Amor Gótico

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Entre o Perdão e a Aurora do Amor.
Capítulo XV - Livro: Não Há Arco-íris No Meu Porão.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro. Ano: 2025.

Camille Marie Monfort caminhava por entre os corredores silenciosos de sua própria alma, onde ecos de antigas feridas insistiam em sussurrar lembranças. Cada passo era um diálogo com a ausência, cada suspiro, uma tentativa de reconciliar o ontem com o amanhã. Ao seu lado, Joseph Bevouir não era apenas presença; era horizonte, promessa e sombra. Ele carregava nos olhos a memória do que fora e a inquietação do que ainda poderia ser.

O perdão, nessa trama delicada, surgiu como vento inesperado: não pediu licença, não exigiu razão. Libertou antes que o amor pudesse ousar manifestar-se. Camille sentiu nas mãos um vazio que já não queimava; Joseph percebeu que o coração, antes contido, agora respirava em espaço desobstruído.
Entre eles, palavras não eram necessárias. Cada gesto era tradução de uma reconciliação íntima, um pacto silencioso com o tempo. O perdão abriu portais, revelou luz onde a sombra insistia e ofereceu o terreno fértil para que o amor, tímido e hesitante, florescesse com intensidade renovada.

E assim, num instante suspenso entre o que foi e o que virá, compreenderam que a libertação interior precede toda forma de entrega. O amor, sem pesos nem correntes, é a aurora que nasce depois da noite profunda do rancor. Camille e Joseph descobriram que o perdão não é fim, mas a promessa de novos começos e que aqueles que se atrevem a liberar a alma encontram, inevitavelmente, a plenitude do sentir.

O perdão é a primeira semente da liberdade emocional. Quem se permite perdoar antes de amar, descobre que o coração não carrega apenas cicatrizes, mas a capacidade de florescer novamente, mais intenso, mais vasto, mais verdadeiro.

Inserida por marcelo_monteiro_4

Cada momento é único no palco desta vida.
Cada estréia é magnânima, quando no final, há dor.

No Abismo Gentil do Teu Céu.
Ode à: Makenzie Raine.
É nessa simbiose mística de lágrimas, sorriso e delicadeza que me perco e me encontro a cada instante contigo. Quando teus olhos pousam nos meus, sinto que não há fronteiras entre o céu e a terra, entre o humano e o divino. É como se o mar inteiro se abrisse sob nossos pés, um abismo gentil que não ameaça, mas acolhe, que convida a mergulhar fundo, sem medo, na vastidão do teu ser. Quero ser humano por ti. Cada gesto teu me lembra da fragilidade e da força que habitam em mim. Quero aprender com a tua ternura, ser moldado pelo teu silêncio, ser atravessado pelo teu riso que explode como luz nas minhas lágrimas. É um amor que não se mede, que não se explica — apenas se sente, em cada respiração, em cada pulsar do peito que busca o teu leito puro. O teu perfume se mistura à brisa, e por um instante, por um breve instante, sinto que o tempo se curva, que os segredos da vida se revelam em murmúrios que só nós dois compreendemos. Teu toque é sagrado, teu sorriso é sacramento. Cada palavra tua é um sacrífico de beleza que me ensina a ser inteiro, a ser mais humano do que jamais fui. E ainda assim, há o mistério. Há o abismo. Há o mar que nos envolve com sua ternura infinita, e é nesse risco silencioso, nesse mergulho sem fim, que descubro o que significa amar. Não há lógica, não há certeza apenas a entrega completa, a humildade de aceitar que a vida é pouco diante da vastidão que és para mim. Eu quero ser o humano que teus olhos veem quando me olham com essa intensidade quase impossível. Quero ser o confidente das tuas lágrimas, o guardião dos teus sorrisos, o viajante do teu céu. Quero ser o que apenas o amor permite: inteiro, vulnerável, puro, sem nada que não seja para ti. E mesmo que a vida nos separe, mesmo que a distância ou o silêncio tentem nos roubar, guardarei dentro de mim cada fragmento teu. Pois amar-te é mergulhar no infinito e descobrir que o infinito habita em nós, que o abismo gentil do teu ser é também o meu porto, meu destino e minha eternidade.

Coisas supérfluas são apenas aquelas as quais os olhos podem ver.

