Soneto Amor Impossivel
Último Soneto
Já da noite o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito, embalde num macio encosto,
Tento o sono reter!… Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos, por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
QUARTO SONETO DE MEDITAÇÃO
Apavorado acordo, em treva. O luar
É como o espectro do meu sonho em mim
E sem destino, e louco, sou o mar
Patético, sonâmbulo e sem fim.
Desço na noite, envolto em sono; e os braços
Como ímãs, atraio o firmamento
Enquanto os bruxos, velhos e devassos
Assoviam de mim na voz do vento.
Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe
Sem dimensão e sem razão me leva
Para o silêncio onde o Silêncio dorme
Enorme. E como o mar dentro da treva
Num constante arremesso largo e aflito
Eu me espedaço em vão contra o infinito.
Soneto da Despedida
Eu aprendo com o tempo
e tudo isso irá mudar
eu vou seguir o vento
e espero aprender a amar
Esse destino incerto
que assombra minha vida
mostrando tudo de perto
a doce e vã batalha perdida
Irei sem olhar adiante
levando apenas a saudade
como um simples viajante
Alguma coisa nessa cidade
me parece muito importante,
ou seria somente... vontade
O Proveito da Amizade(soneto)
O que proveitaremos nós da amizade?
A fidelidade,o valor,o sonho?
Não..amizade não se resume em felicidade
se resume em mais cisas do que suponho.
o que aproveitaremos nós da amizade?
As brigas,desentendimentos e despedidas?
Sim...amizade é viver a verdade,
se conhece um amigo nas quedas da vida.
Aprenderemos sempre mais nas dores
amigo se reconhece com o tempo
é pondo em prova,que se acha acertar.
Amizade sim tem seus valores
mas às vezes são jogados ao vento
Perdoar à tempo...isso devemos aproveitar!
SONETO DOS TEUS BEIJOS
Que sejam para sempre bem molhados
Molhados e com gosto adocicado
Teus beijos em mil beijos bem selados
Teus lábios beijam sempre apaixonados
E além de serem doces e molhados
Que teus beijos sejam em mim despudorados
No toque tão lascivo do pecado
Teus beijos para sempre eternizados
Eu quero ter teus beijos minha amada
Com boca, com tua lingua, com teus lábios
Ter sempre esses beijos bem selados
Bons beijos com o gosto do pecado
Teus beijos entre nós despudorados
Na certeza de um beijar apaixonado
Soneto
Arda de raiva contra mim a intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.
Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.
Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.
Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.
Soneto do Desapego:
Encontrei-me quando te vi
Em caminhos dispostos ao vento
Por muito tentei lhe seguir
Mas deveras de vida mudar
Meu jeito me fez dispersar
Fiquei assim fora de mim
Cantado tão só por se só
Voltei a pensar em você
Será que no amanhecer
Consigo parar de sonhar
Parar de viver a ilusão?
Por mais que eu tenha razão
Só não consigo explicar
O quê me faz gostar de você
SONETO DA AUTENTICIDADE
(para o mestre Ariano Suassuna)
Expoente muito mais do que digno
Da alma e da autêntica cultura nordestina.
Autor duma obra que traz um brio condigno
Expresso em livros e no abrir das cortinas.
Professor... Escritor... Igualou-se aos gênios
E fez da aula, um nobre espetáculo
Multiplicando o valor de cada vocábulo
Como se todos tivessem algum irmão gêmeo.
De vigorosa identidade e analogia cultural
Porque Mateus, todavia preferiu os seus
Tal qual na história do Movimento Armorial.
Notável dramaturgo, mundialmente paraibano
Que o Nordeste há tempos vem atiçando
E o Brasil reverencia como Mestre Ariano.
SONETO DOS VINTE ANOS
Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.
Passem rios, estrelas, que o passar
é ficar sempre, mesmo se é esquecida
a dor de ao vento vê-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.
Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que não morra nunca este momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.
Fez-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura.
Soneto do coração
Sábio foi quem disse que o coração é involuntário,
bate quando quer, bate como um otário,
bate mais forte quando te vê,
bate somente por você.
Aperta quando estou longe,
alivia quando estou perto,
me deixa calmo como um monge,
porque perto de você está liberto.
Pelas veias segue apressado,
controlando todo meu corpo,
e meu coração ainda incontrolado.
Central do corpo, central da mente,
me entregando em emoções,
quero enterrá-lo como indigente.
