Amigo Leal

A isca e o anzol.

Antes de dar comida a um mendigo,
Dá-lhe uma vara e ensina-lhe a pescar! -
Brada, boca seca, em pleno deserto.

Pedra no caminho.

Uma longa viagem?
Começa com um passo!
- Disse, tropeçando.

Benguela.

A língua resiste porque é mole,
Os dentes cedem porque são duros;
Boca aberta, dei com a língua nos dentes.

Elite branca?

A palavra é prata,
E o silêncio é ouro?
Vou pegar um bronze.

Na berlinda? Eu?

Eu não te ouço mais
Nem você a mim:
Um muro de Berlim?

Uma vírgula?

Pontos de exclamação,
Pontos de interrogação,
Somos pontos e ponto.

Coma.

É gula?
Uma
Vírgula!

Varinha? Breve pausa...

Ponto final?
Prefiro
Ser vírgula.

Mais ou menos?

Tudo o que foi,
Do verbo não é mais,
Não volta mais.

Gota d'água.

A chuva batendo
Na capa de chuva,
Dei a cara a tapa.

Mil e uma noites?

Antes de puxar o meu tapete,
Cara senhora, caro senhor,
Saibam que ele é voador.

Gênio, da lâmpada?

Único pedido?
Teu sorriso
Perdido.

O tempo

Ainda que eu viva cem anos, não serão suficientes
Para eu aprender a razão do meu ser.
Mesmo que passe uma vida inteira em busca de um sonho
Mesmo assim, ficaria surpresa, que, ao chegar lá bem no final,
Nada fosse encontrado, nem sonhos, nem paredes
Nem uma flor sequer. Só um vazio constante
Daqueles que perfura a alma com tanta quietude
Que arremessa para longe qualquer possibilidade
De aceitação ou de recusa de si mesmo.
É como dor que não cessa, mas que dela precisamos
Para nos sentirmos vivos, inteiros, mesmo que no momento
Estejamos em cacos.
Dilacera esse maldito tempo, pois ele mesmo dá o tempo de criar e recriar
De nascer e de morrer, de ter e de perder, como uma efêmera estação
Que passa para dar lugar a outra que se inicia.
Ou ainda como a noite que termina e o sol nasce no horizonte, que este pode ser aqui
Ou acolá, depende das horas e do lugar.
Porém continuo sem tempo, de viver, de amar
Porque perco tempo em não estar em lugar algum pelo simples fato de não existir.

É sobrenatural viver em um mundo de reis e rainhas
Onde uns tem tudo. outros nada tem, cada um esperando a morte a sua maneira
Se vive uma ilusão desde que se nasce, temos tudo e nada
Acreditamos na mídia, nas histórias e tudo bem
Porque todos crescem, querendo prosperar em uma ilusão
De um mundo que nada se leva
De um mundo onde todos partem quando menos imagina

Penumbra.

Curiosamente,
O que mais ecoa na mente
É o teu silêncio.

Água com açúcar?

Da primeira infância, pouco recordo:
Ecos distantes de risos e lágrimas;
Lembro que as lágrimas eram doces.

Lembra?

O que eu vi ou lembro é apenas meu.
Por isso, a história difere para cada um
E as minhas memórias não são as suas.

Vi, vi.

Cada momento vivido é único e pessoal,
E o mesmo fato terá sempre
Inúmeras visões.

Que lóide?

Lembranças são marcas individuais
E cada um de nós sabe das
Próprias cicatrizes.

Vazio?

Tua ausência,
Me enchendo
De memórias.