Texto Pai do Mario Quintana
SONETO DO VERBO POETAR
Da oração inspiração o verbo poetar
conjuga-se com amor, dor, ínclito
uma flexão enunciada do espírito
um evocar eclodindo de um versar
Vem primeiro o dito pelo não dito
pra no manuscrito ter ato de criar
o invisível em tangível no lapidar
e o sendo se ordenando em rito
Nesta norma gramatical vem amar
numa proposição avessa, um delito
também enumerado, sofrer, chorar
E assim, na conjugação do inédito
une-se sentimento e muito idear...
O verbo poetar vai além do infinito
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO SOLITÁRIO
Ó tu, que pelo fado, onde te encontrar?
pode se achegar, estou aqui sozinho
por aqui vais deparar com meu carinho
e no não ter amado, serás tu o meu amar?
O cerrado da solidão me fez um ninho
seus tortos galhos, cenário pra eu chorar
tuas folhas secas papel para eu poetar:
o silêncio, as agruras, a dor e o desalinho
Segredados a lua em tristes noites de luar
largando o meu árido peito num pelourinho
ali só, nu, macambúzio até o último sangrar
E se você chegar, já tenho a taça de vinho
pra brindarmos, e a ti vou então declamar
meus versos que pra te fiz no meu caminho
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
11/06/2016, 06'22"
Cerrado goiano
SONETO DE UM AMOR EXCÊNTRICO
Estranho amor este que hoje eu sinto
a saudade incorporou a coisa amada
acorda comigo depois de ser sonhada
e de mãos dadas paira pelo ressinto
E quando lembro, a alma fica apertada
o coração acelera triste num instinto
que não sossega nada o que pressinto
e as tais lembranças põe-se na risada
Carrasco este amor meu, já extinto
me lança aos desejos sem morada
me fere com o passado tão faminto
E numa paixão delirante de um nada
me faz poetar pra este amor destinto
num acorde de excêntrica doce toada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de junho, 2016
Cerrado goiano
LAMENTOS NO CERRADO (soneto)
Só, me encontro no cerrado cinzento
e acumulo agruras bem guardadas
das utopias na aridez desmaiadas
dos sonhos perdidos além do tempo
Tal qual pequizeiro de flores delicadas
que brotam no sequioso pasto sedento
meu temor e saudade faz de rebento
como as floradas nas secas galhadas
Quanto vil doloroso gemido em mim
assim como folhas secas num jardim
no seu fado, voam ao vento turbulento
Eu aqui, descrente no cerrado, vivo assim,
poetando lamentos tão irreverentes, enfim,
o fato é que a vida é feita de revoadas...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
12/06/2016, 06'06"
Cerrado goiano
SONETO SINGULAR
Não te amo desalinhado como se é o cerrado
tal folhas emurchecidas libertas na sequidão
te amo como o árido clama água, na exaustão
sequiosamente, entre o limite e o estar saciado
O meu amor por ti, está além de ser paixão
dentro de si, é a força do entardecer rubrado
do sertão, se pondo no horizonte enamorado
dando aroma a memória, e fogo na imaginação
Te amo como o vento pelo torto galhado
livre assovia nas forquilhas uma canção
te amo por te amar, pois é de meu agrado
Se não fosse assim, não teria outra forma não
pois, pra te faço este sulcado soneto versado
tão para ti, se tocá-lo, sentirás a vazão da emoção
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
Haver
Gestos que a vida fez
o ouvido não quis ouvir
replicou mais de uma vez
e o olhar não pôs a sentir...
Falar, é fácil de dizer
crer, é que é difícil
a palavra tem poder
e entender, ofício...
