Textos de Anjos

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Sabe para onde vão as palavras não ditas?
Para onde vai o que que fazer e não faz?
Para onde vai o que que dizer e não diz?
Para onde vai o que não te permitir sentir?
Gostaríamos de que o que nao dizemos caia no esquecimento, mas não digo que estávamos no corpo, enche nossa alma de chora silenciosos. O que não dizemos se transforma em insônia, em dor de garganta. O que não dizemos se transforma nostalgia na hora errada. O que não dizemos se transforma em dívida, devido, enquanto se aguarda. As palavras que não se dizem se transforma em a insatisfação, em tristeza, em frustração. O que não dizemos não morre, nos mata. O que não dizemos se transforma um trauma, um veneno que mata a alma. O que não dizemos te predê no passado. O que não dizemos se transforma ferida aberta.

Sentado no velho sofá da sala,
ou na velha cadeira Tramontina,
ou mesmo deitado no chão,
pra começar mais umas partidas.

As vezes em pé de frente a tela,
mudando de lado o tempo todo,
frente, trás, cima e baixo,
quando passam na frente dela.

Em casa poucos conhecem,
o termo ''jogando partida online'',
e pra avisar, colei na porta,
que nas ranqueadas não se pausa.

As visitas já sabem as regras,
será o P2 e sentará a direita,
e se deixar cair o controle?
Ficar sem jogar uma tarde inteira.

Escolhe aí o teu personagem,
o esquadrão ou time mais forte,
Aviso que não quero choro!
Dizendo que o botão travou ou
que foi jogada de sorte.

Nem venha com videos de youtube,
procurando glitchs ou trapaças,
seja um gamer raiz,
e termine o jogo na raça.

Seja Hater, Hacker ou
Lags que eu vá enfrentar,
só digo ''tenho paciência''
e uma hora eu vou ganhar.

E a cada You lose ou Game over,
que a vida me dá,
dou start mais uma vez,
e de novo vou jogar.

Jogar não é só uma opção ou
um entretenimento qualquer,
é amor, paixão, é estilo de vida,
é a sua rotina mais feliz,
acompanhada da tecnologia.

E assim vai terminando essa poesia,
meu tempo vai terminar agora,
o cara da locadora vêm vindo,
pra perguntar...

''você vai querer mais uma hora?''

A verdadeira natureza do amor

Como é o amor?
O amor é complicado, é caprichoso, é cruel, é egoísta? O amor é injusto? O amor é possessivo e ciumento? O amor é angústia todos os dias? É um desencontro permanente? O amor é traiçoeiro?
O amor dói? O amor desilusiona? O amor é solidão? O amor vai e vem?

Qual é a verdadeira natureza do amor?

Todos nos preocupamos que nos amem. Fazemos qualquer coisa para que nos amem. Mas, é mais importante ser amado ou amar? O que ama não será mais feliz do que aquele que só quer que o amem?
Se algo dá errado, aquele que ama não se importa, vai contra vento e maré, custe o que custar, o que ele quer é amar.

Quando alguém ama, o outro é mais importante do que ele mesmo. Quando amas, fazes qualquer sacrifício pelo outro, e nada te faz mais feliz do que ver ao outro feliz e nada te faz mais triste do que ver ao outro triste.
Quando amas, amas até o ponto de renunciar a teu amor, por teu amor. E quem de nós faria algo assim? Não, porque nada nos basta, queremos que os outros renunciem a tudo, que se sacrifiquem, que sejam heróis para nós, e se isso não é assim significa que não nos amam? Se dão conta? Nada nos basta.

Porque aquele que ama, ama. Ama aquilo que gosta, aquilo que não gosta, aquilo que nunca vai gostar. O que ama não é como aquele que sempre está aí procurando cabelo em ovo, uma falha para dizer: "Ta vendo, não me amas tanto quanto me falas, não me amas como mereço, não me amas até o infinito."

O amor é entregar-se, é que o outro seja mais importante que você.

Você não encontra o amor, o é que amor te encontra, e quando te encontra, te arrasa, te dá voltas, te tira o ar, e o único que te importa é amar, amar de frente, sem razões, sem especulações, amar e só amar porque essa é a verdadeira natureza do amor.

Os grandes momentos da vida são cheias de dúvidas.
Grandes encontros da vida são cheias de dúvidas.
Quando o grande momento chega, você acha que tem respondido a todas as perguntas, acha que você está pronto. Por esta altura, você acha que tem as respostas e reage. Mas há sempre novas perguntas.


