Textos de Desejo
SONHANDO, AMANDO, SONHANDO...
Sonho:
Delírio da alma, que suponho,
ser fruto de um desejo risonho;
oposto de pesadelo medonho.
Amor:
Sentimento que me faz supor
ter especial tom, cor e sabor;
avesso e sinônimo de dor.
Duas palavras: sonhar e amar;
dois verbos difíceis de separar.
Por isso, quem sonha vive de amar
e quem ama nunca deixa de sonhar.
(Livro “Arcos e Frestas”, página 13)
Prazer e Felicidade
Prazer, chama que queima breve,
Carnal desejo que o corpo veste,
Fulgor que o instante pede,
Mas logo ao vento se despede.
Prazer, dança ao toque, ao beijo,
Vive no arrepio, na pele, no ensejo,
Mas como brasa, logo apaga,
Deixando a alma ainda em chaga.
Felicidade, luz que não se desfaz,
Nasce no espírito, é paz que se traz,
Não se esgota, não se vai,
Ecoa na vida, constante, eficaz.
Prazer é o sabor do agora,
Felicidade é o néctar da hora.
Um é chama que aquece e some,
O outro, fogo eterno, que nome não consome.
Nas camadas da existência,
Prazer e felicidade se encontram,
Mas é na serenidade do ser,
Que a verdadeira alegria despontam.
SimoneCruvinel
Vida quente e poesia
A vida é fogo que arde sem aviso,
no sangue que ferve em desejo preciso.
O corpo que chama, ardente, sem medo,
no toque que acende centelhas em segredo.
O café desperta, intenso, apressado,
como o abraço que envolve, apertado.
Nos lábios, o gosto de febre e vontade,
no peito, um ritmo de pura verdade.
Que seja quente, que queime, que dure,
que vida morna jamais me segure.
SimoneCruvinel
Um sorriso que desliza pela noite,
Uma boca que provoca sem dizer uma palavra,
E um desejo que se esconde no silêncio
Sem saber se era acaso ou feitiço,
Se era um instante roubado,
Ou uma promessa velada na curva dos teus lábios
Algumas pintas dispersas,
Pequenos segredos sobre a pele,
Traçando um caminho que só se revela
A quem ousar decifrar
As covinhas que dançam no teu sorriso
São peças de um quebra-cabeça invisível,
Onde cada troca é uma pista,
E cada texto, uma resposta
Sigo entre palavras e olhares,
Navegando por mistérios e desejos,
Instigada, por saber onde esse enigma me levará
Não busco a gula,
Nem o desejo sem fim.
Não busco a luxúria,
Nem o que me faz assim.
Não busco a ira,
Nem a raiva no coração.
Não busco a inveja,
Nem a dor da comparação.
Não busco a preguiça,
Nem a falta de ação.
Não busco a soberba,
Que nos tira a razão.
Busco a paz,
A simplicidade,
A verdade,
E a humildade.
A atração física, fogo que devora,
Um toque, um olhar, a carne que implora.
É desejo em chamas, queima e arrebata,
É o corpo que grita, é o instinto que mata.
Mas a atração mental, tempestade serena,
É profundidade que nos envenena.
É o cérebro que toca onde a pele não chega,
É a mente que invade, é onde a alma se entrega.
A física, tempestade, que arrebenta e se vai,
A mental, o terremoto que fica, que cai.
Uma é furor, um arrepio que se desfaz,
A outra, um abismo onde o amor se refaz.
No corpo, a atração é grito, é paixão,
No espírito, é silêncio, é a revolução.
A física nos chama com urgência, com pressa,
A mental nos prende, nos envolve, nos pressiona e confessa.
A atração física nos consome, nos queima,
Mas a mental nos conquista, nos acende e nos trema.
Do impulso ao abismo, do toque ao segredo,
É na mente que moramos, é ali que nos perdemos.
DESEJO OCULTO
Enche-me de amor, de sorrisos no rosto,
Dos enganos que a vida desfaz...
Deixa-me acreditar em mim, me faz
Sentir o teu cheiro de flor, de gosto.
Beije-me a pele fria a esquentar, sem dor,
O meu coração, a mágoa triste,
Deixa-me acreditar que em mim existe
A paixão eloquente ao seu mesmo amor
Que dizes sentir ao teu peito, oh! Querida,
Ao mesmo tempo, a saudade imensa,
O despertar da minh'alma em tua vida.
Enche-me de esperança ao te encantar
O corpo, a boca, o que sente e o que pensa,
Deixa-me ser teus desejos, o som, o ar.
Mudez
Mudo, mas não mudo muito
Na esquina da cortina ao alto mar
Me vejo
Desejo de ser e tocar de vidro frio
Do horizonte cheio de montes baixos
Desembrulhar-me e ser eu
E raspar a tinta
Como os que me pintaram os sentidos
Nas grandes cidades
A vida é mais pequena
Na cidade, as grandes casas fecham
A vista e à chave
E as flores são cor da sombra
E tornam-nos pobres,
Porquê a nossa única riqueza
É ver.
