Sonetos Pablo Neruda
SONETO SUPLICANTE
Amor, o meu plangor rasga o céu
Como lavradores no chão inviolado
Querendo arar o peito aqui calado
Com o teu olhar, e no teu amor, réu
Neste universo dum amor imolado
Escrevo sentimento neste cordel
Triunfante e tão cheio de tropel
Que faz o pensamento enevoado
Venha ver as emoções deste anel
De luz, quantidades e, de agrado
Num vento de virtude, nunca infiel
E entre muitos, o meu a ti destinado
É fulgor transparente, sem ser cruel
Apenas a sorte de amar e ser amado
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
16'00", janeiro de 2016
PERDA DE TEMPO (soneto)
A quem me viu além tempo, além vidraça
Da vida, cara a cara, assim, de pertinho
Verás que no tempo e na vida caminho
Graças! E que o tempo no tempo passa!
E por mais que queira, que tudo faça
Implacável é o rumo e tão torvelinho
Aromatizado como o curtido vinho
Se fazendo veloz, como, tal fumaça
Já velho, eu, não busco burburinho
De perda de tempo, ou de chalaça
Se estou jovem ou se sou velhinho
Vivo o tempo, sem tempo de negaça
Mais vale amor no tempo com carinho
Que o valor do tempo que esvoaça...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 2017, 05'55"
Cerrado goiano
LOMBEIRA (soneto)
Tardes do cerrado goiano, lombeira
Tão ressequidas, de tão árida vida
Tardes com a sua lentidão parida
De melancolia à sombra da lobeira
Horas benditas, de demora dormida
Que nas horas se faz hora terceira
Tardes de silêncio, tarde feiticeira
Languidez na languidez desmedida
Olhos serrados, sonho sem fronteira
Tarde muda, do tempo, hora vencida
Na imensidão bem além da porteira
E nesta doce pureza a tarde caída
Que poisa hora serena, por inteira
As tardes, tecendo hora perdida...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
ALVORECE DE NOVO NO CERRADO
Alvorece de novo o alvorecer no cerrado
Em cada manhã nasce um novo amanhecer
Num novo dia, outra vez de novo, a haver
De um renovo do velho pro novo, airado
E nesse amanhecer de um novo romper
Quero ser o novo, e do velho desanuviado
Dos gestos gastos deixá-los no passado
Desabrochando o ser prum novo querer
Assim, nesta festa do novo engrinaldado
Deste cada novo amanhecer... o reviver
Em botão, florescendo, amor engalanado
Então, quero crer, no novo, ao amanhecer
Metamorfoseando a vida no novo denodado
Onde amanhece o novo a nos surpreender
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
ERROS...
Quem diz: é amor demais! Extinta paixão
Que enriquece tristezas, desejos e medo!
Pelo cerne enlouquecido, o coração
Não se impõe de existência um segredo!
Quem diz: é paixão demais! Extinto amor
Que empobrece sorrir, lágrimas e sofrer!
Pela alma corrompida, a dor
Não se absorve de alegria um viver!
Sentimentos complexos e equivalentes,
N’um existir eficaz a consumir o espírito
Por fantasmas vulgares, dependentes,
N’um despertar sem sentir por ser dito:
Amor! Paixão! Desejos loucos e plenitude,
Só se têm; quem se impõe, em virtude!
Dolandmay Walter
VAZIO
Silenciosos dias pregados de saudades,
E imaculados, e incandescidos, de ardor;
Quais reprimidos, de vaidades,
Quais gracejados sem mesmo amor,
E de paixões, desejos, de insanidades,
E incompletos, cobertos, sem esplendor;
Quais fiem de tais realidades,
Quais escuros, e puros, a mesma dor...
Julgados, e infinitos, no mesmo arder,
Aos quais me pus enlouquecer
Na imensidão complexa de seus segredos...
Que inovados sejamos, sem mesmo amar,
Que insanos sejamos a vaguear,
Na compreensão finita de vossos medos...
SONETO DE SENTIDO
Andei sem direção, sem um caminho
Por muito tempo andei na contramão
Olhava os fatos, mas não via a razão
Até que mudei da água para o vinho.
