Textos de Tati Bernardi
E eu, como estava dizendo, sempre quis ser dessas mulheres imperfuráveis, inatingíveis, inaudíveis e incompreensíveis. Mas nunca consegui. Quando vou ver, já contei minha vida pra primeira pessoa que me deu um pouco de atenção. Já to rindo alto no restaurante porque não me controlei e fiquei feliz demais. Já escrevi um texto sobre o fulaninho da terça passada e publiquei numa revista. E o fulaninho ta morrendo de medo porque escrevi que gosto dele. E se alguém perguntar, vou dizer mesmo que goste dele. E se ele não gostar de mim, minha tristeza não será segredo para ninguém. E minha pasta de dente é para deixar os dentes branquinhos. E quando vou ver, lá se foi a mulher misteriosa que eu gostaria tanto de ser. Porque eu jamais poderia ser uma.
E sofri anos com isso. Até que resolvi conviver de perto com algumas mulheres misteriosas para tentar descobrir o que se passa na cabeça e na alma desses seres incríveis que nunca têm nada a dizer, a doer, a aconselhar, a cantar, a dançar, a morrer de rir, a fofocar, a detalhar, a exagerar, a sonhar, a dividir, a acrescentar. E descobri que a coisa era muito mais simples do que eu imaginava: nada. Não se passa nada de relevante nem na cabeça e nem na alma dessas mulheres.
As mulheres misteriosas, tão admiradas e desejadas, não passam de mulheres sem a menor graça. Elas não calam por mistério, charme ou discrição. Calam porque simplesmente não há nada mais sábio que elas possam fazer.
Com tanto Mickey por aí, você ainda espera a ligação do PATETA?
“Vai passar, né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar, às vezes, me domina.”
“Então diga agora, bem alto, para que até aquele seu lado mais surdo e teimoso ouça: “eu amo e acredito em mim e na vida”.”
“Peço pra você ir embora. E você jura que eu não estou nem aí pra você. Melhor assim. Dessa vez quero fazer tudo certo. Chega de fazer tudo errado. E eu te espio da janela, indo embora. E quero berrar o quanto gosto de você.”
“Preciso admitir, sou muito irônica, e grossa as vezes, um pouco meiga de vez em quando. Gosto do meu lado apaixonada, mas quase nunca aparece. E meu lado safado chega a me assustar. Protetora e ciumenta ao extremo. Tenho um gênio difícil e um temperamento forte. As vezes sou barraqueira, outras, calma até demais. Dura como uma pedra e frágil como um vidro. Mais conhecida como a rainha do drama, essa sou eu. E sabe o que mais me assusta? Ainda tem gente que gosta.”
“Só quero que seja natural, simples, fácil e bom. Eu não quero poucos. Eu não quero muitos. Eu quero um. Um amor. Só um.”
"Não entregue o seu coração de ouro para alguém que só sabe lidar com sucata."
Homem só serve pra duas coisas: encher o saco e fazer falta.
“- Eu nunca gosto de nada, e gostei tanto de você.
- É?
- Droga.
- O quê?
- Eu falando de gostar.
- E daí?
- E daí que vai acontecer tudo de novo.
- O quê?
- Vou sentir demais, falar demais, escrever demais. E você vai embora.”
Então liguei pro meu velho amigo de sempre. E ele veio correndo, consertar meu coração, acalmar meus medos.
“— Me conformei que o amor não existe.
— Então por que você continua falando disso?
— Porque eu não me conformo que me conformei com isso.”
“Mas a lição que eu aprendi no sábado é que não vale a pena consertar um carro pela décima vez. É mais fácil comprar um novo e fim de papo. Afinal, eu bem que tentei consertar meu relacionamento com todas essas pessoas e só ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas é viver mal assombrado.”
“Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro.”
Tem sentimento que não volta. Mesmo que você se esforce, recorde, tente voltar a página, refrescar o coração. Alguns sentimentos são bem pontuais: chegam, esperam pra ver se devem ficar e decidem partir ou continuar.
“Quem gosta mesmo de você aguenta suas crises matinais, suas manias, suas reclamações, seus momentos de tristeza e permanece sempre ao seu lado.”