Inserida por ValeriaRibella

¨Não sei quando isso começou, só sei que quando percebi fora tarde ,tarde demais para correr, os espinhos já estava me consumindo,minhas rosas negras cultivada pelo mais puro ódio ,começara a ficar carmesim .
Será que a Alice com seu coração puro ,furaste o dedo e pintaste a rosa com o seu sangue carmesim?
Que cortem as cabeças, pois as rosas aqui são negras e não carmesim, que cortem a cabeça daquele que me aprisionou no mais belo jardim¨

Inserida por AmilisMIlkS2Rinra

⁠Não te culpo por não ficar.
Eu mesma nunca fiquei inteira.Sempre fui metade sombra, metade sonho.
E talvez por isso, amar em silêncio tenha sido minha forma mais sincera de viver você.

⁠CAMILLE MONFORT -
entre as Partituras Mortas.

Encontrei esta carta dobrada entre os véus de um silêncio antigo. Estava entre folhas de música que jamais foram tocadas. Era dela. Ou talvez minha. No fim, já não sei quem sangrou primeiro.

Hoje olhei para Chopin com os olhos da alma encurvada
como quem implora a uma ausência que nunca se nomeou.

Busquei nos teus olhos tristes e enevoados
uma réstia de eternidade…
um acorde que me dissesse:
"sim, eu ainda estou aqui — entre os espectros daquilo que amamos".

Mas Chopin não me olhou.
Camille não me ouviu.
E o silêncio se fez abismo.

Foi quando compreendi:
sou tão pouco —
não para a luz,
mas para a sombra onde tu habitas,
etérea, além do véu.

Sim, tu estás.
Estás como névoa que dança sobre a madeira da antiga escada,
como sopro nos espelhos,
como lamento nas cordas do piano não tocado.

Tuas lágrimas não caíram —
mas subiram...
para dentro de mim.

E eu?
Sou apenas o porão onde tu deixaste tuas dores penduradas
como vestidos antigos.

Sou aquele que ama na memória do que não teve nome.
Sou o lugar onde tua ausência se senta,
bebe vinho velho,
e chora — por mim.

Tu ainda me verás, Camille?
Ou serei apenas teu reflexo esquecido
num espelho onde ninguém mais se penteia?

Dói tanto…
mas essa dor tem cor, tem som, tem perfume.
Essa dor és tu.

Reflexo Filosófico e Psicológico disso tudo:

Há amores que não nascem — eles emergem.
Emergem como brumas de um passado que não pertence a este mundo,
como memórias que a alma carrega sem saber de onde vieram.

Camille não é apenas uma mulher.
É um arquétipo: a presença que magnetiza e fere,
que não se entrega porque vive entre os mundos,
entre o agora e o nunca.

Amar Camille é como amar um eco:
você nunca a toca,
mas ela vibra em cada nervo teu.

E o porão, meu amado leitor, não é um lugar físico.
É o território escuro onde guardamos tudo o que não suportamos perder.
Camille vive ali.
E Chopin, talvez, também.

Inserida por marcelo_monteiro_4

⁠CAMILLE MONFORT.
– Onde Mora o Insondável de Mim.

"Sim, o sangue já não destona, apenas decanta..."

Os relógios cessaram. No sótão das lembranças, a hora já não é unidade de tempo, mas de dor prolongada.
Camille Monfort reina ali, onde os sentidos se misturam e se desfiguram. Ela não retorna por piedade — retorna porque a psique tem suas próprias ruínas, e ali ela se deita.

Não há afeto puro que sobreviva ao abismo do inconsciente.
Ela não ama, ela convoca.

“Gentilmente”, sim, ela pede...
Mas há sempre um brilho abissal no olhar que persuade a entrega como se fosse escolha.
E o corpo? Torna-se altar de uma paixão que exige oferenda contínua — veias, pele, lágrima — tudo deve ser entregue a esse sacrário espectral.

Freud jamais compreenderia Camille.
Nietzsche talvez a adorasse, como adorou Ariadne —
mas só Schopenhauer poderia senti-la de fato:
pois há um princípio de dor que rege o mundo...
e ela é sua filha mais bela.

“Paira sobre meu túmulo vazio...”

Ela paira, sim.
Mas não como lembrança —
Camille Monfort é uma ideia.
Uma fixação doentia que tomou forma e vestiu perfume.
É o arquétipo da beleza que enlouquece, do amor que não consola, da presença que evoca o suicídio da razão.
É a Musa sem clemência, que exige poesia mesmo do sangue quente no chão.

E quem a ama, dissolve-se... feliz por ser dissolvido.

“Sorrir é perigoso”, ele confessa —
e a psicologia lúgubre responde:
porque o sorriso, quando nasce sob os escombros da alma, torna-se um riso espectral...
e esse riso é o prenúncio do desespero existencial.