Por muito tempo estive só, perdido
Não sabia o que, na vida, eu iria ser
Mas hoje eu sei: Ser tudo pra você
Pois no amor encontrei, enfim, o sentido.
O tempo que perdi não vai voltar
Foi se, ao sopro do vento, ver o mar
Na verdade, não sei se foi perder
Creio que é, a evolução, contrapartida
Mas tudo isso passou e volto a dizer
Que só o amor é o sentido desta vida.
SONETO DE SIGNIFICAÇÃO
Amor é apogeu do intangível
É maior que a Terra, é constelação
É o infinito no coração
Inalcançável pelo insensível
É livre de qualquer tradução
Que tenha um nome é compreensível
Mas o sentimento é indizível
O que está no dicionário é enganação
Essa busca pela significação
É coisa de poeta e escritor
Embora saibam que não se define o amor
O escritor perde a coesão,
A noção de sujeito e predicado
O poeta, a métrica e a rima.
NA LUZ DOS ALTOS
No dia em que eu nasci à imensidão,
Um notado azul feito o do mar
Fulgiu em meu peito: cor de coração
Não é vermelho se não é amar.
Rugiu em mim, o fantasma escuro,
O qual eu encontrei às trevas-além:
Dos meus céus, sou um servo-zen,
Como um santo real e de verso puro.
Vagueando notas, avejão prisioneiro,
Na escuridão sem voltar à cor:
Da voz da estrada o luar mais cheio.
Dos meus ais, sou inseguro e triste,
Mas desse notado o que existe,
No buscar da vida o meu cerne-amor.
PARA SEMPRE...
Em mim, não há amor maior que o seu!
Que, portanto, o que eu sinto vou cantando
Nas promessas que te vou debulhando
Aos desencantos do que nunca me viveu...
Em mim, tudo o que se passa vou amando
Sem engano ao teu querer, que se ergueu
Dentre o meu peito, que antes, ao teu
Nada era de amor, nada era me encantando.
Pecados maiores eu não haverei de amar,
Pois, contudo, orgias que em mim vive,
Encontra-se no que em ti se põe a edenizar.
Amor maior que o meu não haverás de viver,
Pois, de mim, há em ti o que nunca tive;
Não há amor no mundo que nos possa ser!...
SONETO DE SEMPRE
Vai, mas antes, dê-me um beijo, meu amor,
P’ra que’u não esqueça do seu rosto
Mesmo que me seja a tanta dor,
Lembrarei por todo sempre do seu gosto...
Por tanto o nosso amor fora composto
Aos jardins, imenso feito flor
Tanto fora de amplidão e esplendor,
Sem mágoas, sem mistério, sem desgosto.
Não entendo te acabar tão cedo assim
Esse tão forte sentimento, dentro de mim
Não haverá d’outro ardor o mesmo ar...
Vai, mas antes, dê-me um beijo, oh, querida,
Que um amor forte assim em sua vida
Não haverá quando velhinha de lembrar...
NOSTALGIA
Eu só queria, em mim, entender
Porque pagãos me perseguem...
Atiram-me fogo, chamas erguem,
Quando me veem em algo vencer!
Será que ainda vou compreender
Como tudo invejar conseguem,
Até o motivo porque me seguem
Numa empáfia sem nada dizer?
Talvez sim, quem sabe no infinito,
Eu ouça, nostálgico, algum grito
Dizendo que querem amar alguém!
Ou, talvez, quem sabe, já amam...
Uma vez que não se enganam
O tanto que eu vos amo também!
Por você
Reinvento-me a todo instante.
Volto sempre ao recomeço.
Não me importa o tempo que passe;
Se preciso for, viro-me ao avesso.
Tudo isso para reencontrar
Aquela menina,
Que me pediu um selinho de amizade!
Me deixando totalmente sem jeito.
Do amor mais puro, à sua falta.
A saudade no meu peito sobressalta.
Você deu-me medo, hoje faz falta.
Do medo, soube quando senti.
Da falta, senti quando procurei.
