Texto Pai do Mario Quintana

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SOFRÊNCIA

Depois de você
A vida passou a saber
Como é vasta a imensidão
Da noite com solidão

Que horas são?
Que importância tem
Se minha saudade vai além...

Sem você, também,
Me perdi nos por quês
A angústia ficou à mercê
Depois de ter você
Felicidade é querer em vão
Pela rua migalha a emoção
Sem você!
Tudo é sofrência
Num coração de aparência!

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017

Inserida por LucianoSpagnol

ALVORECE DE NOVO NO CERRADO

Alvorece de novo o alvorecer no cerrado
Em cada manhã nasce um novo amanhecer
Num novo dia, outra vez de novo, a haver
De um renovo do velho pro novo, airado

E nesse amanhecer de um novo romper
Quero ser o novo, e do velho desanuviado
Dos gestos gastos deixá-los no passado
Desabrochando o ser prum novo querer

Assim, nesta festa do novo engrinaldado
Deste cada novo amanhecer... o reviver
Em botão, florescendo, amor engalanado

Então, quero crer, no novo, ao amanhecer
Metamorfoseando a vida no novo denodado
Onde amanhece o novo a nos surpreender

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Cálice

A vida não tem ponteiro
marcando as horas,
nem letreiro.

É tudo num improviso
o desfiar das auroras,
sem aviso.

Então, empunhe seu cálice
beba sem qualquer demora
(os amores, flores, as dores)
pois na hora, breve é a velhice

Luciano Spagnol
Junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Oxalá

Oxalá
Que a saudade assim despeça
Aqui belas bandas do Goiás
Que ela nunca mais me peça
Noites solitárias, choro, aliás
Que a harmonia ela não impeça

Oxalá
Que a dor no peito que faz sofrer
Vá junto nos seus braços embora
Leve consigo o aperto que tender
Já é chegada está tão tardia hora
E deixe somente o prazer florecer

Pois mais vale carinho e sobriedade
Inundando a alma de um doce prover
Do que amargar a danada da saudade
Evocando uma ausência no nosso viver

E assim, novamente,
presença na poesia ter...

Luciano Spagnol
Junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

A noturna

Sinto a solidão anoitecendo
O frio escorrendo pelo cerrado
O silêncio já se emurchecendo
E o olhar no caixilho debruçado
A lua então querendo se abrasar
Na aridez do chão cascalhado

É breu solitário e ressequido
Onde não há capa nem blusa
Para aquecer o espírito doído
E amparar a solidão reclusa...
É um vil rugido diluído no ar
É uma agrura na alma infusa

Não sei com que me agasalhar.

Luciano Spagnol
Início de julho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Para sempre

Prefiro o tempo dos poetas
O seu tempo é lento
Se cinzento põe asas de borboletas
Pra ao vento espalhar sentimento
Em qualquer tempo, qualquer seresta
És profeta do pensamento
Mago das palavras naquela ou nesta
Bordando dores, amores, intentos
E não contento: chora, ri, implora
No mesmo devaneio, na mesma fé
Está sempre chegando e indo embora
Mas seu tempo é para sempre...

Luciano Spagnol
Junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

L3

Há uma saudade em mim no cerrado
Ancorada nos barrancos ressequidos
São arrancos no peito em ronquidos
Num espectral sentimento entalado

Pelos prados os sonhos emurchecidos
Escorrem num agridoce poetar orvalhado
De recordação a soar anseio retalhado
Deixando na alma desejos desfalecidos

No amanhecer solitário acordo forçado
Em silenciosos suspiros enternecidos
Tal como um violino que não é tocado

Sinto-me com os devaneios perdidos
Sem asas, sem voo é um olhar atado
Há uma saudade em mim em alaridos

Luciano Spagnol
Junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Soneto idílico

Acordar, aguar o jardim, fingir um dia
e assim inicia a melancolia e o vazio
o sol a pino, cerrado e o sonho macio
das saudades num tempo em primazia