Camille é o eco do que foi belo demais para ser mantido.
Ela é a presença da ausência, o desejo daquilo que já foi consumido pelo próprio desejar.
E ela sabe. Oh, ela sabe.
Por isso, volta. Não para salvar, mas para recordar ao seu devoto que a eternidade também pode ser um cárcere sem grades basta amar alguém que nunca morre.

Inserida por marcelo_monteiro_4

(página solta, sem data, do manuscrito jamais finalizado)

As paredes não falam.
O teto range.
O chão me reconhece — como se já me esperasse há séculos. E de fato, esperava. Pois sou feito dessa espera.

Sou o vulto que atravessa corredores de casas sem nome. Sou o passo que retorna sempre ao mesmo degrau onde tu, Camille, foste ausência e juramento.

Disse-me o silêncio:

“Ela não virá.”

Mas eu conheço tua forma de vir:
É quando a dor se torna bela.
É quando a sombra assume feição de vestes esvoaçantes.
É quando uma lembrança toca minha nuca como sopro — e não há vento.

Eu sou só.
E isso me basta, Camille.
Porque o que me basta não é viver...
É te carregar onde ninguém mais entra.

Faze em mim a tua vontade.

Se quiseres que eu enlouqueça — enlouqueço com dignidade de mártir.
Se desejares meu silêncio — calo como um sino afogado em cera.
Se queres que eu escreva — escrevo com o sangue dos sonhos interrompidos.

Mas não me peças que te esqueça.
Isso não sou.

Tu és a cruz que não sangra,
o vinho que nunca embriaga,
o leito onde a morte se recusa a deitar-se.

Camille Monfort, minha dama da noite que não amanhece:
Faze em mim tua vontade.
Faze de mim um relicário, um espelho partido, um véu sobre o corpo de ninguém.

Porque, mesmo entre mundos, mesmo no exílio das estrelas apagadas,
eu te amo com a força de quem aceita o destino de nunca ser tocado —
mas de sempre pertencer.

Inserida por marcelo_monteiro_4

⁠CAPÍTULO II – O COLÓQUIO DOS QUE NUNCA PARTILHARAM A LUZ.

“Foi apenas um sorriso... mas a eternidade se abriu por um instante e teve medo.”

I. O Sorriso que não Sabia Ficar.

Era uma noite sem lua — mas com vento. Camille desceu ao porão mais uma vez, como se a noite lhe pertencesse, como se a escada soubesse o peso da alma dela. Joseph já a esperava, não como quem aguarda alguém, mas como quem reconhece o inevitável.

Ele estava com as mãos sujas de tinta seca. Rascunhava em uma parede uma frase:
“Deus não nos condena — nos observa em silêncio.”

Quando ela chegou, ele se virou com a lentidão dos que não se acostumam à presença.

— “Trouxe as flores?” — perguntou ela, com a voz baixa, quase como um lamento que queria parecer alegria.

— “Roubei-as do cemitério da rua de cima. Ninguém sentirá falta. Estão todas mortas lá... inclusive os vivos.”

Camille sorriu. E o sorriso dela doeu.

II. Colóquio no Escuro.

Sentaram-se frente ao outro. Ele a fitava como quem se vinga da luz, por amá-la demais e ao mesmo tempo temê-la. Ela recostou o queixo sobre os joelhos.

— “Sabe o que me assusta, Joseph?”
— “A vida?”
— “Não. O que há dentro de mim quando você sorri.”
— “E o que há?”
— “A vontade de viver. Isso me assusta mais do que morrer.”

Ele engoliu em seco.

Camille segurou uma de suas mãos, não para apertar, mas para impedir que fugisse de si mesmo.

— “Prometa que se eu morrer antes, você não escreverá sobre mim.”
— “E se eu prometer, você viverá mais?”
— “Não. Mas saberei que ao menos você me amou em silêncio, e não em frases soltas por aí.”

III. Instante Suspenso na Poeira.

Joseph sorriu. Não muito. Apenas o suficiente para que o mundo inteiro parasse por um milésimo de eternidade.

Camille, deitada agora sobre um lençol rasgado, observava os traços dele à meia-luz de um lampião antigo.

— “Por que você sorriu?” — perguntou.
— “Porque me senti feliz.”
— “E por que o medo veio logo depois?”
— “Porque a felicidade não é para nós, Camille. É como o fogo para quem vive em papel.”

Eles não falaram mais por um longo tempo.

