Soneto da Espera
SONETO ANÔNIMO
Solidão, vivo tão só, numa bruteza
Onde o meu fado escoa em pranto
Longe do entusiasmo e do encanto
Numa prosa transvazando tristeza
Tão oca a poesia, cheia de incerteza
Num revés ensurdecedor, portanto
O sussurro da dor, dói tanto e tanto
Que o sentir ferido me faz ter viveza
Ando estonteado, perdido na ilusão
Calado, as noites de alvoroço ativado
E ausentes de sensação e de emoção
E me perco no gadanho do passado
Que esgatanha a afável recordação
Que arfa o falto, daqui do cerrado...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/12/2020, 21’38” – Triângulo Mineiro
SONETO EM CADÊNCIA
Ela é tão linda que rosas murcham a lua lhe quer imitar,
E o sol sai de trás das nuvens para vê-la e fustiga-la.
Mais parece o nascer do dia do que seu findar.
Talvez a lua não volte para inveja-lá.
Se esse sol desumano insiste em maltratá-la.
Por certo já sabe de sua recompensa.
E para com o seu calor alcança-la.
Dele apagarei a chama densa.
E se as rosas do jardim tiver humildade para aceita-la.
O nascer do dia será uma perfeita aurora.
A minha vontade de potência é ama-la.
Nietzsche: assim falava Zaratustra e o poeta da kabballa
Humilhado, desnudo e uma morte suplantadora.
Melhor seria do que não encontra-la.
“Soneto do Amor Encanto”
Olhos meus, responde me por favor !
Quando a vistes, a primeira vez, e aí ?
Que observação foi feita ao coração ?
Desperta e desfruta essa emoção !
Viste cabelos qual uma cachoeira ?
Sim, reluzente caindo aos ombros !
E seu sorriso encantador, canção ?
Sim, se fez do que vi, afeição !
A segunda vez então, que viste ?
O que te chamou maior atenção ?
Seus olhos atraentes imensidão !
E tu coração, alguma dúvida ?
Não, ela é ar, é da rosa o olor !
Então tríplice deleite, Amor !
Ney Batista
01/01/2021 - correção 01/07/2021
Sei, há poesia em tudo que vejo
No céu, na terra e nas coisas em que mexo
Existe sempre um soneto nas cidades isso é fato é evidente, está no modo e no contexto
Sou feito de poesias nas minhas células, no meu sangue, no meu andar e nos meus dias
Os meus abraços são de ternura, poesias escrita, corações se junta
O que eu quero, é te fazer entender... Que nessa vida o que importa somente é eu e você;
SONETO Nº 9
a beleza de uma mulher
vai além das medidas
das tonalidades dos cabelos
ou das marquinhas de verão
vai das medidas que ela toma
do tom que dá a sua vida
e marcas que deixa exalando admiração
não está na cor dos olhos
mas na sua maneira de enxergar
não está na aparência,
mas na sua essência
e forma de amar
há quem encontre beleza
em quem se destaque até no desfilar
e há quem encontre
na simples maneira de falar
beleza mesmo é cativar
pela simplicidade de ser de verdade
e ter personalidade
alem da idade que possam dar
e antes que falemos de estatura
tenho pouca estrutura para opinar
sempre digo que beleza
está na altura dos nossos sonhos
e a garra que temos de alcançar
sua presença pode atrair olhares
ou não
mas é quase impossível deixar de notar
mulher é beleza
que amadurece com o tempo
vinho que muitos apreciam
e poucos sabem degustar
e por ser refinado
poucos sabem tomar
Existe sempre um soneto, para cada tipo de desespero...
