Sonetos

Cerca de 1114 frases e pensamentos: Sonetos

CANÇÃO PERDIDA

Quem sabe, talvez, o mundo não me quer.
Serei eu resto dum naufrágio incompleto?
Talvez seja resto de uma madeira qualquer
Sem ter a marca ou penhor d’um dialeto...

Ou, quem sabe, talvez, seja chaga sem poder,
Seja ferida que ninguém vê por completo...
Uma estranha voz, uma canção d’um querer,
Talvez seja eu, um enigma, um ser indireto!

Eu sei que a minha sorte não é neste mundo...
Talvez, pela explosão, d’um céu moribundo
Sou quem anseia estrelas no reflexo do mar!

Eu sei que, nesta esfera, sou um ser perdido
Que busca encontrar neste mundo ferido
Uma melodia, talvez, que seja pra cantar!

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TORTURA FRIA

Vivo assim, um tanto desesperado.
Busco a sombra do sol na noite fria...
Por queimar-me a pele a luz do dia
Onde me pus o coração desprezado!

Vivo, assim, sob o mantéu enfeitado.
A devorar a minha vultosa nostalgia...
Vê-me a lua: sou a estrela fugidia
Que o deste o clarão tetro sufocado!

Sim, eu sou o Poeta que te enfeitas,
Que não quer no mundo a tua dor.
Sou quem tu vês, no leito que deitas!

Sim, que seja em mim o teu langor...
Por devorar-te a noite que rejeitas,
Por queimar-me a pele o teu amor!

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O ENCANTO D’ELA

Depois, que ao amor, amo você,
Minha tristeza se vai de mim...
Mas quando o amor nos chega ao fim
Na solidão volto a sofrer...

Em melancolia, tristeza tanta...
Não me há beleza, não me há estrelas;
O amor em mim só se levanta
Quando ao seu amor estou de vê-las...

Não há por quem esse sentimento
Qual de você eu sinto tanto,
Nem paixão, nem movimento

Com tão amor, com tão espanto
Qual de você num só momento
Hão de fazer em mim, sofrer-de-encanto.

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O MEU CONFORTO

Sol poente... noite fria! Cá estou! Sou eu.
Eleva-me à fragrância da flor morta...
Que do dia, me restou a vossa porta
Por voltar à luz bendita que morreu!

Sou do teu conforto de saudade
O teu grito erguido em trevas de infinito...
Prega-me à cruz da insanidade
Que sou de ti a história curta de um mito!

Sou eu! Cá estou! Abra-me seus espaços,
Minha cruz, onde morre a minha dor,
Que já breve volta à luz os meus cansaços...

Noite fria... solidão! Oh, meu amor!
Dá-me o conforto dos teus braços...
A ilusão dos meus instantes de primor...

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SE TUDO NÃO FOSSE SONHO

Se tudo pudesse ser
Do jeito que é agora,
Do jeito em que me devora
Com tanta ânsia assim...

Se tudo fosse a você
O amor louco que me têm,
O amor que te contêm
Dentro d’alma pra mim...

Seria infinita a paixão,
Seria sem saudade ou ilusão
A forma louca d’eu te amar.

(Se tudo não fosse sonho)
O amor que te disponho,
Eu não mais queria acordar.

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ELA FOI UM SONHO!

Ela me mentiu, em passos leves de amor;
A verdade era uma lógica sem saída.
Era tanta paixão! — um desejo sem vida!
Que tanto atormentava o meu fulgor...

Tinha tanto brilho, mas uma luz sem cor;
Ofuscada em sentimentos, e comovida
Ela tinha tantos planos... sem que partida
Viesse sentir ao coração o meu primor!

“Prisioneira dos sonhos... não realizados!”
Tornando-nos espectros condenados,
De amores fúnebres a perecer na solidão...

— Ela se foi, como um conto de saudades!
E os teus anseios loucos de vaidades
Perderam-se nas falsas luzes da ilusão...

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DEPÓS A CHUVA
(A prometida)

Então, depois, que chegaste sorrindo
e bela, quando triste eu já estava,
sorriu... a minh’alma, que enlevada
de sonhos, a noite foi se cumprindo...

Hoje, que me és a luz deslumbrada
e infinda, infindo eu me vejo sentindo
orgulho dos meus olhos, que nada
enxergava de esperança se abrindo...