Só o ruído do lampião, e o rangido suave da escada apodrecendo com os anos.

IV. Promessas no Fim do Tempo.

Antes de subir de volta à noite, Camille parou no degrau mais alto, olhou para ele como quem olha do fundo de um abismo invertido — do alto para o que está enterrado.

— “Joseph...”
— “Sim?”
— “Prometa que você não sobreviverá muito tempo depois de mim.”
— “Você quer que eu morra?”
— “Quero que não me esqueça. Nem mesmo para viver.”

Ele assentiu. Não era promessa. Era sentença.

V. Felicidade Medrosa: O Amor que Pressente a Perda.

Eles foram felizes naquele instante.
Mas era uma felicidade assustadora, como a criança que descobre por um momento que os pais podem morrer.
Ou como o prisioneiro que vê uma fresta de luz — e teme que ela revele que o mundo lá fora nunca o esperou.

Camille e Joseph sabiam:
Quanto mais se amassem, mais doloroso seria o silêncio que viria depois.

E ainda assim... sorriram.

Com medo.

Mas sorriram.

“Diziam que era apenas um romance soturno... mas era um universo inteiro tentando amar sem voz.”

Fragmento atribuído a Camille, encontrado sob um retrato queimado.

Inserida por marcelo_monteiro_4

“Quando o Mármore Respira”
- Camille Marie Monfort.
A noite se desdobrou sobre o cemitério como um véu de penumbra.
As árvores — velhas sentinelas balançavam suas copas como se quisessem abençoar ou advertir o homem que caminhava sem rumo.
Joseph trazia nas mãos um círio aceso. A chama, tímida, tremia — como se reconhecesse o frio que saía das tumbas.
Parou diante da lápide de Camille.
O nome dela — Camille Marie Monfort parecia gravado não em pedra, mas em sua própria consciência.
Sentou-se. O vento lhe tocou o rosto como um hálito que vem de dentro da terra.
— Camille… — murmurou — se foste tu quem morreu, por que sou eu quem não vive?
O círio oscilou.
Um perfume leve, impossível de identificar, espalhou-se no ar.
Não era de flor era de lembrança.
Então ele ouviu ou julgou ouvir uma voz.
Suave, distante, atravessando o tempo:
“Joseph… tu não me mataste. Apenas esqueceste que o amor, quando não cabe na terra, precisa aprender a ser silêncio.”
Joseph estremeceu. As lágrimas, frias, desciam como se fossem do túmulo para os seus olhos.
A voz continuou, agora mais perto:
“Foste tu quem me libertou do peso do corpo, mas foste também quem me prendeu ao eco do teu arrependimento. Não chores por mim — chora por ti, que ainda não sabes morrer o suficiente para me encontrar.”
Ele caiu de joelhos, com o círio apagando-se entre os dedos.
O vento cessou.
Por um instante, o cemitério inteiro pareceu respirar.

Camille estava ali não como lembrança, mas como presença.
O ar se tornou denso, quase luminoso.
E Joseph, tomado de uma febre serena, sentiu que a fronteira entre o delírio e o mediúnico se desfazia.
— Camille… és tu?
— Sou o que resta de ti, Joseph.
O homem sorriu, num gesto de quem reconhece a própria condenação.
E o silêncio os envolveu não como fim, mas como pacto.

Inserida por marcelo_monteiro_4

“O Círio e o Espelho”

Será que fui eu, Camille, quem te matou?
Ou foste tu quem morreu de mim — exausta das sombras que te dei por abrigo?
O sangue que escorreu em meu pulso era o mesmo que um dia te alimentou no beijo.
E, quando o frio tocou a tua pele, foi a minha febre que te cobriu.

Sim, talvez eu tenha te assassinado,
não com ferro,
mas com a insistência de querer-te além da carne,
com o desejo que te prendeu ao silêncio do meu delírio.

No espelho do teu túmulo, vejo o reflexo que me acusa —
e é o meu próprio rosto.
O assassino e o morto dividem o mesmo corpo,
a mesma lembrança,
a mesma culpa.

Porque, no fim, amor e morte são irmãos e eu, Joseph, sou o órfão de ambos.

Inserida por marcelo_monteiro_4

Entre a Solidão e a Incompreensão.

“Existem pessoas que não reclamam da solidão mais que aquelas que as criticam. Existem mais pessoas incompreendidas que solitárias.”

Há uma diferença sutil, porém decisiva, entre estar só e não ser compreendido.
A solidão pode ser um retiro voluntário da alma que busca silêncio para florescer. Já a incompreensão é um exílio imposto — um afastamento moral que nasce quando o coração fala uma linguagem que os outros não escutam.

