Soneto da Espera
POEMA EM SILÊNCIO (soneto)
Meu verso está amordaçado
As palavras dentro da vidraça
Represadas e tão sem graça
Estou calado, o poetar calado
Inspiração diluída na fumaça
O vazio estridente e arestado
Ácido em um limo agargalado
Inebriando tal qual cachaça
Meu pensamento está suado
Ofertado como fel numa taça
E na solidão, então, enjaulado
O poema em silêncio, bagaça
Oh! Túrgido sossego enfado
Diz nada, só tira a mordaça...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
VOCÊ CRÊ (soneto)
Quando nos vemos nos olhos que não vê
A incerteza nos traz o desespero, solidão
Temos um bem maior que é a consagração
Tudo pode naquele que fortalece, você crê?
Acredito no amor paternal, na Trindade:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo, amém!
Pois Ele venceu a morte, e o mau também
Acredito no verbo eterno, a única verdade
Ele veio e anunciou trazendo a vida nova
Acredito! Pois o seu amor no amor renova
E em sua compaixão, nos ama com paixão
Que a fé nossa de cada dia seja a prova
Do perdão que se clama em hino e trova
Eu acredito na Cruz de Cristo, a salvação!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
NOVEMBRO, soneto no cerrado
A nuvem de chuva, está prenha
A lua na noite longa enche de luz
Novembro, aos ventos ordenha
Amareladas folhas que nos seduz
Meditação, finados aos pés da Cruz
O colorido pelo seco cerrado grenha
As floreadas pelos arbustos brenha
Trovoadas, relâmpagos no sertão truz
Águas agitadas, o mês da saudade
Num véu dançante... Vem novembro!
Linhas de poema e prosa, fertilidade
Décimo primeiro, antecede dezembro
Em ti é possível notar a instabilidade:
Fogo e água, da transição é membro
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
novembro de 2016
Cerrado goiano
SONETO NA LAMA (Mariana, MG)
Basta! A quem assistiu o insuportável
O funeral de teus sonhos, tua quimera
Enlamear-se na lama sem que quisera
E em suas vidas, unidas, inseparável
Como acostumar ao lodo que espera?
Moldar-se no barro de jarrete miserável
Deitar-se na insônia, sentir o inevitável
Da mendicância, impune, e de espera
É véspera do escarro. Vês! O inaceitável
Total necessidade também de ser fera
Nas mãos dos que afagam o insaciável
Rio Doce, azeda lama, e sem primavera
Indecência dum indecente confortável...
Sou Minas Gerais, somos, gente sincera!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
AMOR QUASE SIDO (soneto)
Amores vem, vividos, amores vão
Na poesia voam e, na alma fundido
No tempo, o que é, e foi permitido
Nas palavras, dissertando o coração
Ama eu, ama tu, ele, ela, repartido
Lágrima, sorrido, a dura decepção
E num sempre porque, indagação
Nuns ficamos, outros nos é partido
Mas sempre desejado, imaginação
Onde? Quando? E é sempre sabido
Que dele quer, dele se tem emoção
E nesta tal torcida o amor é provido
O amor é sentido, sentido é a paixão
Sem porque nem como, os quase sido!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO DO VELHO AMIGO
Então, depois de tanto andar trilhado
Pesar rasgado nas retaliações, malícia
Eis que a amizade súplica por carícia
De amparo, dos tantos erros, passado
Enfim, se calado, deixai de ter sevícia
E sentai tu, amigo, aqui do meu lado
É tão bom novamente em ter-te amado
Nunca abandonado, do afeto imperícia
E no abraço antigo, não fomos garrano
Perceba ao nosso arfante a se comover
Pois deixe na quimera o nosso engano
Amigo que é amigo nada e então explica
Estamos sempre reencontrando no viver
Necessidade e, no coração se multiplica...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
AMO-TE (soneto)
Amo-te no meu maior, largo e profundo
sentimento da alma, é amor, mais nada
Te uivo no peito em graça entressonhada
onde paz, calma, faz-se em cada segundo
Amo-te no ringir da noite por ti poetada
que verseja a paixão de que me inundo
deste afeto que é o maior do meu mundo
num regozijo duma felicidade estacada
E é tão puro e é tão feliz e é tão fecundo
que as lágrimas são preces transfigurada
de fé ingênua e fausta, neste amor rotundo
Amo-te na pequenez de minha morada
tão simples, mas cheia de zelo jucundo
Pois tu és rogo da vontade tão desejada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
SONETO À DEUS
Louvor, Senhor, meus versos são pra ti
Ainda que os homens te vejam ausente
E os olhos mortais, no pecado pendente
O meu crer te demanda por toda a parte
Tu que habitas o amor, nos céus assente
Tenhas compaixão de mim, ó Pai baluarte
Alveje a minha razão pra assim adorar-te
Evitando coração perverso, vorazmente
Que és necessário pra eu ser comparte?