Certo que de euforia imensa e leve
possa pulsar por teu sangue que tece
o meu imenso coração elevado,

Elevar-te-ei o luar da noite cumprida,
por certo que me foi prometida
para morrermos de amor lado a lado...

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NAS ERAS D’ ELA

Estrela dos meus céus e dos meus delírios,
Fonte de meus desejos e da minha paixão,
Flor que entre os espinhos me reluz os lírios,
Vida de minha vida e do meu coração...

Lua de cor plena, luz dos meus martírios...
Água de minha sede a me banhar as mãos,
Anciã dos meus pecados e dos meus satírios,
Eis a minh’alma em sua imensidão...

Fazeis d’ela unção, que de mim és santificada.
Oh rosa de acalanto e amortalhada,
Amor de meus amores aos céus perdidos...

Vida que me és estrela aos sonhos loucos
Nada te és em vão, nem tempos são cavoucos,
Eis que n’outro ressurge o teu amor antigo...

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A MINHA PROVA

Dados os meus dias de orgulho e de sol
Por Aquele que vence o desalento e a dor.
Fez-me um rei com beleza de arrebol,
Fez-me um anjo d’asas brancas e de amor.

Dados em mim os cânticos do rouxinol
Por os arcanjos das noites e do esplendor.
Fizeram-me alto, um bendito, um escol
Entre os mortais de paixão e de primor.

O mau? O que me interessa se no mundo
Todo o amor foi me dado, e se profundo,
Eu vivo por compor um ente idolatrado?

Eis o meu império de orgulho e de raça...
Minha ação, meus sonhos, minha desgraça
Vence-me à vida o Deus do meu curvado!

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AOS CIÚMES D'ELA

Saber dizer-te... ignorar, desprezando
os teus atos, ofusco, displicente
a zumbir os teus medos, e coerente
fazeis te ouvir às zombas revelando:

Por entre cabelos e rosas, cheirando
é cor múltipla, agrado pendente
que entre donzelas me és simplesmente
quem amo, em tua voz despojando...

Abrir aos céus meus cantos! A tua luz
é quem forjar o ouro, quem conduz
os meus sorrisos ao teu íntegro amor...

Que despeito sente, mesmo ensandecida,
nada a mirar por mim em outra vida;
porquanto me és de todo o esplendor!

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BEM-AVENTURADO

Abençoado é aquele que de esperança sonha,
Que de julgo é julgado por amor e honra;
Que encontra na fé, a vida; que vive e inconha,
O calor do imenso sol; que a noite, desonra.

Abençoado é aquele que de quietude prega,
Que de alento absoluto ao coração disponha;
Que de mágoas, não devolve mágoas; que cega,
Do fruto execrável o teu sentir à peçonha...

Abençoado é aquele que das águas se banha,
Que das flores, aos jardins se veste em perfume;
Que ensinaste aos humildes tua sã coragem...

Abençoado é aquele que dentre as montanhas,
Dos seus ideais, de bondade reflete o lume,
E que de existência se cria a Deus sua imagem...

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A FADA DOS LÍRIOS

Se por simples perversão ela errasse
Em algum lugar da nossa história...
Dos contos, me ficariam à memória
Apenas a expressão do que me falasse...

Se por simples estrelas me contasse,
Os meus agrados ficariam em sua glória
E as minhas palavras compulsórias
Em cada um dos gestos que ela amasse...

Hoje trago de tua face o esquecimento,
Do que me dissesse nos momentos,
De quando tudo nos foi feito de magia...

Se Deus a fez no mundo pra enternecer,
Foi para ao coração eu compreender
Como o tempo a nossa história contaria...

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PRETEXTO

Que nada me fosse vil! E pecado
Ao firmamento! E eu seria um santo,
Que, no mundo, o meu pesado
Seria o meu provar de acalanto...

E de toda à vida, eu seria um manto
Ao destino, que se prega andado,
Mudo. E, qual razão teria um pranto?
E de qual amor seria meu curvado...

Por tudo é essencialmente puro!
E nada é de vão momento...
Nem adúltero, nem enlouquecido...

Por tudo o que é desgraça, impuro!
E canto, e disperso ao vento
Do meu santo mundo o ardor vivido...

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MIRAGEM

Ser um amor alegre entre os amados,
Ter um destino jurado e bendito,
Ser um modesto à não andar restrito,
À jamais pedir perdão dos pecados...