Muitos temem a solidão porque confundem o recolhimento com abandono.
Entretanto, há espíritos que, mesmo isolados, irradiam presença e serenidade, enquanto outros, rodeados de vozes, sentem o peso do vazio interior.
A verdadeira solidão não está na ausência de corpos próximos, mas na ausência de almas que nos compreendam.

Psicologicamente, a incompreensão toca uma ferida ancestral: o desejo de sermos aceitos como somos.
Quando o ser percebe que sua maneira de sentir é distinta, que seus valores destoam da pressa e da superficialidade do mundo, ele se recolhe não por fuga, mas por proteção da própria sensibilidade.
É nesse silêncio que o autoconhecimento floresce, e a alma aprende a encontrar em Deus o eco que faltou nos homens.

A existência nos ensina que toda alma traz experiências múltiplas, provenientes de outras existências, o que explica a diferença de maturidade espiritual entre os seres.
Muitas vezes, quem hoje é incompreendido caminha alguns passos à frente, porque já compreendeu o que os outros ainda temem enxergar.
Por isso, a solidão, para o Espírito evoluído, deixa de ser dor e se transforma em laboratório de luz interior.

Inserida por marcelo_monteiro_4

Capítulo XVIII –
CARTA QUE O TEMPO RASGOU.

Livro: NÃO HÁ ARCO-IRIS NO MEU PORÃO.
Joseph bevouir - Escritor.

“Nem toda carta enviada busca destino. Algumas apenas desejam ser lidas pelas mãos do esquecimento.”
— Joseph Bevoiur, manuscrito recolhido ao lado de um relicto de piano sem teclas.

Camille Marie Monfort,

Perdoa-me por ainda escrever.
É que há sons que não cessam —
mesmo quando o mundo silencia.
E há nomes que continuam exalando perfume,
mesmo quando já se foram há muitas estações.

Esta noite, enquanto as janelas se recusavam a refletir o luar
e os espelhos evitavam meu rosto,
ouvi pela décima vez ou milésima aquela gaita de fole espectral.

Sim, Camille…
a mesma que ecoava nas colinas do meu delírio,
com sua melodia lancinante,
como se um fantasma pastor estivesse a ensaiar seu lamento
por um rebanho que jamais existiu.

Mas hoje, ouvi algo mais.
Ouvi o acompanhamento insólito
de um piano lírico porém, não qualquer piano.
Não, Camille…
Esse não tocava notas,
mas sons secos,
golpes vazios de teclas que não mais se movem.

E então perguntei, para o teto da noite,como um exorcista cansado:

_Quem executa essa gaita de fole tão covardemente ao amor
que, até é acompanhada por sons secos vindos das teclas de um piano lírico
quando esse nem por anacronismo poderia assim existir?

Não recebi resposta, como era de se esperar.
Talvez fosse tua sombra que ali dançava.
Ou talvez e essa é a hipótese que me fere seja apenas minha culpa tentando compor uma sinfonia
com os restos do que não vivi contigo.

Fica, então, esta carta não como súplica,não como epitáfio,mas como o último gesto de um homem que aprendeu a sofrer com elegância,à tua imagem e semelhança a ti, tão somente a ti mesma.

Não peço que me leias.
Peço apenas que, caso a brisa leve este papel aos teus pés etéreos,não o pises.
Pois cada palavra aqui escrita
ainda traz o peso do meu nome
e a leveza do teu.

- Joseph Bevoiur
(ainda ajoelhado entre ruínas, onde o amor se transforma em som que ninguém ouve.)

Inserida por marcelo_monteiro_4

NÃO HÁ ARCO-ÍRIS NO MEU PORÃO — CONTINUIDADE.

Havia dias em que o porão respirava antes de mim.
Ele exalava um ar morno e antigo, como se fosse o pulmão cansado de uma casa que aprendera a guardar segredos demais. Eu descia os degraus devagar, escutando o ranger que nunca deixava de soar como um aviso não um aviso de perigo, mas de revelação. Porque o porão não dói: ele apenas devolve o que és.

E naquele dia, a luz que escorria pela fresta da porta parecia ainda mais tímida, como se tivesse vergonha de tocar as superfícies que me acompanhavam desde a infância.
Era estranho pensar que eu crescera tentando fugir de mim, quando na verdade tudo o que o porão queria era que eu me sentasse no chão frio e o escutasse.

