Versos pequenos
Por aqui não tem mansão
cada qual tem o seu lote
a cerca é feita de mourão
onde descansa o garrote
e pra ter luxo no sertão
não carece de um milhão
basta ter água no pote.
Eu não duvido da sorte
e nem desdenho o destino
a seca é a via da morte
onde nasceu Virgulino
a dor que pulsa do corte
faz cada dia mais forte
ser do sertão nordestino.
Quem sobrevive da enxada
encara a seca sem temer
não se entrega na pancada
não desiste de viver
se a cabeça tá abaixada
é por uma graça alcançada
que ele vem agradecer.
Mude logo esse conceito
que aqui só tem pobreza
porque falta de respeito
não germina gentileza
quem destila preconceito
saiba que o nordeste é feito
cem por cento de beleza.
Lugar bom por aí tem
tem no sul, tem sudeste
no Norte se vive bem
como vive o centro oeste
mas aqui o que é que tem
que pode fazer alguém
gostar tanto do nordeste?
Solta as travas, desemperra
deixa a vida ir mais além
onde a tristeza encerra
lugar pra sofrer não tem
pois o amor supera a guerra
quando a luta é pelo bem.
Não pense que é pobreza
o lugar que alguém mora
quem tem perto a natureza
sabe bem que o amor aflora
a verdade é que a riqueza
vem de dentro e não de fora.
Nada quero de presente
somente o que for direito
pego cedo no batente
e levo Jesus no peito
sou da terra do Oxente
e peço pra muita gente
um pouco mais de respeito.
A aparência é um escudo
que não protege ninguém
quando falta conteúdo
nenhuma casca faz bem
quem pensa que tem tudo
muitas vezes nada tem.
A verdadeira felicidade
não tem pra negociar
pode ser numa cidade
ou num sítio pra plantar
quem tem paz e tranquilidade
vai ser feliz de verdade
não importa em qual lugar.
O gostar é tão bonito
por haver sinceridade
do coração vem o grito
de quem tem felicidade
em cada linha está escrito
que o amor é infinito
pra quem ama de verdade.
Por aqui falta o ensino
terra seca nada soma
na escola do destino
toda prova tem sintoma
morre o sonho do menino
mas na mão do nordestino
cada calo é um diploma.
Respeite nosso sertão
não fale mal do oxente
não sabe o valor do chão
quem desconhece a semente
não se cura com opinião
a dor que maltrata a gente.
O Vazio
Fala pra mim, ó vazio
O que é que tu tens
Que faz de todos bens
Um nada mais que vil
A letra já é numero
O papel já é manchado
E a mancha já escura
Faz do nada algo bordado
Num ombro todo o ouro
No outro a beleza
No meio nenhum louro
Só a nuvem de tristeza
E na longa estrada que desce
Guiado por ti, podre vulto
O ser outrora culto
Fecha os olhos e obedece.
Juro que eu não sabia
seus olhos inversos contradizem a alma,
persuadindo o cérebro e contesta
com as suas palavras avessas.
Sabia que o prisma da minha mente
muito antes de mim
traduziu suas inverdades
seus códigos
sua ternura
A noite cai, a madrugada é fria
os ossos...Ai os ossos...Liberta-me,
e ai os inversos não persuadis a verdade.
“Todas aquelas conversas prontas maquiadas e encaixotadas em MDF
Me dão motivos pra talhar meus versos soltos em tronco de madeira silvestre
Todas essas ideias tronchas quando lavadas perdem a cor
E todo aquele que a elas compram perderam o seu fulgor”
No ato!
Na calada da noite o silêncio toma conta; no Céu tudo está normal e bonito, a Lua e as estrelas brilham como sempre; o clima de mais uma noite de inverno predomina e mantém a vizinhança nas suas casas em absoluto repouso; na minha casa uma confusão de pensamentos acaba de acontecer e é devidamente descrita em forma de versos...