“Tá me perdendo e não percebeu ainda. Tá esperando legenda?”
“Sei que tudo vai dar certo. Só não sei quando.”
“Tenho medo de decepcionar as pessoas, de magoá-las, de fazê-las cansarem de mim. Só queria que elas também tivessem esse medo.”
“Ouviu, menina? Nessa vida você tem sorte, tem muito amor ao seu redor. Você não consegue ver? Cultiva, sua boba. Cultiva e colhe flores bonitas. Perfumadas… Cultiva!”
“Você não enjoa. Você me cansa demais, mas não enjoa.”
“E eu continuo indo, seguindo meu caminho. Mudando, errando, mas principalmente, aprendendo com o que eu erro. Não me preocupo se minha evolução é lenta, contanto que ela seja pra melhor.”
“E como eu não sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar as pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que você não diz e vendo o que você não faz. Não existe não morrer um pouco quando você chega .”
- Tati Bernardi.
Acho tudo um grande porre. Um grandessíssimo porre. De vez em quando, no meio do porre, a gente arruma alguém pra fazer uma coceguinha no nosso coração. Mas aí, depois da coceguinha, a vida volta ainda mais tosca. E tudo volta um porre ainda maior.
Porque ninguém se mantém interessante ou mágico. Mas a gente espera, lá no fundo, perdido, soterrado e cansado, que a vida compense de alguma maneira. E a gente ganha dinheiro, compra roupa, aprende novas piadas, passa protetor labial. Só pra que a vida compense em algum momento. Só pra ganhar a coceguinha no coração. Coração burro, tadinho. Que preguiça desse coração burro.
A idade te deixa mais chata e diminui muito as suas chances de se dar bem. Mas pelo menos agora eu sei que, quando uma coisa é boa, ela é boa mesmo.
Hoje de manhã eu acordei e fiquei olhando para tudo catatônica, um misto de susto com deslumbramento. Me dei conta de que essa é a pior e a melhor fase da minha vida. Eu nunca andei tão triste e nem tão feliz. Foi difícil enterrar tantos mortos e tantas rotinas, mas está sendo muito fácil viver dentro de mim
Ele não é o destino. É um cara. Existem muitos destinos. Ele é só um cara que mal sabe escolher os próprios perfumes, que mal se importa com a sua existência, é só um cara que não te liga quando você esta mal. É um cara que não tem noção de como você gostaria de estar ao lado dele num final de semana qualquer. Ele não sabe sangrar, não sabe que nome daria a um filho, não pode ficar mais tempo. Ele é só um cara perdido como muitos outros caras que você encontrou, e perdeu. Ele é só um cara. E você já esqueceu outros caras antes…”
“Não acredito em nenhum homem porque, infelizmente, tenho muitos amigos e, pra piorar, nasci espertinha.”
Primeiro dia sem você
Acordo feliz, nada como acordar triste para não carregar a espera da decepção. Tomo um banho demorado escutando Cake no último volume. Claro que não é para te provocar, você não está lá para ouvir a banda que você tanto odeia apenas porque você tem ciúmes de tudo o que eu gosto, mas é para impor ao mundo que eu voltei, estou única e exclusiva novamente. Eu e o meu mundo. Eu e minha solidão sem preconceitos e sem lições de moral, minha melhor amiga, a solidão, nunca vai me achar estranha justamente porque é filha predileta da minha estranheza.
Tomo café com ela que, assim como eu, não come muito. A solidão precisa manter a forma para me acompanhar eternamente, e eu preciso não vomitar pelo inchaço que ela me causa.
Coloco uma roupa estranha, minha pulseira de dentes que você odeia, minha bota que não me deixa nada feminina e pinto os olhos, adoro não precisar parecer uma moça com dono.
No carro escuto Nação Zumbi no último volume, você não conhece, nunca se interessou, como pode? Um movimento tão charmoso ou, no mínimo, uma música boa pra dançar. Lembro que você escuta o mesmo cd do Bob Marley há vinte anos e só troca quando algum amigo seu te dá alguma dica, as minhas dicas são sempre chatas, meu mundo te encheu, como você disse. Dou graças a Deus de estar tão bem acompanhada dentro do meu universo. Eu e Nação Zumbi, eu e Billie Hollyday, eu e Cake, eu e Frank Sinatra, eu e o silêncio do meu carro, sem ninguém pra me dizer que eu freio muito depois do que deveria.
