Somos aquilo que fazemos quando Ninguem nos Ve
SEJA FELIZ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Ninguém fica
feliz
ou infeliz...
mas alegre ou triste.
Segundo a voz
do que me diz
pra ir com fé:
alegre ou triste
a gente fica.
Feliz ou não,
a gente é.
DOCETERIA CARIOCA
Demétrio Sena, Magé – RJ.
O Rio de Janeiro
só tem bala perdida...
Ninguém perde bananada,
um doce de amendoim
nem jujuba, queijadinha,
pé-de-moleque ou cocada....
Ninguém perde nada mais:
uma broa, um bom-bocado,
doce de jambo ou de jaca,
queijadinha nem cavaca,
quebra-queixo, pirulito,
cuscuz nem língua-de-sogra...
uma sobra de paçoca...
No Rio de Janeiro
só se perde bala e vida,
não se perde nem se acha
um saquinho de Ki-suco,
goiabada nem mordida,
maria mole ou pamonha...
É tanta bala perdida,
que o Rio de Janeiro
já perdeu a vergonha...
POR MAIS NINGUÉM
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Nunca tive um amor antes de ti
ou durante; nem quando achei que sim;
nem no fim temporário da razão
que alugou meus sentidos embotados...
Tive muitas vontades mundo adentro,
bebi muitas quimeras tempo afora,
fiz mais hora que amor, quando não fiz
em teus braços, meu ninho natural...
Procurei o teu rosto em outras caras,
outras taras não tinham tua essência,
paciência; tentei; não fui feliz...
Nossos dias grisalhos me remoçam;
minha casa, meu mundo são em ti;
não senti este amor por mais ninguém...
CRONIQUINHA CONTRASSOCRÁTICA
Demétrio Sena - Magé
Ninguém precisa me situar... nunca. Sei muito bem quando sobro, falto e sou bem-vindo... e onde protagonizo, coadjuvo e sou reserva. Não me magoa, se não for explicado... explicações subestimam minha inteligência e meus estudos de mundo, vida e ser humano.
Exclusão e preconceito, abertos ou velados, são as minhas especialidades, como alvo. Desde menino. E onde me amam, mas ainda assim excluem, têm pé atrás, me deixam na reserva para convocações em jogos nos quais todos os titulares estão "quebrados" ou de férias, nem costumo cobrar... afinal me amam... creio nesse amor... preciso crer.
Só não expliquem, repito, como se a minha observação inequívoca e de múltiplos ângulos fosse algo equivocado. Neste assunto, quando me reconheço como cerne, vou na contramão do mestre Sócrates... porque tudo que sei... é que tudo sei... pelo menos de mim.
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Respeite autorias. Isso é lei
VIVA OU SOBREVIVA
Demétrio Sena - Magé
Quem quiser estar certo pague o preço;
ninguém doa razão por mero jus;
mostre bom endereço, boa estirpe
ou aceite uma cruz pra carregar...
Ofereça vantagens de rotina,
faça belos convites, encha os olhos,
uma fina folhagem de glamour
fará bem ao garimpo social....
Mostre muitos diplomas e diários
de aventuras distantes e garbosas;
tenha prosas heróicas, imponentes...
Ou então mostre os dentes e pendores
aos senhores, senhoras e fedelhos
que dirão a que ponto você presta...
TODO MUNDO
Demétrio Sena - Magé
Na verdade, ninguém me surpreende;
as pessoas são isso; são pessoas;
todas boas, perversas como eu;
meus espelhos em seus desdobramentos...
Fico triste, raivoso, alegre ou calmo,
mas entendo que tudo é de quem somos;
temos nossos momentos, nossas vezes,
nossos gomos de nós em cada fase...
Somos todos iguais nas diferenças
ou nas ordens inversas, nas medidas
e nas crenças de sermos algo além...
Ninguém vai me pegar desprevenido;
não me sinto traído, porque sei,
todo mundo é apenas todo mundo...
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Respeite autorias. É lei
TÃO NINGUÉM
Demétrio Sena - Magé
Minhas forças são fracas pra minhas fraquezas,
meu estado é de coma na cama da alma;
tenho tantas certezas, mas todas incertas,
numa calma nervosa que me fantasia...
Faço todas as poses de pouso seguro,
porque vivo de fugas da morte precoce,
há um porto inseguro que ancora meus medos
e dá posse aos assombros das noites eternas...
A fraqueza tem força que me faz dobrar
feito galho delgado e fibroso no vento,
mas o meu pensamento resiste à pressão...
Eu me venço e me perco derrotado em mim,
sou alguém tão ninguém para tantos estágios
de vertigens, presságios e contradições...
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Respeite autorias. É lei
REFLEXÃO PATERNA
Demétrio Sena - Magé
Ninguém escolhe o pai que terá. Ser filho é uma sorte favorável para uns, desfavorável para outros... na verdade, para maioria, sobre ter pai. Aliás, o número de filhos que nunca teve um pai, de fato nem de mentirinha, consanguíneo nem adotivo, é imenso. Infelizmente, há casos em que não ter a presença de um pai é melhor do que ter. É aí que tantas mães viram pais, o que não é comum vice-versa.