Desespero psicológico, quando não se sabe o que fazer com sentimentos imunológicos
Sei bem! Que tua divindade aproxima-me da salvação
Acredito no seu amor que me faz transbordar o coração;
SONETO Nº 5
Algumas Verdades
nem tudo que é lógico
é óbvio
nem tudo que parece
é rótulo
nem tudo que eu quero
eu mostro
nem tudo que é forte
é sólido
nem tudo que é caro
é luxo
nem tudo que eu digo
é tudo
nem tudo que eu procuro
apuro
nem tudo que é lei
é seguro
nem tudo que é base
suporta
nem tudo que é briga
é revolta
nem tudo que é prático
é rápido
nem tudo que é simples
é barato
nem tudo que é feliz
é alegre
nem tudo que é fé
é prece
nem tudo que é unido
é junto
nem tudo que satisfaz
é muito
nem tudo que parte
separa
nem tudo que divide
é metade
nem tudo que falta
é saudade
e nem tudo que eu digo
é verdade
SONETO Nº7 - Mais ou Menos
mais ou menos
não enche o copo
não tira o fôlego
não arde nem congela
não morde os lábios
não esquenta a cama
não acende a chama
nem numa vela
é tão de menos
que nem é demais
é tanto faz
que nem faz
é ser metade
por não saber ser inteiro
é ser morno
por não saber queimar direito
não chega
e nem vai embora
fica parado no caminho
tomando teu tempo e se demora
não é herói nem vilão
não faz inverno nem verão
não rende papo
não faz um trato
não diz que sim nem que não
feliz
só por não querer ser triste
sobrevive mais que vive
mais ou menos
a pior coisa que sequer existe
Soneto do desejo
Às linhas azuis a quem escrevo
desejo uma curta vida de aventuras
desejo o medo de não temer as alturas
desejo o desejo de ser imatura
Desejo que reveja a assinatura
desejo que misture sua loucura
desejo que mate e descubra a cura
desejo que releia as escrituras
Desejo paz a pele escura
desejo vida a quem é pura
desejo fruta que esteja madura
Desejo mais de mais cultura
desejo curvas as esculturas
desejo amor a esta jura
Soneto nº 4 - Química
É quando duas almas se reconhecem
dois ímãs se magnetizam
o santo e o beijo bate
e a poesia rima
é quando a pele esquenta
os nervos tentam
as peças encaixam
e dois corpos se inquietam
olhares na mesma direção
entram em ação
palavras se calam
telepatias falam
é quando o sentido dorme
e o sentir levanta
sai para trabalhar a razão
e nos deixa sozinhos com o coração
quando dois átomos se chocam
e duas forças se atraem
a gente sabe que isso é física
mas a gente diz que é química.
SONETO ÀS MÃES
O coração de mãe é obra prima
Ele que pela dor e amor caminha
E que, de tudo, põe o filho acima
Mãe que batalha às vezes sozinha
De tão única, mãe não possui rima
Porque ela é singular como uma rainha
É quem dá bronca e logo depois mima
E de fato a melhor mãe é a minha
Mãe é ríspida e meiga como a rosa
Pois o humor de mãe sempre se alterna
E mesmo quando briga é formosa
Mãe é cúmplice em ótima baderna
É exagero de amor que não se dosa
Cujo defeito é não ser eterna
RECORDAÇÃO (soneto)
Não eras, pra ser, um amor oriundo
Do amor. Foi segundo intransigente
Lia-se-te no sentimento, claramente
O vagar distante, vazio e moribundo
Tinhas nos olhos, algo de profundo
Perturbador. Coisa que pouco sente
Em uma sede da alma tão diferente
Errando, e errante, e pouco fundo...
E nessa tristura, escura, fria, covarde
Na saudade aninaste, tão segregado
Reclinado na penúria dum mendigo
Porém, junto da poesia, ainda arde
Tua recordação. Cantar do passado
Que sinto há de ser teimosa comigo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 maio, 2021, 07'53" – Araguari, MG
MALFEITO
Que eu tramasse um soneto quis o fado
Logo ao comando da sorte me submeto
Aí, tramei versos românticos no soneto
Em cada verso, estórias, e haver amado
Jamais pensei num poetar compassado
Tudo é fugaz. Cá estou noutro quarteto
E caminhando adiante para um terceto
Tu, amador, ainda não saiu do passado
No primeiro terceto busco mais glória
E me parece que ainda não está feito
Nada espanta, é mesmice na memória
Assim vou, e assim me torno suspeito
Nenhum beijo, o olhar, sequer vitória
De um amor, neste soneto sem jeito!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 23, 16'28" – Araguari, MG
MANIFESTO
Do instante que vos escrevi, soneto
Fiquei cativo de uma predestinação
E nas entranhas dessa piegas criação
Do amor, me vi um desditoso repleto
Piedade! Pois neste versar inquieto
Do coração, eu só desejei inspiração
De afeto, os versos de jura e paixão
E, só criaram saudades por completo
Então, caridade! Quis apenas carinho
Que a tua estrofe a tenha, compaixão!
