Volta pra Mim estou Sofrendo

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Estou um pouco desnorteada como se um coração me tivesse sido tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável do que era antes um órgão banhado da escuridão da dor. Não estou sentindo nada. Mas é o contrário de um torpor. É um modo mais leve e mais silencioso de existir.
Mas estou também inquieta. Eu estava organizada para me consolar da angústia e da dor. Mas como é que me arrumo com essa simples e tranquila alegria. É que não estou habituada a não precisar de meu próprio consolo.

Clarice Lispector
Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho do texto Tanta mansidão.

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Me mato? Não. Vivo como bruta resposta. Estou aí para quem me quiser.

Clarice Lispector
Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica Brasília: esplendor.

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Eu estou tentando te esquecer, mas toda vez que eu te vejo esqueço o porquê.

E como não me embriagar de ti? Como evitar que teu amor me consuma e me enlouqueça? Estou lhe implorando pelas respostas. As procuro em cada esquina, em cada beco esquecido. Já as procurei em garrafas, já as encontrei no fundo de um copo. Busco pelo conforto, pela calmaria e até pelo esquecimento. Corro ao encontro do meu amor próprio. Desvio das promessas, das juras de amor, dos planos e até dos sentimentos. Esbarro no seu olhar que volta a me invadir trazendo sua devastação. Aperto os olhos e lhe empurro para longe rezando para que tu não voltes. Permita-me a felicidade. Largue-me. Reviva-me se for possível e saia de perto para que o efeito dure.

Se eu ainda estou aqui é porque suas tentativas de me derrubar não foram suficientes.

Estou completamente apaixonada. Passou.

Eu não posso mudar o mundo, mas posso mudar o meu rumo. E cá pra nós, é disso que estou precisando.

Eu não tenho partido, sério. Mas estou com as pessoas que podem mudar alguma coisa, dou a maior força.

Não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem.

Nada mais tenho a ver com a validez das coisas. Estou liberta ou perdida. Vou-lhes contar um segredo: a vida é mortal.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica “Brain storm”.

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Vê, meu amor, vê como por medo já estou organizando, vê como ainda não consigo mexer nesses elementos primários do laboratório sem logo querer organizar a esperança. É que por enquanto a metamorfose de mim em mim mesma não faz nenhum sentido. É uma metamorfose em que perco tudo o que eu tinha, e o que eu tinha era eu – só tenho o que sou. E agora o que sou? Sou: estar de pé diante de um susto. Sou: o que vi. Não entendo e tenho medo de entender, o material do mundo me assusta, com os seus planetas e baratas. Eu, que antes vivera de palavras de caridade ou orgulho ou de qualquer coisa. Mas que abismo entre a palavra e o que ela tentava, que abismo entre a palavra amor e o amor que não tem sequer sentido humano – porque – porque amor é a matéria viva. Amor é a matéria viva?

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Eu acho que, quando não escrevo, estou morta.

Clarice Lispector

Nota: Trecho de entrevista com Júlio Lerner para a TV Cultura, em 1977.

Estou numa época que prefiro um bom sapato a um homem mais ou menos. Pelo menos o sapato eu sei exatamente aonde ele irá me machucar.

Ora, não sou linda. Mas quando estou cheia de esperança, então de minha pessoa se irradia algo que talvez se possa chamar de beleza.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Adeus, vou-me embora!

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Por que é tão difícil cortar laços, desatar os nós que os unem? Eu estou tentando, digo estou tentando, embora desgastados esses nós sejam tão fortes, tão substanciais. Formados pela rotina e o tempo que o fazem resistentes e dificultosos. Mas eu quero desatá-los; preciso fazê-lo. Só assim conseguirei formar outros, com outros laços; que tenham outras cores, que sejam formados por um material mais resistente e que a erosão do tempo não corroa as linhas que o constituem.

Acho que estou me especializando em fazer inimizades. Não tenho mais saco pra ninguém. É grave? Tem cura? Um dia vou ter saco outra vez?

Falta apenas o golpe da graça – que se chama paixão. O que estou sentindo agora é uma alegria. (...) Ser vivo é um estágio muito alto, é alguma coisa que só agora alcancei. É um tal alto equilíbrio instável que sei que não vou poder ficar sabendo desse equilíbrio por muito tempo – a graça da paixão é curta.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

"Eu não sou da sua rua, não sou o seu vizinho. Eu moro muito longe, sozinho. Estou aqui de passagem. Eu não sou da sua rua, eu não falo a sua língua, minha vida é diferente da sua. Estou aqui de passagem. Esse mundo não é meu, esse mundo não é seu."

Pois estou pra dizer que até a tristeza pode tornar um dia especial, só que não ficaremos sabendo disso na hora, e sim lá adiante, naquele lugar chamado futuro, onde tudo se justifica. É muita condescendência com o cotidiano, eu sei, mas não deixar o dia de hoje partir inutilmente é o único meio de a gente aguardar com entusiasmo o dia de amanhã.