Soneto da Falsidade de Vinicius de Moraes

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UM NOVO DIA

Um novo dia vem nascendo
Um novo sol já vai raiar
Parece a vida, rompendo em luz
E que nos convida a amar

Oh, meu irmão, não desespera
Espera a luz acontecer
Para que a vida renasça em paz
Nesse novo amanhecer

Surgem as abelhas em zoeira a sugar o mel das flores gentis
Param as ovelhas pelo monte, a recordar os horizontes felizes
Vindo à distância cantam galos em longínquos intervalos de sons
Pombos revoando, vão uivando, vão passando nestes céus tão azuis

Ah, quanta cor e luz!

E o movimento vai crescendo
Vai aumentando em amplidão
Parece a vida pulsar no ar
O bater de um coração

Sobem pregões vindos da praça
Começa o povo a aparecer

Quem quer comprar neste novo dia
A alegria de viver?

Vinicius de Moraes
Álbum "Deus lhe pague"

Nota: Música composta por Vinicius de Moraes e e Edu Lobo

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Trecho

Quem foi, perguntou o Celo
Que me desobedeceu?

Quem foi que entrou no meu reino
E em meu ouro remexeu?
Quem foi que pulou meu muro
E minhas rosas colheu?
Quem foi, perguntou o Celo
E a Flauta falou: Fui eu.


Mas quem foi, a Flauta disse
Que no meu quarto surgiu?
Quem foi que me deu um beijo
E em minha cama dormiu?
Quem foi que me fez perdida
E que me desiludiu?
Quem foi, perguntou a Flauta
E o velho Celo sorriu.

Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarzinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber por quê.

Porém, se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada para valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer

Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da letra "Minha Namorada", composta por Vinicius de Moraes e Carlos Lyra.

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor

Vinicius de Moraes

Nota: Letra da música "O Velho e a Flor", composta por Vinícius de Moraes, Toquinho e Luis Enríquez Bacalov.

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Minha sorte está lançada
Eu sou, eu sou estrada
Eu sou, eu sou levada
Eu sou, eu sou partida
Contra o grande nada - lá vou eu!
Ao romper da madrugada
O sol no pensamento
E o tempo contra o vento
E a minha voz alçada
Contra o grande nada - lá vou eu!
"Quem vem lá?" Pergunta a solidão
"Sou eu!"
Sou eu que vou porque o meu tempo nasceu

Entre os ecos do infinito
Eu grito, eu mato a solidão
Eu sou meu tempo, eu vou
A ferro e fogo, eu corro
Eu vou, eu canto e grito: amor!
Eu vou, eu vou, eu canto e grito: amor!

Vinicius de Moraes
Letra da música "Meu Tempo", composta por Vinicius de Moraes com Marília Medalha.

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim

Vinicius de Moraes
Letra da música "Chega de Saudade", composta por Vinícius de Moraes e Carlos Jobim.

Nota: Trecho da música "Chega de Saudade"

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Tenderness

I ask your pardon for loving you suddenly
Although my love
is an old song in your ears
Of hours spent in the shadow of your gestures
Drinking in the scent of your mouth smiles
The nights that I lived cherishing
By the grace unspeakable
of your footsteps forever fleeing
I bring the sweetness
who accept wistfully.
And I can tell you
that the great affection that let you
It brings the tears of exasperation
nor the fascination of the promises
Neither the mysterious words
the veils of the soul ...
It is a quiet, an anointing,
an overflow of fondling
And I only ask that you rested quietly,
very quiet
And let your hands warm at night
find without fatality
the static look of dawn.

Vinicius de Moraes

Nota: Tradução livre do poema "Ternura" de Vinicius de Moraes. Link

Se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada para valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste para você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho da letra "Minha Namorada", composta por Vinicius de Moraes e Carlos Lyra.

O rio

Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.

Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.

Vinicius de Moraes
Antologia poética (1954).

Meu pranto rolou
Mais do que água
Na cachoeira
Depois que ela
Me abandonou

Na minha vila tranquila
A vida eu levava
E nessa felicidade
A verdade eu não via
Ela vivia dizendo
"Não vou te deixar"
Ela queria fazer
O meu pranto rolar
E o meu pranto rolou.

A anunciação

Virgem! filha minha
De onde vens assim
Tão suja de terra
Cheirando a jasmim
A saia com mancha
De flor carmesim
E os brincos da orelha
Fazendo tlintlin?
Minha mãe querida
Venho do jardim
Onde a olhar o céu
Fui, adormeci.
Quando despertei
Cheirava a jasmim
Que um anjo esfolhava
Por cima de mim...

A música das almas...
Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma. E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangulavam a terra...
Depois veio a claridade, os grandes rios, céus, a paz dos campos...
Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto.
Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.

Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
Vinicius de Moraes

⁠Nosso Amor

No brilho dos teus olhos me perco apaixonado,
Teu sorriso encanta, meu coração acelerado.
És a luz que ilumina meu caminho sem fim,
Te amo profundamente, és tudo para mim.

No compasso do meu coração, dança a emoção,
Teu amor é a chama que aquece minha solidão.
Nas estrelas do céu, escrevo nosso destino,
Te amo infinitamente, és meu porto seguro, meu abrigo divino.

Mesmo distantes, nossos corações se encontram,
A saudade aperta, mas o amor não se desmonta.
A distância é apenas um obstáculo passageiro,
Pois nosso amor é eterno, verdadeiro e inteiro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho do texto "Da Solidão", de Vinicius de Moraes.

A rosa de hiroxima Pensem nas crianças
mudas e telepáticas Pensem nas meninas cegas inexatas Pensem nas mulheres rotas alteradas Pensem nas feridas como rosas cálidas Mais oh não se esqueçam da rosa da rosa da rosa de hiroxima Da rosa hereditária Da rosa radioativa Estupida e inválida A anti rosa atomica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada

Inserida por xenia_ashley

Os acrobatas

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Inserida por IsraelSoler

De forma que, certo dia,
à mesa, ao cortar o pão,
o operário foi tomado
de uma súbita emoção
ao constatar, assombrado,
que tudo naquela mesa
- garrafa, prato, facão -
era ele quem fazia.
Ele, um humilde operário;
um operário em construção.

Olhou em volta: gamela,
banco, enxerga, caldeirão,
vidro, parede, janela,
casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia,
era ele quem os fazia.
Ele, um humilde operário.
Um operário que sabia
exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento!
Não sabereis nunca o quanto
aquele humilde operário
soube naquele momento.

Inserida por rogermello

Bom dia, tristeza
(com música de Adoniran Barbosa)

Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De tanto tempo
Longe de você

Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

Inserida por lilly_carvalho

O caminho para a distância

Alma que sofres pavorosamente
A dor de seres privilegiada
Abandona o teu pranto, sê contente
Antes que o horror da solidão te invada.

Deixa que a vida te possua ardente
Ó alma supremamente desgraçada.
Abandona, águia, a inóspita morada
Vem rastejar no chão como a serpente.

De que te vale o espaço se te cansa?
Quanto mais sobes mais o espaço avança...
Desce ao chão, águia audaz, que a noite é fria.

Volta, ó alma, ao lugar de onde partiste
O mundo é bom, o espaço é muito triste...
Talvez tu possas ser feliz um dia.

Inserida por henrique_henrique