Texto sobre eu Amo meu Irmao
Ave Maria
Quando a noite vem e, cerra o dia
como se trincasse entre os dentes
eu, desfolho em reza a Ave Maria
na fé dos preceitos transparentes
Onde se tem somente primaveras
a fleuma do entardece, poentes
e a elevação de todas as esperas...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
Alforria
Seria bom, eu queria
Ter uma afeição tua
Uma palavra à revelia
Nada ouço ou vejo na rua
Noturnal, duma noite vazia
Só a lua solitária, fria e nua
me fazendo companhia...
Mas a saudade é sua
ou é minha?
Não importa a quem valeria
se a vida é torta
e reta é a sabedoria
do tempo. Se viva ou morta
a prosa da poesia.
O que voga é o que o amor reporta
aí sim, a paixão tem harmonia
e a permissão, na solidão, exporta...
Alforria!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO NA CHUVA
Quantas vezes, pés descalços, enxurrada
A minha infância, na inocência eu brinquei
Águas em versos, chuva molhada, sopeei:
Quantas vezes eu naveguei na sua toada?
Na narração me perdi, no tempo maloquei
As lembranças ali no passado deixada
De memórias fartas, meninice, criançada
Aqui no peito guardada, e nelas estarei...
Céu cinza do cerrado, nuvem carregada
Deixa chover, pois só assim eu alegrarei
Da varia recordação da pluvial derivada
Pingo a pingo, trovoada, no outrora voltei
Água na cara, cachoando na alma calada
De saudades, neste soneto na chuva, falei!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Dezembro, 2016
Cerrado goiano
Linha
Eu poeto de mim, daqui
nesta câmera surreal
por este fio vocês dai
numa transmissão corporal
por esta linha dual, agruras
em diversas camadas
solidão sem gravuras
felicidades sem risadas
assim, nesta comunicação
de passa e repassa, a voz
camuflada de significação
em versos mansos ou feroz
que se imprime da emoção
num linguajar em cadência
lembranças e boa paixão
na alma em total evidência
em cada trova um avesso
do reverso do meu daqui
cada verso o meu confesso
para vocês daí...
Instantâneos do meu poeta imerso...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SORTE (soneto)
Na minha má sorte, a boa é pendente
Eu nunca inferi por que. Não entendia
Nos prados do fado estava ausente
Indaguei a vida por que era. Não sabia
Na quimera do meu dia, fui inocente
De uma tal timidez íntima e correntia
Que o passar do tempo foi em frente
E as venturas pouco tiveram cortesia
E assim, o sonho se fez bem distante
O vario momento me foi um instante
E por eles pouco soube dessuar valor
Sinto, sem, no entanto, ser dissonante
Que se fiquei ou se eu passei avante
O importante é que fui e serei amor...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
SONETO DO AMOR QUERIDO
Ah! Amor! Eu estou por aqui
Podes até ter passado por mim
Se tive de olhos fechados, enfim,
Sem tê-lo é tão ruim, fico por aí
E se são tantos no pouco assim
Não se esqueça que a ti persegui
No coração, quer seja acolá ou ali
Pra então, ornar-te no meu jardim
Quero me dar na emoção só pra ti
Com servilismo e, um doce carmim
De afeto, que do querer eu te pedi
Repousar nas tuas carícias de cetim
E ter a certeza de que nunca desisti
Tu amor querido, és sentido no meu fim...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
CÉLERE (soneto)
E lá se vai o tempo, portentoso
Onde não vai a lentidão do fado
E de longe, eu distante, saudoso
Envio suspiros daqui do cerrado
Para os teus anos, eu já anoso
A pressa não é, certo ou errado
É tão a sorte no estado zeloso
Rio a baixo no leito apropriado
E, então, pelo espaço untuoso
Desliza cada sonho ali alado
Dando a vida agrado piedoso
Assim, os amores, encantado
Flores dadas, gesto impetuoso
Matizam o gozo ao ser amado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
Ausência
Hoje eu permitirei que a saudade morra em mim
Os teus olhos, agridoce, me engulam de solidão
Porque nada te poderei dar, senão, está dor sem fim
Exausto me vejo na janela, e o quarto na escuridão
Ao fundo, uma melodia ao som de bandolim
Assim, me sinto na tua lembrança e tu na minha emoção
