Tudo Oque eu Sentia Acabou

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É por isso que na graça eu me mantive sentada, quieta, silenciosa. E como em uma anunciação. Não sendo porém precedida por anjos. Mas é como se o anjo da vida viesse me anunciar o mundo.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Ainda que você me sacuda e diga que me ama e que precisa de mim: ainda assim eu matarei as borboletas e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem me comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria você. Ah, se ousássemos.

Se eu sou tão fechado às vezes, não me leve a mal: é que todas as vezes engasgo quando quero dizer o quanto eu sou grato a você!

Durante todo o tempo sem ti eu vaguei pelo mundo, e hoje, ao nos unirmos eu posso sentir que comecei a viver agora!

Quis ligar pra você tantas vezes...
Mas eu sabia que eu não podia
Pois ele poderia ver
Ou até mesmo querer atender o telefone

E por um momento eu tive inveja dele
Por que ele tem os teus beijos
Por que ele tem o teu abraço
Por que ele pode deitar-se entre tuas coxas
Todas as noites
Por que ele tem você consigo...

E eu,aqui,
Tenho-te tão pouco...
Mas o pouco que eu te tenho
Já invade toda a minha alma!

Hoje eu estou igual a muriçoca
Dormindo de dia
E ferroando de noite...

Que importa o sentido? O sentido sou eu.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Facilidade repentina.

...Mais

Quero Saber.

Quero saber
Se o seu amor é cristo,
Pois sem ele eu não existo
Nem você pode crescer
Se você tem muito amor
Por seu irmão
Diga logo para ele
Que ele está em seu coração.

De casa em casa, repartindo o pão,
Louvando em todo o tempo ao senhor
Compartilhando esse grande amor
Que vem do coração do senhor

A Aranha

A ARANHA do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.

Fernando Pessoa
Poesias Inéditas (1930-1935). Lisboa: Ática. 1955 (imp. 1990). p. 82

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
Enão pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

Para que eu continue humana meu sacrifício será o de esquecer? Agora saberei reconhecer na face comum de algumas pessoas que – que elas esqueceram. E nem sabem mais que esqueceram o que esqueceram.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Desta vez, eu tinha tanta certeza.

Ah, que banal. Até que ponto as circunstâncias não me favorecem, ou eu é que não favoreço as circunstâncias?

É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e não soubesse em que país ela vale.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Nunhum gesto meu era indicativo de que eu, com os lábios secos pela sede, ia existir.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sou sortudo. E quanto mais duro eu trabalho, mais sortudo fico.

...Me insinuarei nos quatro cantos do mundo, Vibrarei nos canjerês do mar, Almas desesperadas, Eu vos amo. Almas insatisfeitas, ardentes. Detesto os que se tapeiam, Os que brincam de cabra-cega com a vida, Eu odeio os homens práticos...

Eu fora obrigada a entrar no deserto para saber com horror que o deserto é vivo, para saber que uma barata é a vida. Havia recuado até saber que em mim a vida mais profunda é antes do humano – e para isso eu tivera a coragem diabólica de largar os sentimentos. Eu tivera que não dar valor humano à vida para poder entender a largueza, muito mais que humana, do Deus. Havia eu pedido a coisa mais perigosa e proibida? arriscando a minha alma, teria eu ousadamente exigido ver Deus?

E agora eu estava como diante Dele e não entendia – estava inutilmente de pé diante Dele, e era de novo diante do nada. A mim, como a todo o mundo, me fora dado tudo, mas eu quisera mais: quisera saber desse tudo. E vendera a minha alma para saber. Mas agora eu entendia que não a vendera ao demônio, mas muito mais perigosamente: a Deus. Que me deixara ver. Pois Ele sabia que eu não saberia ver o que visse: a explicação de um enigma é a repetição do enigma. O que És? e a resposta é: És. O que existes? e a resposta é: o que existes. Eu tinha a capacidade da pergunta, mas não a de ouvir a resposta.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

A barata e eu somos infernalmente livres porque a nossa matéria viva é maior que nós, somos infernalmente livres porque minha própria vida é tão pouco cabível dentro de meu corpo que não consigo usá-la. Minha vida é mais usada pela terra do que por mim, sou tão maior do que aquilo que eu chamava de “eu” que, somente tendo a vida do mundo, eu me teria.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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