Nos ensinamentos e, assim, cabalmente
Envolvendo de luz numa fé que me farte
Oh! Dá-me conselho ao corpo e a mente
Pra a alma, que não morre, o céu dessarte
E me conduz à Tua vontade, integralmente
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
31/03/2017
Cerrado goiano
Em agradecimento
ALGUNS VERSOS (soneto)
Alguns versos vazios, diáfano, me espiam
Atrás da luz natural do cerrado afogueado
Inquietos no quase nada do olhar fustigado
Em pé ao fundo da vastidão que os afaziam
Vejo o sol avermelhado, ali tão angustiado
Entre as quaresmeiras que no clarão, cerziam
Criando ilusões que nas saudades doeriam
Em silêncio, que um dia no peito foi tatuado
São letras ocas de um entardecer perverso
Que tenta brotar de um devaneio imerso
À tona em trova de lágrima da recordação
De fora do presente, tão vário é o universo
E eu pareço apenas durar no meu reverso
De cujo alguns versos escorrem da solidão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, abril. 05'40"
Cerrado goiano
VITRAL, CERRADO (soneto)
O cerrado é tal um vitral multicor
Se olharmos do horizonte é sombrio
Se aproximarmos é denso e luzidio
Seivoso nas partes e cheio de fulgor
E, é assim no seu sagrado feitio
Ornado de diversidade, senhor
Desigual, mas nos causa ardor
Verão pluvioso inverno seco e frio
Cerrado, igual vitral, encanto maior
Vento ao vento orquestrando assobio
Súbito, misterioso, da flora mediador
Regulai os olhos, ao olhá-lo vadio
De repente é tudo aos olhos, sedutor
E ao encanto, presságio e arrepio
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
APENAS UM VERSO (soneto)
Enquanto o dia no cerrado embotava
Em mim cavava o emotivo submerso
Dos porões dos medos que eu meço
Nas incertezas, que dá sorte brotava
Na aridez da saudade, ali disperso
No soluço d'alma a sofrência rolava
E na linha da recordação eu deitava
Aí, o sertão se tornava meu universo
Neste vazio a solidão por mim urrava
O destino rimava quimeras no averso
Então o coração amortecido chorava
Assim, eu com um olhar transverso
Devaneava sonhos, e lacrimejava
Pedaços de mim, forjando o verso!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
INCONTENTADO (soneto)
Saudade sem dor, amor sem fantasia,
Que aperta o suspiro dentro do peito,
Que no sim perpetuado, assim queria,
Que nada mais se sente tão satisfeito.
Emoção, que o doce sossego repudia,
Na palavra rude dita sem o respeito,
E, tirando dos sorrisos toda a alegria,
Fica ferido, e sem qualquer proveito.
Que viva sempre a sede e a tua fome,
Paixão sem queixa, e sem lamento,
E que ebule o amor em suas rimas.
Sempre tenha, o nome que consome,
Que eu tenha sempre, contentamento,
No incontentado amar e suas pinimas.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, setembro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
ASSIM QUISERA EU (soneto)
Assim quisera eu, outra sorte
Ter o agrado dum amor afora
Sem o silêncio jaz de outrora
Onde o eu a alguém importe
De sol à lua, da vida à morte
O tempo veloz, age: e, agora
Se fico ou se vou dali embora
Nas asas dum sonho aporte
E logo, aquele: o ter podido!
Partido na saudade que chora
Chapada numa vil recordação
Assim, eu, poeto aqui perdido
Ideando! Devaneando na hora
Saudoso de ti: ignota paixão...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano.