Baú de Desejos Assassinados
Amar é desejar,nada de dramático, amor e desejo são as mesmas coisas, você ama aquilo que deseja, você ama aquele que deseja, você ama na intensidade que deseja e ama enquanto deseja.
A má notícia, é que se o desejo acabou é porque o amor acabou também, amor e desejo são as mesmas coisas. Nesse momento, a pergunta óbvia: se amor é desejo, desejo é o que ?
Desejo é a falta, desejo é aquilo que faz falta, desejo pelo que não temos e queremos ter, desejo pelo que não somos e queremos ser, desejo pelo que não fazemos e gostaríamos de fazer.
Agora temos a equação completa, você ama o que deseja e deseja o que não tem, e quando tem não deseja mais, como amor é desejo, então não ama mais. Funciona assim, simples e rápido e quando desaparece a falta, desaparece o desejo, como o amor é desejo, então acaba ali naquele instante.
Um ótimo exemplo é quando olhamos caixas de brinquedos de crianças, a primeira coisa que notamos é que tudo aquilo que era motivo de desejo para tê-los, acaba ali, em um baú de desejos assassinados pela presença, em um baú de desejos mortos pelo consumo.
Possessão do Eflúvio
É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade e nossa cultura tem pavor à liberdade, nosso desejo é manchado de medo e a angústia de ter perdido jamais suprirá a alegria de ter tido um dia possuído. A tristeza da vaidade e a passageira felicidade da possessão são irmãs, porém nenhuma contribui com propósito algum e liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem e quanto maior o número de leis, tanto maior o número de ladrões.
Luiza.
Quando você me olha,
Os seus olhos iluminam os meus.
Vejo o desejo libidinoso aflorar no seu corpo.
Eu morrendo de vontade de me enrolar nos seus braços e sentir o cheiro do seu corpo.
O pensamento voa e eu sigo nos meus sonhos irreais.
Sei que a realidade é cruel e desalentadora.
(Ismail)
O Sono e o Tempo: em suas dimensões...
O sono coexiste em duas dimensões: existe no desejo corporal de descanso e no tédio da abnegação. O primordial é o congênito, é a necessidade natural do indivíduo. Porém, o secundário é um estado de consciência. Deparando-se em determinada ocorrência na escola, diversas vezes você já há de ter dito que adormeceria ao chegar em casa, em virtude da circunstância de supostamente estar com muito sono. Pois bem, é extremamente faltoso declamar coisas provocadas por sensações momentâneas ou sentimentos extremos. Palavras ditas por intermédio destas coisas somente ostentam que, no caso, o sono era unicamente uma saída para o tédio, e não realmente uma necessidade corporal do instante. Devido a isso, que ao sair da escola e chegar a casa, o sono (muitas vezes) simplesmente desaparece. Isto ocorre justamente em consequência do desaparecimento do tédio. Assim igualmente, se equivale aos demais casos em que (o tédio) implica-se em consequências homogêneas. Em contingência de estarmos impossibilitados de dormir, ou por o lugar ser inapropriado, ou por não ser lícito; qualquer distração envolvente fará com que, ou o sono diminua, ou "adormeça".
O tempo, da mesma maneira, funciona deste modo, e também em correlação ao tédio. Algo que minha mente jamais irá engolir e digerir são o fato de, por exemplo, sessenta minutos quaisquer do dia durar menos ou mais que outros sessenta minutos ANÁLOGOS. Ou ainda, sessenta minutos durar menos que trinta. Como eu já disse outrora, não é novidade para ninguém dizer que o tédio "desacelera" o tempo, e o entretenimento, o oposto. Enfim, tenho uma perspectiva no que concerne a isto, perspectiva esta que supõe que instantes deste entretenimento são como se estivéssemos dormindo, mas não somente dormindo, e sim dormindo confortavelmente; e momentos tediosos, consequentemente, como se estivéssemos dormindo desconfortavelmente. Não é à toa que uma noite bem dormida passa rapidamente, e uma noite mal dormida, vagarosamente. Noite mal dormida nesse contexto (e, talvez, em outros) seria aquela na qual acordamos em diversos momentos, naturalmente. Mas agora reflitam: não há alguma correspondência assustadora? Desde que tenho consciência de ser eu, este é um assunto que muito me inquieta, e estou ciente de que não é um assunto proveitoso (mas talvez possa ser), mas é indiscutível que é um assunto muito interessante. O tempo existe tal como é, mas são mínimos os momentos, em nossas mentes, em que este apresenta tal exatidão. A única forma de este apresentar-se idêntico em todos os seus momentos é permanecer olhando para o relógio. Este é o real tempo do tempo. Porém, seria no mínimo muito tedioso, e ninguém jamais teria vocação e vontade para isto. O tempo é real em sua essência, mas nossas mentes o fazem oscilar de acordo com nossas sensações e sentimentos.
Metáfora
Amor,
Não vou mentir.
Desejo terminar!
Quero terminar só para poder recomeçar.
