Texto Amigos de Luis Fernando Verissimo

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Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando,
num'hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar um' hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís de Camões
CAMÕES, L. Sonetos de Camões. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998.

Que Amor Fez sem Remédio, o Tempo, os Fados?

Depois de tantos dias mal gastados,
Depois de tantas noites mal dormidas,
Depois de tantas lágrimas vertidas,
Tantos suspiros vãos vãmente dados,

Como não sois vós já desenganados,
Desejos, que de cousas esquecidas
Quereis remediar mortais feridas,
Que amor fez sem remédio, o tempo, os Fados?

Se não tivéreis já longa exp'riência
Das sem-razões de Amor a quem servistes,
Fraqueza fora em vós a resistência.

Mas pois por vosso mal seus males vistes,
Que o tempo não curou, nem larga ausência,
Qual bem dele esperais, desejos tristes?

Prece aos Orixás de Bará a Oxalá
(Texto adaptado)

Bará
Alupô meu pai! Senhor das encruzilhadas, permita que todo esse axé aqui presente preencha as nossas vidas. Destranca todas as fechaduras, todos os cadeados, tira do caminho tudo o que esteja atrapalhando a nossa caminhada.
Desata todas as amarras, tanto no plano material quanto no plano espiritual.
Alupo!


Ogum
Ogunhê meu pai! Senhor das conquistas e das batalhas! Que a tua espada e teu escudo nos protejam sempre. Que nenhuma demanda chegue a porta da nossa casa, que o senhor tire donosso caminho tudo e todos aqueles que demandarem energia negativa.
Ogunhê!

Oiá
Eparrei minha mãe! Afasta pra longe todos aqueles que nos querem o mal. Senhora dos ventos e das tempestades, que o teu sopro traga a motivação e a coragem minha mãe. Senhora da alegria e do bom viver, traz a perseverança e a bênção de cada novo dia.
Eparrei!

Xangô
Kaô cabecile! Senhor da justiça, permita a nós a percepção do certo e do justo, nos defende das inustiças desse mundo, que a tua balança de a sentença com rigor e que nada escape dos teus olhos meu Pai, mas tenha misericórdia pelas falhas dos seus filhos quando houver arrependimento e uma busca por evolução.
Kaô meu pai!

Odé e Otim
Oquêbamo! Meu pai Odé, minha mãe Otim! Nos dêem o alimento, as riquezas da mata, não deixem que falte o pão de cada dia. Que nunca nos falte a companhia na nossa jornada, que tenha sempre alguém ao nosso lado pra nos acompanhar. Que a vida seja sempre de fartura e abundância.
Oquêbamo! Odé e Otim!

Obá
Exó minha mãe! Senhora da roda, do movimento, do fluxo de energia. Que a sua navalha corte qualquer fofoca, briga ou desavença de nossas vidas. Que o fluxo da vida seja sempre contínuo. Que possamos enxergar a bondade no coração mais duro.
Exó minha mãe!

Ossanha
Eu eu, meu pai! O senhor que conhece o poder das folhas, nos permita alcançar a cura do corpo físico e espiritual. Nos da a força e a vitalidade, o senhor que é um dos médicos do plano espiritual, peço com misericórdia.
Eu eu!

Xapanã
Abau sapata! O senhor que é o médico da espiritualidade, o senhor da vida e da morte, traz o entendimento de que a matéria é uma morada provisória e de transição. Que a sua vassoura varra as más companhias, as doenças e as tristezas.
Abau sapata!

Oxum
Ieieô Oxum! Mãe das águas doces, dos rios, das cachoeiras. Acolhe-nos com tua ternura, nos faz enxergar a vida com a tua doçura. Protetora das crianças e de todos aqueles que necessitam da tua graça. Nos acolhe no teu seio e nos proporciona a paz de espírito e alegria. Ieieô!

Iemanja
Mãe de canto doce, acalanto dos aflitos, tenha piedade de nós! Nos proteja, nos dê o sustento e leve embora toda a dor.
Mãe de todos os orixás, mãe que cuida e zela de seus filhos, a senhora que é a dona do nosso pensamento, nos dê a clareza com a tua luz minha mãe. Odoiá!

