Amiga Mensagem Ana Maria Braga
Espectros -
Desde a hora em que em meu peito entraram versos
que nunca mais a paz em mim pairou
e na loucura de poemas controversos
meu destino desde então se consagrou!
Mas foi loucura ter aberto o coração,
o mundo não me entende, sou cravo num canteiro
que procura água na secura, solidão,
num jardim de rosas em Janeiro!
Assim é a vida destes seres sonhadores,
diferente, num mundo imenso e abissal,
onde nada nem ninguém acolhe as suas dores ...
Homens livres, na verdade, sem sorte,
vencidos na vida, afinal,
destinados a triunfar depois da morte!
Louco sem chão -
Meu corpo de esperar-te envelhecido
sente a mágoa de um destino solitário
do meu peito, o teu olhar, em vão perdido,
como um crente rezando diante d'um sacrário.
Não vejo nada, só a tua ausência,
e vou no mundo, passo a passo, no vazio,
no mistério, na esperança e na clemência
da morte me afogar na dor de um rio.
E tudo passa, tudo acaba, que loucura,
que destino, amar e ser esquecido,
por alguém que parte sem ternura.
Por ti, de ti, em ti - saudade!
Em mim, de mim, por mim - perdido!
Um louco, sem chão, pelas ruas da cidade ...
Nunca Mais -
Odeio a vida porque sempre me enganou!
Nunca dei um passo onde não tenha caido,
traido, abandonado, esquecido - não vou,
não passo de um lamento em vão perdido!
Alguém maior que os outros sempre rejeitaram
alguém diferente que o destino sempre apedrejou
alguém que as gentes sempre malograram ...
Quem me chama?! Não vou! Não vou!
Chega de silêncio! Não me calo nunca mais!
Estou cansado de em vão acreditar
que um dia o meu destino vai mudar ...
É loucura! É mentira! Ó dor aonde vais?!
- Procurar na morte o silêncio em alguém
porque na vida jamais me quiseram bem!
No Túmulo de Florbela Espanca -
Caminhando pelo chão dos meus cansaços
encontrei em cada esquina solidão,
na rua, vi tristeza e cada passo
me lembrava a amargura de outro coração.
Vila viçosa, como um campo de trigais,
triste, nocturno, sem chama ...
Pelas ruas, mil suspiros, tantos ais,
me lembravam, ao passar, Florbela Espanca!
Entrei no cemitério, fui além,
cheguei onde outros não chegaram,
pelo espaço, só os mortos, mais ninguém.
Mas no meio deles alguem sorria ...
De entre todos os que um dia sepultaram,
Florbela Espanca 'inda vivia!
(No cemitério de Vila viçosa
junto ao túmulo de Florbela Espanca.)
As Rosas do Choupal -
Passei de madrugada entre as rosas do Choupal
ternas, sequiosas, ansiando dias puros
oscilando entre o vento, entre o bem e entre o mal
como pálidas donzelas por desejos inseguros.
Eram Rosas meu amor, eram rosas
eram Rosas que ao longe se avistavam
alvas, doces, meigas, ternas, porém espinhosas,
eram Rosas sequiosas que pela tarde se arrastavam.
Eram Rosas inseguras, desfolhadas pelos dias
eram Rosas esquecidas, bailando sem sentido
eram Rosas , meu amor que tu não querias
na dolencia de um caminho ressequido.
Essas Rosas infelizes cheiravam a saudade
por terras do Choupal de silêncio e mel
pois lembravam, ao passar, aquela lenda da cidade
que fala no regaço de Santa Isabel.
(À mata do Choupal em Coimbra.
À Rainha Santa.
E à Lenda das Rosas.)
Berço de Poeta -
Porque trago junto a mim
tanta vida e tanta morte?!
Foi no ventre de onde vim
que nasceu a minha sorte ...
Minha mãe o que dizer
neste mundo a esta gente?
Que trazias sem saber
um poeta no teu ventre!
Desde a hora em que nasci
ao passar de mão em mão
que no berço onde dormi
estão a dor e a solidão.
Minha mãe o que fazer
se este mundo não me entende?!
Cantarei até morrer
a dor que minh'Alma sente ...
Ai Senhor -
Ai Senhor que destino
que turbilhão de incertezas
desses tempos de menino
de loucuras e tristezas.