Se eu quiser, hoje, alugo um daqueles filmes europeus p&b e assisto embaixo da minha coberta com um pijama bem feio e meu cabelo em seu pior estado. Quem sabe eu não tiro umas melecas do nariz, beijo minha cachorra na boca e solto pum. Eu e meus filmes prediletos, eu e minha filha peluda, eu e as extensões do meu corpo.
Faço aula de yoga ou musculação? Encontro o meu novo amigo interessante para um café ou bato papo com a minha nova amiga sobre essa nossa mania de não saber ser feliz, mas impor ao mundo o tempo todo a cartilha da felicidade?
O mundo é enorme sem você, sem o seu amigo que solta fogos de artifício com o cofrinho aparecendo mas me acha uma babaca, sem o seu amigo que nunca nem olhou na minha cara direito mas bate em mulheres, e sem a sua amiga que cheira enquanto o pinto do marido não levanta e a bebê chora. O mundo é enorme sem toda a culpa que eu carrego por não ser a menininha leve e sem preconceitos que curte ver o desenho da Lua no mar e não se abala com tanto amor e nem com o medo e o cansaço que viver causa.
Eu sei que sou pesada, triste, dramática, neurótica, louca, insatisfeita, mimada, carente. Mas você se esqueceu da minha maior qualidade: eu sou só.
Eu era só aos cinco anos quando eu não entendia porra nenhuma do que estava acontecendo e corria para rezar no banho. A fumaça de cigarro tomando toda a casa enquanto meus pais decidiam absolutamente nada em longas discussões que sempre terminavam com a minha mãe jogada em algum canto tremendo e vomitando, e eu com a certeza de que ela morreria cedo. Hoje em dia ela sinaliza o tempo todo que pode morrer por falta de carinho, e eu não consigo dar a mínima.
Eu era só quando descobri que não controlo a vida, primeiro a minha mãe namorando justo no horário do Corujão do sábado, o horário em que eu podia ficar acordada até mais tarde namorando ela num mundo escuro e longe de tudo, depois as uvas lavadas em vinagre me esperando para sempre e meu avô morto no quarto ao lado, as meninas da escola ganhando corpo e charme antes de mim, o meu jeito estranho de ter medo de perder o controle e de multidão.
Eu era só pesando doze quilos a menos, quando o mundo inteiro queria que eu comesse pra não morrer, e eu querendo viver tanto que tinha medo de não conseguir, como tudo que sempre quero muito, e acabo fodendo logo pra não ter que viver com a ansiedade do desejo maior do que eu. Eu quase morri de tanto que queria viver. E eu tô quase acabando com o seu amor por mim, de tanto que eu quero que você me ame. Percebe? Louca. Louca e só, porque ninguém vai agüentar isso.
Eu sempre estou só quando sou tomada por um susto longo e paralisador que dá vontade de me concentrar apenas em mim, e não ver nada e nem ninguém, por isso quis chorar só e escondida atrás da porta, como um rato que todo mundo tem nojo, que causa doenças, que tem um longo rabo deixando tudo entreaberto para trás, mas que no fundo só quer um pouco de queijo, como qualquer criança bonitinha. Carregar nossa alma, com tudo o que ela tem de bom, de mal e de incompreensível, é uma tarefa solitária.
Eu sempre fui só querendo ter uma família grande, café da manhã, Natal, cachorro, e eu continuo só quando te vejo como minha família, mas você me deixa sozinha com duas ou três opções de suco para uma ou duas opções de pão. O mundo é cheio de opções sem você, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais.
Eu continuo só quando quero escrever uma vida com você, mas você detesta meus caminhos anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausência. Eu detesto seu riso alto e forçado pisoteando o meu mundo de sombras, eu detesto você saindo pela porta e as paredes se fechando, se fechando, e eu sem poder berrar para, pelo amor de Deus, você me resgatar, e me colocar no colo, e me dizer que você me entende e sofre também.