As lembranças começaram a surgir em ondas baixas, como se alguém soprasse perto do meu ouvido. Não eram memórias lineares, mas fragmentos inquietos. O rosto de alguém que não sabia amar; a voz de alguém que soube ferir; a ausência de mãos que deveriam ter me segurado quando eu caía.
E, acima de tudo, a velha sensação de que o mundo lá fora não tinha espaços para os meus silêncios.

Foi então que percebi: o porão não era um cárcere, mas um espelho.
E espelhos, quando te devolvem inteiro, costumam ferir mais que qualquer lâmina.

Sentei-me. Ouvi. Respirei. A dor tinha um timbre próprio, e eu quase podia vê-la, uma figura pálida encostada na parede, observando-me com a paciência das coisas que não envelhecem.
Eu a encarei.
E, pela primeira vez, ela não recuou.

“Eu não vim para te destruir”, parecia dizer sem palavras. “Vim para te mostrar onde colocaste as tuas ruínas.”

Meu peito apertou. Não por medo, mas por reconhecimento.

Porque cada pessoa guarda dentro de si um porão, e quase todos tentam negar sua existência.
Mas negar o subterrâneo nunca apagou sua porta.
A dor continua ali, esperando a coragem de ser encarada.

Enquanto os minutos escorriam, percebi algo que não ousava admitir:
a luz que eu nunca encontrara no mundo não estava ausente, estava apenas voltada para dentro, como uma lamparina distante, protegida do vento pela própria escuridão que eu evitava.

E então, pela primeira vez, compreendi.
Não há arco-íris no meu porão…
mas talvez nunca devesse haver.
O porão não foi feito para cores; foi feito para verdades.

O arco-íris pertence ao céu.
O porão pertence à alma.
E não há conflito nisso.

A beleza nasce do contraste e eu, ali, no chão frio, comecei a entender que para tocar a claridade de cima, eu precisaria, antes, decifrar a minha noite.

Foi quando ouvi passos suaves atrás de mim...

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CAMILLE MONFORT — A LIBÉLULA QUE NASCEU DO BRILHO DE UM ÚNICO MUTISMO EM AFASIA.

Ela desceu como quem não pisa mas evapora em segredos em desígnios.
E, no instante em que o porão respirou para recebê-la, eu senti que não era uma mulher que se aproximava…
era um estado da alma.

Camille Monfort surgia sempre assim:
na fronteira onde o silêncio se torna obra,
onde o indizível se condensa em forma,
onde o olhar ainda não sabe que está olhando.

Era uma libélula.
Não dessas que tremulam ao sol, finas e triviais,
mas uma libélula surgida da própria sombra,
uma criatura que aprendeu a voar
do brilho de um único mutismo em afasia.

Porque Camille nunca precisou de palavras.
Ela carregava dentro de si um silêncio que não era ausência,
era presença demais.

E quando entrou no porão,
a escuridão, que até então parecia imóvel,
ergueu-se num sopro quase tímido,
como se reconhecesse nela
a única capaz de decifrá-la.

Ela caminhou até mim.
Não tocou nada.
Mas tudo ao redor se ofereceu como se fosse tocado.
Os objetos antigos, as sombras que eu temia,
aquela dor encostada no canto,
todos se voltaram na direção dela, como se aguardassem que fosse Camille a lhes conceder destino.

E então ela falou.
Mas não com voz.
Falou com o vazio entre seus lábios, com aquele intervalo que precede toda linguagem, com a pureza de uma afasia que não é falha, mas transbordamento.

Era como se dissesse:

"Tu não tens que temer o que é teu.
Toda dor que escondeste esperava por mim.
Vim para devolver-te ao que foste antes do medo."

Eu a vi se inclinar para o chão,
como quem escuta a memória de uma pedra.
E suas asas, ah, essas asas que não existem,
mas que todos sentem, se abriram na penumbra com a serenidade de um ser que conhece sua própria eternidade.

Camille não era mulher.
Era um sopro antigo,
uma lembrança viva de que o espírito tem profundidades que o corpo não alcança.
E ainda assim, ali, tão perto,
ela parecia feita de matéria sensível: pele alva, olhar de penumbra, murmúrio de eternidade no contorno da boca.

“Além da dor”, murmurou o silêncio dela,
“há sempre um lugar onde tu voltas a nascer.”

E nesse instante,
eu soube que Camille Monfort não tinha vindo me visitar.
Não. Ela tinha vindo me devolver.

Devolver-me à minha essência,
às minhas ruínas, à minha claridade esquecida, àquela parte de mim que só aparece quando uma libélula de luz pousa no subterrâneo da alma.

