Textos de Luis de Camoes
Pó alérgico
Desafiante é calar o silêncio noturno
Escrito na profundidade oceânica
De uma voz insistente que nada diz.
Sou na vida apenas um atrapalhado aprendiz.
Sou regra
Desconheço a exceção.
Aprendi a dar
Mesmo sem receber perdão.
Sinto o ácido correr-me a alma
Letal e amargamente sem pressa.
Dizer a quem?
A ninguém interessa.
O pó alérgico da insônia me faz suspirar
E fico sem sono para deitar.
Perdi a matricula para a escola do viver.
Não sei como é.
Assim é minha vida.
Assim são meus dias.
Assim pra sempre há de ser.
Quando o sonho termina
Quando acaba o sonho
A vida dispensa o estepe.
Sopra um vento enfadonho.
A alegria desaparece.
Quando acaba o sonho,
Perde-se a vontade de acordar.
Passa-se a viver com sono
E a não mais se suportar.
Quando o sonho termina
Ficam lembranças armazenadas
A luz da alma não mais ilumina
Tudo fica triste não se quer mais nada.
Quando o sonho se vai
O amor não vai junto
Pela porta ele não sai
Apenas adormece em algum ponto.
Quando o sonho diz adeus
O ânimo desanda
Nas lembranças os momentos meus e teus
Emudecendo os instrumentos da banda.
Estação vida
Não deu tempo.
Atrasei-me.
Ao longe ainda pude ver a felicidade partindo.
Tentei gritar, correr, ligar,
Já era tarde,
Ela foi.
Eu fiquei.
E pensar que tentei sair apressado,
Deixei até algumas coisas
Espalhadas.
Nem sei onde me deixei esquecido.
Não pude ver onde pendurei minha alegria.
Ficou lá.
Talvez esteja no mesmo prego do meu sorriso.
Um sobre o outro. Não os vi.
Tomara que alguém, ao encontra-los, faça bom uso.
Estou preocupado com minha vida,
Deve ter ficado num cabide.
Tão frágil!
Será que vai sobreviver?
A esperança... Que dó!
Morreu no frio das noites passadas.
Nesta estação à beira da estrada,
Não me resta mais nada.
Se alguém perceber que não fui
Quiçá, ao menos, dirá: Caramba!
Como pode não ter embarcado?
Cela
Busco entender as penas que este tribunal me imputa.
Só recebo sentenças mesmo que não haja crimes comprovados.
Será esta a lei da vida?
Abdico a ideia de réu confesso.
E o propalado direito de ampla defesa?
Julgado a revelia sem ser avisado
Fui prejudicado na condenação.
Arrancaram-me a razão.
Subtraíram-me os argumentos.
Transplantaram-me o coração.
Prenderam-me nesta cela
Que se chama ilusão.
Nuzinho em pelos
Siga contente.
Siga falante.
Sempre adiante.
Ande de cabeça levantada.
Apanhe a margarida.
Dê boas gargalhadas.
Deixe risadas espalhadas.
Abrace a “rapaziada”.
Sorria para a vida
Daqui não se leva nada.
Deboche das esquinas.
Siga no proibido
O ridículo também deve ser vivido.
Dê um sorriso para o tempo.
Abra a boca, coma o vento.
Dê a mão para o destino
Picolé para o menino.
Estenda os braços pra voar
E o coração para amar.
Desalinhe os cabelos.
Sinta-se nuzinho em pelos.
Lágrimas só as tolas,
Pelo efeito da cebola.
Se por sozinho optar
Beije a felicidade ao se abraçar.
Perfume
Desperto. Percebo alguma claridade,
Ao meu lado ainda um saldo do teu calor.
O perfume nas cobertas entranhado.
No banheiro teus pertences espalhados.
Olhos semiabertos espiam a rua,
Nem mais um passo teu,
Na memória a mais linda imagem crua,
Teu gosto doce nos lábios meus.
Busco motivos pra enfrentar este dia,
Imagino seus cabelos desalinhados, seu rosto, seu sorriso,
Busco no espelho meu olhar sem alegria
Pensamentos de mim decolam sem juízo.
Consome-se em teu dia atarefado.
Nem notícias tuas consigo receber.
Dou passos te imaginando ao meu lado
Buzinas, barulhos, correria nada me faz te esquecer.
Pietá
Decepciono-me ao ver o mapa
E o traçado final estampado.
