Trabalho Férias
HORÁRIO DE TRABALHO
Depois da treze poderei sofrer:
antes, não.
Tenho os papéis, tenho os telefonemas,
tenho as obrigações, à hora-certa.
Depois irei almoçar vagamente
para sobreviver,
para aguentar o sofrimento.
Então, depois das treze, todos os deveres cumpridos,
disporei o material da dor
com a ordem necessária
para prestar atenção a cada elemento:
acomodarei no coração meus antigos punhais,
distribuirei minhas cotas de lágrimas.
Terminado esse compromisso,
voltarei ao trabalho habitual.
Com muito pouco trabalho, seria útil; é negligenciada, e por isso torna-se daninha. Então arranca-se. Quantos homens se assemelham à urtiga! (...) Não há nem ervas más nem homens maus. Só há maus cultivadores.
Gherardo Perini
«Não irei mais longe, Gherardo.
Não te acompanho mais porque o trabalho urge
e eu sou um homem velho. Sou um homem velho, Gherardo.
Às vezes, quando te entregas mais à ternura,
chegas a chamar-me teu pai. Mas eu não tenho filhos.
Nunca encontrei mulher tão bela como as minhas figuras de pedra,
mulher que ficasse horas imóvel sem falar,
como coisa necessária que não precisa de agir para ser,
e nos faz esquecer que o tempo passa porque está sempre presente.
Mulher que se deixe olhar sem sorrir nem corar
porque compreendeu que a beleza é qualquer coisa de grave.
As mulheres de pedra são mais castas que as outras,
e mais fiéis, porém, são estéreis.
Não há fenda por onde se possa introduzir nelas o prazer,
a morte, ou a semente de uma criança,
e por isso elas são menos frágeis.
Por vezes quebram-se e em cada pedaço de mármore
fica contida a sua beleza inteira, como Deus
que está em todas as coisas,
mas nada de estranho entra nelas que dilate o seu coração.
Os seres imperfeitos agitam-se e acasalam-se para se completarem,
mas as coisas só belas são solitárias como a dor humana.
Gherardo, não tenho filhos.
Eu bem sei que a maioria dos homens não tem propriamente um filho:
têm Tito, ou Caio, ou Pedro, e não é a mesma alegria.
Se eu tivesse um filho,
ele não se havia de parecer com a imagem que eu dele formara
antes de existir. Assim também as estátuas que faço
são diferentes daquelas que comecei por sonhar.
Mas Deus permite-se ser conscientemente criador.
Se fosses meu filho, Gherardo, eu não te amaria mais,
mas não teria que perguntar-me porquê.
Toda a minha vida procurei respostas a perguntas
que talvez não tenham resposta e perscrutei o mármore
como se a verdade se encontrasse no coração das pedras,
e espalhei as cores para pintar muralhas
como se se tratasse de fixar acordes sobre um enorme silêncio.
Tudo se cala, sabes, até a nossa alma —
ou então somos nós que não ouvimos.
Assim, tu partes.
Na minha idade já não se dá importância a uma separação,
mesmo que definitiva. Eu bem sei que os seres que amamos e que nos amam mais
se vão separando insensivelmente de nós a cada momento que passa.
É também deste modo que se vão separando de si próprios.
Estás sentado sobre essa pedra e julgas-te ainda aí,
mas o teu ser, voltado para o futuro, não adere mais ao que foi a tua vida,
e a tua ausência já começou. É certo que compreendo
que tudo isto é ilusão, como o resto, e que o futuro não existe.
Os homens que inventaram o tempo,
inventaram por contraste a eternidade, mas a negação do tempo
é tão vã como ele próprio. Não há nem passado nem futuro
mas apenas uma série de presentes sucessivos,
um caminho perpetuamente destruído e continuado
onde todos vamos avançando.
Estás sentado, Gherardo,
mas os teus pés estão assentes no solo
com a inquietação de quem experimenta o caminho.
Estás vestido com trajes do nosso século,
que hão-de parecer feios ou simplesmente estranhos quando o século
tiver passado pois as vestes não são mais que a caricatura do corpo.
Vejo-te nu. Tenho o dom de ver através das roupas o irradiar do corpo,
que é como os santos vêem as almas, segundo penso.
É um suplício quando são feios,
mas é um outro suplício quando são belos,
dessa beleza frágil que a vida e o tempo atacam por todos os lados
e acabarão por tomar-te,
mas neste momento és dono dela e tua será na abóbada da igreja
onde pintei a tua imagem. Mesmo que um dia
o teu espelho te não mostre mais que um retrato deformado
onde não ouses reconhecer-te, existirá sempre noutro sítio
o reflexo imóvel de ti.