De forma metafórica, anseio por te perder apenas para sentir a alegria de te achar.
Quero ser a sua respiração quando estiver sem ar.
E, ao mesmo tempo, te deixar sem fôlego.
Preciso te revelar que irei me afastar do seu amor.
Só para ter a satisfação de me apaixonar por você outra vez.
Espero que um dia você entenda que foi necessário parar de te amar, para que eu possa, mais uma vez, me deixar levar pela paixão que tenho por você.
SONHEI-TE
Sonhei-te, assim, como não gostaria
Com toda a sedução que de ti desejo
Num calor ardente que me consumia
Devaneando a cada um intenso beijo
Instigada ilusão desta penosa fantasia
Dum sonho desdouro, então, gaguejo
Te vejo, afável, onde não mais deveria
Pois, do dantes não mais há o cortejo
Sonhei-te, a cada noite, num vaivém
Em um flanar com a sensação nervosa
De uma emoção figurada e mentirosa
Sentimento que não quero a ninguém
E tão pouco para o meu coração quero
No não querer, sonhei-te, e não reitero...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26 setembro, 2022, 05’16” – Araguari, MG
CÁLIDA POESIA
Estando, espero, então, o desejo insiste
No peito ardente, sussurrante, amoroso
Fazendo do caminho, leve e cadencioso
Creio que tudo na cumplicidade consiste
Porque da alma o sentimento é preciso
É abençoado e ao incerto tempo resiste
E sei que nada mais na sensação existe
Que nos dá a emoção e do coração ciso
Na sede cresce e não mais se esquece
Que no doce encanto o fascínio floresce
Oferecendo quimera e tecendo fantasia
É a paixão transfigurando em confiança
O olhar em tato, e os dias em esperança
Porque, o singular amor, é cálida poesia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/03/2023, 19'11" – Araguari, MG
LOGO
Soneto pleno de amor, e desejo
Vivenda do coração, e festejada
Divina posição, na alegria selada
Que poeto com agrado e ensejo
Que emoção que no sentido vejo,
É está? Pois é sensação amada
Fazendo da ternura sua morada
Ornando a simpatia com cortejo
Feliz, assim, de haver-te ao lado
Da admiração, imaculada e clara
Invade a todo tempo a leda cara
Ah! severo fado, dá-me o abraço
E ao sentimento tão apaixonado
O amor. Paixão, apressa o passo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
25 maio de 2024, 17’38” – Araguari, MG
PROCLAMAÇÃO
Vai, soneto atento, vai, poesia alada
verso de desejo, afetuoso e desperto
vai, que tu mesmo, num tom referto
há de difundir está alma apaixonada
Cumpre o pacto da atração sagrada
anunciando o poético compasso certo
criando rimas de sentimento coberto
dando ao cântico cadência iluminada
Diz-lhe que, velado de paixão, existo
um intenso ardor, pleno de sensação
deixando intenso sentimento previsto
Ó soneto, se o afiançar desta paixão
vive, e no significar se possa ter visto
então, proclame o amor em comunhão.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30 julho 2024, 16’09” – Araguari, MG
VERSAR NA MEDIDA
Quando, com ardor, o amor fulgura
no verso tal a uma chama do desejo
que instiga, e se doando em cortejo
versejo a poética com terna doçura
Quando, a cada verso a emoção vejo
no sublimar há um misto de ternura
colocando o rimar em plena loucura
aí, sublinho mais, cada sedutor beijo
quando, enternecido, nesta sensação
num delírio de sentimento e esmero
assim, na prosa a paixão fica querida
e, se crio uma frase enamorada, então,
o soneto se faz em um amante sincero
e a poesia poetiza o versar na medida.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/10/2024, 18’50” – Araguari, MG
GULA
Sim, mais! Mais ainda! E ainda mais!
Quando o coração sente o tal desejo
Um olhar que queima, os toques tais
E aquele arfado suspiro, doce ensejo
Nunca as sensações nos são iguais
Porque o olhar do amor tem lampejo
Fazendo do sentimento ali seu cais
Sim, mais! Mais ainda! Ainda o beijo!
Ah! O beijo! ... que nos deixa talante
Querendo muito, ter terna felicidade
Cheio de sede, gosto que consome
Fosse, assim, toda a sorte, amante
Não há emoção que baste à vontade
Nem satisfação que chegue à fome!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05/01/2024, 12'33" – Araguari, MG
TOCAIA (soneto)
Dói-me esta constante tal espera
do que já não mais tem donde vir
que o desejo insiste em querer ir
aguardando na ravina da quimera
Doí-me uma dor insana, há existir
a cada alvorecer duma primavera
da ausência, da saudade, sem era
e do que não se tem, e quer pedir
Dói! O tempo a passar, eu quisera
poder nele estar e ali então devir
chorar, alegrar... ah! se eu pudera!
Como eu não sei como conseguir
a tocaia no peito se torna megera
e a alma romântica se põe a fingir
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, 15 de julho
Cerrado goiano