Texto Narciso
Contemplanto o mundo bidimensional projetado por uma tela autoluminescente, enquanto Édipo e Electra retardam o amadurecimento de crianças, os meios de comunicação nos isolam em nossos habitáculos, nossos conflitos internos conduzem à Narciso, mas como admirar um reflexo turvo de um mecanismo que nos torna deuses ao acompanhar o mundo na palma de nossas mãos? Isolamento compartilhado, discursões escritas, mas sem literatura. Em uma divindade prevista por Michelangelo, nascia Adão, ao toque do indicador. Não vejo os meus, apenas aos meus, os observo por uma janela de projeção da realidade na pseudo segurança de meu habitat, opino, esbravejo, elogio e condecoro mas não as vivo plenamente. Palavras caladas pela racionalidade são agora resumidas em uma fria mistura de cimento e pedra.
As novas gerações vivem superficialmente em um projeto esfumaçado sem definição, no aguarde da aceitação e validação de tudo que os cercam. Em sua grande maioria vivem a borda, acumulando filmagens, exercitando a capacidade de rebanho, pelas formas estéticas pré determinadas, com um nocivo e profundo complexo narcisista e egoísta que não permitem nem a existência natural de si mesmo e impreterivelmente de qualquer outro.
