Sonetos I A meu pai doente Para onde... Augusto dos Anjos

Sonetos I A meu pai doente Para onde fores, Pai, para onde fores, Irei também, trilhando as mesmas ruas... Tu, para amenizar as dores tuas, Eu, para amenizar as... Frase de Augusto dos Anjos.

Sonetos

I

A meu pai doente

Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

Que coisa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!

— Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!

Augusto dos Anjos ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.