A Estrela Olavo Bilac
Já recomendei centenas de autores a cujas idéias tenho toda sorte de reservas. Só o pensamento ideológico exige concordância total ou rejeição categórica. O mundo real é feito de imperfeições e incompletudes.
Desde criança conheço a diferença entre as definições nominais do amor e do desejo. Mas, para perceber a diferença entre as realidades respectivas, levei uma vida inteira.
"Quem deseje contribuir para que esse país se torne realidade só tem um caminho a seguir: lutar para que a cultura brasileira se ligue às fontes centrais e permanentes do conhecimento espiritual, para que a experiência da visão espiritual ingresse no nosso horizonte de aspirações humanas e, uma vez obtida, faça explodir, com a força das intuições originárias, todo um mundo de formas imitativas e periféricas, gerando uma nova vida."
O que se chama de filósofo, nesses meios [isto é, nos meios acadêmicos de filosofia], não é o homem que luta com os enigmas nucleares da existência: é o 'especialista' nas obras de fulano ou beltrano, conhecidas até os últimos detalhes de análise textual. O 'texto' é tudo; os problemas e a realidade, nada. O culto da futilidade chega, aí, às proporções de um pecado contra o espírito. E ainda se esconde por trás do pretexto nobilitante de uma austeridade disciplinar, que se abstém de tratar dos problemas filosóficos diretamente por zelo de escrupulosidade filológica.
Enquanto estiver absorvendo uma ideia antagônica, você estará em conflito consigo mesmo. A vida intelectual é feita desse conflito mesmo: não é possível tê-la com todos os problemas resolvidos de antemão, sem dúvidas, sem angústias e sem sofrimentos.
Mentalidade revolucionária é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao tribunal da História.
O grande Georg Jellinek ensina que a primeira precaução em História e ciências sociais é aprender a distinguir entre as ações racionais deliberadas e o acúmulo de causas impessoais e anônimas. Em geral o que os cientistas sociais fazem é ocultar sob estas causas as suas próprias ações racionais deliberadas.
Ficar indignado é abdicar da dignidade antes que os ofensores acabem de liquidá-la. Por isso até o protesto mais justo precisa de prudência e bom-humor. Guarde sua cólera para os casos em que o ofendido seja o próprio Deus.
Um sujeito cujo horizonte cultural é delimitado pelo mercado editorial brasileiro está num estado de miséria intelectual calamitosa.
Se o Caetano Veloso é intelectual, a Márcia Tiburi é filósofa, o Marcelo Rubens Paiva é escritor e o Tomole é jornalista, TUDO É PERMITIDO.
Cícero falava em 'cultura animi' (cultura da alma), e Horácio dava ao termo a acepção de enobrecimento moral.
Hoje em dia, 'cultura' significa a auto-badalação, o desejo de poder e a fome de dinheiro do 'beautiful people'.
Pode-se opor o discurso 'ideológico' ao 'científico', mas ambos são igualmente racionais. Em princípio, qualquer opinião política é ideológica. Quem não sabe disso não deveria ser consultado nem sobre jogo de futebol-de-botão.
Os professores universitários de filosofia, neste país, são incapazes de avaliar por si mesmos a importância de uma obra filosófica. Sem a aprovação das autoridades estrangeiras, ficam perdidinhos e desamparados numa rede de dúvidas sem fim.
A ciência política começa no instante em que Platão e Aristóteles estabelecem a diferença entre o discurso do agente político e o do observador científico. Quem quer que discurse em nome de um partido, de um grupo ou de uma instituição é, por definição, um agente político.
Nunca fui burro o suficiente para confundir uma análise filosófica ou científica com uma tomada de posição ideológica, embora entenda que esta, muitas vezes, se apóia em elementos filosóficos e científicos.
O pseudo-intelectual é o sujeito que se apóia no respeito que ele obtém de uma massa que não compreende nada do que ele está dizendo e que, por isso mesmo, pode aceitar o que ele disse sem perceber que é um erro.
(COF, aula 018)
Guardadas as devidas proporções entre as dificuldades dos seus empreendimentos respectivos, o homem comum é nos seus domínios próprios muito mais inteligente do que os sábios na suas áreas especializadas.
(COF, aula 018)
Toda lei -- constitucional, civil ou penal -- é, necessariamente, e quase que por definição, a cristalização institucional de um sistema ideológico preexistente, que por meio dela se consolida em autoridade reguladora de toda a vida social.
A palavra 'ciência' tem, no mínimo, três sentidos usuais:
1- Antes de tudo, ela designa o IDEAL de um conhecimento verdadeiro, auto-evidente ou provado, ou, para usar um termo grego, 'apodíctico', ou seja, indestrutível.
2 - Designa a atividade real dos cientistas, a qual visa à realização desse ideal mas, na maioria dos casos, tem de se contentar com resultados que ficam bem abaixo dele. Quando se dá a esses resultados o valor absoluto do ideal que eles não alcançam, aí já começa a vigarice científica.
3 - A classe profissional dos cientistas e professores universitários de ciências, empenhada em sugar verbas de pesquisa estatais e privadas e elevar-se aos mais altos postos de poder e prestígio no mundo.
Só os que permanecem fiéis ao IDEAL representam o valor da ciência. Todos os outros (a maioria esmagadora) são um bando de picaretas e mentirosos.
A personalidade intelectual só pode ser compreendida desde outra personalidade intelectual: o diálogo com indivíduos desprovidos dela é uma transmissão sem receptor, a ocasião de mal entendidos e sofrimentos sem fim.