E desse modo imobilizarei a tua alma também.
Tu já não me amas.
Se consentes em ouvir-me durante uma hora
é porque somos sempre indulgentes com aqueles que vamos deixar.
Ligaste-me e agora desligas-me.
Não te censuro, Gherardo.
O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido
que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo.
Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces,
ao encontro de quem vais e que porventura te esperam:
aquele que eles vão conhecer será diferente daquele
que eu julguei conhecer e creio amar.
Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e,
sendo a arte a única forma de posse verdadeira,
o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.
Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas:
vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los.
Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe,
enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo,
assim tu também não és mais para mim
do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver.
Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.»
“O tempo esse grande escultor”
trad. helena vaz da silva
difel 2001
Libertar uma pessoa pode levar menos de um minuto. Oprimi-la é trabalho para uma vida. Mais que as mentiras, o silêncio é que é a verdadeira arma letal das relações humanas.
Com a força tomada de empréstimo a esta ajuda inconsciente, os pensamentos, resíduo do trabalho do dia, tornam-se então ativos novamente e surgem na consciência sob a forma de sonho.
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Nota: Trecho de um texto de Artur da Távola.
Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor. Eu gosto de gostos, eu gosto de pele, de cheiro, de amor verdadeiro.
Cristãos temporários não são cristãos. Quem quer tirar férias desse serviço divino nunca entrou nele.
E hoje não vou fazer isso. Não vou ceder, não vou me preocupar. Vou entrar em férias de mim, balancear os pneus, checar o óleo. Vou me amar. Pra depois tentar, quem sabe, amar alguém.
Uma Festa Dentro de Mim
Resolvi dar férias para as dores, tristezas e decepções.
Cansei de ficar reclamando, de achar culpados para a minha angústia. Resolvi mandar tudo plantar batatas e decidi: vou fazer uma festa dentro de mim!
Prá começar eu vou para o espelho ensaiar o meu melhor sorriso, vou retirar essas marcas da minha testa, vou jogar fora essa máscara de dor que me acompanha há tantos dias, e preparem-se: eu quero é ser feliz, quero conhecer pessoas como você que é alegre, prá cima, alto astral, prá falar a verdade, eu também era assim, até que uma decepção me jogou para baixo.
Mas, hoje eu não quero falar de tristeza, quero saber é de coisas boas, quero ir ao cinema, sabe há quanto tempo eu não vou ao cinema ?
..E tem mais, eu vou escolher o filme, chega de "gente" ficar escolhendo o que eu quero.
Hum ! Acho que vou passar no cabeleireiro antes, vou pintar os cabelos, cortar umas pontas, vou me agradar, só para o meu prazer.
Engraçado, agora que eu falei nisso, sabe que eu estava em um relacionamento onde eu fazia tudo para agradar a pessoa que estava comigo, fazia isso, não fazia aquilo para não magoar, não usava aquela roupa, usava aquele perfume, tudo para acertar, para manter o "clima", para fazer o gosto da pessoa e resolveu o quê?
Ganhei um pé no traseiro, e perdi a vontade de viver.
Você sabe onde eu errei ? Hoje eu sei ! Eu errei na hora de anular os meus desejos, em transferir a minha vida para as mãos de outra pessoa, e é lógico, quando eu percebi que era o fim, fiquei sem chão, sem mundo, sem vida.
Mas, hoje é dia de festa e só para o meu prazer vou tomar um banho demorado, e vou fazer de conta que a água do chuveiro é água de batismo e vou "renascer para a vida".
Sai da minha frente que eu quero viver !!! Quem quiser que me acompanhe.
Eu não me poupo
Minha avó sempre disse que quem poupa, tem. Lembro das férias de verão lá na praia, o meu irmão economizava a mesada e eu comprava picolés para a família inteira. É por minha conta, minha conta. Duas semanas se passavam e eu estava pelada, sem um centavo, mas com a barriga cheia de picolés de chocolate.
Meu pai coloca água no shampoo, pois ele diz que todos são concentrados; a água dilui um pouco e parece que deixa o cabelo mais soltinho, não sei se é lenda. Nos próprios salões de beleza eles colocam um pouco do produto na sua cabeça e, ali mesmo, misturam com um pouco de água. Esfregam, esfregam e pronto, que lindo.
