Um Poema para as Maes Drummond

A literatura é um assunto sério para um país, pois é afinal de contas o seu rosto.

Afinal de contas, o prazer é um critério mais seguro do que o dever e do que o direito.

Foi de um rei que nos ficou este princípio augusto. Que jamais se é tão grande como quando se é justo.

O ódio pode ser perspicaz, mas nunca num sentido maior. Só o amor possui um horizonte.

Teve uma ideia, tão original e tão esquematizada em máxima sentenciosa, que se tornou um lugar-comum e perdeu a originalidade. Mesmo para quem a criou.

Uma obra em que há teorias é como um objecto no qual se deixa a etiqueta do preço.

Quando um pensamento é fraco demais para vestir uma expressão simples, isso é o sinal para rejeitá-lo.

Um escritor chega à velhice quando suspeita que o artigo que está a escrever já tinha sido escrito por ele no passado.

O trabalho de um homem é mais o suplemento necessário dele próprio do que o resultado disso.

Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.

Um homem pode casar-se com uma mulher que lhe seja inferior e ela se elevará; mas um homem que se casa com uma mulher superior a ele, rebaixa-se.

A autoridade é necessária para tutelar a liberdade de cada um contra a invasão de todos, e a liberdade de todos contra os atentados de cada um.

A recordação é activa. Não é um objecto perdido que se encontrou. Ela faz crescer a massa do presente e do futuro.

O objetivo é sermos felizes. Só lá chegamos lentamente. Isso exige um trabalho quotidiano.

É muito mais contrário ao pudor ir para a cama com um homem que se viu apenas duas vezes, depois de três palavras em latim na igreja, do que ceder, mesmo contra a própria vontade, a um homem que se adora há dois anos.

Um amoroso é um homem que se empenha em ter mais amor do que lhe é possível ter, e essa é a razão por que todos os homens amorosos parecem ridículos.

O que é terrível na culpa é que ela atribui ao medo, o maior mal que existe no mundo, um enorme direito.

Um dos grandes segredos da sabedoria económica é saber aquilo que se não sabe.

A gula é um vício que nunca acaba, e é aquele vício que cresce sempre, quanto mais o homem envelhece.

Se dois homens no mesmo emprego concordam sempre entre si, então um é inútil. Se discordam sempre, então ambos são inúteis.