Sim! O tempo não é sentido, é ébrio
os amores ficaram, são sem analogia
trariam o meu peito, viraram euforia
nas lágrimas algozes do olhar esquio

Tudo é efêmero no triste e na alegria
árido o sentimento e cheio de arrepio
que importa se tem saída ou portaria

E neste movimento de soltura e exílio
a magia do por do sol torna cortesia
nas palavras que cantam o meu idílio

Luciano Spagnol
05 de julho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

L4

Como no cerrado de folhas enrugadas
Também o fado está todo amarfanhado
Os sonhos de sabor árido e olhar calado
Vê-se o coração arriado nas quebradas

Em mim, as lágrimas, saudade, enfado
Das tristuras nas imperfeições grifadas
E o amor com insônias nas madrugadas
Vergando devaneios sem nenhum aliado

Que seja a afeição eloquências poetadas
Pelo arauto do amor em verso apaixonado
Implorando paixão nas rimas enamoradas

Assim, escrevendo um destino desejado
De dimensões afins as almas iluminadas
Pra no ponto final ter desfecho apaixonado

Luciano Spagnol
06 de junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Soneto garimpado

Na peneira da vida eu joeirei o amor
Entre vários cascalhos que separei
Nesta labuta e suor, aí te encontrei
Pois ele acontece, não é um eleitor

E assim árido, pelo tempo eu viajei
Bem acreditei, tive pouco ao dispor
Num certo dia pude sentir o frescor
E passei do silêncio pro apaixonei

Desde então vivi o perfume da flor
O garimpo do coração abandonei
E neste gigante afeto tenho ardor

Ai em uma nova luz me entreguei
Pude ser palavras, gestos, e odor
E que noutros versos eu não amei

Luciano Spagnol
2016, junho
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Soneto da saudade tua

Não consigo ficar sem te escrever
cada cheiro teu que comigo ficou
tornou versos que comigo chorou
aqui nesta ditadura no meu viver

São sonetos que a paixão poetou
São momentos de amor sem ter
perdidos nesta dor, dói pra valer
latejando no coração, ali aportou

Sem o teu sorriso a quem recorrer
o teu olhar a recordação eternizou
os meus retalhos, estou sem coser

Por fim, vagueio, não sei onde vou
é trilha sem som, sem como finalizar
é tal saudade, que ainda não passou

Luciano Spagnol
2016, 07 de junho
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Tenha felicidade na medida para ser livre...
Dificuldade para criar afiados ensinamentos...
Tristeza para vazar o amargo do interior...
Esperança suficiente para lhe dar momentos...
E percepção para ver que, o que vale, é ter excesso de amor.

Luciano Spagnol
Cerrado goiano
*parodiando Clarisse Lispector

Inserida por LucianoSpagnol

Soneto de perda

A perda é igual ao um fio de navalha
fende-se num leve resvalo do destino
que engole a alma num apetite ferino
no alto e baixo de uma eterna batalha

Nos testilha, pouco a pouco, sem tino
como o fogo atiçado a uma seca palha
espalhando desnorteada e vil bandalha
no peito amargo duma saudade a pino

Inquieto e silente sempre é o término
num drama ao desalento se espalha
tornando séquito no avivar matutino

O tal estrago é uma senhora canalha
que faz ao poeta um poetar pequenino
e dor que da alegria não resta migalha

Luciano Spagnol
08/06/2016, 05'05"
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Fim do outono

Perdoa-me quimera ressequida
Aos amuos dos ventos, plainar
De ti me perdi nesta sovina vida
Nas trilhas áridas do caminhar
E no choro pela ilusão esquecida
O coração arde no pouco amar
Tal qual folha seca desprendida
Pelo ar... Num voante abandono
Como uma saudade desmedida
Vagindo no beiral do fim do outono
Que desnudo vai-se em despedida.