Oxalá
Epao babá, senhor da perfeita sabedoria e do bendito amor. Nos proteja das ilusões desse mundo, nós que muitas vezes afogados na ignorância, em sentimentos inferiores, pedimos a tua misericórdia, nos envolve com o teu alá de compaixão, de amor e misericórdia.
Epao babá!

TEXTO:
Ao amor da minha vida

De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista. Mas cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você. E que você saiba que houve um encontro ali. Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco. Que você me ache engraçadinho, pelo menos. Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus. Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer. E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo. Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe. Que você se encante comigo de alguma maneira. Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam. Mas que você não seja um ponto final. Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão. Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações intermináveis. Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo. Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você. Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça. Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu. Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria. Que eu possa garantir que você não vai se machucar. Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz. Que ele me lembre todos os dias de você. Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso. Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando. Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro. Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista. E que não demore tanto pra chegar na minha vida.

Conto Erótico

- Às suas ordens.
- Que-quem é?
- Às suas ordens.
- Acho que apertei o botão errado. Ainda não me acostumei com o painel deste novo sistema. Como é que eu faço par conseguir linha direta?
- Linha direta: comprima o botão vermelho no canto direito inferior do painel. Aguarde. Se der sinal de linha, comprima o botão marrom, depois o vermelho novamente.
Repita a operação até conseguir a linha.
- Obrigado, senhorita...
- De nada. Desligo.
- Escute!
- Às suas ordens.
- Olhe. Por favor, não pense que eu estou sendo indiscreto, mas é que não reconheci sua voz. Você é nova no escritório? Alô?
- Às suas ordens.
- Eu só queria esta informação...
- Informação: Comprima o "zero' no painel. Aguarde. Quando ouvir o sinal eletrônico, declare a informação desejada. Fale pausadamente.
- Não. Não. Eu só queria saber... Em primeiro lugar, o que é que você está fazendo aqui a esta hora? todo mundo já foi para casa. Já sei, é seu primeiro dia, você ainda está desambientada. Mas não precisa exagerar. Ninguém me disse que iam contratar uma nova telefonista. Aliás, me disseram que com esse novo sistema, não precisa telefonista. Você não responde?
- Às sua ordens.
- Só me diga seu nome. Olhe, não sei o que lhe disseram a meu respeito, mas eu não sou um patrão duro, não. Só fico até esta hora no escritório porque, francamente, este é o lugar onde me sinto melhor. Minha mulher nem fala mais comigo. Me sinto muito melhor aqui, na minha mesa, na minha poltrona giratória, as minhas coisas, agora este novo telefone... entendeu? Não sei porque estou contando tudo isto para você. Ah, é para você não ter medo de conversar comigo. Sou absolutamente inofensivo. As funcionárias deste escritório, para mim, fazem parte da mobília, entende? Jamais faltei com respeito com nenhuma delas. Aliás, jamais faltei com respeito com mulher nenhuma, ouviu? Você não tem nada para me dizer?
- Não há mensagens.
- O quê?
- Às suas ordens.
- Mas eu sou um animal. Você é uma gravação! Agora entendi. E eu aqui falando sozinho...Mas sabe que você tem uma voz linda?
- Às suas ordens.
- Quero fazer amor com você. Agora. aqui. em cima da mesa. Com a sua cabeça atirada para trás, por ima do calendário eletrônico. Com o jogo de canetas de acrílico espetando as suas costas. E você rindo, selvagemente, de prazer e de dor. Depois rolaremos pelo carpete como dois loucos. Como duas feras. Derrubaremos a mesa do café.
-Café: comprima o botão rosa.
- Ahn. Diz de novo. Comprima o botão rosa. Diz. Café.
- Café: comprima o botão rosa.
- Meu amor, minha paixão. Café,
- Café: comprima o botão rosa.
- Quero passar o resto da minha vida ouvindo a sua voz e comprimindo seu botão rosa. Nunca mais preciso sair do escritório. Só nós dois. Quero fazer tudo com você. Tudo!
- Você deixa?
- Às suas ordens.

