Poemas curtos de Clarice Lispector

Eu, que antes vivera de palavras de caridade ou orgulho ou de qualquer coisa. Mas que abismo entre a palavra e o que ela tentava, que abismo entre a palavra amor e o amor que não tem sequer sentido humano – porque – porque amor é a matéria viva.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

É engraçado que pensando bem não há um verdadeiro lugar para se viver. Tudo é terra dos outros, onde os outros estão contentes.

Clarice Lispector
Todas as cartas. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.

Nota: Trecho de carta para Elisa e Tania, escrita em 5 de maio de 1946.

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O pior é que ela poderia riscar tudo o que pensara. Seus pensamentos eram, depois de erguidos, estátuas no jardim e ela passava pelo jardim olhando e seguindo o seu caminho.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Mente-se e cai-se na verdade. Mesmo na liberdade, quando escolhia alegre novas veredas, reconhecia-as depois. Ser livre era seguir-se afinal, e eis de novo o caminho traçado. Ela só veria o que já possuía dentro de si. Perdido pois o gosto de imaginar.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

É preciso saber sentir, mas também saber como deixar de sentir, porque se a experiência é sublime pode tornar-se igualmente perigosa. Aprenda a encantar e a desencantar. Observe, estou lhe ensinando qualquer coisa de precioso: a mágica oposta ao “abre-te, Sésamo”. Para que um sentimento perca o perfume e deixe de intoxicar-nos, nada há de melhor que expô-lo ao sol.

Clarice Lispector
Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.

Nota: Trecho do conto Obsessão.

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E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si?

Clarice Lispector
Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

(...) não sei, às vezes me parece que estou perdendo tempo (...)

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Só os grandes amam a monotonia.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

E, livre, nem ela mesma sabia o que pensava.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

O mistério do destino humano é que somos fatais, mas temos a liberdade de cumprir ou não o nosso fatal: de nós depende realizarmos o nosso destino fatal.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Se eu me visse na terra lá das estrelas ficaria só de mim.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto-o. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Estava rindo, quente, quente.

Clarice Lispector
Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto A menor mulher do mundo.

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Quem tem piedade de nós? Somos uns abandonados? uns entregues ao desespero? Não, tem que haver um consolo possível. Juro: tem que haver.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar.

Clarice Lispector
Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica Vida ao natural.

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Como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Clarice Lispector
Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nota: Trecho do conto Felicidade clandestina.

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Minha grande altivez: prefiro ser achada na rua. Do que neste fictício palácio onde não me acharão porque – porque mando dizer que não estou, “ela acabou de sair”.

Clarice Lispector
Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho da crônica "Acabou de sair".

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E eu estava só. Sem precisar de ninguém. É difícil porque preciso repartir contigo o que sinto.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Abro bem os olhos, e não adianta: apenas vejo. Mas o segredo, este não vejo nem sinto. A eletrola está quebrada e não viver com música é trair a condição humana que é cercada de música. Aliás, música é uma abstração do pensamento.

Clarice Lispector
Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Nota: Trecho do conto Tempestade de almas.

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