Essa ausência sua, ainda me mata;
Viver sem ti, ainda não sei!
SONETO TRISTE II
Eu estou assim: da tristura cativo
Intrusivo num túnel dum calvário
Rodeado de sentimento solitário
Mesmo entre olhares como vivo!
Do peito rezam vozes num rosário
Da casa um silêncio tão opressivo
Frio, sem graça e, sem incentivo
Que lá fora fracasso no itinerário
Olho-me num soluço pensativo
E vejo sonhos perdidos no diário
Desfolhado num jardim subjetivo
E me pergunto: por que o cenário?
Quando é meu tempo? Respectivo!
Pois, se o tempo no tempo é vário!
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
05/02/2017
Cerrado goiano
A TUA FALSIDADE
Que momento foi a alegria desabrochada
Do teu peito, donde antes não havia
Um só riso à tua face; rústica-apagada,
Qual na luz dos teus olhos não se via?
Momentos de alegria! Oh, meu amor,
Ao coração, que na penumbra de um riso
Ainda chora o descompasso duma dor,
Mas, por hora, alegre ao teu sorriso!
Trevas, veem os meus olhos à tua vida,
Que ainda não é minha; que ainda não é lida
Mesmo à suavidade da tu'alma alheia.
O sol, parecem os teus olhos cor da noite!
Que brilho, amor! Que fosse ao afoite
Da minha alegria, e da tua fosse cheia...
VERSOS DE CETIM
Talvez por seres, para mim, a paixão
uma ternura mor, então, sê bem vinda
ó emoção! És mais do que sensação
és carinho, o sentido, abrigo, e ainda,
trazes o cheiro envolto em recordação
sobre como é bom conter, a tão linda
poética, acolhida na sonora entoação
que sente n’alma, e no agrado brinda
Conduzes o soneto, em um cântico
a eterna afeição, o sentimento hurra
invade, e que na poesia, assim, tece
cada cuidado, cada afinidade, enfim,
nos braços do amor o amor sussurra
e o coração rimando versos de cetim.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24 junho 2024, 20’58” – Araguari, MG
ROGAÇÃO
Quando, como uma explosão, fulgura
no soneto o esplendor de uma paixão
arqueja no verso o desejo e a emoção
numa poética suspirosa e com ternura
quando, sair desta sedosa sensação
na inspiração não terás mais ventura
a poesia se entregará a total loucura
duma saudade, do aperto, da solidão
e a ardência do doce beijo, emudece
o coração em prece, suspira e chora
naquela entoação chorosa, tão doída
delira um silêncio, e a dor se oferece
sentimental o amor na prosa implora
o versar amante, outra vez na medida!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
25 junho 2024, 17’11” – Araguari, MG
ROMÂNTICA TEXTURA
Exaltarei, o amorável verso que esmera
o amor. Vem com o tempo que não para
já a paixão que a suave emoção espera
é desejada, e o bom sentimento prepara
Tem uma poética de toada da primavera
eu, só, não tornarei o desencanto apara
e, do meu sonho, quero toda a quimera
versejando aquela seduzida poesia rara
Em nome desta prosa de amor, o amor
e na sintonia, assim, sentimental e pura
aquele toque, versado com todo o ardor
Estima-se, a sensação cheia de ternura
mais vida, o poema prosado com sabor
e em cada trama uma romântica textura.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27 junho 2024, 15’44” – Araguari, MG
“prego”
Talvez que um dia no verso meu chorado
sob a luz da saudade, num versar falando
tu ouças nas rimas o meu ser apaixonado
em um grito de padecimento te saudando
Está lágrima que fez o papel ficar borrado
não se atenha. É meu prosar lacrimejando
quando vaza do coração pra ser escutado
e que na dor da solidão vai transbordando
Não é simples sofrer, ou, que nada valeu
é aperto no peito e, que ainda não passou
e cá no soneto, um suspirar cruciante meu
O grito, se ouviste, por favor, é sentimento
que vai corroendo a súplica, assim, te dou
um canto: com choro, gemido e sofrimento.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28 junho 2024, 15’04” – Araguari, MG