Luis Fernando Verissimo
Comédias da vida privada

Como dizia o poeta

Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai

Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não

Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer

Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão

Vinícius de Moraes e Toquinho
Álbum "Como dizia o poeta"

Nota: Música composta por Vinicius de Moraes e Toquinho

...Mais

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.

Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

(Morte e Vida Severina - Introdução)

Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.

Como aceitara ir
no meu destino de mar,
preferi essa estrada,
para lá chegar,
que dizem da ribeira
e à costa vai dar,
que deste mar de cinza
vai a um mar de mar;
preferi essa estrada
de muito dobrar,
estrada bem segura
que não tem errar
pois é a que toda a gente
costuma tomar
(na gente que regressa
sente-se cheiro de mar).

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu meus cartões de visita
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minha dieta
O amor comeu todos os meu livros de poesia
O amor comeu meu Estado, minha cidade
O amor comeu minha paz, minha guerra, meu dia e minha noite
Meu inverno, meu verão
Comeu meu silencio, minha dor de cabeça
O meu medo da morte

Lealdade vs. Fidelidade

Advertência: o texto que se segue é da inteira responsabilidade de quem o escreveu, não tendo como base qualquer estatística, teoria ou pensamento que não as que, ao longo da vida, se foram formando na cabeça da autora.

A meu ver, há uma diferença muito grande entre Lealdade e Fidelidade. Tão grande, mas tão grande, que uma nada tem a ver com a outra. O mais infiel dos seres pode ser o mais leal (geralmente, é), enquanto que o mais fiel pode ser o mais desleal (geralmente, também é).

A fidelidade prende-se com o respeito pelos compromissos que se assumem perante uma pessoa, enquanto a lealdade tem a ver com o respeito devido à própria pessoa, isto é, ao seu âmago enquanto indivíduo, algo de tão precioso e tão delicado a que chamamos frequentemente dignidade do ser humano. Além disso, a fidelidade existe somente no contexto amoroso e no contexto dos negócios (de certeza que já ouviram falar dos contratos de fidelização das operadoras telefónicas…), enquanto a lealdade existe em relação a todas as pessoas, principalmente àquelas com quem estabelecemos relações de proximidade (profissionais, amorosas, de amizade, etc.). Simplificando (muito) a coisa, eu diria que a infidelidade fere o orgulho, enquanto a deslealdade fere a dignidade.

A infidelidade põe fim ao compromisso, mas não impede que nasçam outros, novos. Depois da infidelidade podem surgir novos compromissos, assumidos perante as mesmas ou perante outras pessoas, basta que a isso ambas estejam dispostas. Contudo, a deslealdade não pode dar lugar a outras pessoas, a novas pessoas, porque as pessoas não se “fabricam”, não se criam por acordo.

Assim, para mim, a lealdade é muito mais importante do que a fidelidade, porque as pessoas têm muitíssimo mais importância do que os compromissos. Os compromissos começam e acabam, renovam-se, são substituídos, voltam a começar e a acabar. Mas as pessoas que passam pela nossa vida, essas, deixam marcas eternas, indeléveis e, em certa medida, diria até que nos constroem.

O dever de fidelidade cessa quando cessam os compromissos; o dever de lealdade para com o nosso semelhante não cessa depois dos compromissos, não cessa sequer depois da morte, porque depois da morte há ainda um nome e uma memória a respeitar, à qual devemos um comportamento leal. É por isso, julgo, que a infidelidade se perdoa, se esquece, tem importância diminuta e não faz de ninguém um ser menor, mas tão somente humano (desenganem-se os que ainda pensam que há pessoas 100% fiéis, pois tal coisa não existe, a não ser que se defenda que a infidelidade é somente física). E é também por isso que a deslealdade é vergonhosa, inesquecível, inapagável e imperdoável.

A infidelidade é algo que devemos evitar a todo o custo, é algo de que não devemos orgulhar-nos e que é, do ponto de vista das relações humanas honestas, incorrecto. Mas a deslealdade, car@s amig@s, a deslealdade é uma filhadaputice inqualificável.

