Tag solto
Alguém se deixou matar pelo ontem. Pensou que estava na vida, dentro do seu novo eu e, no entanto, descobriu um então.
Como o pequeno-almoço a olhar pela janela.
Hoje a madrugada fundiu-se na manhã.
Talvez dois minutos de silêncio, mas são o suficiente para um trovão cortar o ar.
Todo o número par, maior do que dois, é a soma de dois primos gémeos. Assim sendo, todo o número par - que separa um par de números primos gémeos - funciona apenas como um ponto de referência, não interferindo na fórmula ou equação.
Um pensador tem vários desconhecidos dentro de si. Cada desconhecido é barra de código de um anónimo e relativo a todos os outros. O anónimo identifica-se sutilmente nas siglas de mais alguns. Numa representação esquemática, o conjunto formado revela-se fechado, porque o pensador é só um, unido por todos os detalhes - iguais e diferentes - no todo das partes e dos espaços de cada um.
Às vezes todos nós temos momentos em que vestimos a pele de uma espécie de cartógrafo, desenhando mapas para que os outros encontrem o seu próprio curso e a sua razão para ser. Mas, tal “aventura”, a ser encetada, deverá sê-lo de forma sábia e humana, porque quem está a ser direcionado pode ter a sensibilidade suficiente para a perceber, mesmo não a entendendo, mesmo perdoando, e rebelar-se interiormente, ficando com marcas no profundo do seu ser que nem o tempo mais longínquo poderá, fazer esquecer.
Uma gargalhada genuína cortou o ar e, ainda assim, continuava entremeadamente de olhos semicerrados.
- Que surpresa – disse para ninguém.
Flutuaria?
Mas a vida é mesmo assim.
Tudo o que é credível não é bem-sucedido. Existe um atropelo pelo que é estereotipado. Ninguém quer olhar para si e assustar-se. Quem vive na porta da frente? De quem é a porta detrás?
Existia algo indefinido na minha alma. Só entendi agora. Neste momento. Talvez por fazer as coisas de coração e sem qualquer outra intenção. Talvez por distração. Ainda tenho muito trabalho a efetuar em mim própria. Eu gosto de crianças. Independentemente de serem filhas de quem são. E o que mais me cativa nelas são as gargalhadas, o riso, o sorriso e a felicidade dos seus olhos. Apenas e só. Nada mais.
Não é estranho que o silêncio sufoque as pessoas e a sua amizade?
As lobotomias são sempre mais simpáticas, apesar de algumas ansiarem por atenção.
Está tudo muito sossegado.
O canto dos pássaros suavizou-se no seu timbre e o vento parou de se acariciar nas folhas verdes e noviças.
Um som diferente corta o ar, impercetivelmente audível. Parece o entoar de um Cuco.
Não sonhei. Ou, pelo menos, assim o disse a mim.
Rio-me.
Talvez hoje seja a noite em que me veja a velejar pela memória.
Reforçar a fé. Aceitar. Alimentar a esperança. Rezar.
E amanhã abraçar a madrugada e o dia saborear.
A quantidade total de massa e de energia no Universo é sempre constante. Nem é criada. Nem é destruída.
“Explodir” é só a forma com que se canaliza o excesso de emoção causado por alguém exterior a nós e que nos leva para além dos limites de nós próprios.
As roseiras que crescem espontaneamente, sem a ajuda de produtos, tendem a ser destroçadas pelo oídio.
Ninguém pode, em hipótese alguma, ser uma opção para alguém de entre tantas outras. Ou se é a única, una e inteira, ou não vale a pena ser-se absolutamente nada.
Ao cume para revoar
Alterar o canto em prece
Deixar a brisa fluir e ultrapassar
Com uma camada de brio se enrijece
Para nesses seus dourados que desperta
Esteja desperto no fogo do brasão
Alimente esta balda que liberta
Tenha o seu ímpeto dragão
Caatinga até os vales esgotados
Tudo continua ressequido, como cóleras
Heróis alados para um povo imputados
Que podiam a fazer, fizeras
Um altar em veneração
Persegue a vontade de bailar
Ter em mente que as nuvens não decretaram imposição
Que além poderá vagar ver o sol brilhar
Abjugue desses grilhões
Apeteço alcançar meus irmãos de cobre
Antes que o molesto retorne aos milhões
Inescusável pairar, passar o tempo votar a ser nobre.
Amor de verão
Muitos são os amores de verão, amores também se têm
em qualquer outra estação.
Mas o verão, por ser quente, traz uma atração diferente.
E o coração, solto ao vento busca em cada rosto visto,
um amor, que marque o momento.
Aventuras de um verão, às vezes ficam eternas, permanecem
a cada estação, desafiam o próprio tempo, são coisas inexplicáveis
para o próprio coração.
Feliz são os que o encontram e vivem uma vida linda, tendo ao seu lado,
o amor que o verão, de presente lhe deu, e que em cada primavera
voltará ao florescer.
No outono amadurecem, e no inverno se apaixonam ainda mais, em um eterno
enternecer.
Roldão Aires
Membro Honorário da Academia Cabista de Letras Artes e Ciências
Membro Honorário da Academia de Letras do Brasil
Membro da U.B.E