Ser um santo em meio aos malvados,
Ter na paixão tatuado um só grito
Como um sapo no frescor dos banhados
A esperar seu grande amor infinito...

Ter o que o Homem afirmou ao luar:
“Eis p’ra cada um uma estrela a brilhar...
Em toda vida há um vultoso plano.”

Ser simplesmente uma razão de viver...
Ter dum Poeta, o verso, um querer;
Que tanto no mundo eu sou um engano.

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VAIDADE

Como posso dizer-te dos desejos,
Se em mim são loucos também!
Como posso falar-te dos ensejos,
Se me são iguais os que você tem?!

Anseios! Que nos faz enlouquecer,
Perder a razão, completamente!
Demências! Que nos faz sofrer,
Se não às tivermos dentre a gente!

Loucuras! Que dizer-te não podia,
Já que me são também em euforia...
Dentro d’alma, é dor e sofrimento!

Mas, falar-te de amor ao coração,
Talvez eu possa, dizer-te de paixão,
Já que me é igual por sentimento!

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ASPIRAÇÃO VIVA

Tu és dos meus dias o vento norte!
A tocar a minha pele em ar quente,
Beijando-me a face, insano, tão forte
Por deixar o meu sentir elouquente!

Tu és dos meus dias a brisa da sorte,
O findar do meu aspecto plangente...
Que, no avarento momento da morte,
Deu-me vida com um beijo ardente!

Morto por cansado num afeto triste,
Deste-me o beijo d’um amor que existe
Dentre as almas mortas esquecidas...

Que bem os desejos que sinto agora,
Sejam eternamente pela vida a fora
Os ventos a beijarem as faces perdidas!

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INGÊNUO

Quem sabe, então, o que antes fostes,
Um encantamento as delícias de amor,
Dizeis-me a notar-me outro furor,
Sem que cousas vossas me encostes...

Que sei, no entanto, que de esplendor,
Outrora, apenas, quando pentecostes:
Festejo que anjos em celebridade postes
À memória dum único que amar fuor...

Então, não me inventam cousas outras;
Dizeis-me que fizestes dum encanto
O afeto que por todos os ventos sopras...

Bem como me vago, a pântanos afora;
Que dum Poeta me notado canto
Ao Deus de amor e por tos que chora...

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MEU PRECIOSO AMOR

Vem, amor, para quem te ama tanto!
Para quem não sabe mais o que fazer,
Nem mesmo sabe mais ficar sem ter
Os teus sorrisos belos e o teu encanto...

Vem, que te desejo não sabes o quanto,
Vivo por tua paixão, por teu querer...
Sim, amor, sonho e vivo por teu viver,
Sou da tua canção o teu vultoso pranto!

Choro e canto, mas a chorar sem dor...
Na face escorres as lágrimas de amor,
Por tão humilde alma que há em mim!

Tu és da minha vida o tudo que já amei,
A essência mais rara que tanto esperei
Estar aprisionada no meu amor sem fim!

Inserida por acessorialpoeta

LAÇOS

Tantos sentimentos me perseguem...
E nesta vida em que eu vou passando
Céus inteiros me clareiam, quando
Todos os de bom amor me seguem...

Com a voz do infinito eu vou cantando
As melodias dos que não temem,
Dos que, nos louvores, prevalecem
Nos maus das noites dispersando...

Eu anseio qual se afia prudentemente,
O que não se firma em mau intento,
Que não se deixa amar secretamente.

Pois que os sentimentos nesse mundo,
Não inquire tudo o que se vai vendo...
Mas anseia o coração, que é profundo!

Inserida por acessorialpoeta

OBSESSO

Há no meu amor um desejo e uma lenda,
Que são de ‘spasmos fiéis e de conflito,
Que são de paixões e de oferenda;
Que me tornam na vida um ser bendito.

Há na minh’alma um fulgor e uma emenda,
Que são por um conforto de infinito,
Que são de louvores à minha contenda;
Que são por todo plano o meu grito.

Espíritos me rondam os espaços mais cruéis,
Por vaidades que bendizem verdadeiros;
Por razões me confundir de amor e sonho.

No meu amor, se passam como fortes leis
A provar, de mim, recantos altaneiros;
Que por Deus, é o forte amor qu’eu disponho.

Inserida por acessorialpoeta