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Ilusão (soneto)

No beiral do cerrado a vida que passa
tal passada larga e velocidade feroz
num galope de ilusão faz-se algoz
da mocidade se tonando fácil caça

O tempo traga um vinho sem graça
da ilusão ser iludida pela face tardoz
de que é possível ter mundo de "oz"
no tardar veloz do fado que nos abraça

E assim, nesta altiva e devaneadora voz
tenta comandar com cortina de fumaça
a ilusão sonhando em não chegar a foz

Doce ledo engano desta ilusão trapaça
servindo a esperança do que já é após
de amarga fantasia em cuia de cabaça

Luciano Spagnol
11 de junho de 2016
06'30"
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Dor secreta (soneto)

Se a saudade que escuma, alternasse
com o pesar que perfura, e caísse fora
e nalma tirasse o dragão que devora
as lembranças seriam uma catarse

O coração é um ser que também chora
que põe o suspiro a escorrer pela face
prensa o sufoco no peito num repasse
e quando encontra a solidão, tudo piora

Há, ilusão, uma piedade que causasse
uma esperança que pudesse ter agora
um alento que no ombro cochichasse

Se se eu pudesse ter uma outra outrora
mesmo na dor que chora, e estampasse
um parecer venturoso, eu iria embora...

Luciano Spagnol
12/06/2016, 16'10"
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Soneto da Ave Maria

Na fenda de ter crença eu já sabia
O pouco de amor se tinha nobreza
Na alma o homem trazia pobreza
E no olhar a mão que oferta, vazia

Nos caminhos, trilhados, uma certeza
O embate de quem clama na Ave Maria
Que na vida a nós é a Mãe da soberania
Via esperança, chama da ternura acesa

E neste sustento de fé, a paz em poesia
E no peito o afeto se dando em surpresa
Sentir a prenda de se ter uma real alegria

Após rezar, contemplar toda está beleza
À luz de Jesus desce da cruz, em romaria
E beija nossa face com humilde riqueza

Luciano Spagnol
13/06/2016
Dia de Santo Antônio

Inserida por LucianoSpagnol

Soneto do cerrado no inverno

Chegaste, inverno no cerrado árido
Manhãs mais frias, ventos cortantes
As seriemas e seus cantos fascinantes
Noticiam o entardecer não mais cálido

Os pássaros engurujados e suplicantes
Pousam nos galhos tortos e desfolhado
O rubro céu pelo acinzentado é trocado
Do inverno no cerrado e seus instantes

A melancolia toma conta do dia gelado
Noites mais longas e mais pensantes
Oferece pinga pra aquecer o agrado

No fogão de lenha prosas fumegantes
Aquenta a alma e ao inverno versado
Propício aos sentimentos mais amantes

Luciano Spagnol
14 de junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Saudação ao cerrado goiano

Caro cerrado goiano
te saúdo
e sem ter engano
mesmo eu este carrancudo
és soberano.

Aqui, pude te apreciar
aprender a lhe ver
diria até amar
mesmo daqui eu não ser
me sinto parte do seu despertar
belo, e também do entardecer.

Ali, cá, acolá
chão cascalhado
de frutos que são maná
arbusto desencontrado
flores, como não elogiar
tão mágico cerrado.

Então, minha gratidão
por tudo, pouco é o enaltecer
e o sentir que se leva no coração
e se saudade haver
volto, pra mais uma saudação.

Luciano Spagnol
Junho, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

PLURAL

Quando o tempo nos é percebido
Distantes estão os anos ditosos
Conosco à frente dias penosos
E vai ficando o devaneio diluído

As horas sem segundos, gulosos
são os desejos, tudo é divertido
Eis que num as, se é envelhecido
E os enganos tornam-se facciosos

Então, tudo nos passa a ter sentido
Até mesmo os lamentos, saudosos
O que era ufano, vira comprometido

E vemos que nos plurais saborosos
Tem também o curso transcorrido
Num rugido de passos vertiginosos

(E lá trás o tempo de rapaz esquecido)

Luciano Spagnol
2016, junho
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol