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Eu sou meio mutante mesmo, mas antes eu me sentia um pouco perdida. Aquilo que eu estava fazendo não combinava com o tipo de música que eu estava querendo cantar. Aquele negócio de você ver o capim crescer na sua casa sem tomar providência nenhuma. Um dia você se dá conta e o capim já virou mato e aí você sente que está emaranhada nele. Então tem que cortar o mato. É difícil mas é bom porque você se deu conta, entende?

JOANINHA

Essa é a história de Joana dos Santos
Mais conhecida como Joaninha
Linda menina com tantos encantos
Seu sonho maior era entrar pra marinha

Tinha dois irmãos, mãe e padrasto
Numa casa simples da periferia
Rosto de boneca e corpo casto
Os vizinhos diziam que artista seria

Aos 11 anos tudo mudou
Joaninha tornou-se mocinha
Chegou na escola com o braço roxo
Sorriso amarelo e olhar de desgosto

Cada dia uma história contava
Bati na maçaneta, caí da escada
Escorreguei no banheiro
Cortei-me com o espelho

Dona Rosa, sua professora
Percebeu haver algo errado
Ela confessou à protetora
Que era violada por seu padrasto

Chorou amargamente
Disse que pra casa não voltaria
Dona Rosa tinha algo em mente
No dia seguinte o denunciaria

Ao acordar ouviu a manchete
Menina jogada em terreno baldio
Não entrou pra Marinha nem tornou-se artista
A pobre criança virou estatística.

PRA VOCÊ EU QUERO...

Ser menina nas brincadeiras
Na cama ser mulher
Ser sua melhor amiga
E desconhecida para que sempre tenhas algo novo a descobrir
Eu quero ser o porto onde desejes ancorar
Mas também quero ser o vento que te leva a outras águas
Eu quero ser primavera para que regues minha flor
Também quero ser outono para que comas do meu fruto

Eu quero ser poesia em sete versos e assim me leias com um olhar
E seu romance de cabeceira para que me leias a vida inteira.

AMOR DE GIZ

Pra falar de nosso amor escrevi no muro com giz
Perguntaram o porquê eu fiz assim se logo iria apagar
Respondi que pra mim amar tem que ser desse jeito

Algo me diz que amor de giz é melhor
Ele pode ser reescrito a cada novo dia.

COR & GOSTO

Eu queria que poema tivesse cor
Escreveria um bem vermelho
Que lembrasse gosto de beijo

Se poema tivesse gosto
Escreveria um salgado
Meio molhado
Com gosto de corpo suado

Só pra lembrar de você.

Minha solidão
Tão minha
Tão só
Tão seca
Sedenta
Minha solidão mata a sede na água de sua boca.

Nunca mais haverá uma Billie Holiday no jazz, ou uma Callas na ópera. São vozes que Deus fez únicas para que fossem escutadas a exaustão por toda a eternidade.

VIDA DE TRABALHADOR

Mal sente o sabor do café com pão
No meio da multidão
Preocupado com horário
É apenas mais um solitário
Pega trânsito pesado
Chega atrasado
Encontra o chefe estressado

Naquele alvoroço
Mal tem tempo pro almoço
Debaixo de tanta pressão
Seu maior medo é da demissão

De volta para casa continua o tormento
Atura novamente o engarrafamento

Com o salário do mês
Não sabe o que fez
Não tem mais vontade de sair da cama
O dinheiro não durou nem uma semana

Tantos impostos, juros, inflação
Espera pelo dia de votação
Pena que sejam os mesmos da outra eleição
Todos envolvidos em corrupção.

CAOS & CALMA

Quando minha calma vira caos
Minha alma pede poesia
Poesia escondida no abraço apertado
No riso solto
No canto das ondas quando beija a praia
No vento que acaricia a pele
Poesia que se atreve e deixa uma mordida no fim do beijo
No último gole no fundo da taça

Quando minha calma vira caos
Minha alma convida a poesia
Pra brindarem aos recomeços.

Sem você sou uma prosa triste
Sem final feliz.

Nessa longa estrada
Sigo assim
Dona de mim.

ESTAÇÕES, DIAS E CORES

Quero ser sábado
E gostar de ser uma quarta-feira
Um dia qualquer
Ser ensolarada
Também saber chover
Gotejar quando quiser
Quero ser azul infinito
E achar bonito me acinzentar

Quero ser cada dia da semana
Todas as estações
Saber ser todas as cores

Só não quero ser a mesma
Quando acordar amanhã.

DIVAGAÇÕES

Divagando em minha teia de pensamentos
Enquanto tecia memórias
Quis saber qual palavra mais causa tormentos
Morte, dor, desprezo, escória...
Entre tantas mazelas
Lá estava ela
QUASE
Quase é a palavra
Palavra que mais maltrata

Quase passou no concurso
Quase chegou a tempo
Quase conseguiu o aumento
Um quase beijo
Quase amor
Quase se libertou
Quase foi escolhida
Quase ganhou a corrida
Quase, é a mais doída
Quase, jamais gera vida

Quase, é a palavra daquele que não alcançou
De quem não ficou e nem chegou
De quem se perdeu no caminho

Ainda em minha divagação, pensei
A água quase quente não serve pro café
Ah!! Uma vida sem café não dá...
Nem tem discussão. Né?!

DESCOBRI

Um dia cresci
Descobri que o barulho na concha
Não era o som do mar
Que pai e mãe também erram
Que a cada dia sei menos das coisas
Descobri que verdadeiros amigos se conta nos dedos
Que ganhar colo é bom em qualquer idade
E que sempre vou querer raspar a vasilha de bolo

Um dia cresci
Descobri que o para sempre
Às vezes tem fim
Que nem sempre o sim é melhor que o não

E o melhor de tudo
Descobri que os grandes abismos
Podiam ser pulados feito poças d’água.

EU QUERIA SABER

Quanto tempo o tempo leva
Pra água esculpir a pedra
O tolo parar de bancar o juiz
Perceber que ser aprendiz é melhor

Quanto tempo o tempo leva
Pra eu descobrir quem sou
Se sou uma ou se sou várias
Se a dor é minha ou do poema

Quanto tempo o tempo leva
Pra engavetar uma teimosa paixão
A violenta saudade domar
Uma ferida virar cicatriz
A ausência parar de doer
Leva, Tempo?
Leva!

TEMPO

Às vezes tão lento
Quando tudo que queremos é que se vá
Leve as dores
Apresse as tempestades
Fica ele ali tal qual relógio com o ponteiro quebrado

Ora passa rápido
Como os números no cronômetro
Mal pode ser visto
Quando se percebe
O menino cresceu
A rosa murchou
Perdeu-se o trem
Nem foi dado o adeus

Tempo
Se passas lento como as borboletas
Ou ágil como os Colibris
Já não importa
Desisti de entender em qual asas vêm

Me ensine a voar contigo.

ASSIM É

Janela que dá pra lugar nenhum
Trevo que perdeu a quarta folha
Concha tirada do mar
Cobertor que não tapa os pés
Assim é aquele que perdeu a voz
Foi negado o saber
Queimada a história.

Na folha de papel
Vi que palavras não se pode prender
Senti cheiro de liberdade
Enxerguei colibris
Descobri então
Que sou feita de asas.

POUSO

Tal qual a caneta que após percorrer todas as linhas repousa exaurida sobre a folha de papel
Depois que eu fizer todo o percurso de sua pele
Embrenhar-me em seu corpo
Enfim exausta
Ofereça-me seu peito como pouso.

MENINA

Apaixonei-me por esses seus olhos que quando me veem ficam apertadinhos e não conseguem esconder o sorriso.
Apaixonei-me por ti menina

Menina que nasceu nos olhos do meu amor.

Se você é remédio ou veneno ainda não sei
Só sei que vou beber até a última gota.

MARGARIDAS & GIRASSÓIS

Quando criança
Por várias vezes acariciei margaridas
Tentava consolá-las por nunca se transformarem em girassóis
Os dedinhos infantis alisava as pétalas como se elas sonhassem
Nunca contei que girassóis não são margaridas crescidas
Tentava fazê-las se sentir queridas
E entender que eram lindas
Singelas assim
Só por serem elas

Quando criança
Eu pensava que cuidava das margaridas
Agora sei
As margaridas cuidaram de mim.

MERGULHO

Encantei-me pelo mar
Talvez por nunca ser igual
Ora suas águas são serenas
Em outra é onda que afoga
Nunca sei se a maré estará cheia
Se precisarei ficar na areia

Apaixonei-me pelo mar
De águas frias
Areias quentes
Mar que enfeitiça a gente
Banha o corpo
Lava a alma
Deixa seu sabor na pele
O gosto de sal que tem na água
Que vem no vento
Tempera a vida da gente

Ah mar!
Agora sei porquê te chamas assim
Quero mergulhar
Eu quero amar.

ASSIM SOU EU

Sou tempestade
Não tenho hora para chegar
Me darramo aqui ou acolá

Sou cura e veneno
Provoco suores
Lágrimas
Arrepios
Arranco suspiros

Sou vento sem morada
Nada deixo no lugar
Tiro pedaços
Te viro no avesso

Sou bússola sem ponteiro
Trem sem maquinista
Te tomo por inteiro
Não preciso do sim ou do não
Tiro o juízo e a razão

Muito prazer!
Me chamo paixão.

Elis Barroso

Eu queria ser poeta
Para uns versos escrever
Com a unha
Em sua pele.