Eu sou só porque enquanto eu pensava tudo isso, você impunha aos quatro ventos, querendo parecer muito forte e macho para seu grupinho muito forte e macho, que você poderia simplesmente abaixar meu som ou mudar de canal, como um programa chato qualquer que passa na sua tv.
Eu hoje fui ao banheiro duzentas vezes para ficar longe do meu celular e do meu e-mail, ficar longe de todas as possibilidades da sua existência. Me olhei no espelho bem profundamente para enxergar minhas raízes e ganhar força, chorei algumas vezes, fiquei sentada no chão do banheiro, para ver se meu corpo esquentava um pouco ou porque estava mesmo me sentindo um lixo. O ar-condicionado hoje está insuportável, mas eu não acho que mude alguma coisa desligá-lo.
Estar sozinha não muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar até melhor com ele. O que me entristece, é ter visto em você o fim de uma história contada sempre com a mesma intensidade individual.
Eu tinha visto na sua solidão uma excelente amiga para a minha solidão. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.
“E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.”
“Eu não preciso de você nem pra andar e nem pra ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado”
“Eu achava que era você. Na rua, no supermercado, na fila do cinema. Virei uma caçadora de você em todas as pessoas. Eu queria te ver. Apenas.”
O cérebro é o órgão de maior destaque. Funciona durante 24 horas, 365 dias, desde seu nascimento… Até que você se apaixona.
Tudo na vida tem volta. Tranqüilo você pode ficar, riscos de amar sem ser amado, você não há de correr não. Amor de verdade você não sabe diferenciar. Dizer que vou ser feliz agora? Quem sabe? Dizer que você vai se dar bem? Tomara! Aprendizados são pra vida toda, mas amor unilateral na vida da gente uma só vez é suficiente.
Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Eu quero eternizar o seu sorriso lindo – mas eu nunca falei dele pra você. Nem falei do seu cheirinho bom.
Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos.
Me empresta seu sorriso para eu achar graça na vida.
E quem diria. Quem diria. Ontem mesmo, conversando com vários amigos, eles me disseram que eu não mais parecia comigo. Eu pareço eu sim, mas vou ganhando o mundo quando abro algumas brechas da minha prisão. E de brecha, vou me ganhando também. E quase vira o estômago mas sou tomada por uma fome boa que eu nem sei o nome. Talvez acreditar assim, sem medo, em algo descontrolado e de alguma forma justo, seja acreditar em Deus. Durmo em paz. Tudo na hora certa. As coisas são como são.
Já se foi o tempo em que tentava ensinar algo a alguém. Antes eu tentava entender, tentava ajudar, compreendia “tadinha, é imaturidade”. Hoje, perdi a paciência. Saí do jardim de infância e fui direto pro mestrado: pra estar comigo, tem que entender do assunto.
“Primeiro eu queria um lindo, inteligente e fiel. Depois, lindo e inteligente. Agora, só fiel mesmo.”
Me empresta seu sorriso para eu achar graça na vida.
“Ela sabia que precisava dele. Pelo menos naquela noite chuvosa e sem grandes esperanças. Mas tinha medo da compulsão. De querer ele sempre e sempre e pra sempre. E amanhã e depois. E de dia, e tarde, de madrugada. E não saber digerir tanto amor e tanto amor acabar lhe fazendo mal. Só mais um pouquinho, pensou. Uma lasquinha. Pra dormir feliz. Amanhã era amanhã. Depois ela resolvia.”
“Sou uma ferida fechada. Sou uma hemorragia estancada. Tenho medo de deixar sair uma letra ou um som e, de repente, desmoronar.”
“A dor da sua partida trouxe toda a dor do mundo. De uma só vez.”
“Se ele é burro o suficiente para ir embora… Seja inteligente o suficiente pra deixá-lo ir.”
Ao mesmo tempo a gente dá a mão. E dá a outra. E daria uma terceira se ela existisse.
Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, prender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também!
" Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Será que ele deixa?"
"Dessa vez, com você, eu queria que desse certo.”
"Quando vai dando assim, tipo umas onze da noite, o horário que a gente se procurava só pra saber que dá pra terminar o dia sentindo algum conforto. Quando vai chegando esse horário, eu nem sei. É tão estranho ter algo pra fugir de tudo e, de repente, precisar principalmente fugir desse algo. E daí se vai pra onde?"