Não se deixe dissuadir
a quem não diz tudo
mais vale muito sorrir
que um coração mudo...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
TORMENTO NO SONETO
O fado, comigo, não teve deleite
Tem um gosto agridoce meu dia
Devoluto, e sem lisonja fugidia
Na ventura me sinto um enjeite
Lembranças, só são de nostalgia
Um poetar desnudo, sem enfeite
Inspiração desmaiada como leite
E a lágrima de tão pouca alegria
As doces palavras sem onde deite
O ânimo com nuance sem ousadia
O coração desprezado, quem aceite
E mesmo, num tal tormento, quereria
Um olhar de afogo, sorriso que afeite
Onde minha sorte, pudesse ter alforria
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO NO CREPÚSCULO
Morre o dia. Aqui no cerrado goiano
Dizemos-nos adeus silenciosamente
À meia luz do entardecer confidente
O sol no horizonte desfalece profano
Em um purpureado lôbrego poente
O céu é degustado pelo breu ufano
Num longo abraço de um cotidiano
Do sol e a terra num valsar ardente
Da vidraça, o crepúsculo soberano
Invade o quarto numa luz pendente
Vindo do luar voluptuoso e fontano
E, como uma orquestração silente
A noite se prostra num olhar arcano
Embalando o dia misteriosamente...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, novembro
Cerrado goiano
QUASE POESIA (soneto)
Poesias, que já inspiraram, amarrotadas
por mãos, também, que as aprimoram
as suaves e tristes, também as amadas
as dos beijos suspirosos, que já se foram
Umas indesejadas, outras atormentadas
dos sonhos fanadas, no coração moram
tem as dos emaranhados destrançadas
e as que as centelhas da criação imploram
Umas que morrem na alma silenciosas
outras cheias de viços e bem amorosas
as desventuradas, primeiras, derradeiras
Aí! Quem melhor que vós, oh primorosas
para coroar-me, poeta, e ter-te gloriosas
evocando, quase poesia, por belas prosas?
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, 17 de novembro
Cerrado goiano
SONETO COM CHARME
Moço, se no tempo, velho eu não fosse
Onde a dor da saudade a apoderar-me
As recordações a virarem um tal carme
E a lentidão em mim se tornarem posse
Ah! Aquelas vontades já me são adarme
O que outrora me era tão suave e doce
Num gosto acre o meu olhar tornou-se
O espelho, um revérbero, a desolar-me
O meu espírito a tudo acha tão precoce
Já o corpo, cansado, soa em um alarme
Na indagação a juventude que o endosse
Da utopia ao caos dum tão triste arme
Envelhecer, como se não fosse atroce
Então, vetusto, tenhas arrojo e charme!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, 18 de novembro
Cerrado goiano
Papel e Tinta
Laivei o meu pincel
no cinza do cascalhado
no entardecer fogueado
no chão ressecado
no desbotado areado...
Laivei o meu pincel
na luz do horizonte
na sombra atrás do monte
no suor da fronte...
E no branco do papel
vão aparecendo inquinações:
de folhas secas, chão árido
amarelados ipês, buritis, ar cálido
pequis, céu divino e estrelado
num desenho do cerrado...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2016
Cerrado goiano
Ave Maria
Quando a noite vem e, cerra o dia
como se trincasse entre os dentes
eu, desfolho em reza a Ave Maria
na fé dos preceitos transparentes
Onde se tem somente primaveras
a fleuma do entardece, poentes
e a elevação de todas as esperas...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO NAS ONDAS DO MAR
De todos os cantos, o encanto é pro mar
É atração mais forte, encontro profundo
Do vento, praia, do sol, de modo singular
Onde minh'alma se une ao querer rotundo
O cheiro da maresia me leva num segundo
Me tira lá do fundo da saudade a apertar
Poeto com afeto, donde o verso é oriundo
Me rapta nas ondas e, que me faz sonhar
A arrebentação é meditação a contemplar
Onde a lua nua torna estórias pra contar
E nas tuas areias eu me enfarinho jucundo
Neste amor, um amor robusto, de amar
Onde no teu horizonte muito fui segredar
És querido de todos as quinas do mundo (o mar) ...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
DOMINGO CHUVOSO NO CERRADO (soneto)
Cerrado, as nuvens se encolheram
O céu abriu-se em gotas molhadas
A voz do vento dando gargalhadas
E as trovoadas o silêncio corroeram
Devagar veio o cheiro em pancadas
As folhas secas lânguidas desceram
Ao chão, encharcado e, obedeceram
Silenciosamente as suas chamadas
Uma a uma, gota a gota, vieram
Mansamente forrar as esplanadas
Cumprindo o fado que advieram
Aí, a relva e as árvores prostradas
Usufruindo, agradecimento fizeram
As chuvas no cerrado, tão clamadas
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Domingo, 27/11/2016
Cerrado goiano
RETROSPECTIVA (soneto)
A vida na vinda e ida tem multidões
Não percebi todo o vento a suspirar
Tão pouco todas as cantigas de ninar
Foram cantadas nas minhas emoções
Tive chances no partir e no chegar
Os medos os pus nas contradições
No tempo rompi todas as estações
E nem todas as flores eu pude amar
O trem teve distinto as suas estações
O doce da quimera o seu mel a melar
E o tanto de carinho as suas aluviões
Na curva da esquina, solidão pude visar
Nos prazeres os feitos e as proibições
Porém, primaveras, também, vi florar...