© Texto by Mente Assumida, do blog Assumidamente - mais um magnífico blog das grrrls de além mar.

[…] É que os pequenos gestos são mais verdadeiros diante das grandes demonstrações e das grandes promessas de amor que com o tempo se perdem. O vento sopra, e leva tudo embora. A verdade é que o que mais dá saudade são os pequenos detalhes, não é verdade? O jeito único de algumas pessoas, porque são os pequenos gestos, os mais marcantes, os mais inesquecíveis. É dentro das pequenas coisas que o amor tá escondido, dentro dos olhares, no calor de um abraço, no breve aperto de mão, no aconchego. São nos pequenos detalhes que a gente se sente amado, querido, é através das pequenas coisas que a gente percebe quem gosta de verdade da gente.
Pequenos flamejos me fascinam, pequenas estrelas me conquistam. Luz demais ofusca, luz demais irrita. Gosto do pequeno, do frágil, do único, do efêmero. Por mais insignificante que um grão de areia seja, um por um, eles forma uma bela praia. De estrela em estrela, o universo se compõe e de gesto em gesto, o amor se forma.”

Que importa àquele a quem já nada importa que um perca e outro vença .. se a aurora raia sempre .. se cada ano com a Primavera as folhas aparecem .. e com o Outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos acrescentam à vida, que me aumentam na alma? Sim, sei bem que nunca serei alguém. Sei, enfim, que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, enquanto dura esta hora, este luar, estes ramos, esta paz em que estamos .. deixem-me crer o que nunca poderei ser. Ser um é cadeia, ser eu é não ser. Viverei fugindo mas vivo a valer. O mistério do mundo, o íntimo, horroroso, desolado, verdadeiro mistério da existência, consiste em haver esse mistério. Quanto mais fundamente penso, mais profundamente me descompreendo. Só a inocência e a ignorância são felizes, mas não o sabem. São ou não? Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra, um lugar, nada mais. Quanto mais claro vejo em mim, mais escuro é o que vejo. Quanto mais compreendo menos me sinto compreendido.

E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa: uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego

A paixão é um pânico das emoções, e como o pânico — que nisto se distingue do medo — estilhaça a inibição, desorienta o espírito, vira o indivíduo contra as suas próprias aquisições mentais superiores, e muitas vezes o conduz a fazer o que mal sabe que faz, ou que a própria paixão se fosse menor, como o pânico se não fosse mais que medo, o levaria ou aconselharia a não fazer.

Fernando Pessoa
Pessoa inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993.

O velho marciano morto, nunca pensara nisso, ele não parecia que um dia iria morrer. Isso alterava fundamentalmente a sua vida? Ou não lhe traria sequer a mais ligeira modificação no modo de ser e encarar as coisas - sempre fora, era assim, sempre seria, ele vivendo, a morte do pai já em sua vida incorporada. Mais uma época ali se encerrava? Acaso não vivia sempre encerrando épocas e inaugurando outras? De onde vinha? para onde ia? Que sentido tinham as coisas? Nenhum, nenhum , se dizia, sentindo finalmente seus olhos se encheram de lágrimas.

Sou feita do amor daqueles que me tanto amaram nesta vida passageira, sou feita do afeto tão precioso dos meus escassos, porém dedicados amigos. Sou a princesinha que cansou de sonhar acordada com seu príncipe encantado, sou a donzela que largou a vida de rainha atrás de aventuras, sou a adulta que não suporta a ideia de velhice… Sou o que perdi.

Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um campo, um bocado de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como quem nega a esmola não por falta de boa alma, mas para não ter que desabotoar o casaco.

Resisti à tentação de dizer que não, subiria também, não podia passar mais uma noite longa dela. Tentação de abraçá-la, esquecer tudo que havia passado, subir também. Mas alguma coisa me dizia que o meu lugar era embaixo, que eu era apenas uma testemunha, um espectador, o lado passivo do seu mistério.