Mas quem disse que eu não posso suportar? Eu vou suportar, vou suportar até não caber mais choro em mim, e um dia eu vou te encontrar e sei que nenhuma terminação do meu corpo vai sentir a sua presença.”
Porque era bom e tal. Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo? Então pronto. Chega.
Passei tanto tempo, me importando, me chateando, ligando, correndo, fazendo das tripas corações para segurar o amor que restava nas costas. Agora eu prometi a mim mesma que não carregaria mais nada, peso nenhum sozinha. Não importo tanto, não me chateio tanto, não ligo tanto, não corro tanto e adivinhem só? Também nem preciso segurar mais amor nenhum, parece que agora ele vive flutuando e me acompanhando sempre. Quando eu parei de procurar ser amada, parece que o mundo começou a me amar mais.
Eu treinei viver sem você. De tanto treinar, me acostumei.
Afinal, sabem meu nome e pensam que sabem a minha vida inteira.
Não é ser fria, é ser cuidadosa. Não é ser grossa, é falar a verdade. Não é ser metida, é ter amor próprio. Não é ser difícil, é ser seletiva. Você precisa ser mais franca e esperta. Tanto homem por ai querendo uma mulher interessante igual a você, e você ai perdendo tempo atrás desse menino? Acorda amiga, mulher precisa de homem, e homem precisa de mulher. Meninos só precisam de uma mãe e um playstation.
Garçom… que dose de mentira você tem?
- Temos: eu te amo, nunca vou te deixar, eu quero você comigo, sinto saudades e também temos uma que anda saindo bastante: ‘pode confiar em mim’.
- Ah… Manda todas que hoje eu quero me iludir!
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Dias em observação
Ela veio cheirosa e molhada, desfilou por um erro em mesas próximas e caiu bem na minha frente. Foi em um castelo medieval que voltei a comer carne, eu estava com meu modelito princesa mas tinha fome de besta. No princípio, enchi a boca com uma culpa tão vulgar que me fez gostar ainda mais de dançar com seus restos pelo sangue do prato.
Ele parece alto num primeiro momento, mas se você olhar direito, tem o charme cafajeste de quem vê o mundo mais de baixo. Não tem jeito aquela boca cortada, seus olhos são de uma profundidade quase cansada. Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois já descobri que se você evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito. Foi assim que inaugurei já de partida o maior quarto do mundo. Depois que a gente brincou de milionários na suíte de mil euros por dia, roncamos como pobres alcoolizados. Ele de vinho da casa, eu de esquecimento da casa. Emprestamos o romance de nossas mentes criativas para brindar o momento, só mesmo amigos poderiam se dar a esse luxo. No dia seguinte, para que nem a gente desconfiasse de nada, voltamos a nos tratar como irmãos adolescentes que se odeiam.
Foi quando descobri a cama de casal com vista para os canhões de Napoleão que me dei conta que estava completamente sozinha. Por um instante quis sentir falta de alguém, mas não consegui me lembrar de ninguém. Por outro instante quis inventar uma pessoa, mas eu era tão de verdade naquele momento que me faltou capacidade para ser enganada. Na cidade mais romântica do mundo amei meu medo, meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha coragem, minhas próximas horas pelo resto da vida, minha quase morte que agora me enchia de novidades, meu silêncio, a extensão do meu pânico curioso que iluminava toda a cidade, minha tranquilidade madura, toda a bagunça da minha cabeça. Sim, a garotinha magrinha, branquelinha, assustada, sensível, cheia de ódios, cheias de erros e cheia de si, agora apenas recomeçava no corpo de uma mulher invisível. Amei que o mundo estava em festa e meu convite dava direito apenas a uma pessoa.
Só me restava mais uma hora e decidi correr futilmente por todas as salas até que o encontrasse. As pontes borradas, instantâneas e floridas me emocionaram mas não me fizeram desistir da busca, as bailarinas tomaram alguns segundos do meu tempo, Lautrec mereceu minutos. Nos quarenta e cinco do único tempo, ele apareceu, por um desses mistérios da vida a sala estava vazia e eu pude ficar bem de frente e chorar como uma criança. O quarto de Van Gogh, que antes era uma cópia barata em cima da cama do meu primeiro grande amor, agora era autêntico e só meu. Os grandes amores são assim mesmo, eles nos dão o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade são apenas nossos, ninguém copia, ninguém leva, ninguém divide.