Queria o segredo no cofre guardado
Porque amar é a arte de tentar, de se doar, de renunciar.
Teus amores deliciosos, onde estão?
Agora em meu rosto só a expressão de Pietá,
Minhas mãos vazias pra mostrar.
Nestas noites em que só palavras voam,
E dos meus dedos brotam céus em desalinho,
Giro neste quarto de chão molhado
Tropeço no escuro do caminho.
Nem sombras dos que me pediam
Pra mais alto eu falar.
Nem pontes unindo sul e norte,
Nem em aquarelas vejo teu olhar,
Só um vento que sopra melancólico e forte.
Mas há de haver um ponto sagrado
Onde o mundo possa ser ancorado
E viver em harmonia
O sonho pela vida sonhado.
Onde o sol bronzeie a pele
Onde a semente germine
Onde a realidade sorri.
E a vida, preciosa, se ilumine.
A última lambreta
Descia pela ruazinha de terra e pedras. Magra, leve, parecia perfeita para a lambreta que tinha.
Era uma época em que os empregos do sonho, nesta região, eram de motorista do caminhão do leite ou da Kombi escolar, ou este dela, em que passava nas pequenas propriedades vacinando o gado.
Naquele dia ela chegou mais calada. Percebia-se que algo não estava bem. Após almoçar fartamente a pequena veterinária passou a comentar suas angustias. Tudo mudaria. Estavam tirando as lambretas de serviço e colocando as Turunas (Moto que fez muito sucesso naquela época)
Olhando para mulher falante e tão minúscula, fiquei impressionado com a sua decepção. Falou que iria sentir muito a mudança. Definitivamente não aceitava ficar sem “lambretear”.
Ela que muitas vezes foi vista como a rebelde da família, pois entrava em si mesma e produzia alguns textos de qualidade questionável apenas para relaxar.
Em certa ocasião, após uma queda e com uma forte batida na cabeça, perdeu um pouco a lucidez. Naquele dia salgou o café ao tentar adoça-lo. Fez uma frase que eu nunca mais esqueci: “Se é no sábado, todos sabem que é domingo.” Exatamente assim se pronunciou. Uma frase, para mim, símbolo das confusões mentais em que ela poderia estar metida.
Mas o entusiasmo dela ao falar da velha lambreta era algo impressionante. Não parecia ter nenhum “parafuso a menos”.
Na hora de ir embora, vi que chorava e falava que nunca mais veríamos uma lambreta. Que aproveitasse aquele dia.
Indignada, parecia mesmo que estava para cometer o suicídio, pois disse que sairia de todas as formas de convivências sociais. Disse que iria se esconder, que não daria mais notícias. Nunca vi alguém tão indignado por tão pouco.
Fiquei com aquela imagem dela subindo pela estradinha e dizendo: Nunca mais. Aproveitem a última lambretinha. Nunca mais saberão de mim. Nunca mais, nunca mais...
Pássaros da vida
Olhou encantado para o alto do parreiral.
Se não estivesse diante de uma Isabel gaúcha, jurava se tratar de uma Nebbiolo Piemontês. O clima favorável possibilitou um desenvolvimento espetacular tornando-as viçosas e lindas naquele ano. A associação com a uva italiana que tanto apreciava foi inevitável.
Fez-se adulto no tempo em que o vinho era feito de forma artesanal. Amassava-se a uva com os pés. Eram dias especiais aqueles que se ocupavam nos afazeres vinícolas.
Orgulhava-se do progresso, mas mantinha certa nostalgia em seus abundantes e fantasiosos pensamentos.
Repentinamente lembrou-se Dela.
Há tempos não à via. Contudo mantinha na memória o sorriso tão lindo, tão mágico e tão doce como o vinho suave. Nunca a esqueceu, nem esqueceria.
Por alguns segundos imaginou uma cena inusitada com o gosto de um beijo com uva Merlot que ela, atrevidamente, manteria apertada nos lábios carnudos e adoráveis num gesto de gostosa provocação. Adoraria viver isso.
Jamais houve um adeus definitivo. Apenas deixaram que os pássaros da vida consumisse-os como devoram os grãos maduros dos parreirais.
Despertou do pensamento alucinante e tratou de experimentar um cálice de vinho ali produzido.
Impossível saber quanto bebeu daquele tinto maturado. Deduz-se que foi bastante, pois no dia seguinte ele afirmava com certa convicção: Ela veio me ver esta noite. Estava encantadoramente linda como sempre.