O quê, como, quando, onde e porquê. Isso é o que sempre perguntamos.
Será que isso importa onde estamos?
Existe uma razão para fazer o que fazemos?
Pausa ao vivo com perguntas. Para onde vamos?
Qual o caminho?
Que sentido faz isso?
Estamos cheios de perguntas. E se não chego?
E se eu encontrar você?
E se eu perder?



O quê? Como? Quando? Onde? Por quê?


Todas as perguntas têm a mesma resposta. O que é isso? Uma viagem.
Como eu cheguei aqui? Viajando.
Quando? Durante a viagem.
Onde eu estou? Na viagem.
Por quê? Para a viagem.
De volta a casa, a lua, o centro da terra ou dentro de si mesmo. Tudo é uma grande jornada, que nós sabemos onde começamos, mas não onde chegamos.
E isso... é o mais divertido da viagem.

"Olhe o dia amanhecendo e você vai sentir que,
em quase tudo, há anjos tecendo o alvorecer.
Uns são raios de sol que vêm descendo,
para iluminar o que de bom a gente sonha fazer.
Outros são canções suaves que quando em silencio,
a gente ouve em toda fonte que jorra,
em cada onda que bate,
em cada sopro de vento,
em cada silvo selvagem,
em cada bicho que corre,
em cada flor ao nascer.
Eles são fontes de energia e proteção,
presentes em seus planos, desejos, vontades,
em tudo o que o amanhecer inspira.
Só que é preciso fechar os olhos para ver,
e ouvir o coração dizendo que a gente é como gota d"água,
nesse mar imenso do universo,
com o poder infinito de transformar
o que é invisível em cores do arco-íris.
Acredite.
Cada manhã dá luz a um novo dia,
mas é você quem faz nascer a alegria...
Você é minha alegria

Anjos do Céu

As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz...
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d'escuma revolvem-se nus!
E quando de noite vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear,
E a trança luzente da nuvem flutua,
As ondas são anjos que dormem no mar!
Que dormem, que sonham- e o vento dos céus
Vem tépido à noite nos seios beijar!
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar:
São beijos que queimam... e as noites deliram,
E os pobres anjinhos estão a chorar!
Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar,
Por que não consentes, num beijo de amor
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?

Mulheres

Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto sentido.
Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?

E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia hora de voo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...

O sexto sentido não faz sentido!

É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!

E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?

E, não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...

Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam?

Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...

É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos?

Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?

Elas conhecem todos...

Parece que frequentam escolas diferentes das que frequentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.

EN-FEI-TI-ÇAM !

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.

O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.

Desconhecido

Nota: Texto de autoria desconhecida, muitas vezes atribuída a Luis Fernando Verissimo.

Eterna mágoa

O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!

Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.

Sabe que sofre, mas o que não sabe
E que essa mágoa infinda assim não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda

Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!

Ceticismo

Desci um dia ao tenebroso abismo,
Onde a Dúvida ergueu altar profano;
Cansado de lutar no mundo insano,
Fraco que sou, volvi ao ceticismo.

Da Igreja - A Grande Mãe - o exorcismo
Terrível me feriu, e então sereno,
De joelhos aos pés do Nazareno
Baixo rezei, em fundo misticismo:

- Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa!
Se esta dúvida cruel que me magoa
Me torna ínfimo, desgraçado réu.

Ah, entre o medo que o meu Ser aterra,
Não sei se viva pra morrer na terra,
Não sei morra pra viver no Céu.

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

A obsessão do sangue

Acordou, vendo sangue... Horrível! O osso
Frontal em fogo... Ia talvez morrer,
Disse. Olhou-se no espelho. Era tão moço,
Ah! Certamente não podia ser!

Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer
Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!

No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão...

E amou, com um berro bárbaro de gozo,
O monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Primavera

Primavera gentil dos meus amores,
- Arca cerúlea de ilusões etéreas,
Chova-te o Céu cintilações sidéreas
E a terra chova no teu seio flores!

Esplende, Primavera, os teus fulgores,
Na auréola azul, dos dias teus risonhos,
Tu que sorveste o fel das minhas dores
E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!

Cedo virá, porém, o triste outono,
Os dias voltarão a ser tristonhos
E tu hás de dormir o eterno sono,

Num sepulcro de rosas e de flores,
Arca sagrada de cerúleos sonhos,
Primavera gentil dos meus amores!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

QUE SE DANE O MUNDO!!