Quem diria meu vestido de bolinhas e rendas no meio de tantas calças Diesel e garotas que se chamam e pensam no diminutivo. O homem mais lindo do mundo não sabe terminar uma frase sem espremer o cérebro e cuspir carne com o carro em movimento. A garota mais linda do mundo só sabe sorrir se for ganhar alguma coisa em troca.
Elas torcem para namorar os jogadores do “Barça” e são, em suas cabeças brilhantes de tinta, as primeiras damas da cidade. Eles deixam o cabelo crescer, abrem a camisa até metade do peito e torcem para que alguém os ache bacana, assim, eles realmente podem ser bacanas. Não, ninguém trabalha, estuda ou sabe o que quer da vida. Ainda assim, seus passos são infinitamente mais duros e rápidos que os meus. São passos que de tanto ensaiar para não cair do salto, sempre disfarçam a longa queda. Elas empinam o queixo maquiado, o peito siliconado, a bunda etiquetada e a alma oprimida. Elas sabem de cor os hits do verão europeu, assim como qualquer animal enjaulado dentro de um circo que sintoniza a Jovem Pan.
Elas têm a cor do verão, a roupa da moda, o namorado que a amiga queria, os amigos que interessam, a alegria de um remédio, a paz de uma ressaca.
Eles não sabem fugir para o lugar sagrado do peito, eles não sabem dormir num lençol branco e puro e sonhar com tudo o que é bom na vida, eles não sabem abraçar um amigo de verdade e encontrar um grande amor. Mas nada disso importa, as drogas estão aí justamente porque tudo isso cabe na palma da mão, assim como o dinheiro que os pais continuam mandando. São todos tão lindos mas estão todos tão mortos. Uma linda morte em série porque até para morrer eles precisam andar juntos. Isso me lembra a frase “todo animal fraco anda em bando”.
A lata de lixo piscou pra mim, me convidando a descarregar a porra do papelzinho amassado ali mesmo e, finalmente, respirar um pouco. Nele eu tinha escrito todas as dicas de ruas, cantos, esquinas, museus, restaurantes, parques, cidades, obras e pessoas que eu queria ver pelos próximos infinitos e curtos dias. Chega, lancei longe a obrigação já conhecida e castradora de ser feliz e descansei meu vazio preenchedor num centro qualquer de um bairro sem nome.
Duas crianças me olharam, o Sol fez um triângulo entre meus pés cansados e os pés em nuvens daquelas crianças. Um velho começou a tocar violino, eu lembrei que naquela brincadeira de pensar que instrumento musical a gente seria, eu sempre quis ser um violino. Tinha a alma aguda, triste, fina, rasgada no limite da beleza.
Uma motoca passou gritando que a Argentina tinha perdido, um negro de cueca preta posou imperial e gritou por gritar de alegria, melancolia, vazio, calor e eterna bebedeira. Minha máquina comprada no museu do Picasso, em homenagem a fase azul do artista, tirou lindas fotos azuis daquelas crianças entre o nosso triângulo perfeito e o resto todo que nos circulava.
De dentro do restaurante a mulher que eu nunca seria alimentava metros e metros de pernas com muito presunto e olhares de porcos. Ela era mais forte que o calor, que a sensibilidades das tripas, que a vida que acaba, que o amor que não existe. Ela nem pensa em nada disso, apenas cruza as pernas, come presunto e alimenta quem por causa dela sobrevive mais um minuto sem ser o centro do mundo. Tudo bem, eu preciso dela para ser estranha, ela precisa de mim para virar poesia.
Uma caixa de Lindt para não morrer com a falta que me faz o feijão, uma espirrada de mel e própolis para não sufocar com tanto mundo além do meu mundinho, um simples botão atrás da cama e o Mediterrâneo me engole para que eu nunca mais chore de saudades da pequena prainha que ficava ao lado da casa, um gol sem marcação e meu país chora bem longe de mim, choro também, mas só por estar longe. Um choro de emoção.
