Eugénia Tabosa

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Na noite sem lua
o mar todo negro
se oferece em espuma

No ninho do sabiá
há quatro bocas
que não param de piar

Na janela em frente
uma criança sorri -
falta-lhe um dente

Por desafio
vestiu-se de gueixa
amor não sentiu

No parapeito
da velha janela
a gata espreita

Num vôo direto
o pássaro volta
procurando um teto

teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados

Voar sempre, cansa -
por isso ela corre
em passo de dança

Lá vai de saltos
dona pata apressada
correndo aos saldos

no inverno, o vento
dança com as folhas
a seu contento

Sentado no chão
de saco vazio
suspira o sultão

na lareira rubra
o velho pinheiro
ganha asas

Olhar esquivo
corpo ondulante
sonho vivo

Mal o dia clareia
a passarada
em coro chilreia

O gato chinês
espera sentado
pela sua vez

Mar de tormento
mar de sustento -
ai, triste sina

olhos baixos
serena e bela
aguarda o dia

O trigal maduro
ondula ao vento...
O corvo espera.

A bola baila
o gato nem olha
salta e agarra

na praia a sereia
anseia que a onda
a salve da areia

Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita

no aconchego da terra
a semente
vive a espera

com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera

Debruçado no lago
Narciso, surpreso,
se vê amado

No azul do mar
golfinhos saltam -
parecem brincar