Aforismo Fome
"Sobrevivi ao dia em que a morte veio me buscar e renasci com uma fome insaciável de viver intensamente cada instante da minha existência."
Parem de romantizar a pobreza, ou você acha que Deus tem prazer na fome e necessidade do mais fraco!?
Quem decide soluções com fome, seja espiritual ou física, se não decide primeiro comer, trará uma péssima sugestão!! COMA E PENSE
Toda decisão tomada com fome, seja espiritual ou física, será uma decisão provisória e na maioria das vezes, sem sentido.
Mulheres de Pano e Terra
Vieram de longe, cruzaram o mar,
trouxeram a cruz, o aço e a fome,
tomaram o chão, queimaram os nomes,
fizeram o sangue da terra jorrar.
Os povos caíram, as terras sangraram,
ergueram engenhos, correntes, senzalas,
o açúcar crescia, o latifúndio mandava,
e o povo do Nordeste aprendia a lutar.
Mas quando o homem partiu sem aviso,
quem ficou foi o ventre, a enxada e a dor.
Foram as mães que costuraram a vida,
fiando o tempo com linha e suor.
Lavadeiras de rio, rendeiras da sorte,
mãos que tecem, que lavram, que oram.
E enquanto o homem some na cidade,
elas seguram o sertão nos ombros.
O Nordeste é feito de suas pegadas,
de suas vozes, de suas lutas.
Se o passado arrancou-lhes a terra,
foram elas que ficaram — e criaram a vida.
INSURGÊNCIA
A fome e a seca no Nordeste não foram tragédias naturais — foram estratégias. Sintomas de um projeto político que tem donos: da terra, da água, do poder.
Desde o período colonial, o Nordeste foi desenhado para sangrar. As mãos que aravam a terra nunca foram as que a possuíram. E, assim, condenaram um povo inteiro à miséria.
E o que ficou no Nordeste? A terra rachada… e as mulheres.
Elas não migraram. Ficaram.
Ficaram para segurar o mundo nos ombros, com os filhos no colo e a esperança entre as mãos.
Mesmo quando não havia farinha, comiam palma. Enganavam o estômago das crianças com caldos ralos, enquanto rezavam para que a noite não levasse mais uma vida.
E é aqui que começa a insurgência.
A insurgência dessas mulheres foi não morrer. Foi não ceder.
Foi insistir em existir onde tudo ao redor pedia silêncio e desaparecimento.
Suas mãos calejadas, seus pés rachados, seus olhos secos de tanto chorar — tudo isso é marca de uma luta que nunca foi reconhecida como deveria.
A verdadeira insurgência nordestina tem o rosto dessas mulheres.
Elas são a terra que não cede, a raiz que não morre, a memória que não se apaga. Lilian Morais
Há momentos em que a arte não representa.
Ela confronta. Ela insiste. Ela se ergue.
Insurgência, como nos propõe Lilian Morais, não é revolta ruidosa, mas fogo subterrâneo que ascende em silêncio e cor.
Esta exposição não se limita a apresentar obras: ela se recusa a calar afetos.
Cada traço, matéria e composição é um fragmento de um corpo que pulsa — corpo individual, corpo social, corpo-mulher, corpo-luta.
A insurgência que Lilian nos convoca é ao mesmo tempo íntima e coletiva: nasce de dentro, mas se espalha para fora, como se cada tela estivesse tentando respirar pelo mundo.
Numa época marcada pela normatização dos gestos, dos desejos e das imagens, sua arte desvia.
Desvia do esperado, do domesticado, do permitido.
E ao desviar, revela:
revela o que foi silenciado, o que foi esquecido, o que nunca teve nome.
A escolha do título Insurgência não é aleatória: é afirmação.
É o reconhecimento de que a arte pode — e deve — ser território de fratura e reinvenção.
Aqui, as cores não decoram; elas denunciam, acolhem, provocam.
Os vazios não são ausências; são respiros.
As formas não obedecem; elas insistem em ser o que são.