Não te quero ter por apenas te ter, quero ir além
Porém, cada gesto, palavras, suspiros, a alma em convulsão
Então, não diz nada porque o teu silêncio me convém
Os teus abraços em outros braços enlaçaram
Sinto que estas distante e sem uma tal essência
Eu deixarei... tu irás, e as madrugadas companhias serão
E assim, eu serei e você será... ausência!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2018
Cerrado goiano
COMPOSTO DE AMOR (soneto)
No eu também, o que em mim vistes
Avultando o encanto, dando portento
Ao próprio feitiço, elogios e fomento
Deveras díspar das que outrora ouvistes
És amor, sem dúvida, paixão. Portanto
Pense nos desencontros que sentistes
Tão secos, ásperos e de causas tristes
Que por mim, eu me derramo em pranto
Amador, me aflige, e é tão medo tanto
Que a dor inventa, tenta, o que não existe
Em tempo algum, pesar sem algum canto
Aí, em lugar de acalmar, a aflição insiste
Não desiste, é dos loucos, sem espanto
Dos amantes, assim, o tal amor consiste
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
15 de agosto de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
REQUIESCAT IN PACE (soneto)
O amor é apenas uma negativa
Se eu um dia com ele já fui teu
Omitamos está outra alternativa
Pois, desta, o nosso já morreu
Ah! Porque alegação subjetiva
Nada mais em mim sobreviveu
Se hoje o senso está à deriva
Não és meu bem nem eu o teu
Não diz nada, se ali amamos
Nossas almas estão separadas
Não lembres mais, esqueçamos!
Deixemo-lo ir repousar em paz
As lembranças estão enterradas
E no coração, hoje, é tanto faz! ...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MANDRIÃO
E, já de dia, a manhã então me pedia
Que do leito preguiçoso eu acordasse
Eu, com o corpo tardo, morboso, dizia:
Não pode! não vês que a alvorada nasce?
O dia ainda, nuvioso, e sem luz a porta
A alma dos sonhos roga que não afastasse
Há! Como pode ser assim: tão fria, morta?
Mais um pouquinho só, neste sono sagrado
Que diria a preguiça, dirá que não importa?
Não, ela me vê, exausto, torpe, cansado
E todo pelo agasalho dos lençóis macios
Confortavelmente assim perfumado...
O sono, madrugada, corta com este frio
Espera! Até que está preguiça desapareça
Aconchegue-se comigo, ele está vazio
Sobre os travesseiros deixa-me a cabeça
Adormecido, como a pouco embalava
Espera, só um pouquinho, por que a pressa?
E ela me contagiava, mandrião. E eu ficava
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16/07/2019, 05’55”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
pra um amigo paulistano
garimpo
entre cascalhos pouca a suavidade
passei pela idade e por ela os sonetos
eu os explorei os coloridos e os pretos
fados, todos de amor, e de verdade
e pelas gavetas sonhos ali secretos
cada qual nas prateleiras, dificuldade
suspiros, cometas, e tal multiplicidade
eu só queria estrelas, e sólidos tetos
o meu poetar é engatilhado, infinidade
e nesta esgrima, rima, ares inquietos
e os meus paradeiros, olhares eretos
das fissuras dos desvalidos, a metade
vasculho os sentimentos e quem diria
dos devaneios, garimpei a ousadia...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
22/09/2019
Guaianases, São Paulo, SP
Outra Vez
Outra vez, eu tive que me ausentar
Os sonhos foram levados ao vento
E agora não adianta mais chorar
Os pensamentos estão ao relento
Se buscar bem no fundo do meu olhar
Verás gotas de desalento e sofrimento
São estações que continuam a passar
E eu um passageiro neste seguimento
Outra vez, eu tive que me calar
Neste silêncio de isolamento
Ali pode minha alma poetar
E a poesia me trazer total alento
Mas talvez ninguém possa entender
O que para muitos é pouco fundamento
Quando se ama para valer, faz viver
E só vive quem tem amor no sentimento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
fevereiro de 2016 – Cerrado goiano
De amor
Eu não tinha nada, ao vir para este mundo
Busquei em cada olhar um abrigo, um amigo
E nesta leitura me fiz mais profundo