Um euro e eu ganho um manto verde para cobrir meu vestido decotado e comprado nas “rebaijas”, agora posso entrar na igreja e rezar um pai nosso, sem nem saber direito o que pedir, parece que tenho tudo. Só agradeço.
Um casal de mãos dadas quase teve pena de mim, depois sorriu de reconhecimento, afinal, eu era parte deles e eles eram parte de mim. Caralho, eu pensei com saudades de falar um bom palavrão na minha língua: eu agora era do mundo e o mundo era meu!
Tenho muitos amigos homens.
Que me contam como enganam e traem suas mulheres, suas namoradas, suas peguetes da semana.
Adoro meus amigos, mas jamais perderia o tempo namorando com eles.
Adoro vocês, homens, sempre tão espertos, inteligentes, cínicos, piadistas, descolados, sexuais e livres.
Adoro tanto que me tornei uma cópia quase idêntica, não fosse pelo meu útero carente e pelo meu decote que ainda grita, pedindo que eu seja um pouco feminina. Um pouco!
Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre. Mas, pela primeira vez, triste por você. Que outra mulher te veria além da sua casca? A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida. E você me olha com essa carinha banal de ‘me-espera-só-mais-um-pouquinho’. Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.
Eu gostei de você porque você é meio ogro, meio doce, você é ogrodoce.
Quando eu gosto de um menino, fico com raiva e trato super mal. Minha prima de nove anos faz igualzinho.
Nenhum homem vai conseguir me diminuir porque eu sou legalzinha pra carambinha.
Eu tô na fila do transplante de esperança
Vocês são lindas? Pois saibam que eu sou bonitinha.Ah, e eu sei fazer um homem rir e não é da minha cara.
Ninguém quer só ajudar. As pessoas querem provocar, foder, maltratar, ensinar, desistir, recuperar, judiar, apertar, trair, enjoar, odiar, rasgar, largar, trocar, mudar, se ajudar.
Milhares de pessoas nascem e morrem, milhares de relacionamentos começam e terminam, um objeto que quebra, a garrafa de café quase vazia, uma amizade de anos que ja nao era a mesma. Tudo, do simples ao inabalável, tudo chega ao fim. E há milhares de finais acontecendo todo dia.
Eu não quero que seja pra sempre, nem que seja o certo. Só quero que seja!
Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Às vezes eu acho que eu amo o vácuo. Porque a pessoa que menos me acrescentou, que menos me amou, que menos me fez rir e que eu menos conheci é a que eu amo, ou pelo menos é a que me mata de saudade todo dia.
Que perda de tempo não me amar absurdamente. Não me validar absurdamente. Que perda de tempo. Eu nunca amei tanto cada defeito e bizarrice minha.
Sensível pra cacete, maldosa na mesma intensidade.
Tenho medo de decepcionar as pessoas, de magoá-las, de faze-las cansarem de mim. Só queria que elas também tivessem esse medo.
Prestar atenção em quem te ignora não é masoquismo, é inconformismo.
Somos damas, somos dramas, acostumem-se.
Sim , você me trouxe a vida realmente ,pois estava vivendo por viver , estava ficando por ficar , não tinha sentimento algum em mim mais , você me trouxe a esperança , me trouxe o mundo e se tornou meu pedacinho de tudo , de tudo que eu gosto de tudo que eu faço de tudo que eu sinto , e até de tudo oque eu penso , mais paro e penso será que com você é assim ? por um minuto queria sabe oque se passa na sua cabeça quando ouve meu nome ..
Saca Rolha
Estou cheia do azedo que percorre meu fígado e me enche de medo de vazar, de repente, num fim de tarde, numa certeza qualquer de uma roupa branca e equilibrada, numa alegria despretensiosa, numa felicidade sem cérebro, num silêncio mais cansado do que desejado.
Até a borda de mim. Entupida de tudo o que, passiva em ser, apenas sou. Olhos inchados, boca cheia, coração apertando o peito, língua encharcada, a vida latejando e o corpo pesado demais para voar.