Pode ter sido só um delírio, um sonho, uma ilusão. Mas o que importa saber a verdade se ela não faz feliz.
O que importa? Pensou.
Nada conta depois que o sonho acaba.
Lenta, mas decididamente, com o copo na mão caminhou para a pipa de Chardonnay.
Outro sabor, outra variedade, outra uva, outro vinho, mas os desejos mantidos de acordar feliz após passar mais uma noite, supostamente com a amada.
Queria uma noite longa para o tempo de felicidade, quem sabe, ser... Eterno.
Quem sabe...
Se a sorte ajudar.
Pólen
Saudade é como ginete caindo do cavalo.
É fruto que se fere ao cair do pé.
É gangorra em seu trepido embalo.
É nome saudoso de mulher.
É a roupa sem passar,
O perfume que se deixa de lado.
É marcar gol e não comemorar.
É entrar mudo e sair calado.
É o ativo que se despreza.
É abelha sem pólen pra pousar.
É ajoelhar quando se reza.
É perder a vontade de lutar.
Trechos da vida
Dorme a tarde enferma e calada.
Impiedosa a chuva debocha.
Bate no vidro sem nenhuma graça.
Solitária a alameda deixou ser tomada pelas águas.
Sem o fascínio do sol estampado
Meu semblante enrijece desmedido.
O caminho encharcado me inibe,
Tropeço no lodo criado.
Cair nunca é esperado,
Em pé supera-se a quem está sentado.
Mas as resvaladas que não se acredita
Estatelam no chão uma intenção bonita.
A roupa enlameada até entristece,
Mas não compromete o aclive do ser.
Cada escorregada faz deslizar
A vontade de tudo superar.
Melodias cantadas animam a subida,
Nesta avenida íngreme e sangrenta.
É preciso ser forte para fazer o percurso
Dos trechos enlameados da vida.
Último poema
E uma súbita e inexplicável angústia me invade.
Tão cedo. Tão sem avisar.
Eu até sabia que um dia a poesia perderia a graça.
Torci tanto que não fosse já.
Morrem com vida meus versos, talvez a pior das mortes.
Antes estar sendo devorado por corvos
E provocando no ar um cheiro de carniça
A ficar “morfinando” a falta de inspiração.
Acreditei no sonho que talvez só eu sonhasse
Sem que o talento soubesse.
Dei-me por completo ao poema.
Dei-me em todas as letras do alfabeto.
Pensei cobrir-me de tudo,
Mas fiquei completamente descoberto,
Esquecido, escondido, cego, surdo, mudo e quieto.
Permita-me Deus, ao menos,
Escrever o epitáfio para meu último teto.
“Pensou saber, mas morreu analfabeto”
Estranho meu
Sou ativista do inativo.
Vibro com meus sonhos não vividos.
Emociono-me com o que não tenho sentido.
Lembro-me de quem nunca foi esquecido.
Sou o belo que não se viu,
Juventude que jamais envelheceu,
Vida de quem nunca viveu.
Morte de quem sequer nasceu.
Não me conheço, sou o estranho meu,
Fé e crença de ateu.
Prazer em não me conhecer.
Prazer em não me rever.
Minha vida nunca me pertenceu.
Quando foi a última vez que você se pegou caminhando, mas não caminhando para cumprir seus afazeres rotineiros... Falo daquela caminhada despretensiosa, sem pressa, sem rua certa e sem relógio no comando?
Quando foi a última vez que, caminhando, você olhou para cima, para aqueles ângulos de visão que normalmente nossa pressa não permite?
Pois é... As paisagens mudam, as estações revelam suas belezas, suas cores, e nós, parte desse sistema, raras vezes deixamos nossas vidas robóticas de lado pra simplesmente observar a criação da qual somos parte.
E que bem danado nos faz! Alivia as tensões, acalma a mente, traz uma sensação gostosa de paz...
É relembrar o óbvio... Sempre andamos para frente, mas a escolha do que carregamos conosco, ou deixamos para trás a cada passo dado, é uma escolha pessoal de cada um.
Quero mais que um fim de semana de sol.
Quero a batida perfeita, o som mais maluco...
Os abraços mais sinceros e os beijos mais pegados.
Quero sorrir sem motivo, andar sem roteiro, dançar até cansar!
Quero a família feliz, os amigos por perto e aquele chimarrão na roda!