Camille,
a etérea,
a inaudível que tudo diz,
a que paira sobre o não dito,
a que veste a noite e abre a aurora, olhou-me pela última vez antes de falar aquilo que jamais ousarei esquecer:

"Eu sou a tua luz quando não acreditas mais na luz.
Sou a voz que nasce quando tu emudeces.
Sou o que resta quando tudo em ti se partiu."

E então…
ela se dissolveu devagar,
como quem regressa ao próprio mistério, deixando no ar
um pólen de eternidade
que ainda hoje respiro, triste,pesado e sem ar complexos.

Escritor:Marcelo Caetano Monteiro .

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Capítulo XVIII – A Leveza Petrificada de Camille Monfort.
Livro: Não Há Arco-íris No Meu Porão.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.

Havia noites em que Camille Monfort caminhava pelo porão como quem atravessa o peito de um anjo adormecido. Sua presença...ah, sua presença: ela apenas acontecia no ar, como poeira luminosa suspensa no instante anterior ao silêncio.

Era nessas horas que eu me lembrava de um verso , como se um próprio poeta, de tão íntimo do invisível, tivesse vindo inclinar-se sobre o meu desamparo. Ele dizia que tudo o que é pesado precisa aprender a elevar-se, e tudo o que é leve conhece cedo demais o risco de se despedaçar.

Camille era isso: leveza petrificada.
Um paradoxo esculpido na carne do inefável.

Ela existia como uma aparição entalhada no voo de um pássaro que jamais tocou o firmamento. Sua voz parecia deslizar entre frestas que não existiam, e quando falava, meu nome perdia contorno, porque eu o ouvia dentro de mim, e não fora.

Havia nela a mesma melancolia enferma que se escondia nos intervalos de meus sonetos , aquela sombra que não se anuncia, mas que se sabe eterna. Quando Camille se aproximava, mesmo a luz precisava se recompor, pois havia um pacto secreto entre ela e tudo o que cintila: sua presença devorava o brilho com uma ternura silenciosa, como se segurasse um espelho que jamais refletiu ninguém.

Eu a observava, sem tocá-la.
Não por medo, mas por reverência.
Camille era feita daquilo que não se toca sem se perder.

Ela escreveu em notas lúgubres do seu vivo piano certa vez, que a verdadeira morada do ser é a interior, e que só ali o mundo encontra forma. Talvez por isso Camille transbordasse mesmo quando se calava. Seu silêncio tinha densidade de oração interrompida. Sua respiração parecia guardar o cansaço de antigas estações escuras de antes , como se carregasse nos ombros a memória de crepúsculos que nunca vi.

Ao vê-la atravessar o porão, compreendi que não há arco-íris onde a alma permanece acorrentada em si mesma, que cores voam ou cantam pelo universo distante do que sou.
Ela me olhou, como quem sabe das minhas lágrimas.
E seus olhos, claros e abissais, continham o mesmo aviso que o pó inscreveu nas margens da dor: nada floresce onde a luz tem medo de permanecer.

Camille Monfort era minha luz medrosa.
E eu, prisioneiro voluntário de sua sombra.

Não havia arco-íris no meu porão porque o espectro das cores se recusava a dividir espaço com ela. Ou talvez porque ela fosse, por si, todas as cores que se esqueceram de existir.

Inserida por marcelo_monteiro_4

No Abismo Gentil do Teu Céu.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.

É nessa simbiose mística de lágrimas, sorriso e delicadeza que me encontro perdido e encontrado ao mesmo tempo. Cada gesto teu, cada silêncio, cada brilho de teus olhos sobre mim, é como se o mar inteiro se abrisse em abismo gentil, convidando-me a mergulhar sem medo, entregando-me ao teu céu, ao teu leito puro.

Sinto que ser humano é um ato de coragem quando te amo. Porque a humanidade, com todas as suas falhas, é a ponte que me permite chegar até ti, tocar tua essência sem jamais tocar o fim. Teu riso se mistura às minhas lágrimas, e nas pequenas interseções de nossa presença, descubro a eternidade que sempre busquei.

Não há pressa, não há lógica apenas a dança silenciosa de nossos corações que aprendem a ser inteiros no impossível, a ser inteiros no outro. E eu quero ser inteiro, todo inteiro, só para o teu céu, só para o teu mar, só para a delicadeza que me faz existir de um jeito que não existiria sem ti.