Lilian Morais entrega sua insurgência com elegância firme, com delicadeza dura, com beleza que não fecha feridas, mas as mostra com dignidade.
É arte que se posiciona sem se explicar.
É arte que não se curva — e por isso toca.
Numa cidade como Salvador, onde os tambores da história ainda ressoam nos corpos das ruas, a exposição Insurgência não poderia encontrar lugar mais vivo.
É nesta Bahia de lutas e encantos, de dores e reinvenções, que a artista instala sua travessia.
E convida:
não apenas a ver, mas a sentir.
A escutar o que vibra dentro de cada imagem.
A insurgir-se, também — ainda que só por um instante.
Por Humberto Silveira
Realidades na vida no dia a dia, quando você está com fome não é visto, se está desempregado não é notado, se está doente poucos vai te visitar, são fatores que estão presentes na hipocrisia humana.
Para antes do cair no buraco, respire forte antes de espirrar, não coma se não tem fome, reza a tua fé, o mundo é um aprendizado.
Evite fazer parte de grupos que vivem acostumados com o errado, não induz a fome vaidade orgulho brilhar mais que o teu caráter.
A fome tem um passado tenebroso histórico de má fama, quando a vontade por mudança atropela a sombra do passado o futuro esfomeado deseja voltar o passado.
E quando a fome me apertava, um biscoito a minha querida avó me dava, assado no forno a lenha, lá no meio da brasa.
‘ÁLCOOL’
Às cegas, a cozinha definha.
Sozinho, a madrugada consome.
O gosto de vodca tem fome.
Paredes anunciam rotinas.
No estômago, a água declina.
Desequilíbrio a cabeça tortura.
Na vida, tudo amargura.
Vulneráveis pernas toxinas.
Metafísica a cadeira suporta.
Reflexos viajam no fardo.
Não atendera vozes de portas,
Ou sentimentos desesperados.
O vazio fingiu-se, desbota.
O álcool ficara calado!
'TENHO FOME'
O café da manhã não compreende tua falta.
E o almoço,
mero esboço,
repulsa desagradável pelos olhos.
Mesa farta,
e tantos outros tormentos...
Olhar irreflexivo por entre a cozinha abarrotada,
limitada a devoções diárias,
exoráveis.
O estômago,
tritura os inacabáveis espectros ao anoitecer,
criando imagens repetidas...
Martírio zumbidos soando canções aprazíveis,
nuvens carregada pelos ventos.
Pássaros sem moradas,
novas melodias.
Sou sentimentos perdidos na sacada,
manhãs intermináveis...
Tenho fome do infinito,
do abraço colorindo a alma em descobertas.
Da voz suave que perfura uma vida nos seus mais imprescindíveis sentidos.
Fome de você,
transitiva,
aniquilando significados vãs...
'SINTO FOME'
A fome tem gosto queimadura,
e queima a alma.
Grunhido latente apregoando penúria.
A missa ainda reza aos órfãos,
pobres nas calçadas!
Olhares martírios,
e tantas outras melancolias...
Urubus Garbosos,
- mirando pasmos entre si -
pulverizando o divino pernil jogado.
Sublinhadas orações passadas,
alertando o sino amordaçado:
é hora de avocar!
Mendigar acenos...
A luz penumbra,
lembra indumentários,
- e uma cama quentinha! -
Escuridão, escuridão!
Porquê embrulhas o tempo indelével?
Tempos de fome,
sonhado nas portas das igrejas...
Fome na espinha!
A triste viúva e seus rosários,
sem revindas no caminhar matinal.
O contemporâneo-bicho-papão,
e suas rezas não vindas.
Excêntrico que assusta,
fome de arrimos...
'JANELA II' - [Fragmentos...]
Bebe-se uma tequila,
a fome é lembrar dela:
pobre vida!
Na madrugada ornamentando sequelas.
Recriando canções,
há de se sonhar com elas,
bravejando capelas,
sons oblíquos,
imensidão que não se vê.
A janela só tem sentido fechada...
Á tua frente a mesa farta e a fome que não há
noutros cantos do mundo há fome; e a mesa...onde está?
