Um Poema para as Maes Drummond
Escutar
Temos que aprender a escutar!
É escutando que as tradições são ensinadas, escutar é te ensinar a respeitar, escutar te mostra que para aprender é necessário humildade.
Você pode ter muito a dizer, mas sem aprender a escutar, suas palavras não valem nada.
PANTERA NEGRA
Nela tudo me encanta:
Seu caminhar sedutor, sou sua mata.
Seu sussurro feroz é como ouvir Milton Nascimento...
Seu olhar de caçadora (caçadora de mim), que não espanta a caça: só dá o bote certo.
Sua cor preta tão reluzente, que distingue em meio as tigresas.
Sua boca: que preza! Me deixa comido (mas ainda sinto fome)
Tem um bom faro,
Que me encontrou.
Eu inverti a Cadeia Alimentar:
Fui caçar a Pantera Negra.
Até o eu-lírico do Milton,
Que só falta falar a língua dos anjos, tentou resumir:
"Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim"
" LEVANTA "
Levanta-te que é, pois, chegada a hora
de te encontrares com a escolha feita!
Não há mais tempo algum para a desfeita
de te esqueceres de quem és agora!
Assuma a sina na paixão aceita
e siga o instinto teu na estrada a fora
sem medo de que o sonho parta embora
por outra insensatez, em tua alma, aceita.
Te ponha em pé pra dar sequência à vida
em toda a história que há, nela, contida
sem mais delongas nem protelações…
Sem medo mais, levanta! É hoje o dia!
Sem decisões o amor se perderia
na longa estrada de tuas ilusões!
" OFERTADO "
Serviste, em puro cálice, o veneno
do teu desejo incauto e sem juízo
e foi o amor que viu-se em prejuízo
sem ter, da despedida, um leve aceno.
Sorvi-lhe o conteúdo num sorriso
bebericando o sonho, leve, ameno,
e toda a dor cruel que agora enceno
me vem do ir contigo ao paraíso.
Sequer tivestes pena ou compaixão
ao me envolver, incauto, na ilusão
de que seria mais que um mero instante…
Bebi todo o veneno me ofertado
no anseio meu de amar e ser amado
sem me atentar a tudo o mais restante!
Sentado junto ao fogão
cúmplice da lenha que arde
assisto ao pé do fogo
os brotos infindáveis.
Observo chamas saltadas.
Sorvo delas um líquido boreal
derramado para cima.
As brasas me contam histórias
que logo esqueço.
Envelope em bolhas de silêncio.
De manhã:
gosto de amora na boca
o vermelho selado
na ponta dos dedos.
Das cores
saem os pensamentos.
Quintal de quatro bicos:
meu segredo habita as pedras
cada uma com sua voz
no bater as coisas.
Posso dividir em quadrados
os barulhos do mundo.
Sentado na soleira de casa
(sombras suicidas sob os pés)
os dedos pensam em nada:
desenho fresco na terra.
Os maiores vêm a frente
trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.
Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus
Dorme, meu pai sem cuidado
Dorme, que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter.
Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção
Senhorinha levada
Batendo palminha
Fingindo assustada
Do bicho-papão.
Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim e você
Vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão.
Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
Também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu amei.
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac...
Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando, não sei o quê.
O seu canto de repente
Faz a gente estremecer
corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah! coitadinha
Que feinha que é você.
Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder.
Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV.
Corujinha coitadinha
Que feinha que é você!
Não teve flores
Não teve velas
Não teve missa
Caixão também...
Foi enterrado
Junto à maré
Por operários
Mesmos do trem...
A flor de orvalho
Pendeu da nuvem
E pelo chão
Despetalou...
O céu ergueu
A hóstia do sol
E o mar em ondas
Se ajoelhou...
Cortejo lindo
Maior não houve
Do que o da morte
Desse amiguinho:
Iam vestidas
Com a lã das nuvens
Todas as almas
Dos carneirinhos!
Os gaturamos
Trinaram hinos
No altar esplêndido
Da madrugada;
E o vento brando
Desfeito em rimas
Foi badalando
Pelas estradas!
Saudades de mim
Quando ria sem fim
A alegria fazia morada
E viver, era uma bênção aproveitada.
Saudade da minha inocência
De Minh 'alma plena
Sem nenhum resquício de maldade ou do
pecado que me envenena.
Saudade da minha criança
Das boas lembranças
Das feridas rápidas curadas
E da contentação com o que tinha em casa.
Saudade do meu coração
Quando era inteiro
Sem cicatrizes ou medos.
" INVEJA "
Na boca não lhe amarga a nicotina,
mas, sim, o fel da inveja ali sentida!
Julgara que a paixão fôra, em partida,
e que voltara a armar à própria sina!...
Sua alma, machucada, ressentida
perante a solidão, tão pequenina
lhe impulsa essa vontade má, ferina,
de dar vingança a tal paixão perdida.
O olhar propaga o fel que está presente
no sentimento incauto que, ora, sente
e já não faz segredo de que existe…
A nicotina não lhe amarga a boca,
mas essa inveja, intolerante, louca,
que, sem olhar pro tempo, ali persiste!
Coleciono mergulhos
e histórias de pescador
na Ilha Mata Fome
para chamar o teu amor.
Nas águas calmas dali
quero contigo mergulhar
enquanto nós dois não
vemos o tempo passar.
Quando tiver como sair
e voltar de caiaque,
o Sol contigo aplaudir.
Planos românticos muito
além de apenas um dia
para dar o toque de poesia.
" CHAMADA "
Pra onde, o amor, me direciona e guia
eu sigo a sua luz, quando perdido,
pois seu consolo farto oferecido
é escudo certo em que meu ser confia!
Em seu fulgor, amparo está contido
e me é por segurança dia a dia
trazendo-me a esperança e a alegria
ao coração, por vezes, tão ferido.
É certo que me aponta a eternidade
e me assegura da felicidade
que ainda me há por vir ao fim da estrada…
Me direciona e guia, a luz do amor
por onde quer que o meu destino for
e eu seguirei fiel à sua chamada!
Ela sorria demais
Até que mandaram ela parar
Ela amava desenhar
Até que ela não tinha mais inspiração
Ela gostava de ler
Até que ela fechou o livro
Ela amava '' sentir o amor''
Até que ela ficou sem uma válvula do seu coração...
Ela ainda escreve
Só que como vou dizer pra ela, que o lápis
Já está no fim também?
" LUZ "
Sou velho! Não me dão mais atenção.
Sou tido por artigo ultrapassado
sem credibilidade, descartado
por não ter serventia ao uso, então!
Ficou tudo perdido no passado
aos olhos desta nova geração
que, do que recebeu, não faz questão
nem sabe sobre o chão que eu fiz pisado.
A luz do meu viver não lhes ajuda,
não traz saber, não cria e nem desnuda
a essência do saber que crêem morta…
Não tenho da atenção. Sou velho, agora!
A luz que trago, querem que vá embora
pra, enfim, poderem mais fechar-me a porta!
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