Ai Senhor que tormento
me enlaça o coração
me afoga o pensamento
e me tolda a razão.
Ai Senhor que lamento
me escorre o corpo todo
que a morte e o sentimento
me afogam no lôdo.
Ó Senhor que te não vejo
neste caminho perdido
fui traido com um beijo
porque me tens tão esquecido.
Rosa ao Vento -
Há uma ansiedade efémera que te habita,
um vazio estranho e proibido,
uma voz, uma ausência, alguém que grita:
saudade, amor - silêncio! - É perigo!
Ansiedade que te consome sem razão,
sombra triste que te fala sem palavras ...
Por quem bate o teu cansado coração,
rosa branca, ao vento, triste, desfolhada?!
Que o destino assim te fez!
Solidão, não é, por certo,
é distancia, amor, talvez ...
Esperar alguém é dor cansada,
amar alguém, recorda, só de perto,
rosa branca, ao vento, triste, desfolhada ...
Tenho Medo -
Tenho medo de tudo o que não vejo,
da amargura dos olhares que se perdem,
das dolencias, dos abraços e dos beijos,
tenho medo das tristezas que não doem!
Tenho medo das palavras e dos versos,
tenho medo do teu cheiro no meu corpo,
tenho medo de tudo o que está perto,
tenho medo, tanto medo de estar louco!
Bem sei que somos feitos, por um Deus, eternamente,
tambem sei que nunca o quis na realidade,
por isso, a Alma sofre e sente-se demente!
Tenho medo de ficar só por ser diferente,
medo de morrer em lençóis feitos de saudade,
afinal, tenho medo de não ser igual à outra gente ...
Razão -
Quando um dia eu morrer, que sorte,
não quero terra, campa ou jazigo,
para que não se acoitem à minha morte,
só de cinza pretendo ser vestido!
Que arda o fogo no meu corpo,
queime a dor que me viveu a existência,
pois só assim, sobre tábuas enfim morto,
será cinza a solidão em permanência!
E se p'ra matar esta fria solidão
o único caminho for morrer,
então, semeio a morte no fundo da razão!
E assim, já tenho uma razão para morrer,
é preciso libertar meu coração
da amarra que é pensar em não sofrer ...
Coragem -
Quem de entre vós me explica o porquê do meu destino? !
Esta insofrida nostalgia que me veste de lamento!
Este estar no mundo, à deriva, sem caminho,
que me seca, dia a dia, na raiz do pensamento ...
Quem de entre vós terá coragem
de me dizer: "tu és no mundo um despojado,
feito apenas de aparência, boa imagem,
mas no fundo, um pobre e triste desgraçado! "
Coragem! Vocês inda precisam de coragem!
Viver a vida que me deram,
isso sim é ter coragem, o resto, é paisagem ...
Posso ser no mundo um pobre e triste desgraçado,
mas sei o que é na vida ter coragem,
porque ela, frente ao mundo, foi meu escudo no passado!
Pétala de Solidão -
Trago ao peito, ainda, uma pétala de solidão,
única que resta da flor airosa que já fomos,
agora, murcha, seca e morta pelo chão,
entregue ao pó da vida de onde somos!
Eu fui pó e nunca vida,
o que resta e nunca flor ...
O que sobra de uma esperança perdida
pois a vida nunca teve por mim amor!
E não há como salvar aquela flor,
jaz morta, apodrecida, pisada pelo chão,
que aos olhos da loucura, enlouquece a própria dor.
E que triste dor ardente
que consome de amargura
o olhar de toda a gente ....
Saudade, Vazio e dor -
As tristezas que me doem São saudades ...
Ó vida, dizei-me, porque tanto me enganais?!
Foram dadas no silêncio das idades
por olhares de quem não torna mais!
E porque partem todos os que amamos
deixando no vazio quem nunca esquece?
Pobre de quem fica pela vida mendigando
esperando o novo dia que amanhece!
Saudade, vazio e dor ...
Aquilo que esperei está tão mudado
que esqueci no peito o que é amor!
Não há esperança p'ra quem perde alguém que ama!
Má fortuna, dor ardente, tempo errado,
um grito de silêncio que por nós ainda chama ...
