Teu Olhar me Tira do Serio

Não saber o que aconteceu antes do teu nascimento seria para ti a mesma coisa que permanecer criança para sempre.

teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados

Não sei teus gestos
nem a cor do teu sorriso
mas pressinto os passos.

Havia o escuro
mas eu não sabia onde;
teu rosto era sol.

Se ofenderes o teu vizinho, é melhor não o fazeres pela metade.

tocar sobre teu corpo
ao silêncio das estrelas
um acorde de guitarra

Colho-te uma flor
de manhã e extasio-me
com o teu sorriso

Morte, que mistérios encerras?... Ninguém o sabe... Todos o podem saber... Basta ir ao teu encontro, corajosa, resolutamente, que nenhum mistério existirá já!

Onde é que se pode encontrar o teu próprio eu? Sempre no mais profundo encantamento que experimentaste.

A tua virtude põe a tua glória acima do teu crime.

Mais vale seres pedreiro se é esse o teu talento.

Se prestares atenção no teu discurso, perceberás que ele é guiado pelos teus propósitos menos conscientes.

Se fizeres do dinheiro o teu deus, ele atormentar-te-á como o demónio.

Não seja o teu pesar pelo que fizeste senão o propósito de tua futura melhora; todo outro arrependimento não é senão morte.

Mede a altura do teu espírito pela sombra que projecta.

Como provar,
no favo do teu corpo,
o mel das tuas coxas?

Nunca esperes que o teu amigo te descubra a necessidade que o aflige.

Por mais humilhado que seja o teu inimigo, ele será sempre temível.

Teu azul profundo,
nos olhos do cristal tímido,
cintila o mundo

Carícias

Carícias sábias minhas mãos buscaram
Por teu corpo em botão, alvorescente;
E meus lábios sonâmbulos pisaram
Branduras de veludo alvo e dormente.

Triunfos nos meus olhos despontaram,
E gritos de clarim e de trombeta
Em meus ouvidos sôfregos soaram,
Como cantos de amor dalgum poeta.

Ritmos de doçuras e quebrantos,
Corpos vergados, como dois acantos, .
Gritaram alto que era doce a vida.

Apertei-te na ânsia de perder-te.
E quando regressei, voltei a ver-te:
Vi-te ainda mais longe e mais perdida.

(Em C. Vide, 4 Janº 929)