicídio, pois disse que sairia de todas as formas de convivências sociais. Disse que iria se esconder, que não daria mais notícias. Nunca vi alguém tão indignado por tão pouco.
Fiquei com aquela imagem dela subindo pela estradinha e dizendo: Nunca mais. Aproveitem a última lambretinha. Nunca mais saberão de mim. Nunca mais, nunca mais...
Pássaros da vida
Olhou encantado para o alto do parreiral.
Se não estivesse diante de uma Isabel gaúcha, jurava se tratar de uma Nebbiolo Piemontês. O clima favorável possibilitou um desenvolvimento espetacular tornando-as viçosas e lindas naquele ano. A associação com a uva italiana que tanto apreciava foi inevitável.
Fez-se adulto no tempo em que o vinho era feito de forma artesanal. Amassava-se a uva com os pés. Eram dias especiais aqueles que se ocupavam nos afazeres vinícolas.
Orgulhava-se do progresso, mas mantinha certa nostalgia em seus abundantes e fantasiosos pensamentos.
Repentinamente lembrou-se Dela.
Há tempos não à via. Contudo mantinha na memória o sorriso tão lindo, tão mágico e tão doce como o vinho suave. Nunca a esqueceu, nem esqueceria.
Por alguns segundos imaginou uma cena inusitada com o gosto de um beijo com uva Merlot que ela, atrevidamente, manteria apertada nos lábios carnudos e adoráveis num gesto de gostosa provocação. Adoraria viver isso.
Jamais houve um adeus definitivo. Apenas deixaram que os pássaros da vida consumisse-os como devoram os grãos maduros dos parreirais.
Despertou do pensamento alucinante e tratou de experimentar um cálice de vinho ali produzido.
Impossível saber quanto bebeu daquele tinto maturado. Deduz-se que foi bastante, pois no dia seguinte ele afirmava com certa convicção: Ela veio me ver esta noite. Estava encantadoramente linda como sempre.
Pode ter sido só um delírio, um sonho, uma ilusão. Mas o que importa saber a verdade se ela não faz feliz.
O que importa? Pensou.
Nada conta depois que o sonho acaba.
Lenta, mas decididamente, com o copo na mão caminhou para a pipa de Chardonnay.
Outro sabor, outra variedade, outra uva, outro vinho, mas os desejos mantidos de acordar feliz após passar mais uma noite, supostamente com a amada.
Queria uma noite longa para o tempo de felicidade, quem sabe, ser... Eterno.
Quem sabe...
Se a sorte ajudar.
Pólen
Saudade é como ginete caindo do cavalo.
É fruto que se fere ao cair do pé.
É gangorra em seu trepido embalo.
É nome saudoso de mulher.
É a roupa sem passar,
O perfume que se deixa de lado.
É marcar gol e não comemorar.
É entrar mudo e sair calado.
É o ativo que se despreza.
É abelha sem pólen pra pousar.
É ajoelhar quando se reza.
É perder a vontade de lutar.
Trechos da vida
Dorme a tarde enferma e calada.
Impiedosa a chuva debocha.
Bate no vidro sem nenhuma graça.
Solitária a alameda deixou ser tomada pelas águas.
Sem o fascínio do sol estampado
Meu semblante enrijece desmedido.
O caminho encharcado me inibe,
Tropeço no lodo criado.
Cair nunca é esperado,
Em pé supera-se a quem está sentado.
Mas as resvaladas que não se acredita
Estatelam no chão uma intenção bonita.
A roupa enlameada até entristece,
Mas não compromete o aclive do ser.
Cada escorregada faz deslizar
A vontade de tudo superar.
Melodias cantadas animam a subida,
Nesta avenida íngreme e sangrenta.
É preciso ser forte para fazer o percurso
Dos trechos enlameados da vida.
Defumando Versos
Tirou do violão, talvez a derradeira nota.
A voz não respondeu.
Mudo, apoiou o rosto no próprio instrumento.
O fogo ainda o aquecia.
A parede da alma já amarelada.
A fumaça aumentava
Preenchendo cada vazio da poesia da sua vida,
Defumando os versos, provocando tosse na rima.
O pensamento mal cavalgava lembranças
De um alfabeto extinto.
De súbito soprou a vela
Percebendo a complexidade escura do labirinto.
Apenas vestígios de carvão.
Nas cinzas, o destruído eterno.
Nada mais das chamas galopantes
Vistas pouco tempo antes.
De costas deitou-se no chão.
Cobriu o rosto com o próprio chapéu.
De qualquer forma não viria o céu.