Soneto XXXVIII
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada,
e estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino.
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
_Que meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Último Soneto
Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste...
--- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço ---
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
Soneto de Exatidão
Eu serei a que mais ouve do que fala,
No meu olho, não verás nem mais um cisco.
Do que guardo? ... Tenho eu chave da mala.
O que falas? ... Corre apenas por teu risco.
Quero ver-me e ver-te do tamanho exato,
Nem tu comandante, nem eu comandada.
Meu espaço hei de manter, e isto é fato,
Minhas asas não serão por ti cortadas !
Compreendo o porquê me controlaste,
E o poder que exerceste sem critério,
Me retendo qual se eu fora teu fantoche.
Eu relevo os teus enganos e contrastes,
O teu medo implodido e tão sério,
De tornar-se tão somente o meu deboche.
Soneto de um Apaixonado
Ó garota bonita
Que na rua não passa despercebida
Sua voz é feita de mel
Quando ouço, vou ao céu
Seu rosto reflete a paz
E isso faz com que eu não distancie mais
Quanto mais te amo, mais quero te amar
Você o que me faz viver e sonhar
A distancia esta me corroendo
Mas eu continuo correndo
Para que um dia ao seu lado eu possa estar
Esse é um soneto de um pobre coitado
Que por você esta apaixonado
E nunca irá te deixar.
Ainda tua lembrança...(soneto)
Há no ar certo cheiro de maresia,
Na bruma, toques de irrealidade,
Na brisa, um tanto de nostalgia,
Em mim...solidão, fragilidade...
Nas ondas, um vaivém de melancolia,
No horizonte, laivos de saudade
Sentimento, que as vezes, acaricia,
Em outras, traz dor e infelicidade...
Nas pesadas nuvens, um tom cinzento,
No imenso mar, sonhos naufragados
Na branca areia, pela espuma, espalhados...
Olhar ao longe, na direção do vento,
Na alma, mágoa e desesperança,
No coração, ainda tua lembrança...
Há uma primavera em cada vida
é preciso cantá-la assim florida.
(Em "Charneca em flor: sonetos – Fonte: Templo Cultural Delfos)
SONETO MCCXXIV
A que devo contemplar este templo
Se o mal não destrói a primavera
Se pode julgar este exemplo
Então meu ódio por mal se venera
Em tão triste verão
Que não será contado a derrota
Belo é viver em vão
Pelo bem do amor que amarrota
Entro no campo de batalha
Vejo aquela cena
A regra é sair glorioso
Ou perder e cumprir tua pena
Se tu nota até o barulho do vento
Sabe que das palavras esqueci o acento
SONETO DO ESPELHO DE DEUS
(ao mar de Fernando de Noronha)
Mar que reflete o céu
Colírio do triste olhar
Onde a onda faz-se véu
Na união íntima entre terra e mar.
Onde o mar tem a cor de Deus
E Deus tem a cor do mar
Que não se cansa de batizar
O paraíso no meio do mar.
De um mar que é espelho
E perpetua-se a banhar
Um arquipélago no meio do mar.
Mar de Noronha, espelho de Deus
Hei de te amar, ó divino mar
Presente que Deus nos deu.
SONETO (acróstico)
Às vezes penso num discreto amigo
Erguendo as mãos a indicar-me a estrada,
Lembrando de minha alma abandonada,
Vem dar-me a sorte de encontrar contigo.
Irei assim, seguindo sem abrigo,
Na esperança de só te ver, mais nada;
A sombra que me segue na jornada
Oculta a tua imagem quando eu sigo!
Feliz, no entanto, se encontrar-te um dia
Enfeitiçada por cruel magia,
Representando a esfinge do oriente!
Então, eu pediria ao meu destino:
Conceder-me esse dom, também divino,
E ser petrificado eternamente.
Soneto
Santa amizade, que habitar imitas
neste baixo, fingido, e térreo assento,
mas q tens por morada o firmamento
coas essências angélicas benditas.
De lá, por dó das térreas desditas
sonhosnos dás de alegre fingimento,
imitações do céu por um momento,
fugaz consolo ás regiões proscritas.
Volta, volta dos céus, pura amizade,
ou proíbe que a amável aparência
te usurpe a deslealpervercidade.
Confundida coa nobre e infame essência,
breve reverte o mundo á prisca idade;
volve o caos, é morta a Providência.