Pensamento -
A minha casa é a rua,
minhas vestes são os campos,
meus olhos de alma nua,
na voz do povo são dois cantos ...
A noite - cama onde me deito,
feita de linho, brocados e cetins,
tem alvas ondas - o teu jeito,
ao pôr as rendas sobre mim ...
Tocam na dolencia os sinos da igreja,
dão horas, meia-noite, tu não estás ...
E onde foste? Aonde irás? Que a vida te proteja!
Que eu, no frio da minha noite, sem nada,
na tristeza das colchas de damasco, adormeço
em silêncio numa cama já cansada!
Cheira a Ti -
Entre todas as promessas que me fizeste,
e foram tantas, em segredo,
recordo aquelas palavras que me disseste:
" - Por favor, de mim, não tenhas medo!"
Falo de coisas que me custam e são caras
num enleio de amor e ilusão,
e pouco a pouco, vejo que me abalas
e deixas à deriva sem razão.
E provo um trago amargo a solidão
uma saudade do teu corpo e dos teus olhos
que me prende ao silêncio e à escuridão ...
A minha cama cheira a ti!
Cheira a ti cada palavra que te escrevo,
cada lágrima vertida, salgada, sabe a ti ...
Velhas Pedras da Cidade - Évora -
Velhas pedras da cidade
que outrora já foi Moura
"Ruas-Frades" por piedade
que o passado não perdoa.
Velhas pedras da cidade
que o silêncio não calou
passe a vida ou a idade
pois o tempo as consagrou.
Velhas pedras da cidade
são cansaços do destino
são poemas sem vaidade
de poetas sem caminho.
Velhas pedras da cidade
- cinza fria que não sente -
não se esqueçam da saudade
no olhar de toda a tente.
Reencontro o Coração -
Meus olhos já não choram
pela vida que passou!
No passado o que perderam?!
Entre nós tudo acabou ...
O que viram foi traição
no desejo de um abraço
mas só lamento e solidão
lhes puseram no regaço.
É tão longo o dia claro
e tão breve a noite escura
que esta vida a que me agarro,
é mentira, é loucura.
Quem não sente o coração
não entende o que é a vida
vai aos tombos pelo chão
vai morrendo dia a dia.
Passa o tempo devagar
passa a vida que passou
é loucura não amar
mas é louco quem amou.
É loucura ter saudade
de quem vive no coração
no silêncio da cidade
e na raiz da solidão.
A saudade que eu tinha
era saudade de mim
a saudade era minha
eram saudades sem fim.
Cai o Sol no Alentejo
pelos campos solidão
passo a Ponte sobre o Tejo
e reencontro o coração ...
Sono do Poeta -
E veio a noite cheia de gritos e punhais,
trouxe o silêncio desses gritos- mil gemidos,
os sonhos de quem sofre-tantos ais,
e os gestos de quem ainda está perdido.
Veio a madrugada embrenhada em loucura,
trouxe versos a quem ainda é desperto
e espinhos a quem procura na lonjura
encontrar o peito de um amor que esteja perto.
E a aurora anunciou-se breve e mansa,
os olhos já cansados respiravam solidão,
e o corpo, num pesar, arfava com a dança.
Mas o dia clareou e nada aconteceu,
na verdade, a dor recomeçou,
alguém em vão esperou e o poeta adormeceu ...
No Berço da Cidade -
Cinco letras tem o nome
da cidade onde nasci
é palavra que não dorme
nesse berço onde cresci.
Ó Évora cantada,
pelas águas da fonte,
és Évora, doirada,
erguida num monte.
Oito ruas tem a Praça
oito bicas tem a fonte
e à quina do Arcada
está a igreja de fronte.
Entre portas e janelas,
oito entradas na igreja,
cinco grades moram nelas
Santo Antão as proteja.
Também há oito solidões
p'ra quem vive de saudade
é a dor dos corações
neste Berço da Cidade.
Fui -
Fui da vida um deserdado
sem ter terra p'ra pisar,
um mendigo tão cansado
sem ter colo p'ra chorar.
Fui da vida um aborto,
um filho indesejado,
um barco sem ter porto,
à deriva, ancorado.
Um filho da madrugada!
Um filho da noite escura
a quem a vida não deu nada ...
Inda assim vivi a vida!
E fui um passo de loucura
num passar de despedida ...
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