(Nesta retrospectiva particular) ...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
29/11/2016, 10'00"
Cerrado goiano
SONETO TRISTE
Hoje acordei com meu verso triste
Escorrendo pelo papel só inclinação
Cabisbaixa a inspiração e, pelo chão
Querendo lira na sorte que não existe
Pois, cada cisma, na cisma consiste
E o prazenteiro é em vão, e assim são:
Desferrolha fagulhas infeliz do coração
Petrechando a consternação em riste
As minhas angústias querem expansão
Minha dor, está ali sozinha, é imensidão
Tão calada, não entenderão o que sente
Aí quem me dera, não a ter! Pois então?
A tenho!... E pouco cabe na solidão...
Quando caberia aqui: - verso contente!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro, 2017, 05'55"
Cerrado goiano
SONETO DO AMOR QUERIDO
Ah! Amor! Eu estou por aqui
Podes até ter passado por mim
Se tive de olhos fechados, enfim,
Sem tê-lo é tão ruim, fico por aí
E se são tantos no pouco assim
Não se esqueça que a ti persegui
No coração, quer seja acolá ou ali
Pra então, ornar-te no meu jardim
Quero me dar na emoção só pra ti
Com servilismo e, um doce carmim
De afeto, que do querer eu te pedi
Repousar nas tuas carícias de cetim
E ter a certeza de que nunca desisti
Tu amor querido, és sentido no meu fim...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
SONETO DA DIFICULDADE
Multíplice é fazer um soneto
Sonoro, na rima por assim ser
Soltos na métrica dum fazer
Ensambladas em um sexteto
Não pensei que fosse nele crer
A imaginação num voo completo
Descrevendo o versejar secreto
Da trama do amor e a do sofrer
Difícil, almático e tão concreto
E da emoção expressa o viver
Em um teor de venusto repleto
Sempre em movimento, haver
Em um bale de senso e afeto
Árduo é idear ao te perceber
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
SONETO DO LAMENTO
Quando, o acaso na má sorte vem
O lamento soluça no tal sentimento
Que maldigo o fado sem entendimento
Das lágrimas do azar que consomem
Sou tal sofredor deste encoscoramento
Que invejo o estado de quem não tem
Da bonança e fortuna dos que vão além
Descontente é o meu porte sem portento
Se a amargura é algo que me convém
É, pois, de desprezo feito meu momento
Tal quem destinado à vida com desdém
E nesta lama, enlameado é o meu contento
Pois triste é lembrar que sorte não contém
Mas sereno, tenho a Deus como fomento
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
SONETO DO CORAÇÃO VAZIO
Frente aos olhos meus, o coração vazio
O cerrado num silêncio que me angustia
E os pensamentos em uma total heresia
Relatando abastado sentimento sombrio
Estacada emoção com dor em orgia
Sangra sofrência de sonhos sem brio
Das saudades que na alma dá arrepio
E na quimera traz perfídia com ironia
Assim neste saguão de solidão gentio
Chora e lamenta, o amor em agonia
Que aperta o peito num amargor frio
E carente de ilusão e pouca ideologia
Trilho em um querer de séptico luzidio
Ordenando agrura, e refreando o dia
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março, 2017 - 05'20"
Cerrado goiano
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