Estou cansada de tanto perfeccionismo, tantas regras e convecções. Estou farta de gente, coisas, e tudo o que os compõe!
Estou de costas viradas para o mundo, ando com a cabeça na lua e o pensamento nas estrelas, Quero me cegar!!!!
Nao quero ver ninguém, não quero ouvir apenas gritar, quero ralhar e enxotar tudo que se aproxime!!!
Estou farta de leis, regras tudo que se vire para me dar ordens, eu quero mais acção, mais liberdade e até libertinagem...
Sim, porque não sair nua pelas ruas, as cambalhotas, brincar na chuva e dar piruetas ao sabor do vento?
Estou louca, varrida e indignada... quero sair, levar a minha bagagem e me mudar para marte, melhor quero que todo mundo se mude para marte ou sei la... quero que o mundo se dane, se exploda... não me interessa!!!
Não quero ver quem me acorrenta, nem os acorrentados estou a me danar para tudo isso. Pelo simples facto de eu não aturar a hipocresia que cobre o mundo, o nosso efeito estufa não é apenas o que está a acontecer na camada de ozono, mas o que acontece na sociedade que me encontro, todos usamos o véu da vergonha para cobrir nossas trapalhadas. Então, se assim é , porque não sair por aí pelada e dar a louca assumidamente se ja o fazemos em outros termos? Não quero que me critiquem, porque ruínas são ruínas não importa onde, não importa se queimou no incendio ou desabou com o vento, não deixam de ser ruínas. Então, não quero que as ruínas de pessoas me critiquem pela ruína que quero ser.
Sim, estou brigada como o mundo, e não estou a dar o primeiro passo para os acordos de paz, não estou a declarar guerra, não preciso fazer isso, estou apenas a cortar relações. Não sei como se corta relações com a casa que tu amas, mas estou mesmo a fazer isso!!! Quero que o mundo se dane até eu me danar com ele!

Vozes de um túmulo

Morri! E a Terra — a mãe comum — o brilho
Destes meus olhos apagou!... Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Serviu as carnes do seu próprio filho!

Por que para este cemitério vim?!
Por quê?! Antes da vida o angusto trilho
Palmilhasse, do que este que palmilho
E que me assombra, porque não tem fim!

No ardor do sonho que o fronema exalta
Construí de orgulho ênea pirâmide alta,
Hoje, porém, que se desmoronou

A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje que apenas sou matéria e entulho
Tenho consciência de que nada sou!

Sonetos

I

A meu pai doente

Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

Que coisa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!

— Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

SAUDADES DE NADA
Tenho muitas saudades, imensas
Tantas que ninguem pode imaginar...
Vivo assim submersa em pensamentos longiquos
Penso em nada, nesse nada que e a minha vida
Entao sinto saudades do nada que era a minha vida
Um nada diferente desse que vivo hoje
Era um nada de dar saudades,
Entao eu sinto saudades dos amigos que nao tive
Dos amores que nunca vivi, lembranca que nao cultivo
Tenho saudades, muitas saudades
De nunca ter vivido...nem sequer sonhado
E me pergunto de onde vem tantas saudades assim
Francamente, nao sei
Mas a verdade e que vivo assim
Sempre com saudades de nada.

Versos a um coveiro

Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números
A tua conta não acaba mais!

Último credo

Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro este ladrão comum
Que arrasta a gente para o cemitério!

É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um,
Que matou Cristo e que matou Tibério.

Creio como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolue...

Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular que eu ontem fui!

Vox Victimae

Morto! Consciência quieta haja o assassino
Que me acabou, dando-me ao corpo vão
Esta volúpia de ficar no chão
Fruindo na tabidez sabor divino!

Espiando o meu cadáver ressupino,
No mar da humana proliferação,
Outras cabeças aparecerão
Para compartilhar do meu destino!

Na festa genetlíaca do Nada,
Abraço-me com a terra atormentada
Em contubérnio convulsionador ...

E ai! Como é boa esta volúpia obscura
Que une os ossos cansados da criatura
Ao corpo ubiqüitário do Criador!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Última Visio

Quando o homem resgatado da cegueira
Vir Deus num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante
A mineralogia derradeira!

A impérvia escuridão obnubilante
Há de cessar! Em sua glória inteira
Deus resplandecerá dentro da poeira
Como um gasofiláceo de diamante!

Nessa última visão já subterrânea,
Um movimento universal de insânia
Arrancará da insciência o homem precito...

A Verdade virá das pedras mortas
E o homem compreenderá todas as portas
Que ele ainda tem de abrir para o Infinito!

Vítima do dualismo

Ser miserável dentre os miseráveis
— Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psiquê biforme, o Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

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