A Estrela Olavo Bilac
Tudo o que é destrutivo e macabro no mundo começa com a opinião de algum acadêmico e termina virando lei.
Idéias soltas, desligadas de todo contexto cultural, histórico e estratégico, são preferências arbitrárias, subjetivas: não podem ser objetos de aprovação ou desaprovação. Só de análise psicológica, ou mesmo psicopatológica. O problema no Brasil é que praticamente todas as propostas políticas circulantes são assim -- e, quanto mais absurdas e inconexas elas são, mais os seus propugnadores cobram aprovação e entendem a simples recusa de aplauso instantâneo como adesão formal à idéia oposta. É mais ou menos assim: se você não é partidário das bananas anglófonas, é cúmplice dos abacaxis triangulares. E não ouse ficar em cima do muro!
Você pode ser um bom filósofo sem nunca ter estudado lógica ou qualquer 'técnica de argumentação', mas não pode sequer ser um filósofo de segunda categoria se não souber MEDITAR, isto é, rastrear as suas idéias até a sua raiz mais profunda -- às vezes totalmente oculta -- na experiência real. Um esforço análogo ao que é o exame de consciência na religião. TODO o platonismo é uma sondagem desse tipo, e o platonismo é o modelo imortal de toda filosofia. Não conheço nenhuma escola de filosofia, no mundo, que ensine a praticar isso. O estudante aprende a argumentar, mas não adquire a menor idéia do que é meditar. Considero um escândalo que um filósofo profissional como Sir Michael Dummett defina a filosofia como uma atividade 'para quem gosta de argumentos abstratos'. TODA argumentação é filosofia de segunda-mão. Só um cretino, lendo Sto. Tomás ou Duns Scott, imagina que eles passassem o tempo todo buscando argumentos. Eles eram homens de formação monástica, para os quais a prece era TUDO. Seu esforço era todo interior. Alcançada a necessária concentração espiritual, os argumentos vinham sozinhos, sem esforço.
Se existe consciência fora do corpo, sem qualquer atividade cerebral concomitante – e está cada vez mais difícil negar que existe –, e se, por outro lado, há inumeráveis estados de consciência que são inconcebíveis sem corpo e cérebro, então é forçoso concluir que o cérebro não cria a possibilidade da consciência mas limita, enquadra e determina o seu exercício dentro das condições do espaço-tempo terrestre. TER um corpo é uma modalidade de consciência.
O castigo deve ter algo a ver com o delito. Cadeia para estuprador só funciona porque ali ele é estuprado.
O mistério da existência não é dado a qualquer um, mas para aquele que dá tudo e mais alguma coisa em troca de obtê-lo.
Quanto ao politicamente correto: só crianças acreditam que mudando o nome de algo, ele passa a ser o que elas desejam.
Quem não tolera divergência nem dentro da sua própria opção político-ideológica -- como se a política fosse o lugar por excelência das certezas absolutas -- não tem maturidade para opinar em nenhuma questão pública.
Na minha juventude fiz muitas concessões ao culto brasileiro do medíocre e do banal, porque temia desagradar as pessoas. Era como se eu tivesse vergonha de ser mais concentrado e mais sério do que aquele bando de avoados e dispersos em torno. Só me tornei um homem maduro quando me livrei dessa fraqueza.
A coisa mais abominável do mundo é o conformismo preguiçoso que se dá ares de simplicidade evangélica. A falsa humildade do medíocre é a delícia dos demônios.
Se você não é nem um coitadinho de baixo QI que precisa da minha ajuda, nem um estudioso barbaramente ansioso para tudo saber e compreender, a sua pessoa, literalmente, NÃO ME INTERESSA. Vá cagar no mato.
"Quem é Deus? Deus é o 'Eu sou.' Ter um eu, uma autoconsciência, um para-si, uma personalidade interior, é a maior força do ser humano, porque é o que faz dele uma imagem de Deus. Só Deus e, por delegação dele, o ser humano, podem dizer 'Eu sou.' Essa sempre foi a força dos grandes homens, que os medíocres e mesquinhos desconhecem."
Em geral as pessoas só reagem -- externa e internamente -- a fatos que são do domínio comum do seu meio social mediato e imediato. O homem que investiga por si mesmo, tendo acesso a fontes mais ricas e fidedignas do que a mídia popular e o zunzum do quarteirão, terá portanto reações e decisões que parecerão estranhas, incompreensíveis ou chocantes à platéia em torno, a qual provavelmente só virá a compreendê-las depois de muitas décadas. Não é sensato você querer saber o que os outros não sabem e esperar que eles o compreendam na mesma hora. A incapacidade ou relutância de suportar essa tensão é uma das maiores causas de fracasso numa vida de estudos.
Os intelectuais de esquerda gostam de posar de 'outsiders', mas na verdade só sabem ser outsiders coletivos e sob a proteção do 'establishment'.
Opor-se a um discurso ideológico, sem fazer nada contra o esquema político concreto que se utiliza dele, é o mesmo que discursar contra o roubo para não ter de prender os ladrões.
A única verdadeira 'campanha da fraternidade' é ser gentil com todo mundo e, sem pestanejar, dar ajuda a quem pede.
Os filósofos existem por um só motivo: a hipótese de um discurso coletivo e uniformemente repetível alcançar a verdade das situações humanas reais e concretas é praticamente nula. Só a consciência individual tem mobilidade e autocontrole crítico para isso. Mesmo a Palavra de Deus, se repetida com automatismo e não reavivada em cada consciência -- com todo o risco que isto envolve --, perde significado ou se perverte no seu oposto. As almas covardes têm medo da solidão cognitiva e buscam apoio num consenso grupal ou coletivo. Essa segurança NÃO EXISTE. Ela é "o mundo", no sentido bíblico: um dos inimigos da alma. O dever de conhecer é individual e intransferível. Toda a nossa civilização começa no alto da Cruz, onde a Verdade, encarnada num só, era achincalhada por todos e negada até pelo chefe dos seus apóstolos. Não há Imitação de Cristo onde não se aceita a carga da verdade solitária.