No fim, só quero que a simplicidade desenhe o passar das horas...
E que o colorido da vida seja bem vivo!
Por mais difícil que seja manter viva uma semente de paz, tolerância, respeito e senso crítico nas crianças, num mundo em que tudo parece estar de cabeça pra baixo, vale a pena. Todo esforço neste sentido sempre valerá a pena. O que dizem sobre "o mundo que queremos amanhã começa com nossas ações hoje" não é clichê, é a mais pura verdade.
Nesse cabo de guerra entre bem e mal, vence aquele que se fizer mais presente na vida daqueles que depois de nós, terão um mundo inteiro pra gerir.
Homem, já fazes tua parte, já fazes o bem... Porém, precisas aprender que nem todos buscam a evolução espiritual, nem todos querem da luz usufruir...
O humano por muitas vezes não se encoraja a seguir pelos caminhos estreitos, prefere os atalhos, e não poucas vezes irá despertar sua ira sobre aqueles que escolhem servir a luz e passam pelas provações do caminho, e vencem!
Ai a pessoa te pergunta... O que você ganha se doando tanto...
Simples parceria... Realização pessoal, quer algo que ninguém nunca vai te tirar é isso: realização pessoal.
Quem me conhece sabe que sou movido a desafios, que me entrego por completo as bandeiras que levo.
Na vida as melhores coisas não dependem de dinheiro, dependem mais do sabor que acrescentam à ela mesma!
Quero ter a certeza de que fiz tudo que queria, quando queria e como queria, que não me apeguei a roteiros e nem padrões, apenas segui o que senti como verdade, fluir de dentro de mim.
Felicidade não se paga, não se compra, nem se vende.
Ai que me refiro!
Qual é o plano parceiro?
Qual é o plano parceiro, se do tempo já não domino faz tempo
Dos dias e noites não entendo, o por que de tanto contratempo
Lá na infância me via, brincando por longas tardes
E mesmo que imaginasse, o tempo assim não corria
Se hoje tivesse 500 dias, talvez ainda faltasse
Horas, minutos, segundos, na correria de meus dias
E onde então está o pause parceiro, preciso me reorganizar
Vida louca assim não dá... o tempo voa, escoa e decola
Talvez, se ao invés de mais tempo, tivesse mais dois braços...
Trabalharia dobrado, daria mais abraços... quem sabe olhasse pra mim
Já que de mim, as vezes tem tudo, mas pra mim, não sou atento assim
Mas o controle é Ele quem tem... e me pergunto impaciente
Qual o plano Onipotente? Por que acelerar assim?
Logo me vem a mente, que saibamos melhor do tempo
Aproveitar cada momento, sem dele ser prisioneiro
Afinal é ele grande parceiro, das memórias de minha vida
Testemunha íntima dos fracassos e glórias vividas...
Que bom será quando reaprender a ouvir meu coração
Entender que seu ritmo constante, não se modifica em meio ao turbilhão
Mantem seu compasso, mesmo que o corpo exija
"Vamos, acelere o passo, olha o tempo, o compromisso, o atraso"
Não será mais ele o culpado da correria das minhas andanças
E nos verdes campos da vida, serei eu o potro xucro domado.
Certo dia a Paixão sentiu-se só...
E olhando pela janela de sua casa, contemplava o horizonte ao longe,na busca pelo fim de sua solidão.
Fixava seus olhos no sol, que majestosamente escondia-se atrás das montanhas,e vinha a lua e suas canções, e as estrelas e suas sapequices...
Novo dia acontecia, e ali estava a Paixão, tentando entender a solidão...
A Rosa toda discreta, a dias observava a amiga
Fazia de um tudo para ser notada, mas a Paixão olhava longe, não se fazia presente!
Foi então, que num esforço sobrenatural, o maior e mais belo botão se formou, e era tão viva sua cor, que impossível não chamar atenção!
Neste dia, a Paixão entendeu que a solidão nada mais é que o resultado do não querer ver, que em algum lugar, alguém te ama, olha por você!
E que nas coisas mais simples, talvez mais perto do que se possa pensar, o Amor se revela de forma sublime...
Foi tão intenso o aprendizado, que a Paixão virou Amor, e a Rosa...
Ahh a Rosa...
Esta dedica-se até hoje a nobre missão de aproximar os corações solitários, a fim de que troquem olhares, para que no meio disso tudo, o Amor enfim aconteça!