Tal uma luz que guiei o meu caminho
É a minha perdição sonetar pra amar
Pois, se amar cheguei, tive intensão!
Certo, soneto, hei de apenas sonhar...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24 maio, 2021, 07'05" – Araguari, MG
SONETO SENTIMENTAL
Eu poeto e poetarei sempre como poeto
Uma poesia de amor é o bem que se tem
Cheio de encanto, e da poética vai além
Onde nos há de ser aquele sentir secreto
Porta da sensação, que se abre no soneto
Sentimento de poesia e paixão, também
Nos acolhe, e pro viver, nós faz tão bem
Porém, tem de afazer do medo discreto
Um amor! que bravo, que bom que belo
Ali está a emoção, o ter, vamos facilitá-lo
A estimar-nos em galardão de estimá-lo
Assim, não se pode versar sem conhecê-lo
Pois, é singular querer haver, e ganhá-lo!
E, és sentimental até na ilusão ao perdê-lo
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/05/2021, 13’02” – Araguari, MG
Soneto: noites escuras
Em noites escuras eu clamo
Meu pensamento flutua sem destino
Sinto a tua companhia como bálsamo
Na madrugada quando perco o sono
E vivo em forma de pesadelo
O passado que ficou tão presente
Que minha memória não anula
O amor que em mim cravaste
Nas noites intermináveis eu rogo
Que amanheça bem rápido e urgente
Para eu sair logo do vazio do âmago
Para o raio de sol cravar minha pele
E a alegria tomar conta de mim
E a desilusão por hora não se instale
@zeni.poeta
SONETO AO INVERNO
Inverno, do cerrado, mirradas manhãs
Em brumas, frias, enfadas e maçantes
Sentimento turvo tal o som de tantãs
Oposição certa ao ardor dos amantes
És com melancolia, arriadas em divãs
Da prostração. Os dias dessemelhantes
Desbotadas as florescências temporãs
Poética fria, suspiros e duros instantes
E rufla o chuvisco pelo chão imaculado
Tremulando a terra, sensação solitária
Faz-te fundar, ó invernada do cerrado!
E no horizonte, a imaginação tão vária
E, no pensamento a saudade cortante
Sussurrando ao vento, o amor distante...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/maio/2021, 09’58” – Araguari, MG
Soneto natural
Vivo dias felizes
Vejo pessoas infelizes,
Velejo para Marataízes.
Vislumbro os mares
Velejando ao lado dos pares,
Vangloriando a imensidão dos ares.
Vagando contemplo as aves
Vovô vigiando as saias das mulheres,
Vovó apaixonada pelo padre.
Soneto: encontro
Sinto felicidade em ver teu sorriso
Em desbravar o mundo
Na curiosidade de ter acesso
A luz do sol dourado
É um caminho sem volta
Encontrar o tesouro da vida
Onde a alegria no peito habita
E a alma se desnuda
Se encontrar no mundo
E achar o significado da tua existência
Sendo acolhido e abraçado
E que o amor se espalhe
No encontro do eu interior
E nos teus sonhos você mergulhe
@zeni.poeta
Soneto de Quando Morri
As quatro paredes deste quarto triste
Me sufoca de pavor e pena
Ao reviver a imortal e triste cena
Do morrer de alguém que ainda existe.
Eu, fora de mim, sou quem assiste
O pouco de vida que me envenena
Angústia e carga numa vida pequena
Beber o veneno e de viver desiste.
Vejo-lhe os olhos calar o peito
Urros e gemidos finda o efeito
E a dor é arrancada do íntimo fundo.
Trancou o livro da pouca sorte
Se despede da vida e abraça a morte
Encontrando a paz no desejo profundo