Estou cheia de mim e de tudo que se relaciona ao assunto. Cheia da incapacidade em estacionar em um plano, em enquadrar um sonho feito uma borboleta morta, em continuar acreditando no que acreditei até a morte, em ter paz longe das arestas acolchoadas que criei durante toda uma vida de expectativas assustadas.
Sou filha, mãe e escrava do caos, dele me tiro, sem ele não existo. Estou cheia do caos, mas tenho horror ao equilíbrio. Confiro minhas listas compulsivamente, buscando um pouco de linha reta para que eu possa deitar e esquecer das contorções que me apertam até que eu pingue no mundo.
Sou um trapo sujo que lavo e contorço todos os segundos, mas não o tanto que deveria por falta de força, preguiça e vontade de borrar a existência ao lado. Eu preciso ganhar um sopro de vida em qualquer outra vida, para me enxergar além do espelho construído e imposto. Eu preciso me ver responsável por uma palidez matinal, uma pontada no intestino inflamado, uma trepada no azulejo do chuveiro, uma parte suave e instrumental de uma música, um cheiro de podre e solidão na madrugada sem preenchimentos.
Existo apenas para causar, e juro que amo essa palavra “causar” além da gíria que ela sugere. Existo apenas para mim mesma, o tempo todo, como nos contos do Hermann Hesse, tenho nojo e pânico de grupos que se acolhem para que se aceitar não seja um trabalho tão penoso e se sentir possa tranqüilamente ser vazio.
Estou vazando de tanto que me encho de mim, mas tenho muito medo que alguém que não mereça minha intimidade cate pelos cantos assustadores do mundo as minhas tripas. Tenho muito medo que as pessoas sem profundidade conheçam a minha, e mais medo ainda de que a profundidade do mundo me cuspa. Sou uma sem-terra porque desprezo o superficial, mas dói demais ser intensa o tempo todo, e preciso fazer luzes, compras e sexo casual.
Cheia dos meus preconceitos, da vontade que tenho de cagar em cima da cabeça de todo mundo que faz beiço para insinuar sexualidade, de todo mundo que se enfia num terno para insinuar vitória, de todo mundo que se enfia atrás de uma mesa para insinuar vida, de todo mundo que se enfia atrás de uma garrafa para insinuar alegria, de todo mundo que se enfia num bando para insinuar existência, de todo mundo que se esquece no Sol para insinuar luz.
Até o topo, até o céu, atolada, tô por aqui comigo. Cansada do meu vício de organizar tudo o que sou e de não deixar espaço para o novo, para o que eu poderia ser, para o que eu nem sei que é.
Queria agora que uma asa rasgasse as minhas costas porque, mais do que sentir a dor da liberdade, preciso não ter sexo, nem nome, nem tempo e nem casa. Preciso enxergar e sobrevoar o mundo sem ser eu, para que ser eu não seja este mundo tão pequeno e apavorado. Preciso ser qualquer coisa que eu não saiba.
Quero me chacoalhar e implodir essa rolha que me prende em mim, e me espalhar pelas terras, e banhar bostas, e acolher vermes, e alimentar tudo o que é rasteiro, tudo o que é pequeno, tudo o que não é, tudo o que é chão.
Eu tenho muita inveja dessas pessoas maravilhosas, adultas, evoluídas e espertas que conseguem separar a hora de ir a uma reunião de condomínio com a hora de desejar alguém na escada do condomínio. A hora de marcar o dentista com a hora de engolir alguém. A hora de procurar a palavra “macambúzio” no dicionário com a hora de se perder com as suas palavras que de tão simples parecem complexas. A hora de ser inteira e a hora de catar meus pedaços pelo mundo enquanto você dá sinais desmembrados. Eu não consigo nada disso, eu me embanano toda, misturo tudo, bagunço tudo. A minha única dúvida é se sou a única idiota a fazer isso comigo ou se sou a única idiota a admitir que faço isso comigo.
Você sabe que faz as pessoas tremerem a voz. Você sabe que deixa apenas duas escolhas pras pessoas: te idolatrar ou sair correndo. E como eu não sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar as pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que você não diz e vendo o que você não faz. Apenas curtindo a limitação profunda e gigantesca da sua beleza esmagadora. Feliz em ser uma formiga que carrega milhões de plantas nas costas só para ver algum esforço meu alimentando você.
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