No meu eu. Me vi rico, me vi mendigo
Cada tempo, cada minuto, cada segundo
Caminhei junto ou separado, calei e pude falar
Assim o corpo se tornou fecundo
E aprendi como é bom amar
Que na alma só ele vai fundo
E ao partir, nada terei, só o amor pra levar...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
fevereiro de 2016 – Cerrado goiano
Saudade, palavra agridoce da dor
Oh Saudade! Eu tentei tanto
Esconder de ti na melancolia
E ainda te revelas no meu pranto
E na angústia de minha poesia
É de um alguém, um lugar
Se afirmar, estarei a mentir
Se minto é pra me preservar
Se tu vens, rendo-te no sentir
Se povoada está a minha nostalgia
Nas palavras gosto de amarga aflição
Frouxo estão os ponteiros da fantasia
Que ritmam os temperos do coração
É vazio cheio sem que se possa ver
Solidão da alma no pleno amor
Grito na escuridão sem comover
Saudade, palavra agridoce da dor...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
04/05/2011, 01’33” – Rio de Janeiro, RJ
SONETO DA ALMA GÊMEA
Nós num só eu, na presença dividida
Por duas existências, as duas numa
Que do plural ao singular, se resuma
Numa só pessoa, conjugando a vida
Eu e tu, tu e eu, somos nós, em suma
Dois num, juntos, numa quimera repartida
Somando essência, na afeição nascida
Evolucionando, e que o amor assuma
Num duplo coração, em uma una batida
De fidelidade ímpar, sem ilusão alguma
Acendendo chama diversa e desmedida
E neste amor onipotente, não haja bruma
E se houver, que a batalha seja vencida
Num amor de alma gêmea, ao amor ruma
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Junho de 2016 – Cerrado goiano
FELIZ NATAL! Canto de um Sertanejo
Também eu, do cerrado, se o consentes
Quero louvardes em corpo e alma, ao chão
Vergar os joelhos em exaltação, clementes!
Ante o presépio do Menino Jesus, em oração...
Quero cantar, humilde canto ao infante menino
E também a ti, ó Virgem Maria, mãe da salvação
Na noite de Natal, de tão grande e celeste brilho
Encenando o amor, a fé, doadas ao coração...
Então, neste ato de confraternização, eu filho
De pecadores lábios, perdão, e assim cantarão
Tua glória a todo o sempre, que a nós provém
De Ti. Fonte primeira de todo o amor, gratidão:
Feliz Natal! União... Paz e Bem!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Dezembro, 2019 - Cerrado goiano
campo santo
lá tudo é saudade, as lembranças se cobrem de linho
o eu, fica pequenininho, e a tristeza de olhos d’água
lá tudo é manso, o silêncio se faz de flores e espinho
num coração em pranto e em mágoa...
os sinos os serafins bimbalham, tal prece que galgam
os céus!
lá tudo é suspiro, tão alvos... lá as almas resfolgam!
e de lá somos réus...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
paráfrase Vinícios de Moraes
OUTRO CARNAVAL
Longe do agitado turbilhão da rua
Eu, num oco silêncio e aconchego
Do quarto, relembro, num sossego
Os carnavais com a folia toda nua
Mas a saudade palia de desapego
De desdém, mas numa trama sua
De tal modo que a solidão construa
Lembranças, e assim eu fique cego
Teima, lima, este fantasiado suplício
Dum folião, com o seu efeito de ter
Que no tempo não tenho mais início
Porque a disposição, gêmea do querer
A alegria pura, tão inimiga do artificio
Agora é serenidade e fleuma no viver...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 de fevereiro de 2020, Cerrado goiano
Olavobilaquiando
motivo
eu alegro porque ainda existo
em uma trova incompleta
se na felicidade insisto
porque sou poeta!
sensato ou tolo nas poesias
deixo-me nas asas do vento
gozo e tormento, nos dias:
assim, sou instrumento...
se nas estrofes tenho cansaço
noutras total inspiração
que são mais que um pedaço:
de emoção, rimo com o coração
hoje o dia universal
de agradecimento, comemoração
que seja de amor total
Feliz Aniversário, então!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
paráfrase Cecilia Meireles
Você já teve aquela sensação de “era isso que eu precisava ouvir hoje”?
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