Ser pai é uma escolha. Essa escolha não pode ser apenas a de fazer uma filha, um filho. Ela deve ser intensa e verdadeira, do fazer ao criar, com afeto; provisão; orientação; acompanhamento presente, com todas as responsabilidades que acompanham o amor. Não entendo como alguém escolhe ter filho e não ser pai; "modelar" simplesmente, um ser humano, e não cuidar. Deixar de lado, abandonar ou ser presença negligente. Muitas vezes brutal; violenta; opressora.
Não chamo de abandono a separação da mãe, e sim, ao tornar essa essa mãe sua ex-mulher, também transformar o filho, a filha em ex-filho; ex-filha. O mundo está cheio de órfãos de pais vivos. Também há mãe que abandona, mas o número de pessoas criadas apenas pela mãe é incontável. São milhões que não têm ao lado nem nos registros de nascimento, a referência do pai. Só conhecem mãe.
Sonho com um tempo de mais filhos felizes. Mais pais presentes, em todos os contextos e sentidos. E de menos dias dos pais que só servem para muitos lamentarem ausências paternas ou presenças que seriam melhores como ausências. Espero que as minhas falhas como pai, até então, ainda estejam naquele grupo das que fazem um homem "passar raspando" em suas provas finais
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Respeite autorias. É lei
LEMBRANÇA CONTRITA
Demétrio Sena - Magé
Ninguém teve de mim algo tão delicado;
tão intenso e profundo, mas também tão leve;
despojado, sem preço e sem mais que o sensato
pro que a vida podia reservar pra nós...
Você teve uma prece contínua de amor
de quem nunca faz prece ao sobrenatural;
contrição e louvor, todo culto afetivo
que minh'alma só teve para lhe ofertar...
Fui a sua oferenda; o doce sacrifício;
dediquei o meu corpo aos seus olhos, às mãos,
sem nenhum desperdício de chance qualquer...
Nada foi tão contrito e talvez sacrossanto
quanto as fugas de mim pra desaguar em nós;
os ebós que deixei na sua encruzilhada...
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Respeite autorias. É lei
NOSSA MÃE
Demétrio Sena - Magé
Nossa mãe repetia: Vamos ficar juntos;
que ninguém ficaria no 'colégio interno';
era um leve sussurro de força incomum,
seu eterno discurso de uma frase só...
Tinha todos os medos, mas nos proteger
era sua coragem; sua teimosia;
todo dia inventava uma vida reserva,
pra vencer todo mundo e persistir por nós...
Meu olhar a desenha chorando com risos
ou sorrindo com choros de sabedoria;
ela sempre sabia cada hora exata...
E ficamos unidos por anos medonhos,
com amor e com sonhos de vida melhor;
nossa mãe nos deu tudo: nos livrou do nada...
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Respeite autorias. É lei
ANJO MALDITO
Demétrio Sena - Magé
Finalmente aprendi que ninguém erra;
talvez quase ninguém; sou exceção;
vejo santos em marcha sobre a terra
(só não sabem tocar meu coração)...
Uma sombra está sobre a procissão
e os santos, armados, são de guerra;
eles querem a minha confissão
do "pecado mortal" que me soterra...
Ninguém erra; no fundo, tanto faz,
quando meu infortúnio empresta paz
aos que já me carimbam de perdido...
Levo bem os meus erros; isso é dor
para quem me observa lá do andor,
como ao anjo maldito e decaído...
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FALSAS POLÊMICAS
Demétrio Sena - Magé
Seria perfeito, se ninguém tentasse polemizar com futilidades como fofocas de vidas pessoais, agressões públicas gratuitas a seja lá quem ou o que for, para mostrar valentia. Muito menos com perseguições a pessoas comuns... talvez até conhecidas em suas comunidades, porém comuns. Polêmica, mesmo, a gente faz com instituições duvidosas de qualquer segmento e com figuras públicas, em assuntos de amplo interesse nacional ou pelo menos regional, quando tais figuras cometem algo danoso à coletividade. A polêmica verdadeira critica e denuncia o que fere ou subtrai os interesses coletivos, a dignidade social, e o seu objetivo é o bem estar de todos. Ou seja; o interesse de quem polemiza de boa fé não é exatamente polemizar. É contribuir para uma sociedade mais humana e cidadã. O resto são picuinhas. Pequenices de quem quer aparecer, de maneiras forjadas e inconsequentes.
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DE OPRIMIDOS E OPRESSORES
Demétrio Sena - Magé
Ninguém deveria ficar bêbado, ou deslumbrado, com nenhuma posição na sociedade. Nem com o topo. Mas fico assustado com o quanto algumas pessoas ficam inebriadas com a possibilidade mais ínfima do topo. Nos primeiros degraus de uma independência ainda pseudo, porque essas pessoas ainda estão trabalhando feito loucas, para terceiros ou para si mesmas, tem início uma virada bizarra de chave. Se antes era oprimido, imediatamente o indivíduo começa a oprimir o outro que está pertinho dele; um ou dois degraus abaixo, como se um estivesse no céu e outro no abismo, sem nenhuma chance de ascensão.