Nos olhos apenas nuvens formando véus.
DOIS VERSOS
Faço de sonhos os meus versos,
Opostos de mim que habitam o mesmo universo.
Se o primeiro é cinismo que beira a loucura
O segundo é feito de letras de candura.
Se um desfaz e deprecia
Segue-se o que exalta e alivia.
Antecipa-se aos olhos o que emociona,
Abrindo caminho para o que chora.
Grita alto o que interroga rebelado
Responde calmo o tolerante que me deixa silenciado.
Agiganta-se meu verso que é pedra na vidraça,
Se segura o outro que é de vidro e se estilhaça.
Cresce a ira do que me vaia e me critica
Entende-me o verso que me aplaude e me paparica.
Abre-se em cada linha o lírico de ternura explícita.
O mais grosseiro avança para fechar a lista.
Agressivo é o verso tenso que me desestrutura,
Mas o verso suave cava a sua sepultura.
O meu primeiro verso fala de amor.
O segundo... Ratifica o anterior.
(Primeira poesia publicada no meu blog: www.doisversos.com). Visite-me.
Sonhas em ser feliz?
Tente ser humildemente você.
Disfarce
Cuide-se, alimente sim suas vaidades.
Tendo vontade disfarce até a idade.
Sinta-se bem. Julgue-se bonito.
Respeite sempre seus princípios
Mas arrisque um pouco mais.
Lembre-se que o mundo do faz de conta é finito.
E a perfeição artificial
Acaba fazendo mal.
A quem meu Deus?
Acordo em soluços de medo profundo.
Sem mais ter a inocência de criança,
Quanto mais se vive mais dói este mundo,
A quem meu Deus se deve preferir amor à vingança?
Todos os dias tenho que provar que sou justo.
Por que se até estrelas se desprendem da constelação?
Por que se constroem a falsos heróis até bustos,
A quem meu Deus se deve conceder perdão?
Abro-me em confissão deliberada,
Exponho cada pedaço da minha consciência.
Pessoas maltratam para se sentirem amadas,
A quem meu Deus se deve conceder clemência?
Protagonize
Pegue o vento com as mãos.
Comprima, encha e solte o balão.
Dê mais altura à pandorga.
Finja que hoje é tua folga.
Cante qualquer besteira.
Apanhe a flor na roseira.
Vibre com as conquistas.
Aceite outros pontos de vista.
Prove a comida,
Elogie a cozinheira.
Passe pelo muro de cabeça erguida.
Não tenha ganâncias descabidas
No espírito é que está a nobreza.
Preserve-se e a natureza.
Deixe recados.
Diga que ama.
Sinta-se amado.
Pule sobre a cama.
Não esconda que sente saudades.
Não tenha vergonha da felicidade.
Nem tudo é tão sério,
Preserve só alguns mistérios.
Protagonize a própria vida
Por você que ela quer ser gerida.
Autocontrole e Equilíbrio
Qualquer discórdia ou desentendimento com alguém deve ser superado através de uma interpretação mais abrangente e de uma mudança consciente em minha atitude.
Minha função é inspirar, discernir, gerar possibilidades para novos estados de consciência e trabalhar no sentido de aumentar meu tamanho, trabalhar no sentido da integridade, da honestidade e do respeito; procurar não valorizar fatos e circunstâncias que não agreguem utilidade á minha existência.
Não tentar controlar apenas pelo controle, preciso sim, ter autocontrole e equilíbrio sobre meus pensamentos e ações, sobre minhas atitudes, não sobre as ações e atitudes dos outros. Devo aprender a agir e não simplesmente reagir.
Devo ter cautela e vigiar ainda mais atentamente os meus pensamentos, pois de lá provem as palavras, que ecoam e provocam ressonância.
Devo aprender apenas a observar imparcialmente, sem julgamentos e desapaixonadamente.
O que eu digo pode provocar grande impacto, obscurecer a percepção e até interferir no estado de espírito do outro, podendo provocar sentimentos e interpretações que provavelmente não resultará em bons frutos.
Por isso preciso aprender a adequar minhas respostas, preciso ampliar cada vez mais meu entendimento até chegar à compreensão.
Preciso conquistar o estado de paciência, equilíbrio e autocontrole, pois isto leva a um grande princípio; o Respeito.
Preciso aprender a ser mais leve, mais doce e gentil, sem paixões que alimentem a fascinação e a ilusão, e principalmente devo permitir liberdade.
*O grande movimento da vida é o aprendizado consciente; não por imposição, más por decisão própria*.
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