Animais em extinção. Água. Energia elétrica. Telefone. Reciclagem de lixo. Natureza. Amizades. Família. Amores. Precisamos cuidar, poupar, tomar conta. Um dia tudo acaba. Lá vem a vovó de novo com o seu quem poupa, tem.
Eu lavo o cabelo todos os dias, semana passada meu pai perguntou se eu comia shampoo. Não, não como. Lavo duas vezes, todos os dias e meu cabelo é médio. Médio, para quem não sabe, fica entre o curto e o comprido. Não é nem um, nem outro. É médio. Mas eu não misturo com água, deixo juntar uma espuma gigante, pois adoro espumas. Lavo até fazer aquele barulho de limpo. O barulho de limpo, para quem não sabe, é aquele som irreproduzível que a mão emite ao entrar em contato com o seu cabelo encharcado de água. Depois de passar o condicionador, lógico. Tem gente que consegue lavar a louça com pouquíssima água, eu não. Preciso de muita. E uso muito detergente, você sabe que preciso de espumas para viver. Sou a maior consumidora de água do planeta, tenho que diminuir, eu sei. Juro que vou me esforçar. Vou tentar ser econômica. Só não me peçam para economizar sentimentos.
Quem poupa, tem? Não sei me economizar. Eu não me poupo. Nunca soube fingir. Acho uma espécie de traição fechar os olhos para as vontades. Se você sente, sinta. Não maquine ou arquitete qualquer coisa mirabolante, apenas sinta. Não vou negar que já fugi, já sim. Inúmeras vezes. Eu teria que pedir dedos emprestados para conseguir contar. Nem acho o fugir ruim, às vezes se faz necessário. Não é errado, o sentimento vai dentro da sua roupa, o problema gruda nas suas costas, mas na fuga você se encontra. Ou então você larga o que já está usado e quase caindo aos pedaços lá no meio do caminho. É uma espécie alternativa de exorcismo. Sai daqui, sai daqui. Adeus, demônios. A fuga te liberta do diabo. Ou então faz com que você perca o medo de voltar. Porque nós sempre precisamos voltar para algum lugar. O que foge e o que volta. O que vai e o que retorna. É você. Um você diferente. Um você modificado.
Se tudo vem da infância, vou voltar lá para o início, no tempo em que eu era mão aberta com a mesada e distribuía picolés. Não é o dinheiro, é o gesto. Sempre gostei de fazer mimos e agrados. Quando eu quero, que fique claro. Com quem merece, que fique evidente. Continuo a mesma, hoje em dia não tenho mais atração por sorvetes, meu negócio é outro.
Prefiro esbanjar emoções. Mesmo que doa. Mesmo que, um dia, eu possa me arrepender. Meus arrependimentos duram pouco, alguma coisa me cutuca e diz olha, que bom que você fez. Que bom que você teve coragem. Que bom que você sente. Que bom que você tenta. Tentar é se arriscar. E tudo na vida tem metade de chance de dar certo. E a outra metade? De dar errado. Mas não é poupando que você saberá.
Quem é mão de vaca com os próprios sentimentos acaba por não viver. Não seja econômico. Mas use menos água para lavar a louça.
Estou tirando férias de mim. Férias das dúvidas que me derrubam, das ilusões que me levantam, porque tudo isso é muito temporário. E viver assim de pouquinho, sem nenhuma fixação, às vezes cansa.
Eu acho fascinante que a maioria das pessoas planeje suas férias com mais cuidado do que planeje suas vidas. Talvez porque fugir seja mais fácil que mudar.
Dias de chuva
O sol, assim como eu, parece ter tirado umas férias.
A rua parece pedir socorro, se afogando em tanta água.
As crianças não correm na rua, os cachorros não cheiram os postes
e os passarinhos não entram pela janela para roubar comida.
Pela janela só tem entrado o vento que em mim provoca calafrios.
Do sofá para a cama, da cama para o computador.
Isso sem contar as compulsivas visitas à geladeira.
Já fiz e desfiz minhas unhas milhões de vezes,
Já arrumei meu quarto, fotografei as nuvens e dormi sem sono.
Já escutei meu Cd's antigos, e foliei as revistas.
Já acabei com os doces da geladeira,
Já tentei estudar, já consegui enrolar.
Já beijei meu espelho, já cortei o meu cabelo.
Aqui dentro as coisas parecem não acontecer.
A parede ainda não mudou de cor e a porta não consegue se abrir sozinha.
Esperei uma visita inesperada, mas não aconteceu.
Os dias foram passando, e eu fui agonizando.
E assim foram meus dias de chuva.
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