Sim, do que mais trato aqui, é daquelas pessoas que não nasceram em ninho de ouro e conhecem bem de perto ou bem de dentro, as mais duras realidades sociais. Mesmo assim, ao experimentarem a convivência em patamares sociais um pouquinho mais elevados que sejam, iniciam uma escalada de vingança não contra quem os oprimia, e sim: contra quem passa pelos mesmos constrangimentos, vivencia as mesmas "situadas", injustiças e rasteiras sociais que elas vivenciaram... e ainda vivenciam, por parte daqueles que já estão um pouco ou muito acima, nessa escalada... ou nessa "escada".
A opressão pode fluir de formas diretas e contundentes. Também de formas muito veladas; até simpáticas e risonhas. Até em supostas inclusões, para "lá dentro" deixar evidente a exclusão. Inclusive em convites especiais, para no momento oportuno situar. Fazer o convidado sentir, de uma vez por todas, que ali não é o seu lugar. Ou sua turma. Ou sua praia. Tudo com um exibicionismo direto ou disfarçado (porque muitos não querem nem que os seus iguais percebam sua soberba; seus iguais, que também disfarçam, cada um, a própria soberba). Hipocrisia das denominadas altas rodas, às vezes nem tão altas.
Chega o ponto em que não existem amizades. Apenas hierarquias. Nem admirações, e sim, trocas de bajulação. Quem quiser se manter em sociedade precisa fingir para o degrau abaixo, pois é raro viver sem ter a quem "olhar por cima" e, por outro lado, bajular o degrau acima. Considerando o poder de consciência do que faz, o ser humano é a pior espécie da fauna. Ou de toda a natureza. Todos os dias, exerço lentamente o desapego à visibilidade. Faço arte, literatura e preciso sobreviver. Tirando a carência específica de sobrevivência íntima e fisiológica, vivo longos períodos de ostracismo social.
Ah; e tenho, sim, algumas relações afetivas não hierárquicas totalmente fora de todo este contexto.
Guapimirim, 05/06/2025
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Respeite autorias. É lei
SOBRE MIM E MAIS NINGUÉM
Demétrio Sena - Magé
Dizer que tenho amor pela vida seria exagero. Tenho simpatia pela vida. Sou capaz de alguns esforços para viver, mas não de todos os expedientes para sobreviver. Para mim, seguir a qualquer custo é desrespeitar os limites da vida; renegar a soberania da morte.
Afirmar que me amo, também seria exagero. Sou simpático à minha pessoa. Sobretudo, acho que ser amado pelo outro é muito melhor do que por mim mesmo. Priorizo amar minhas filhas, minha esposa, os meus irmãos, parentes queridos e os amigos reais. Essa é uma bela forma natural de ser amado; se não por todos, por uma boa parcela. Receber o amor sem apelação, que vem do outro em forma de resposta espontânea. Como agradável colheita existencial.
Aceito as pessoas como elas são. Não a vida. Só Aceito a vida "vivível"... plausível, mesmo dura. Viável, mesmo difícil. Com luz visível no fim, quando se apresenta como túnel. Sem esperança, não acho justo viver. E Aceito as pessoas com os defeitos e virtudes que têm. Não a mim. Tenho mil defeitos e todos os dias me deploro por isso. E deixo que as pessoas me aceitem como sou. Essa troca é o que me corrige no dia a dia. Eu não saberia mudar a mim mesmo.
Vou me levando e a vida vai na carona. Simpático a mim, troco gentilezas com ela, por quem tenho simpatia. Não sendo amor, meu sentimento pode acabar de repente, sem a mínima resposta esperada... e no fim das contas, acho a morte bastante sedutora.
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Respeite autorias. É lei
Ninguém alcança a plenitude de uma felicidade sozinho. Digo uma felicidade, porque acredito sermos feitos de várias delas, que vão e vem até que estacione numa alegria constante.
Eu nunca precisei de ninguém pra ser totalmente feliz, mas sempre preciso de alguém para que me faça sentir-me completo.
Ninguém entendi isso! Cada dia que passa a desumanidade esquece o significado da palavra 'humanidade'.
A pouca experiência de vida me ensinou que ninguem é dono de nada, tudo é ilusão - e isso vai dos bens materiais aos bens espirituais. Quem já perdeu alguma coisa que tinha como garantia (algo que já me aconteceu tantas vezes) termina por aprender que nada lhe pertence.
E se nada me pertence, tampouco preciso gastar meu tempo cuidando das coisas que não são minhas; melhor viver como hoje fosse o primeiro (ou o último) dia da minha vida.
Podemos ver possibilidades que ninguém jamais viu antes. Podemos ir a lugares que ninguém jamais foi antes.
Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.
Sim: existo dentro do meu corpo.
Não trago o sol nem a lua na algibeira.
Não quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um momento no ar que não é para nós,
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz! na realidade que não falta!
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega —
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.