CERRADO EM PRECE (soneto)
Cerrado é a candura do tardar do dia
Quando a poesia dos sinos, em trova
Choram o clamor do donzel ave maria
Canonizando ao encanto a boa nova
O sertão de alma sempre em prova
De messe varia no chão em teimosia
Toda a glória, resignação que renova
Do sereno à sequidão que então ardia
Da tua fulgência aos olhares é certo
Tua imensidão nos faz tão pequeninos
Céu de estrelas, em divinos pirilampos
E em uma prece a Deus Pai, decerto
Enaltecemos. Estes júbilos tão divinos
Da pluralidade de seus remotos campos
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro, 14 de 2018
Cerrado goiano
DELÍRIO (soneto)
Descalço, mas pro cerrado não cabe tento
Em no teu chão, a total admiração extasia
E, em frêmitos pasmos, o meu olhar dizia:
- suntuoso, com todo possível argumento
Cantam os jatobás, encantados, ao vento
Fremente, os Joãos, Marias... os bóias-fria
Vão nos caminhos, cada qual na teimosia
Fazendo do dia em um novo nascimento
Em suspiros, seriemas, num agudo grito
No horizonte se misturam com o infinito
Regendo a alma do sertão num frenesi...
Neste fazer arrepiar em um doce arpejo
Na admiração, a diversidade em cortejo
Tudo se cala, ordena o delírio... Obedeci!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
06/11/2018, 06’06”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
TALVEZ ILUSÃO, QUANDO SENTI (soneto)
Talvez ilusão, quando senti, mas sentia
Que, ao desânimo da alma nela enleada
Entre a dor, o fôlego, pelos poros subia
Numa preamar de esperança prateada
E eu a via no olhar, olhava-a... Ferroada
Assim em cada raio, aí então eu resistia
E construía degraus nesta dura escada
Mesmo que se risco corria... ou se feria...
Tu, alegria sagrada! E também, capital
Sede das sedes!... que venha por nós
Tal reticências, e não como ponto final
E, ó desejada! E tão buscada, aporte
Como um emaranhado de um retrós
Súbito. Vi que rompe na medida sorte!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO SAUDOSO
Choro, ao pé do leito da saudade
Que invade o corpo sem descanso
Se fazendo de fiel cordeiro manso
E a agrura numa brutal velocidade
E vem me trazer recordações, afeto
Tão apetecida em tempos outrora
Agora na ausência, lerda é a hora
E cruel a minha emoção sem teto
Chorei, choro por esta separação
Neste fado dessa longa despedida
Que partiu a vida daquela posição
Se eu, tenho na sorte malferidos
Aqui sinceramente peço perdão
Movidos nos desfastios vividos
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
06/04/2016, 21'00" – Cerrado goiano
LIVRAMENTO (soneto)
Leia-me! O meu verso árido e nefando
Que queima o meu peito, e dá arrepio
De quando teu paleio vem me cevando
Nos embustes sorrateiros, vis e tão frio
Olha-me! Não temas, pois, sou brando
Já não busco o poetar num belo feitio
O meu ser ainda permanece, radiando
Já o senso, é tal qual um céu sombrio
Fala-me! Verdades, não simule pranto
Pois, as flores do cerrado têm candura
As agruras, não vão ser, minhas pupilas
E se escrevo este soneto, enquanto
Escorre nos versos a minha tristura
O meu amor, desobriguei das quizilas...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2020, 17’33” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MASMORRA (soneto)
A vida expira assim como os ventos
Tal a dor e alegria do pensamento:
Fugaz, vagos clarões, sentimentos
Nas venturas, ausentes, eu invento
Vidas que não tem vida, lamentos
De pó, para o pó somos momento
Em vantagens e em detrimentos
Num sopro espalhado a portento
Mas, as sensações sem ter vida
Desengana, extermina e alucina
São almas vazias, e com rancor
Calam as quimeras, põe de saída
A ilusão, numa inércia assassina
Expropriando o coração do amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/01/2020, 09’35” – Cerrado goiano
Olavobilaquiando
FIRMAMENTO (soneto)
Por tantos amores, desvairado e descontente
O teu, eu reconheci naquele exato momento
Pois, o meu coração, ficou aflito e diferente
E, que estaria no meu constante pensamento
Que ainda agora mesmo, no peito, és presente
Em um arfar, infinito, suspirante e tão violento
Que sei que ali, havia amor, que a alma sente
E que aquele “oi”, seria para gente, portento!
Piedoso Bragi, que a minha solidão sentiste
Na poesia deste bardo, que havia sofrimento
Agora, inspirai as boas sortes não pungentes
E que então o poeta seja alegre, e não triste
E que caia sobre ele a ventura do firmamento
Com as rimas apaixonadas e beijos ardentes
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10 de janeiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
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