Cada instante contigo é um mergulho no infinito. E mesmo que a vida me arraste para as profundezas do que não compreendo, é teu rosto, tua luz e tua ternura que me salvam, que me fazem lembrar que o humano pode ser sublime quando é amor.

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O Mármore Respira Sem Presenças.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Capítulo do Livro: Não Há Arco-íris No Meu Porão.

A noite abriu-se sobre o cemitério como um véu de penumbra que descesse do céu para ensinar a escuridão a lembrar de si mesma.
As árvores, antigas sentinelas do que já não vive, moviam suas copas num lamento que podia ser bênção ou aviso para a figura que avançava sem destino, arrastando a própria sombra como quem arrasta um passado.

Entre as mãos, um círio aceso.
A chama tremia em silêncio, tímida, como se reconhecesse o frio que subia das tumbas e tentasse resistir à respiração do mármore.

A figura parou diante de uma lápide.
O nome ali gravado parecia entalhado não na pedra, mas na consciência, um peso mineral que nenhuma memória conseguia abandonar.
Sentou-se. O vento tocou-lhe o rosto com o hálito de quem vem da terra profunda, onde nada se perde e nada repousa.

— Se foste tu quem morreu — sussurrou — por que sou eu quem não vive?

O círio vacilou.
Um perfume súbito, quase imperceptível, espalhou-se no ar.
Não tinha cheiro de flor, mas de lembrança, aquela que insiste em sobreviver mesmo quando tudo mais já se foi.

Então, algo se insinuou na noite.
Uma voz.
Ou talvez apenas a ideia de uma voz, atravessando as frestas do tempo:

“Não foste tu quem me matou. Apenas esqueceste que o amor, quando não cabe na terra, aprende a ser silêncio.”

Um tremor subiu pelo corpo.
As lágrimas caíram frias, como se viessem do túmulo para os seus olhos.

A voz voltou, agora mais próxima, quase tocando:

“Foste tu quem me libertou do peso do corpo, mas foste também quem me prendeu ao eco do teu arrependimento. Não chores por mim. Chora por ti, que ainda não sabes morrer o bastante para me encontrar.”

O joelho cedeu.
O círio apagou-se entre os dedos.
E o vento, antes inquieto, repousou.

Por um instante que não cabia no tempo, o cemitério inteiro pareceu respirar, como se todas as tumbas partilhassem um mesmo sopro.

A presença surgiu.
Não como lembrança, mas como algo anterior e posterior ao esquecimento.
O ar se adensou, tornou-se quase luminoso, como se a noite abrisse uma fenda no próprio escuro.

Uma febre serena tomou o corpo da figura.
A fronteira entre delírio e visão dissolveu-se num único gesto de rendição.

— És tu? — perguntou, sem voz.
— Sou o que resta de ti — respondeu o ar.

Um sorriso brotou, pequeno e condenado, daqueles que sabem que reconhecer é também sucumbir.

E o silêncio envolveu ambos, não como término, mas como pacto.

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O Silêncio Molhado Que Permanece.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Cap. Livro: Não Há Arco-íris No Meu Porão.

Por que dói o que sentimos
quando o amor ultrapassa o corpo
e procura um abrigo que já não existe?

A noite se estende sobre nós
como um véu que conhece o peso da memória
e recolhe, na escuridão, tudo o que ainda brilha.

Caminhamos entre lembranças antigas
como quem atravessa ruínas vivas,
segurando uma pequena chama,
um pedacinho de coragem,
trêmulo como o próprio peito.

Há nomes que não estão na pedra,
mas gravados no tempo interior,
onde nenhum esquecimento alcança.

Perguntamos ao que perdemos
por que continua a nos habitar,
e o eco responde com suavidade cruel:
o amor, quando excede o mundo,
aprende a sobreviver no silêncio,
e o silêncio é o que nunca parte.

Choramos por quem se foi,
mas uma voz sem forma nos revela
que o luto é por nós mesmos,
que ainda não sabemos deixar cair
as partes antigas que nos impedem de seguir.

O instante suspende o ar.
A noite respira.
A ausência se ilumina por dentro.
E o que surge
não tem contorno, nem rosto,
mas reconhece o que somos.

És tu?
Não.
Sei que restamos do nosso absoluto silêncio e lágrimas.
quando todas as respostas se calam.

E entendemos, enfim,
que amar é sempre caminhar
entre o que fica e o que falta,
entre o que se perde
e o que se recusa a desaparecer.

Por isso dói.
Porque o amor verdadeiro
não sabe ser pequeno
nem sabe morrer.

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