Somos Passaros de uma Asamario Quintana
Há uma classe de homens que parece deslocada no tempo, estranhamente decadente, ao menos aparentemente. Há uma classe de homens que não se envolve com os delírios de sua época, de todas as épocas, misantrópica e isolada em uma espécie de orgulho senil e rabugento. Há uma classe de homens que superaram a classe dos homens, para a qual toda humanidade não passa de um grupo choroso de crianças perdidas num parque sombrio, esquecidas pelos pais, sem ter a quem recorrer. Nenhum adulto por perto... e as crianças imaginam pais que jamais tiveram, órfãs estrepitosas que são desde seu incerto nascimento. Há uma classe de homens que compreendeu isso, entendendo também a inutilidade de suas fantasias.
Família: ou você tem, ou não. Se não tiver, nem tente formar uma. É bem possível que a mesma já nasça desfeita, por sua falta de intimidade com o conceito.
Depois de uma certa idade você deixa de se decepcionar com as pessoas, pois descobre todos os padrões de incompatibilidade possíveis entre elas e você. Tudo se simplifica, mantém-se acomodado, acondicionado e condicionado pelo espírito da época. No caso, a contemporânea ambição que faz com que grande parte das relações seja tangida por toda uma gama de fatores de valoração, vantagens, permutas. Viver na atualidade é estar em constante estado de negociação.
Quem pensa de barriga cheia e filosofa empanturrado após uma boa refeição faz declarações que nenhum faminto poderia digerir.
Em uma geração de idiotas, qualquer sujeito mediano será considerado um gênio, enquanto que os verdadeiros gênios serão tratados como loucos — por serem mentalmente inalcançáveis.
Nada é mais avassalador que a autoconsciência. Uma plena perspectiva de nosso curto alcance existencial é o suficiente para arrasar o mais forte e estruturado dos seres humanos. Não à toa precisamos construir ilusões a nosso respeito, fantasias sobre almas imortais e anjos da guarda, espíritos protetores e risonhos elementais da natureza. Mas, invariavelmente, somos pegos sozinhos com nossos pensamentos, pegos por nossos próprios pensamentos, muitas das vezes, acossados como moscas na teia de nossos pensamentos sobre nossa própria, infeliz e solitária condição.
E isto pode ser insuportável.
Todo axioma é uma mentira e não há sentido que não possa ser subvertido.
Obrigado, pós-modernidade.
Nem a verdade, nem o conhecimento. A única coisa que liberta mesmo, irrevogavelmente, uma pessoa, é a morte.
Uma coisa eu aprendi: a gente só pode se responsabilizar pelo que fala, não pelo que o outro diz. Por isso, mantenha sua verdade e não carregue pesos que não são seus.