Soneto da Falsidade de Vinicius de Moraes

O dinheiro nunca falta para os nossos caprichos; somente discutimos o preço das coisas úteis e necessárias.

Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões.

O escritor original, enquanto não morre é sempre escandaloso.

Desperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve.

E cada um acredita, facilmente, no que teme e no que deseja.

Não se perde nada em parecer mau; ganha-se tanto como em sê-lo.

A morte é de fato o fim, no entanto não é a finalidade da vida.

Para a virtude da discrição, ou de modo geral qualquer virtude, aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática.

Não são as pessoas que são responsáveis pelo falhanço do casamento, é a própria instituição que é pervertida desde a origem.

A inimizade pode ser tão cordial quanto a amizade.

A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis.

Quando o ateísmo quiser mártires, que o diga, o meu sangue está pronto.

O homem sério é perigoso, pode transformar-se em tirano.

A falsa modéstia é o último requinte da vaidade.

Como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditam nele.

Não podendo regularizar os outros, regularizo-me a mim mesmo.

O escravo constrói o seu orgulho em função do ardor do patrão.

Nas grandes crises, o coração parte-se ou endurece.

Há muita gente infeliz por não saber tolerar com resignação a sua própria insignificância.

O destino, como todos os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho.